Sinopse

Os encontros promovidos pela jovem Carolina são os eventos mais concorridos e comentados da Ilha de Paquetá. No solar em que vive com a avó Donana, ela recebe amigas e jovens estudantes da corte para saraus e passeios dominicais, nos quais é invariavelmente o centro das atenções e a moça mais cortejada pelos rapazes, embevecidos por sua beleza e carisma.

Carolina, entretanto, dispensa delicadamente os admiradores. Ela sonha reencontrar um rapaz que conheceu na infância e que se tornou objeto de seu amor platônico. O que Carolina não sabe é que o rapaz em questão está mais próximo do que imagina: é Augusto, colega de quarto de seu irmão Felipe na Pensão Estrela, no Rio de Janeiro, e um dos frequentadores do solar.

Augusto apaixona-se por Carolina assim que a vê, mas não consegue se aproximar, porque é insistentemente assediado por uma das amigas da moça, a bela Clementina. Completando o quadrado amoroso, Clementina é a grande musa de Felipe, um poeta que sonha estudar Direito na mesma faculdade de São Paulo na qual estudou seu famoso antepassado Álvares de Azevedo.

Leopoldo, amigo de Augusto e Felipe, mora com eles na Pensão Estrela e também frequenta os saraus de Carolina. Estudante de Medicina, abandona o curso para participar da Guerra do Paraguai. Leopoldo retorna decidido a se tornar jornalista e a ajudar a defender os ideais abolicionistas e republicanos, liderando um movimento pela libertação dos negros.

Leopoldo é um dos estudantes que ajuda a abrigar Simão, o “nego fujão”, um escravo fugitivo perseguido implacavelmente pelo temido capitão-do-mato João Bala. Em represália, o feitor sequestra Quininha, prima de Carolina e amada de Leopoldo. No esforço para salvar Quininha, o rapaz morre nas mãos de João Bala.

Globo – 18h
de 20 de outubro de 1975
a 6 de fevereiro de 1976
79 capítulos

novela de Marcos Rey
baseada no romance homônimo de Joaquim Manuel de Macedo
direção de Herval Rossano

Novela anterior no horário
Senhora

Novela posterior
Vejo a Lua no Céu

NÍVEA MARIA – Carolina
MÁRIO CARDOSO – Augusto
MARCO NANINI – Felipe
EDUARDO TORNAGHI – Leopoldo
CARMEM MONEGAL – Quininha
JAIME BARCELOS – João Bala
HAROLDO DE OLIVEIRA – Simão
MAGALHÃES GRAÇA – Gustavo (Belo Senhor)
ROGÉRIO FRÓES – André
ROBERTO BOLANT – Fabrício
MARIA CRISTINA NUNES – Clementina
CÉLIA BIAR – Violante
BEATRIZ LYRA – Luísa
HENRIQUETA BRIEBA – Donana
SÉRGIO DE OLIVEIRA – Kleberc
MONIQUE LAFOND – Marina
TESSY CALLADO – Joana
ANA ARIEL – Dona Lalá
NATÁLIA DO VALLE – Mademoiselle Louise Aimée
LÉA GARCIA – Duda
SIDNEY MARQUES – Tobias
MARCUS TOLEDO – Jerônimo
LUÍS ORIONI – Juca
ANTÔNIO POMPEO – Rafael
PAULO MATOSINHO – Benjamin

e
ARTHUR COSTA FILHO – joalheiro
BETTY SADDY – enfermeira
CLÓVIS MARIANO – estudante
DURVAL PEREIRA – homem rico
EDUARDO MACHADO – estudante
JOTA BARROSO – matador de escravos
MÁRCIO AUGUSTO – estudante
ROBERTO DE CLETO – hoteleiro
ROBERTO TURIASSU – estudante
SYLVIA CADAVAL – madre superiora

– núcleo de Paquetá:
CAROLINA (Nívea Maria), bela, alegre, inteligente e espirituosa, mora num casarão com sua avó, DONANA (Henriqueta Brieba). Disputada pelos rapazes da corte, espera reencontrar um amor de infância:
as amigas que frequentavam os saraus dominicais no casarão:
QUININHA (Carmem Monegal) e JOANA (Tessy Callado), filhas de LUÍSA (Beatriz Lyra),
a inconveniente CLEMENTINA (Maria Cristina Nunes), sobrinha da alcoviteira e fofoqueira VIOLANTE (Célia Biar),
e a tímida MARINA (Monique Lafond)
os escravos da casa DUDA (Léa Garcia) e TOBIAS (Sidney Marques), queridos por Donana e Carolina.

– núcleo da Pensão Estrela, de propriedade da alegre DONA LALÁ (Ana Ariel):
GUSTAVO (Magalhães Graça), homem culto e espirituoso, mentor dos estudantes abolicionistas, alvo do amor de Dona Lalá
os estudantes abolicionistas:
LEOPOLDO (Eduardo Tornaghi), o amor de Quininha, empenha-se ferrenhamente pela causa
AUGUSTO (Mário Cardoso), apaixona-se por Carolina, mas é perseguido insistentemente por Clementina
FELIPE (Marco Nanini), irmão de Carolina, poeta e romântico, a princípio apaixonado por Clementina
e FABRÍCIO (Roberto Bolant), bon vivant, apaixonado por Carolina
o escravo RAFAEL (Antonio Pompeo), espécie de faz-tudo e garoto de recados da pensão.

– núcleo do escravo fugitivo SIMÃO (Haroldo Oliveira), o “nego fujão”, como era conhecido, amor de Duda:
perseguido pelo temível capitão-do-mato e feitor JOÃO BALA (Jaime Barcelos) e seu capanga JERÔNIMO (Marcus Toledo).

– demais personagens:
ANDRÉ (Rogério Fróes), pai de Augusto, homem justo e íntegro, defensor da causa abolicionista, envolve-se com Luísa
KLEBERC (Sérgio de Oliveira), de origem alemã, bonachão, frequentador dos saraus no casarão de Paquetá, alvo da atenção de Violante
MADEMOISELLE AIMÉE (Natália do Valle), francesa, dançarina de cancan no Alcazar, onde os homens se encontravam para se divertir
JUCA (Luiz Orioni), dono de uma taberna, delator de Simão
o escravo BENJAMIN (Paulo Matosinho)
e os estudantes (Márcio Augusto, Eduardo Machado, Clóvis Mariano e Roberto Turiassu).

Adaptação

A mais famosa das várias adaptações para a TV do romance de Joaquim Manuel de Macedo.

A Moreninha é reconhecida como um sucesso para a Globo, tendo sido reprisada duas vezes, inclusive. Porém, o pesquisador Ismael Fernandes, em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”, é pouco entusiasta da novela:
“Não deu o resultado esperado, para o qual concorreram vários desacertos. Entre eles, a produção cheia de ‘não-me-toques’ e a adaptação esquecendo o mais que pôde a protagonista Carolina e enfatizando o poeta Felipe.”

A novela tinha seu enredo de base no romance “A Moreninha”, publicado pela primeira vez em 1844, mas mostrava vestígios de outra obra de Joaquim Manuel de Macedo: “Memórias da Rua do Ouvidor”, publicado em 1878.

O adaptador Marcos Rey assim recebeu a encomenda para adaptar o romance de Joaquim Manuel de Macedo:
“Não participei da escolha do romance ‘A Moreninha’ para a TV. No caso, a comunicação foi breve e telefônica. Eu teria que ler imediatamente e planejar sua adaptação.” (*)

Rey logo percebeu que o livro não renderia uma novela de televisão:
“Devido naturalmente à pouca densidade do entrecho, à falta de quiproquós e à extrema candura da história, à primeira vista “A Moreninha” não poderia ser nada mais que uma opereta ou uma comédia romântica alicerçada em vinhetas musicais. (…) Embora planejada para ser uma novela curta, de uns 70 ou 80 capítulos, o material parecia exíguo demais. Não se pode encher cerca de 35 horas de gravação com cenas de amor, evocações da infância, um almoço, um sarau e um final previsto desde o primeiro momento. (…) Como arrastar para o vídeo uma juventude inquieta e problemática, sedenta de imagens usando como início uma pedra alpinisticamente galgada por uma donzela ao cair da tarde?” (*)

Foi então que Marcos Rey, para conseguir escrever uma novela de 80 capítulos, juntou à história tramas de outra obra de Joaquim Manuel de Macedo:
“‘Memórias da Rua do Ouvidor’, livro escrito na década de 70 do século 19, fala de um Rio de Janeiro muito mais fascinante do que aquele que se vê em ‘A Moreninha’, escrito em 1844. Nesses vinte anos, o Rio mudara muito. (…) sua grande artéria, a Rua do Ouvidor, com suas lojas e casas comerciais, suas confeitarias vendendo sorvetes, suas modistas famosas e, logo na esquina da Rua Uruguaiana, o Alcazar, o primeiro teatro burlesco inaugurado no país.”

A opção por uma adaptação livre permitiu a Marcos Rey deslocar a história no tempo. Em vez de se passar na década de 1840, como no romance original, a novela foi ambientada entre 1866 e 1868. Com isso, foi possível a referência a acontecimentos históricos, como a Guerra do Paraguai e a luta abolicionista.
“Não apenas por causa da fisionomia modernizada da cidade, mas porque nesses anos alguns acontecimentos tumultuavam a vida da nação, incrementando, naturalmente, o interesse pelo jornalismo,” concluiu Marcos Rey. (*)

* Marcos Rey no ensaio publicado no romance “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, edição de 1976 pela Edibolso.

Elenco

A escalação de Nívea Maria para a protagonista foi criticada, afinal a atriz – de pele clara – sequer estava com os cabelos morenos.

Foi a primeira parceria de Nívea com o diretor Herval Rossano, com quem fez na época outras novelas para o horário das seis da Globo: O Feijão e o Sonho, Dona Xepa, Maria Maria, Olhai os Lírios do Campo e Terras do Sem Fim (entre 1976 e 1982).
Nívea e Herval casaram-se em 1976 e divorciaram-se em 2003, após 27 anos de união.

Grande destaque para o ator Eduardo Tornaghi, como o abolicionista Leopoldo, o que lhe rendeu protagonistas na sequência, em Vejo a Lua no Céu e Sinhazinha Flô, no mesmo horário.

Sensível trabalho de Marco Nanini, vivendo o poeta Felipe, antepassado de seu ídolo e inspirador, o escritor e poeta Álvares de Azevedo (1831-1852). Ao final, o personagem morre de tuberculose, mal incurável na época que também vitimou Azevedo. A tuberculose era conhecida como a “doença dos poetas”.

Durante a semana de 20 a 24/10/1975, os atores Marco Nanini e Nívea Maria puderam ser vistos em duas produções da Globo: na primeira semana de exibição de A Moreninha, na qual viviam Felipe e Carolina, e na última da novela das dez, Gabriela, em que eram o Professor Josué e Jerusa.
Em comum, as duas novelas também tiveram em seus elencos os atores Jaime Barcelos, Luís Orioni, Sérgio de Oliveira, Ana Ariel e Natália do Valle.

Aimée e o Alcazar

Natália do Valle deu vida a uma personagem real: a exuberante vedete francesa Louise Aimée, a figura mais aclamada do Alcazar Lírico, teatro de variedades inaugurado em 1859. Com espetáculos diários, o Alcazar, situado na esquina da Rua do Ouvidor com antiga Rua da Vala (hoje Rua Uruguaiana), foi uma febre na capital imperial, para o terror dos conservadores de então, apresentando operetas, vaudevilles, chansonnettes, bailes de máscaras e fantasias, etc.

Mademoiselle Aimée encantou até a Machado de Assis: “Ela era uma figura leve, esbelta, graciosa, com uma boca amorosamente fresca”, declarou o escritor à época. Bonita e talentosa, a “cocotte comédienne” causou suspiros na cidade de 1864 a 1868, quando retornou para a França.

(“Teatro Alcazar Lyriche, a coqueluche do Rio no século 19”, portal Bafafá, 08/06/2022)

Locações e cenografia

A Moreninha teve gravações na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, que, graças à novela, passou, na época, a ser muito procurada por turistas. Além da famosa Pedra da Moreninha, serviu como cenário – para o solar onde vivia a protagonista – a Casa da Moreninha, também conhecida como Chalé Rosa, casarão datado de 1812 pintado de rosa e branco, uma propriedade particular situada na Rua das Gaivotas, na Praia Grossa, à direita de quem sai da Estação das Barcas.

Os cenários de época foram montados na cidade cenográfica de Barra de Guaratiba, elaborados por Arlindo Rodrigues, a partir de pesquisa de Marilena Cury. (Site Memória Globo)

Trilha sonora

Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora de A Moreninha, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.

Exibição

A Moreninha foi reprisada duas vezes: entre 23/08 e 10/12/1976, às 13h30 – época em que a faixa Vale a Pena Ver de Novo ainda não tinha esse nome -; e depois, de 04/10 a 31/12/1982, já como Vale a Pena Ver de Novo.

Textos narrados na apresentação das cenas do próximo capítulo da novela (prática comum na época):
“O amor com a força da vida. A vida brotando dos sonhos. A esperança, as juras eternas. Cada noite nascendo, cada dia vivendo. A Moreninha!”
“O amor com a força da vida. A vida com a poesia dos sonhos. A esperança cada noite nascendo. Juras de amor, cada dia vivendo. A Moreninha!”

Outras versões

A primeira versão foi produzida pela TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1956, exibida às terças e quintas-feiras, às 20 horas, com Yoná Magalhães e Paulo Porto nos papeis principais.

Também em 1959, pela Tupi paulista, com adaptação de Tatiana Belinky e direção de Júlio Gouveia, e em 1961, pela TV Itacolomi de Belo Horizonte, adaptada por Léa Delba.

Em 1965, a Globo produziu uma versão em 35 capítulos (uma de suas primeiras novelas), com Marília Pêra e Cláudio Marzo.

O romance de Joaquim Manuel de Macedo já havia tido uma versão para o cinema, em 1970: o filme de Glauco Mirko Laurelli com Sônia Braga e David Cardoso.

01. LANDA – Ormy Toledo
02. SONHO – Waltel Branco e Paulo Pinheiro
03. A MORENINHA – Waltel Branco (tema de abertura)
04. SEM TI, A VIDA É NADA – João Mello (tema de Carolina)
05. ROMANZA – Waltel Branco
06. RUMPI – Waltel Branco e Antônio Faya

Sonoplastia: Guerra Peixe Filho
Coordenação geral: João Araújo
Direção de produção: Waltel Branco

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