Sinopse

Rodrigo volta ao município de Vila da Prata, interior do Paraná, depois de muitos anos para vingar o extermínio da família ocorrido em sua infância. O responsável pelo massacre é o arrogante latifundiário Max. Para realizar seus intentos, Rodrigo torna-se líder de uma revolta social contra o velho fazendeiro, que domina a venda de madeira dos pinheirais e de todo o mercado de trabalho da região.

Do lado de Rodrigo estão seus amigos Santo, Brucutu, Sabá e o Professor, que o apoiam em sua luta. Em meio à disputa, o rapaz se vê dividido entre o amor de Miranda, uma fazendeira rude de temperamento forte, e a jovem Joana, a filha mimada e irresponsável de Max.

Entretanto, a história do meio para o fim tem outro entrecho: Max é misteriosamente assassinado. Entre os vários suspeitos, Rodrigo é o mais óbvio. Ao final, após muitas pistas falsas, o assassino é descoberto: Lenita, falsa sobrinha do velho, na verdade uma filha que ele desconhecia, interessada em sua fortuna.

Globo – 20h
de 24 de janeiro a 17 de agosto de 1973 (Rio)
de 24 de janeiro a 21 de agosto de 1973 (SP)
180 capítulos

novela de Walther Negrão
direção de Walter Avancini e David Grimberg
supervisão de Daniel Filho

Novela anterior no horário
Selva de Pedra

Novela posterior
O Semideus

TARCÍSIO MEIRA – Rodrigo Soares
GLÓRIA MENEZES – Miranda
ZIEMBINSKI – Max
BETTY FARIA – Joana
ARLETE SALLES – Lenita
EDSON FRANÇA – Lucas
JOSÉ WILKER – Atílio
CARLOS VEREZA – Santo
RENATA SORRAH – Camila
STÊNIO GARCIA – Brucutu
JOSÉ LEWGOY – Professor
DARY REIS – Sabá
MÁRIO LAGO – Inácio
CLÁUDIO CAVALCANTI – Aurélio
SÔNIA OITICICA – Catarina
MILTON MORAES – Carlão
MARIA LUIZA CASTELLI – Marta
ELIZÂNGELA – Teresinha
SUZANA GONÇALVES – Bisteca
PAULO GONÇALVES – Tobias
MIRIAN PIRES – Benvinda
MILTON VILLAR – Jorge
PAULO PADILHA – Almeida
TONY FERREIRA – Dr. Castro
GERMANO FILHO – Antônio
FRANCISCO MILANI – Moraes
WÁLTER MATTESCO – Dr. Renato
TALITA MIRANDA – Maria Amélia
MARILENE SILVA – Alzira
LUIZA DO CARMO – Maria
MARIO PETRAGLIA – Guigui
SÉRGIO MANSUR – Ciro
REYNALDO GONZAGA – Felipe
URBANO LÓES – Campelo
NAIR PRESTES – Juventina
DARCY DE SOUZA – Socorro
SYLVIA GUIMARÃES – Jucléia

as crianças
ROSANA GARCIA – Ninita
RICARDO GARCIA – Zezinho
JÚLIO CÉSAR

e
AUGUSTA MOREIRA – mulher da rua
CASTRO GONZAGA – tabelião Cecil
FÁBIO SABAG – Patrocínio Cardoso
FRANCISCO SILVA – Tonho (capanga de Max)
FÚLVIO STEFANINI – agente federal
MOACYR DERIQUÉM – médico

Convocação

Única novela de Walther Negrão no horário mais nobre da Globo. O autor era levado à faixa das oito da noite depois do sucesso de O Primeiro Amor, às 19 horas.

Negrão foi pego de surpresa ao ser convocado para a próxima novela das oito, já que, ao concluir O Primeiro Amor, deu início à roteirização do seriado infantojuvenil Shazan, Xerife e Companhia. Na verdade, o autor foi chamado para cobrir as “férias” de Janete Clair.

No início da década de 1970, Janete Clair emendava uma novela na outra, sem direito a férias ou descanso, e não havia outro autor com quem ela pudesse revezar na faixa das 20 horas. Prestes a finalizar Selva de Pedra, a autora vinha de uma longa série de novelas consecutivas.

Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor artístico e de programação) comunicou Negrão que ele escreveria a próxima novela das oito, a fim de dar férias a Janete. Para dar continuidade ao seriado, Negrão indicou Lauro César Muniz, que, então, estreou na Globo.

Novela problemática

Cavalo de Aço foi uma novela problemática e de muitas fases. Começou discutindo reforma agrária no seu subtexto. A Censura Federal proibiu o assunto. Depois foi transformada simplesmente em uma história de amor. Isso até o texto começar a desenvolver uma campanha antitóxico com o aval do Governo, que por fim achou melhor proibir a veiculação do assunto – mesmo que ele enviasse a mensagem positiva de combate às drogas. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Os censores não esperavam que fosse aparecer um papelote de cocaína em cena – o que imediatamente suspendeu a campanha na novela. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

O autor só achou uma saída: matar o vilão principal e criar um entrecho policial que acabou dominando a novela e segurando a audiência: “Quem matou o Velho Max?”, personagem de Ziembinski.

Walther Negrão ainda queixou-se que o diretor da novela fazia outra coisa diferente do que ele escrevia:
“Eu escrevia uma história, o diretor mostrava outra. Como ele tinha mais acesso aos atores, o elenco ia pela cabeça dele, ficando contra mim. Virou uma guerra. Isso me deixava desencantado. Muitas vezes, não era a história que eu havia escrito.” (livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, volume 2, página 444)
Cavalo de Aço foi dirigida por Walter Avancini e David Grimberg, com supervisão de Daniel Filho.

Lamentavelmente não existem mais imagens dessa novela (a não ser chamadas de estreia).

Desafio ao autor

Daniel Filho afirmou em sua biografia “Antes que me Esqueçam” que desafiou Negrão a aumentar a audiência da novela, caso contrário ela seria encurtada:
Cavalo de Aço foi outra novela que criou muitos problemas. (…) A novela ia tão mal que, quando estava no capítulo 90, cheguei para o Negrão e disse que a novela ia acabar no capítulo 100. Então o que ele fez foi liquidar todas as histórias paralelas até chegar à história central. No dia em que ele matou o Sr. Max, chamei-o e disse que a novela ia ter mais 50 capítulos. No fim Cavalo de Aço teve 170 capítulos, ficando 8 meses no ar. Mas Negrão teve que continuar a novela com o ‘quem matou quem’. Isso fez com que a novela emplacasse a partir do capítulo 100.”

Walther Negrão afirmou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo) que Ziembinski não gostou de saber que seu personagem iria morrer na história:
“Ele ficou bravo porque estava fazendo um sucesso danado, meio Dom Corleone, no estilo Marlon Brando em O Poderoso Chefão [filme de 1972]. Pedimos desculpas a ele e matamos o Velho Max. E a novela explodiu.”

Criação da novela

Na época da estreia, Walther Negrão explicou como criou a trama de Cavalo de Aço:
“A novela surgiu de um papo descontraído com Gilberto Martinho, que é de Santa Catarina, região madeireira. Como minha mulher é do Paraná e tem muitos madeireiros na família, resolvi explorar o problema, com o qual tive muito contato pessoal. Depois de desenvolvida a ideia básica, voltei ao Paraná para fazer uma pesquisa e verifiquei que, ainda hoje, há muitos problemas de luta de terra na região. A história pode ser resumida em duas linhas e, se não fosse assim, não acreditaria nela. É a história de Rodrigo (Tarcísio Meira), um maquinista de trem que volta à sua terra para descobrir os verdadeiros assassinos de seu pai. A partir daí, mil tramas e transas se desenrolam. Como eu ainda continuo muito influenciado pelas histórias em quadrinhos, terei três anti-heróis, personagens que serão minha curtição: o Professor (José Lewgoy), Brucutu (Stênio Garcia) e Sabá (Dary Reis). Mal comecei a escrever a novela e lá estou apaixonado por eles.”

O título da novela é uma alusão ao veículo do protagonista Rodrigo (Tarcísio Meira), uma motocicleta, que representava um contraponto ao povo atrasado da fictícia cidadezinha da trama, que só andava a cavalo. A moto de Rodrigo era o seu cavalo de aço. O autor comentou:
“O objetivo é meramente simbólico, como elemento de composição do personagem. Em O Primeiro Amor usei uma bicicleta. Em Shazan, Xerife e Companhia, uma camicleta. No Cavalo de Aço será a vez da motocicleta. Na próxima, talvez um veículo chamado pé-de-atleta!”

Walther Negrão baseou-se na ideia central de Cavalo de Aço para escrever um sucesso das 18 horas quinze anos depois: Fera Radical (1988). A trama se inicia da mesma forma: forasteira – uma mulher, a personagem de Malu Mader – chega de moto a uma cidadezinha a fim de se vingar das pessoas que mataram seus familiares no passado.

Elenco

Tarcísio Meira e Glória Menezes passaram por um perrengue durante a gravação de uma explosão de barco em um rio.
“Para dar movimento e parecer que explodiu, fomos para as marolas. Só que uma veio muito forte e derrubou todo mundo”, recordou-se Glória em depoimento a Flávio Ricco e José Armando Vannucci para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”.
“De repente virou e afundamos, porque as roupas ficaram muito pesadas com a água”, completou Tarcísio.

Enquanto os atores estavam no maior desespero e lutavam para não se afogar, o diretor Walter Avancini continuou com as câmeras ligadas, impressionado com o realismo das cenas. A correnteza levou os dois para longe da equipe, bombeiros foram acionados, mas o casal só foi retirado do rio quando um contrarregra percebeu o que estava acontecendo e resolveu mergulhar para ajudá-los.

O ator Carlos Vereza contou ao Projeto Memória Globo que foi preso pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) durante as gravações de Cavalo de Aço, ficando vários dias detido em uma cela e sendo submetido a interrogatórios. Os militares estavam convencidos de que o ator estava de posse de duas importantes informações: a localização de um dos guerrilheiros mais procurados do Rio de Janeiro e a identidade do assassino do velho Max. Carlos Vereza se recusou a responder às duas perguntas. Oito dias depois, foi solto em uma rua do Leblon e, no mês seguinte, retornou às gravações.

Primeira novela inteira do ator José Lewgoy (anteriormente, ele havia feito uma pequena participação em O Bofe).
Também a primeira novela na Globo de Stênio Garcia, Sônia Oiticica e Fúlvio Stefanini (este, uma participação).

Cidade cenográfica e modismos

As cenas externas foram gravadas em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde foi construída a cidade cenográfica da fictícia Vila da Prata.

Os sapatos de sola de borracha usados pelo protagonista Rodrigo (Tarcísio Meira) fizeram moda na época, passando a ser conhecidos como “sapatos cavalo de aço”.

Trilha sonora

A trilha sonora nacional de Cavalo de Aço foi assinada por Nelson Motta e Guto Graça Mello, da qual os compositores se arrependem amargamente, de acordo com seus depoimentos a Guilherme Bryan e Vincent Villari para o livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”:

– Nelson Motta: “Desse disco, a única coisa que eu me lembro é que nós ficamos loucos! Nunca mais ouvi isso. Fizemos tudo às pressas. A novela não deu certo e a trilha também não teve nenhum sucesso popular.”
– Guto Graça Mello: “Uma das coisas mais detestáveis que já fiz na minha vida, porque ela consegue ser errada em todos os sentidos. As músicas são bobas, falsas. (…) Isso foi feito sem nenhum cuidado.”

Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Cavalo de Aço, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.

Trilha sonora nacional

01. HOMEM DE VERDADE – Djalma Dias (tema de Rodrigo)
02. VIVA SUAREZ! – Cláudio Ornelas (tema de Max)
03. MARCAS – Quarteto Uai (tema de Miranda)
04. UM SOL NA NOITE – Eustáquio Sena (tema de Camila)
05. O FILHO DE DEUS – Orquestra Som Livre (tema de Santo)
06. CAVALO DE AÇO – Guto e Coral Som Livre (tema de abertura)
07. DE OLHOS ABERTOS – Orquestra e Coro Som Livre
08. PÉ NA ESTRADA – Quarteto Uai (tema de Carlão)
09. IDADE:17 – Evinha e Trio Esperança (tema de Terezinha)
10. CONTRATEMPO – Guto Graça Mello (tema de Marta)
11. NA TARDE – Quarteto Uai
12. UM CORPO SÓ – Márcio Lott

Sonoplastia: Antônio Faya
Músicas: Nelson Motta e Guto Graça Mello
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Eustáquio Sena
Arranjos: Guto, Chiquinho de Morais e Waltel Branco

Trilha sonora internacional

01. DON’T MESS WITH MR. “T” – Marvin Gaye (tema de Terezinha)
02. SUPERMAN – Excelsior (tema de Rodrigo)
03. WHY CAN’T WE LIVE TOGETHER – Timmy Thomas (tema de Joana)
04. DADDY COULD SWEAR, I DECLARE – Gladys Knight & The Pips
05. LAST TANGO IN PARIS – Jean Pierre Sebastian
06. THIS IS A LOVE TRAIN – Joe Jackson
07. TARCISIU’S THEME – Free Sound Orchestra (tema de Rodrigo)
08. DON’T SAY GOODBYE – Chrystian (tema de Miranda e Rodrigo)
09. SUPERSTITION – Stevie Wonder
10. IRON HORSE – Excelsior (tema de Rodrigo)
11. “T” PLAYS IT COOL – Marvin Gaye
12. TOGETHER – Think Tank (tema de Aurélio e Lenita)
13. THE SNAKE – El Chicles (tema de Santo)
14. AUTUMN LOVE THEME – Free Sound Orchestra

Tema de abertura: CAVALO DE AÇO – Guto e Coral Som Livre

Terra de ninguém
Terra nossa
Santa maldição
Vida e morte, um só movimento
Sob o mesmo sol de repente
Brilha a faca espelho de aço
Dos que vão morrer
Trilha a noite, lua apagada
Quem vai saber (quem vai, quem vai, quem vai, vai)
Quem vai saber (quem vai, quem vai, quem vai, vai)
Tempo de lutar, tempestade
Tempo de morrer
Tempo de amar, claridade
Tempo de viver com vontade
Brilho de alegria nos olhos
Trilhos pro sem fim…

Veja também

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A Próxima Atração

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O Primeiro Amor

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Supermanoela

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Fera Radical