O mais prolífico de nossos telenovelistas, Walcyr Carrasco assinou 6 novelas na década passada e 7 nesta. É um recorde absoluto e intransponível se considerarmos que Manoel Carlos teve apenas 1 novela nos anos 2010, Glória Perez e Gilberto Braga 2, Elizabeth Jhin 4, e João Emanuel Carneiro, Aguinaldo Silva, Alcides Nogueira, Maria Adelaide Amaral, Walther Negrão e a dupla Thelma Guedes e Duca Rachid 3.
Carrasco ainda sai na frente por dois outros motivos: é o único que transita relativamente bem em todos os horários (Eta Mundo Bom às 6, Morde e Assopra às 7, Amor à Vida, O Outro Lado do Paraíso e A Dona do Pedaço às 9, Gabriela e Verdades Secretas às 11) e suas novelas sempre registram ótimos números de audiência. Ou seja: hoje, Walcyr Carrasco é um coringa – uma espécie de tábua da salvação quando se quer levantar qualquer horário em déficit.
E também a galinha dos ovos de ouro da Globo, afinal, é o autor com maior faturamento para a casa – o que pode lhe conferir status de “intocável”, aquele que se atende todas as regalias e vontades porque será sempre garantia de sucesso. “Surfando nesta onda”, estão atores e profissionais se estapeando por uma oportunidade em produções de Walcyr Carrasco, pela repercussão que elas atingem.
Porém, tudo a um preço. Não vou insistir que Carrasco é pouco original. Todos os novelistas são e se repetem. O notório nele é que, além de repetir-se, repete os seus colegas. Há muito de Verdades Secretas em A Dona do Pedaço, mas há também muito de Vale Tudo, Rainha da Sucata e outras histórias alheias. Nada parece original nessa novela, mas isso é o de menos.
O preço mais caro por tanta produtividade está na falta de cuidado no texto e na elaboração de tramas e personagens. Para dar conta de tanta demanda, Walcyr Carrasco se estabelece na superficialidade e negligencia a qualidade, desprezando uma história bem construída e amarrada com personagens ricos. Em A Dona do Pedaço, o autor não está preocupado em detalhar as origens de fatos e sentimentos. “É assim porque é assim“, não interessa o porquê. Atropela-se a lógica, inclusive, porque ela também não interessa.
Os perfis dos personagens são rasos, unilaterais e maniqueístas, sensação aumentada por suas falas, sempre muito simplórias, diretas e repetitivas. Não há camadas. O didatismo trabalha apenas a favor da fixação: Carrasco explica para que uma criança de oito anos possa entender. Tudo é mastigado e fartamente repetido para não dar trabalho nenhum ao telespectador: ele não precisa puxar pela memória ou pensar. Refletir então!
As abordagens são ocas. Psicopatia, armamento, homofobia, transfobia, machismo e violência na escola (vistos em A Dona do Pedaço) servem apenas ao espetáculo. O autor não apresenta prós e contras. Os temas não estão lá para levantar questionamentos ou discussões. Servem apenas à história que ele quer contar ou à piada momentânea (que será repetida no capítulo seguinte, e no seguinte, e sucessivamente).
Dizer que Walcyr Carrasco usa propositalmente uma receita de novela para atender os tempos atuais, ou que ele capta o zeitgeist, o espírito de nosso tempo, é um equívoco. Carrasco escreve o que o público quer ver porque ele sempre escreveu assim e essa é a sua fórmula de sucesso. É mestre de uma carpintaria própria muito eficiente. E era o autor certo para substituir O Sétimo Guardião, que naufragou na audiência.
Acredito que se o público receber algo diferente – texto, trama e personagens melhor elaborados, mais ricos, bem cuidados e finalizados -, o resultado será tão bom quanto, desde que esse público seja fisgado pela emoção. Com personagens e tramas da profundidade de um pires, Carrasco não serve à emoção. Ele apenas monta seu espetáculo, provoca catarses fáceis e conquista audiência. E assim, a cada novela. A pastelaria não pode parar.
O meu sonho é que o Walcyr lesse as críticas que pipocam de todos os lados, como essa eficientíssima e fizesse diferente na sua próxima novela (porque A Dona do Pedaço, a essa altura, é só ladeira abaixo).
Dói comparar suas novelas da década de 2010 com as dás décadas de 1990 e 2000. Dói comparar A Dona do Pedaço com Xica da Silva, por exemplo. Xica da Silva foi extremamente longa, com várias reviravoltas, mas, embora já tivesse o pastelão, conseguia passar profundidade ou reflexão em vários momentos e nunca caiu na fase da “barriga”.
O que falta a Walcyr Carrasco hoje é o mesmo que acometeu Aguinaldo Silva, sempre cheio de si: um fracasso homérico para apertar o reset.
Não perco mesmo meu tempo assistindo a essa novela horrível, então pra mim tanto faz. A única coisa dessa novela que presta realmente é a trilha sonora; de resto, dispensável.
Cada época as tramas enfrentam o problema, no final dos anos 2000 ( e os primeiros anos da década de 2010), o público, já não se identificava com o ritmo das tramas de classe média, como as de Manuel Carlos. A nova geração, antenada com a internet, não têm a mesma paciência que a geração anterior tinha( além disso eles têm mais opções). E falta de vontade da emissora em inovar. Nesse contexto o Walcyr, corre pro caminho mais fácil, cria uma trama ágil ,pouca profundidade na psicologia dos personagens,pobreza em diálogos e abordagens inadequadas. Gabriela, ainda se salva, pois ao menos a Doroteia, cabia no universo de Jorge Amado. Por outro lado, Manuel Carlos escrevia diálogos primorosos! Bons tempos! Saudades das novelas que não eram ágeis, mas tinham bons diálogos e emoção! Como, você já havia previsto, o público já está se acostumando com texto ruim e terão dificuldades com texto elaborado!
Toda né ela dele tem: um homossexual, um bicho de estimação, um bombado, Anderson de Ricci e por ae vai….
Leio sempre que posso seus textos, Nilson. Compartilho de suas opiniões sobre a teledramaturgia. Este texto foi bem certeiro ao destacar que Walcyr não está a atender um público do momento atual do país. mas que esta é sua marca. Sua dramaturgia sempre foi esta, pobre, simpista.
Um texto raso, fraco e muito repetitivo. Hj mesmo o personagem do Nanini pela enésima vez falando que ele tinha direito a parte da fábrica da Maria da paz por ter “ajudado” ela no passado. É irritante! Vc ver bom sucesso e percebe a diferença é gritante em relação ao texto.
Ótimo texto Nilson, o que mais me irrita nas tramas do Walcyr é a maneira leviana e banal em que ele aborda temas importantes (temas que não irá afetar ele em nada, o desserviço que ele presta é lamentável justamente por espalhar mais ignorância pra população), é igual tu disse, tem a produnfidade de um pires, e o pior de tudo é que ele tem assistência para orientá-lo, se ele não entende do tema e quer abordá-lo por justamente achar aquilo algo interessante, pq não se informar mais sobre o assunto e trazer bons debates? Trazer profundidade pra trama? Querendo ou não, novela tem uma importância gigante na nossa sociadade, é a famosa responsabilidade social, walcyr banaliza tudo com seu texto pobre… nessa novela tá ainda pior, sem maurinho pra passar um verniz no texto do Walcyr tu vê o quão mediocre Walcyr é, texto do Walcyr é incapaz de emocionar, fazer você refletir ou até mesmo se identificar com os personagens, pq é tudo caricato, não tem camadas, os personagens são bom ou mau, não existe meio termo, ngm é só bom ou mau na vida real… eu tava torcendo pro Walcyr flopar com essa novela só pra baixar o ego inflado dele, pq quem sabe assim ele voltava com um trabalho bem feito, quem sabe na próxima (e pelo amor de DEUS, DÊ FOLGA PRA ESSE HOMEN GLOBO).
Eu gostava bastante de novelas do Walcyr. A Padroeira Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea e Sete Pecados. Não sou fã de O Cravo e a Rosa, mas considero uma trama de sucesso. A última do Walcyr que acompanhei foi Gabriela. Sinceramente, nada dele desde Caras e Bocas me atrai. Mas dá boa audiência rs
É por isso que não vejo mais essas novelas. Prefiro ver o ID e seus casos de criminosos. Empolgam MAIS.
Falou tudo Nilson. Eu vejo trechos desta novela e os diálogos são sofríveis. O grande exemplo está na Reprise de Por Amor, que possuem diálogos incríveis e você ‘toma partido’ dos personagens. A salvação está em Bom Sucesso que tem agradado com um texto muito bem construído e atores excelentes.