Sinopse

Herbert Alvaray é um rico empresário que possui duas famílias. A mulher oficial é Rafaela – que ele chama de Alfa 1 -, uma socialite afetada e cheia de chiliques. A outra é Rosemere – a Alfa 2 -, uma mulher simples e expansiva. Porém, Herbert está falido, devendo para o Banco Central, e, para escapar da prisão, planeja um golpe perfeito: simula a própria morte e foge do país.

O plano atinge de maneira adversa suas duas mulheres. Enquanto Rafaela empobrece e cai em desgraça, Rosemere herda um milhão de dólares de Herbert, ou melhor, Mário, como ela o conhecia. A situação se complica quando Rafaela vai morar com os filhos Tamyris, Ana Cláudia e Teddy, a mãe Francine e o genro Maurício, marido de Tamyris, na mesma vila da periferia onde já mora Rosemere.

Rafaela e Rosemere se conhecem e ficam amigas, sem saber que foram mulheres do mesmo homem. A história acompanha a ascensão de uma e a derrocada da outra. Enquanto Rosemere compra uma mansão e tenta adquirir novos hábitos de mulher rica, Rafaela repensa sua vida e se vê obrigada a trabalhar para se manter, cozinhando para fora.

Mesmo com a nova condição, Rosemere continua assediada por Baltazar, um marceneiro grosseirão, mas boa-praça, interessado nela. Porém, a nova rica é apaixonada por Luís Paulo, que administra sua fortuna. E Rafaela é vigiada de perto pelo tímido e desajeitado Montenegro, secretário e cúmplice de Herbert Alvaray, que sempre nutriu uma paixão platônica pela esposa do patrão.

A história atinge o clímax quando Herbert faz uma plástica e retorna ao país com outra cara, porte físico e identidade – Cláudio Serra – e se aproxima de suas duas mulheres sem que elas desconfiem de nada. Rafaela e Rosemere se impressionam com Cláudio, que lembra muito Herbert e Mário. Também Zilda, melhor amiga de Rafaela, que sempre escondeu que fora amante de Herbert, a Alfa 3.

Globo – 19h
de 20 de abril a 7 de novembro de 1987
173 capítulos

novela de Cassiano Gabus Mendes
colaboração de Luís Carlos Fusco
direção de Jorge Fernando, Marcelo de Barreto e Carlos Magalhães
direção geral de Jorge Fernando

Novela anterior no horário
Hipertensão

Novela posterior
Sassaricando

MARÍLIA PÊRA – Rafaela Alvaray / Alfa 1
GLÓRIA MENEZES – Rosemere da Silva (chamada depois de Rosemere Fátima de Moraes) / Alfa 2
RAUL CORTEZ – Cláudio Serra / Isaac Blum / Herbert Alvaray
MARCO NANINI – Montenegro (Celso Montenegro, chamado depois de Alberico Montenegro)
DENIS CARVALHO – Baltazar
MARCOS PAULO – Luís Paulo
PATRÍCIA PILLAR – Ana Cláudia
NÍVEA MARIA – Zilda Monteiro de Lima / Alfa 3
CÁSSIO GABUS MENDES – Bruno
PATRÍCIA TRAVASSOS – Mercedes
CÁSSIA KISS – Silvana
TATO GABUS MENDES – Maurício Costelo
CRISTINA MULLINS – Tamyris
CÉLIA BIAR – Francine
JAYME PERIARD – João Antônio
PERCY AIRES – Justino
NEUZA AMARAL – Luci
FÁBIO SABAG – Lorival
HÉLIO SOUTO – Amadeo
BÁRBARA FAZIO – Bianca
PAULO CÉSAR GRANDE – Pedro
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Bellote (Carlos Bellote)
PAULA LAVIGNE – Vânia
TARCÍSIO FILHO – Teddy
SUZY CAMACHO – Rosinha
KAKÁ BARRETE – Amauri
ÂNGELA FIGUEIREDO – Marli
VALÉRIA KELLER – Roseli
ANDERSON MÜLLER – Quibe Frito

a menina FABIANA ROCHA – Marcinha (Márcia Maria)

e
ANA MARIA SAGRES – Dona Deucélia (cliente exigente de Rafaela que lhe encomenda marmitas)
ANA ROSA – Madalena (vizinha de Rosemere, lhe tira satisfações porque acha que ela está dando em cima de seu marido)
ANDRÉA PAOLA – Fernanda (amiga de Ana Cláudia que lhe empresta a casa de praia em Ubatuba para um fim de semana)
ANILZA LEONI – Verônica (socialite, nova amiga de Rosemere, depois que ela enriquece)
ANITA TERRANA – Jacira (empregada na mansão de Rosemere)
ANTÔNIO GONZALEZ – colega de trabalho de Maurício
AURICÉIA ARAÚJO – inquilina da casa de Rosemere na Vila Custódio
CATALINA BONAKI – Dona Catarina (vizinha de Luci, para quem ela conta que Rosemere herdou os dólares, no início)
CLÁUDIO AYRES DA MOTTA – assalta Rafaela quando Montenegro afasta-se depois que seu carro quebra na estrada
DIANA BURLE – paquera Pedro na mercearia
GILBERTO PORTO – garçom que atende Cláudio quando ele está em um restaurante acompanhado de Rafaela e Rosemere
HILTON PRADO – Alberto (gerente da locadora de carros que arranja bicos como motorista para Luís Paulo, no início)
IVAN MESQUITA – um dos interventores do Banco Central na empresa de Herbert, no início
IZA DO EIRADO – Geni (amiga de Marli e Roseli, “bebe água” com Bruno)
JOANA ROCHA – Bá (empregada na mansão de Rosemere)
JORGE DÓRIA – Herbert Alvaray (marido de Rafaela) / Mário Francis (homem de Rosemere, pai de Marcinha)
KAKAO BALBINO – Luizito (decorador que Luís Paulo apresenta a Rosemere, para sua mansão, quando ela enriquece)
LUÍS SÉRGIO – cliente no boteco onde Luís Paulo leva Ana Cláudia, após o casamento fracassado dela, no início
LUÍS SÉRGIO LIMA E SILVA – Zé da Tumba (coveiro questionado por Bellote sobre venda de cadáveres)
LUIZ VASCONCELOS – cliente no boteco onde Luís Paulo leva Ana Cláudia, após o casamento fracassado dela, no início
MARCO MIRANDA – Alcebíades (zelador do prédio onde mora João Antônio)
MARCOS NOVAES – maquiador que prepara Rafaela para o casamento de Ana Cláudia, no início
MARCUS JARDYM – Murilinho Fonseca (ex de Rosinha que dá em cima dela e eles são flagrados por Amauri)
MARIA CRISTINA GATTI – vizinha de Rafaela, entre as mulheres que protestam contra o suposto mau comportamento de Bruno
MARIA GLADYS – Dona Zulmira (vizinha de Rafaela que reclama da quantidade de comida na marmita)
MÁRIO ROBERTO – Dr. Eusébio (um dos médicos legistas que assinam o atestado de óbito de Cláudio, no final)
MONIQUE LAFOND – Marinalva Pombo (presidente da Associação Cívica das Mulheres, contra a pornografia na TV e cinema, pede dinheiro a Rosemere para sua causa)
MOZART RÉGIS JR. – porteiro do prédio onde mora Cláudio
NELSON RODRIGUES – dono do boteco onde Luís Paulo leva Ana Cláudia, após o casamento fracassado dela, no início
NEWTON PRADO – Dr. Rui (médico que atende Bruno, quando ele contrai sarampo)
NICA BONFIM – orienta Rosemere em uma ação de filantropia para ajudar um orfanato
ORÃ FIGUEIREDO – um dos médicos legistas que assinam o atestado de óbito de Cláudio, no final
PAOLLA BETTEGA – Florence (“loura de 1,70m” com quem Teddy fica no final, prevista nas cartas por Lorival)
PAULÃO DUPLEX – carregador de móveis na mudança de Rafaela, no início
PAULO MACHADO – policial
PEDRO ROCHA – Sebastião (zelador do prédio onde mora Silvana, chamado para acompanhar João Antônio até a saída)
SELMO GOLDMACHER – feirante na Vila Custódio
THAÍS PORTINHO – Julita (socialite, nova amiga de Rosemere, depois que ela enriquece)
TEREZA TELLER – Maria Rita (socialite, com Beatriz pede a Rosemere doações para um asilo)
VÂNIA DE BRITO – Maria Dulce (socialite, nova amiga de Rosemere, depois que ela enriquece)
VERA BRITO – socialite, nova amiga de Rosemere, depois que ela enriquece
ZÉ PREÁ – Seu Dirceu (morador da Vila Custódio)
Amadeo (bebê de Amadeo)
Beatriz (socialite, com Maria Rita pede a Rosemere doações para um asilo)
Bira (empregado do bar-mercearia de Bianca e Pedro)
César (amigo de João Antônio que lhe arruma uma arma)
Investigador Daniel (prende Baltazar e Bruno depois de uma queixa de Rosemere)
Meia Dose (garçom que atura o porre de Montenegro)

– núcleo de RAFAELA (Marília Pêra), no início uma socialite afetada, alienada, fútil e tragicômica. Após a morte do marido, cai na miséria já que todos os bens da família foram confiscados diante da falência financeira dos negócios. É obrigada a se mudar para a periferia e a cozinhar para fora para sobreviver, o que a faz passar por uma transformação e repensar seu modo de encarar a vida, se tornando uma mulher mais prática e descolada:
o marido HERBERT ALVARAY (Jorge Dória), rico empresário, só pensa em dinheiro e negócios. Tem uma outra família, que esconde de todos. Falido, simula a própria morte, fugindo em seguida para o exterior e deixando a mulher oficial, a quem chamava de ALFA 1, na miséria
a mãe FRANCINE (Célia Biar), mulher de classe, mas pé no chão. Quando a filha perde tudo, tenta ajudá-la
os filhos: TAMYRIS (Cristina Mullins), fútil, acostumada à boa vida. Com a falência, tem um sentimento de negação. Com o tempo, passará a aceitar a nova condição da família. Sofre com o casamento em crise, que culmina na separação,
ANA CLÁUDIA (Patrícia Pillar), moça impulsiva e voluntariosa, de temperamento forte e sangue quente. Tenta superar o abandono pelo noivo na porta da igreja, no dia do casamento,
e TEDDY (Tarcísio Filho), playboy relapso, mulherengo e preguiçoso que gosta de boa vida
o genro MAURÍCIO (Tato Gabus Mendes), marido de Tamyris. Acomodado, estava certo de que ia herdar uma boa fortuna do sogro, o que não aconteceu. Com a falência, é obrigado a trabalhar de verdade. Trai a mulher e vive brigando com Francine: os dois se detestam e estão sempre trocando ofensas
a melhor amiga ZILDA (Nívea Maria), a única que continua a seu lado depois da crise. Na verdade, está sempre por perto para abrandar o peso na consciência por ter enganado a amiga, já que foi uma das amantes de Herbert, a quem ele chamava de ALFA 3
o ex-noivo de Ana Cláudia, JOÃO ANTÔNIO (Jayme Periard), a abandonou no altar para ficar com outra mulher. Ela passa a persegui-lo. Estava mancomunado com Rafaela na tentativa de se apoderar de dólares de Herbert.

– núcleo de ROSEMERE (Glória Menezes), mulher simples, moradora da Vila Custódio, simpática e bonitona. Tem uma relação de anos com Herbert, que conhece por outro nome, MÁRIO FRANCIS, e com quem tem uma filha pequena. Ele se refere a ela como ALFA 2. Com o sumiço de Mário, recebe dele um milhão de dólares, o que muda sua vida. Ao adaptar-se à nova condição de rica, torna-se uma mulher esnobe. Fica amiga de Rafaela quando ela vai morar em seu bairro. As duas nem desconfiam de que foram mulheres do mesmo homem:
o pai LORIVAL (Fábio Sabag), um tipo bonachão e sossegado. Tarólogo, põe cartas para os amigos
os filhos do casamento anterior: VÂNIA (Paula Lavigne), moça de personalidade forte. Envolve-se com Teddy quando ele se muda para o bairro,
e AMAURI (Cacá Barrete), rapaz esforçado, bom moço, mas um tanto imaturo emocionalmente
a filha com Mário, MARCINHA (Fabiene Mendonça), era paparicada pelo pai
a melhor amiga e confidente MERCEDES (Patrícia Travassos), manicure, solteira, não dá mole para os homens da vizinhança. Sofre com uma paixão platônica.

– núcleo de CLÁUDIO SERRA (Raul Cortez), nova identidade de Herbert Alvaray/Mário Francis após realizar uma cirurgia plástica para voltar ao Brasil sem ser reconhecido. Envolve Rafaela, Rosemere e Zilda – as Alfas 1, 2 e 3 – em um jogo de sedução. Tudo nele lembra Herbert/Mário, mas elas não percebem sua real identidade:
o secretário e cúmplice MONTENEGRO (Marco Nanini), a única pessoa a quem ele revela suas intenções. Um tipo atrapalhado, tímido e certinho. Fica dividido entre o amor platônico que sente por Rafaela e a fidelidade ao patrão
o auditor do Banco Central BELLOTE (José Augusto Branco), investiga por conta própria Herbert Alvaray, já que acredita que ele forjou a própria morte para dar o calote no governo e escapar da prisão. Alia-se a João Antônio e Maurício nessa investigação, de olho na fortuna de Herbert.

– núcleo de BALTAZAR (Denis Carvalho), marceneiro grosseirão, mas boa-praça, namorador e falastrão. É apaixonado por Rosemere, mas ela não lhe dá bola. Vive com o sobrinho, a quem criou como um filho e que trabalha com ele. Preocupado com o futuro do rapaz, o obriga a estudar:
o sobrinho BRUNO (Cássio Gabus Mendes), trabalha e mora com o tio. Rapaz ingênuo e bronco. Praticamente analfabeto, começa a ter aulas de Português com Mercedes depois que se interessa por Vânia. A professora se apaixona por ele e vive se insinuando, mas ele nem percebe
o amigo de Bruno, QUIBE FRITO (Anderson Müller), não menos bronco e analfabeto que ele.

– núcleo de LUÍS PAULO (Marcos Paulo), rapaz inteligente, simpático e espirituoso. Sem um trabalho fixo, era o motorista do carro que levou Ana Cláudia ao seu casamento, em que ela foi abandonada. Ajuda a moça a superar o trauma e acaba apaixonado por ela. Quando Rosemere enriquece, vai trabalhar para ela, na administração de seu dinheiro. Rosemere acaba apaixonada por ele:
a irmã SILVANA (Cássia Kiss), secretária, de espírito livre, mas romântica. Mantem uma boa relação com a família, mas não mora com os pais, pois sempre sonhou em ser independente. Era a namorada de João Antônio por quem ele desistiu de casar com Ana Cláudia. Maurício se apaixona por ela, o que a faz repensar sua relação com João Antônio. Abandona o rapaz no altar para ficar com Maurício, que separou-se de Tamyris
os pais JUSTINO (Percy Aires), aposentado, moralista, ranzinza com a mulher e os filhos. Vive no boteco conversando com os amigos,
e LUCI (Neuza Amaral), dona de casa, fofoqueira. Adora tomar uns tragos escondida do marido. Cansada de se sentir humilhada por Justino, vira a mesa e põe ele para trabalhar.

– núcleo dos moradores da Vila Custódio, onde Rosemere morava no início e para onde Rafaela se mudou:
AMADEO (Hélio Souto), sujeito boa-praça. Apaixonado por Rosemere, mas não correspondido, vive lhe dando presentes. Amigo de Lorival, Justino e Baltazar
BIANCA (Bárbara Fazio), nova no bairro, abre um bar-mercearia com o irmão. Apaixona-se por Amadeo, mas ele só pensa em Rosemere
PEDRO (Paulo César Grande), irmão mais novo de Bianca. Rapaz atlético e bonitão. Envolve-se com Zilda, mas apaixona-se por Tamyris, que ainda ama o ex-marido
as garotas da vizinhança: ROSINHA (Suzy Camacho), sonsa e interesseira. Envolve-se com Teddy porque acha que ele é rico, mas o dispensa quando descobre a verdade, e com e Amauri, que é rico, mas o dispensa quando ele fica pobre,
MARLI (Ângela Figueiredo), insinuante e atirada, envolve-se com Baltazar,
e ROSELI (Valéria Keller), a mais quieta.

Provocação

Uma das melhores novelas de Cassiano Gabus Mendes, Brega e Chique foi o maior sucesso da TV no ano de 1987.

Brega e Chique ainda estava no começo e sua repercussão já era superior à da novela das oito da época, O Outro, de Aguinaldo Silva – que provocou Cassiano afirmando que seu drama carioca tinha mais audiência que a comédia paulista dele (a trama das sete era ambientada em São Paulo).

Cassiano não respondeu à provocação. Ele não era disso. A audiência respondeu. Em questão de meses, Brega e Chique tinha mais audiência que a novela das oito horas. (“Gabus Mendes, Grandes Mestres do Rádio e Televisão”, Elmo Francfort)

Cassiano, inclusive, faz uma citação à novela de Aguinaldo (no capítulo 89) quando Montenegro (Marco Nanini) alerta Cláudio Serra (Raul Cortez) de que pode aflorar nele “o outro” – e ele repete várias vezes, dando ênfase a “o outro” (no caso, o outro é Herbert Alvaray, a verdadeira identidade de Cláudio).

Título

Caviar com Goiabada e Lucros e Perdas foram títulos provisórios da novela. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Por fim, optou-se por Brega e Chique. O cantor e compositor Eduardo Dussek, o pai do termo “brega-chique” – título de seu disco de 1984 e de uma das músicas de maior sucesso de seu repertório (da trilha da novela Transas e Caretas) -, era fã da novela que se apropriou de sua criação:
“Eu só queria que Rafaela e Rosemere fossem minhas vizinhas!”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, de 20/06/1987. (TV-Pesquisa PUC-Rio)

Rafaela Alvaray

Como o título sugeria, Brega e Chique tinha duas protagonistas, interpretadas por Marília Pêra e Glória Menezes: Rafaela, a rica que empobrecia, e Rosemere, a pobre que enriquecia. Entretanto, a repercussão de Marília Pêra como Rafaela foi tanta que ofuscou a Rosemere de Glória Menezes.

Marília sempre lembrava de Rafaela Alvaray como uma das personagens que mais gostou de viver na televisão. Era sua volta às novelas após um hiato de treze anos – a última havia sido Supermanoela, em 1974.

Os créditos da abertura da novela se iniciavam com os nomes de Marília Pêra e de Glória Menezes juntos: o de Glória no lado esquerdo da tela (primeiro para quem lê) e o de Marília no lado direito. Em 2013, ao programa Damas da TV, do canal Viva, Marília declarou que solicitou à direção a primazia nos créditos da abertura porque o combinado foi que ela seria a estrela da novela. Seu nome passou então a alternar com o de Glória Menezes o lado na aparição na tela.

A exemplo de Mário Fofoca e Márcia (Luis Gustavo e Eva Wilma) em Elas por Elas (1982), Cassiano reeditou em Brega e Chique um par atrapalhado em cenas divertidas: Rafaela Alvaray e Montenegro. Marília Pêra e Marco Nanini estiveram impagáveis como os personagens, grandes momentos dos atores na TV.
“Eles tinham acessos de riso nas gravações de muitas cenas. A cumplicidade de longa data resultava em brincadeiras e improvisos tão bons que a direção deixava que fossem ao ar assim mesmo, sem interrupção do ritmo.” (Site Memória Globo)

Marília Pêra protagonizou algumas das sequências mais hilárias da novela:
– Recém-mudada para o bairro pobre, Rafaela vai à feira vestida com um vison, ciceroneada por Rosemere. Alguém acerta uma tangerina podre no casaco da dondoca, o que a deixa revoltada (capítulo 33);
– Rafaela, para disfarçar a ausência de uma das lentes coloridas, que perdeu, usa a franja do cabelo, que oculta o olho sem lente (capítulo 75);
– Rafaela e Montenegro à câmera, como se estivessem diante de um espelho, analisando suas papadas e comentando fazer plástica (capítulo 96);
– a sequência de desmaios de Rafaela e Rosemere, quando elas descobrem que Herbert e Mário, seus maridos, são a mesma pessoa (capítulo 126);
– Rafaela suga a gravata de Montenegro com um aspirador de pó, quase o enforcando (capítulo 162);
– A silenciosa briga de Rafaela com as plantas de sua casa: grandes demais para a sala pequena, atrapalhavam a passagem pelo cômodo.

Em outra sequência, Montenegro quebra acidentalmente um vaso inglês de Rafaela (capítulo 85), de estimação dela, lembrança dos bons tempos em que a ex-socialite morava no chique bairro paulistano do Morumbi. O episódio estava sendo preparado há um bom tempo por Cassiano Gabus Mendes, que, com frequência, fazia Rafaela declarar seu apego à relíquia. O autor declarou que inspirou-se em um fato ocorrido com um amigo:
“Eu me baseei num fato real, acontecido com um ator, meu amigo, que destruiu uma peça valiosa de uma mulher que, como a Rafaela, havia sido rica e ficou pobre. Como desculpa, meu amigo disse que quebrara o objeto de propósito para livrá-la da má sorte, exatamente o que Montenegro faz ao quebrar o vaso inglês da amiga.” (Jornal O Globo, 19/07/1987, TV-Pesquisa PUC-Rio)

Por sua atuação na novela, Marília Pêra foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor atriz de TV de 1987. Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz. Brega Chique levou o troféu de melhor novela do ano.

Marília reviveu Rafaela Alvaray 23 anos depois, no remake de Ti-ti-ti (2010-2011), em que a autora Maria Adelaide Amaral homenageava Cassiano Gabus Mendes com a participação de alguns personagens famosos de sua obra.

Elenco

Há de se destacar o excelente trabalho de Glória Menezes, mesmo com menos repercussão que sua colega Marília Pêra. Rosemere era um papel tão difícil quanto Rafaela e Glória o levou tão brilhantemente quanto. Claro que o apelo era menor – e houve mesmo um momento em que Rosemere ficou exageradamente pedante e esnobe. Porém, percebe-se na atriz uma construção muito eficiente, ainda mais quando se conhece o seu histórico: Rosemere em nada lembra outros trabalhos de Glória.

No elenco, destacaram-se também Raul Cortez (Cláudio/Herbert), Nívea Maria (Zilda), Denis Carvalho (Baltazar), Cássio Gabus Mendes (Bruno), Percy Aires (Justino) e Neuza Amaral (Luci).

O personagem de Percy Aires, o ranzinza Justino, tornou popular o bordão “É imperdoável!”, sempre dito em tom de desaprovação.

Maurício (Tato Gabus Mendes) repetiu com Dona Francine (Célia Biar) uma dupla recorrente na obra de Cassiano Gabus Mendes: pessoas que se odeiam e trocam ofensas o tempo todo, como Eunice e Adélia (Beatriz Segall e Eloísa Mafalda) em Champagne (1983-1984) e Emílio e Elza (Jorge Dória e Zilda Cardoso) em Meu Bem Meu Mal (1990-1991).

Primeira novela das atrizes Patrícia Travassos e Paula Lavigne e do ator Anderson Müller.
Primeira novela na Globo da atriz Ana Rosa, em uma pequena participação.
Único trabalho na Globo de Suzy Camacho, egressa das novelas do SBT.

Rotina de trabalho

A rotina de trabalho de Cassiano Gabus Mendes para escrever Brega e Chique: de seis a sete horas por dia, quatro dias por semana. No quinto dia, reunia-se com o colaborador Luís Carlos Fusco, encarregado dos dois capítulos semanais restantes, para, assim, passar o fim de semana livre. (Jornal do Brasil, 26/09/1987, TV-Pesquisa PUC-Rio)

Direção

Foi a primeira vez que Jorge Fernando deixava as comédias escrachadas de Silvio de Abreu e Carlos Lombardi e dirigia uma novela de Cassiano Gabus Mendes, com estilo de humor bem diferente, mais sutil, que valorizava mais os diálogos do que a ação.

O diretor afirmou em entrevista ao Jornal do Brasil, publicada em 19/04/1987, antes da estreia de Brega e Chique (TV-Pesquisa PUC-Rio):
“Cassiano tem uma forma de humor mais simples e, por isso, mais difícil de fazer. É um desafio fantástico para mim e sinto que tenho um prato cheio nas mãos, pois precisei reavaliar os meus critérios, criando outro tipo de marcação, alterando o tempo do corte. Procuro interferir o mínimo possível, dando o molho sem alterar a base. Mas sempre com muita paixão, pois não sei trabalhar de outra forma. Com Brega e Chique estou muito mais para Vincent Minelli e Blake Edwards do que para Mel Brooks.”
Jorge Fernando voltou a dirigir Cassiano Gabus Mendes em 1989: Que Rei Sou Eu? (o autor faleceu em 1993).

Espelho espião

A direção-geral de Jorge Fernando proporcionou detalhes originais que ajudaram a dar identidade à novela, como o sobe-desce dos atores com a câmera estática e as passagens criativas de cena, seja com elementos comuns entre uma sequência e outra (como no primeiro e último capítulos), ou com o wipe, a “varredura” de tela.

Outra novidade foi a exibição de dois cenários em um só, um truque engenhoso chamado de “espelho espião”, em que a câmera focalizava o ator em primeiro plano e atrás dele havia um espelho que refletia outro ator no cenário à frente, recurso usado nas cenas em que dois atores conversavam ao telefone. Outro truque – dentro do espelho espião – consistia em iluminar os cenários alternadamente: uma parte era iluminada enquanto a outra ficava no escuro para alternarem na mudança de fala dos personagens.

Protestos

Cassiano Gabus Mendes criou uma polêmica com os moradores do Itaim Bibi, bairro paulistano de classe média-alta. Quando Rafaela empobrece e precisa se mudar com a família para um bairro mais humilde (ela morava no Morumbi), cita com certo desprezo o Itaim Bibi, fazendo piada com o “Bi-bi”.

Após protestos reais dos moradores da região, Cassiano escreveu uma cena (exibida no capítulo 67) em que Rafaela se redime, diante de toda a família em um jantar. Marília Pêra foi enfática, inclusive direcionando-se à câmera: “Eu me enganei! Nós não estávamos mudando para o Itaim Bibi. Quem me dera se nós estivéssemos porque o Itaim Bibi é um bairro que hoje em dia pertence aos Jardins. Nós estamos morando hoje em Vila Custódio. (…) Eu quero que vocês enalteçam o nome de Vila Custódio, prometem?” E todos concordam achando graça.

Capítulos adiante, foi a vez de Maurício (Tato Gabus Mendes), um corretor de imóveis, se referir ao Itaim Bibi como “um bairro muito chique”.
De qualquer forma, deve ter sido uma brincadeira de Cassiano, já que a região para onde a família se mudou de fato em nada lembrava o Itaim Bibi.

As secretárias executivas do Rio de Janeiro não gostaram do comentário feito pelo personagem Teddy (Tarcísio Filho) no capítulo 33: “Secretária do chefe é sempre propriedade particular!” Também consideraram inadequada a maneira de agir da secretária Silvana (Cássia Kiss). (Jornal do Brasil, 25/06/1987, TV-Pesquisa PUC-Rio)

A colônia japonesa de São Paulo considerou depreciativa a fala de Rafaela (no capítulo 68), sentindo-se rejeitada por Montenegro: “Pode ser o leiteiro, o lixeiro, o faxineiro, o tintureiro, mesmo que seja o japonês, o primeiro que me pedir em casamento eu vou topar!”
Entidades como a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, a Associação dos Lojistas da Liberdade (o bairro oriental de São Paulo) e a Câmara Júnior Brasil-Japão reuniram-se para decidir as medidas, que foram encaminhadas à Globo. O autor defendeu-se afirmando que a colocação não foi preconceituosa nem depreciativa, mas apenas uma comicidade “pois a personagem da Marília só fala besteira”. (Jornal do Brasil, 10/07/1987, TV-Pesquisa PUC-Rio)

Figurinos e caracterizações

A figurinista Helena Gastal inspirou-se na década de 1920 para criar o figurino chique de Rafaela Alvaray, com roupas de seda e vestidos retos, que não marcavam a cintura.
O corte de cabelo chanel da personagem também remetia aos anos 20, mas com um toque moderno: assimétrico, curto de um lado com a franja longa do outro.

A novela ajudou a popularizar as lentes de contato coloridas, usadas por Rafaela e Rosemere. Entretanto, o uso indiscriminado dessas lentes, por imitação das personagens e sem orientação médica, foi condenado pelo oftalmologista Carlos Augusto Moreira, presidente do 24° Congresso Brasileiro de Oftalmologia (em 1987). (Jornal do Brasil, 09/09/1987, TV-Pesquisa PUC-Rio)

Locações

No início da história, os Alvaray moram em uma mansão no Morumbi. No entanto, a casa que serviu de fachada para a residência da família fica na cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, à Rua Professor Stroeller 1276, no bairro Quarteirão Brasileiro. A mesma locação serviu para as mansões de Tião Borges na novela Sinal de Alerta (1978-1979) e da família Prado em Ciranda de Pedra (1981) – inclusive aparecia na abertura da novela.

A cena do acidente de carro, no início da novela, que – supostamente – causou a morte de Herbert Alvaray (Jorge Dória) foi gravada na estrada que leva a Campo Grande, no Rio de Janeiro – representando, na trama, a Serra do Mar, em São Paulo. (Jornal O Globo, 22/04/1987, TV-Pesquisa PUC-Rio)

Abertura e trilha sonora

Embalada pela música “Pelado”, da banda Ultraje a Rigor, a abertura da novela causou frisson na época. Sete belas mulheres, caracterizadas de brega ou chique, alternavam a aparição na tela. Ao final, surgia o único homem, o então modelo Vinícius Manne, nu.

No primeiro capítulo, Manne apareceu por segundos com o bumbum à mostra. No dia seguinte, atendendo a telespectadores indignados, a Globo inseriu eletronicamente uma folha de parreira sobre a região glútea do rapaz.
Dois dias depois, uma nova versão da abertura: a sequência termina antes do modelo se virar por completo, em um “vai-não-vai”.
Após nova pressão popular (pedindo a retirada da folha), o então Ministro da Justiça Paulo Brossard desistiu da censura e, a partir do quinto capítulo, o famoso traseiro voltou a ficar exposto, com o rapaz “pelado, pelado, nu com a mão no bolso”. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

O sucesso da bunda prosseguiu na capa do LP internacional da novela, exposto à luz do dia nas vitrines de lojas de discos e de departamentos em todo o Brasil.

Entre as moças da abertura estavam: Suzanne Seixas, que fez algumas participações em novelas posteriores (foi uma das Rolinhas de Tieta); as modelos Teresa Cristina Schmidt e Carina Bokel; a Miss Brasil 1986 Deise Nunes; e Dóris Giesse, que mais tarde tornou-se apresentadora do Fantástico e ganhou um programa próprio na Globo, Dóris para Maiores (exibido em 1991).

A abertura também fazia merchandising da indústria de roupas Rurita, cuja logomarca aparecia rapidamente estampada nos óculos de sol de uma das modelos. Porém o merchan não esteva desde o início e nem ficou até o final: começou a aparecer depois da novela ter estreado e cessou antes de seu término.

Repetecos

Brega e Chique foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo entre 31/07/1989 e 19/01/1990.

Reprisada também no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo) de 19/02 a 07/09/2020, à 0h45 com reprise às 14h30.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 26/10/2020.

Trilha sonora nacional

01. PEGA RAPAZ – Rita Lee & Roberto de Carvalho (tema de Baltazar)
02. SEM PESO E SEM MEDIDA – Fábio Jr. (tema de Vânia e Teddy)
03. PRECISO APRENDER A SÓ SER – Caetano Veloso (tema de Rafaela)
04. UM PRO OUTRO – Lulu Santos (tema de Ana Cláudia)
05. CALEIDOSCÓPIO – Dulce Quental (tema de Tamyris)
06. COWBOY FORA DA LEI – Raul Seixas (tema de Bruno)
07. PELADO – Ultraje a Rigor (tema de abertura)
08. BLÁ-BLÁ-BLÁ… EU TE AMO – Lobão (tema de Zilda e tema de Rosinha com Teddy e Amauri)
09. ATÉ O FIM – Verônica Sabino (tema de Silvana)
10. É TÃO BOM – Luiz Caldas (participação de Caetano Veloso) (tema de Rosemere)
11. SINTO SAUDADE – Evandro Mesquita (tema de Mercedes)
12. CORAÇÃO DE JOVEM – Erasmo Carlos (tema de João Antônio)
13. LÁGRIMA DE AMOR – Beto Guedes (tema de Luís Paulo)
14. A ILHA – Léo Gandelman (tema de Rafaela e Montenegro)

Sonoplastia: Jenny Tausz
Produção musical: João Augusto

Trilha sonora internacional

01. EVERYTHING I OWN – Boy George (tema de Ana Cláudia e Luís Paulo)
02. LET’S WAIT A WHILE – Janet Jackson (tema de Tamyris)
03. MUSIC – F. R. David (tema de Zilda)
04. NO PROMISES – Ice House
05. WHAT DO WE MEAN TO EACH OTHER? – Sérgio Mendes (tema de Silvana)
06. IS THIS LOVE? – Whitesnake (tema de Bruno e Mercedes)
07. NOW AND FOREVER – Jimmy Cliff
08. SOMEWHERE OUT THERE – Linda Ronstadt and James Ingram (tema de Rosemere)
09. I WANT YOUR SEX – George Michael (tema de Bruno e tema do núcleo jovem)
10. IN TOO DEEP – Genesis (tema de Rafaela)
11. HEAD TO TOE – Lisa Lisa and The Cult Jam
12. C’EST LA VIE – Robbie Nevil (tema de locação: bar-mercearia de Bianca e Pedro)
13. GLAD TO KNOW (THAT YOU’RE THE ONE) – Malcolm Roberts
14. INFIDELITY – Simply Red

Gerente de produto: Toninho Paladino
Seleção de repertório: Sérgio Motta

Ainda:
ESTA TARDE VI LLOVER – Armando Mazanero (música que Baltazar coloca para dançar com Rosemere na casa dela)

Tema de abertura: PELADO – Ultraje a Rigor

Uau, que legal nós dois pelados aqui!
Que nem me conheceram o dia que eu nasci
Que nem no banho, por baixo da etiqueta
É sempre tudo igual, o curioso e a xereta
Que gostoso, sem frescura, sem disfarce, sem fantasia
Que nem seu pai, sua mãe, seu avô, sua tia…

Proibido pela censura, o decoro e a moral
Liberado, praticado pelo gosto geral
Pelado todo mundo gosta, todo mundo quer
Ah, é? É!
Pelado todo mundo fica, todo mundo é…

Vai!
Pelado, pelado
Nu com a mão no bolso!
Pelado, pelado
Nu com a mão no bolso!

Indecente é você ter que ficar despido de cultura
Daí não tem jeito quando a coisa fica dura
Sem roupa, sem saúde, sem casa, tudo é tão imoral
A barriga pelada é a vergonha nacional…

Vai!
Pelado, pelado
Nu com a mão no bolso!
Pelado, pelado
Nu com a mão no bolso!…

Veja também

  • meubemmeumal_logo

Meu Bem Meu Mal

  • champagne_logo

Champagne

  • tititi85

Ti-ti-ti (1985)

  • quereisoueu_logo

Que Rei Sou Eu?