Sinopse

O escultor pernambucano Juca Pitanga enviava suas obras para serem vendidas no Rio de Janeiro, até descobrir que elas eram negociadas pelo dobro do preço pelo atravessador Leandro Serrano. Inconformado com a vida limitada no Nordeste, certo de seu talento e cheio de vontade de vencer, Juca muda-se para o Rio com a família: a mãe Dalva e os irmãos mais novos, Anselmo e Aldeneide. Para a cidade, já haviam ido o tio Rômulo Pitanga e outro irmão, Gabriel, que estava desaparecido.

Juca e família são instalados na pensão de Dona Nina, onde o artista conhece Vivian, por quem se apaixona. Por meio de Roberta, amiga de Vivian, ele é empregado na empresa de cerâmicas do pai dela, Alberto Karany. Lá, Juca conhece a irmã de Roberta, Catucha, a princípio implicante, mas que, depois, descobre-se apaixonada e passa a promover a sua arte. A família Karany está em guerra com Silvana, a matriarca, que no passado abandonou o marido e os quatro filhos para viver nos Estados Unidos.

De volta ao Brasil, Silvana exige retornar com um dos filhos, mas enfrenta a hostilidade de todos. Interessada por Juca, ela o envolve, mas é morta na noite em que passam juntos. Com isso, sua irmã Cristal volta ao Brasil após trinta anos, para investigar a morte de Silvana e reencontrar Karany, o cunhado e antigo amor. Consigo, traz o filho, Piero, que se apaixona pela prima caçula, Alexandra. Este é um amor proibido: Piero é filho de Karany e, portanto, os amados são irmãos. Cristal, porém, é a única a saber que Alexandra não é filha legítima de Karany.

Enquanto isso, Catucha, agindo como marchand de Juca, consagra sua arte. O artista se vê cada vez mais envolvido por ela e se afastando de Vivian, seu verdadeiro amor. Desiludida, Vivian deixa Juca, enquanto ele se une a Catucha. Adiante, Vivian é estuprada pelo cunhado Leandro, que há muito a assediava. Ao mesmo tempo que Catucha, Vivian engravida, mas não tem coragem de criar o filho e o entrega para adoção, arrependendo-se mais tarde. O bebê de Catucha nasce morto e ela recebe o filho de Vivian para criar, tratando-o como seu filho legítimo com Juca.

O artista, por sua vez, sai do país para encontrar Gabriel, um perseguido político, passa dois anos no exterior e retorna com o irmão, beneficiado pela Lei da Anistia. Paralelo a esse conflito, correm as investigações sobre a morte de Silvana. São suspeitos o ex-marido Karany e Juca Pitanga, a última pessoa vista com a vítima, denunciado pela própria mulher, Catucha, ferida ao descobrir que ele tivera um envolvimento amoroso com sua mãe e que retornara para os braços de Vivian, a mulher que sempre amou.

Globo – 20h
de 11 de agosto de 1980
a 14 de março de 1981
185 capítulos

novela de Janete Clair
direção de Roberto Talma e Paulo Ubiratan
direção geral de Roberto Talma

Novela anterior no horário
Água Viva

Novela posterior
Baila Comigo

TARCÍSIO MEIRA – Juca Pitanga
VERA FISCHER – Vivian Ribas
DÉBORA DUARTE – Catucha (Camila Karany)
WALMOR CHAGAS – Alberto Karany
JARDEL FILHO – Barão Von Strauss / Tácio (Epitácio Rodolpho Von Strauss)
ARACY BALABANIAN – Maria Faz-Favor
NEY LATORRACA – Leandro Serrano
JOANA FOMM – Mel (Melissa Ribas)
CARLOS VEREZA – Bié (Gabriel Pitanga)
NÍVEA MARIA – Roberta Karany
CARLOS AUGUSTO STRAZZER – Piero Camerino
MYRIAN RIOS – Xanda (Alexandra Karany)
TETÊ MEDINA – Cristal Camerino
PAULO FIGUEIREDO – Anselmo Pitanga
SIMONE CARVALHO – Neidinha (Aldeneide Pitanga)
ARMANDO BÓGUS – Jorge Gamela
JONAS MELLO – Rômulo Pitanga
EVA TODOR – Hortência Alencar
MÁRIO CARDOSO – Beto / Albertinho (Alberto Karany Filho)
LIZA VIEIRA – Ieda Caldas
MARCELO PICCHI – Cláudio
LEONARDO VILLAR – Dr. França (Marcelo França)
MARIA ZILDA – Glorinha
SÔNIA CLARA – Luciana Ravel
ROBERTO FAISSAL – Cacau Durães
YARA SALLES – Dona Dalva Pitanga
YOLANDA CARDOSO – Dona Nina
LAJAR MUZURIS – Joel
MARIA HELENA VELASCO – Elza Pitanga
REJANE MARQUES – Bartira
JACYRA SILVA – Léa
DIOGO VILELA – Gerson Alencar
CISSA GUIMARÃES – Carla
MONIQUE LAFOND – Danúbia
TONY FERREIRA – Jaime
TARCÍSIO FILHO – Carlinhos

a menina ISABELA BICALHO – Marcinha

e
ADELAIDE PALETTE (ADELAIDE CONCEIÇÃO) – mulher do caseiro José
ALBERTO BARUQUE
BÁRBARA FAZIO – Silvana Karany (ex-mulher de Karany, irmã de Cristal, acaba assassinada)
CARLOS WILSON – Mexicano (motorista dos Karany)
CHICA XAVIER – Carmem (empregada no apartamento de Leandro e Melissa)
CHRIS COUTO – secretária de Hortência
CIDINHA MILAN – Teresa (empregada na casa dos Karany)
CLEMENTINO KELÉ – José (caseiro da casa de Cristal em Teresópolis)
DANIEL REZENDE – Eduardinho / Dudu (filho de Vivian e Leandro criado por Catucha e Juca)
DIRCEU RABELLO – Sebastião (porteiro de um motel)
EDUARDO MACHADO – Osmarzinho (irmão de Luciana que Cacau Durães usa para incriminar Gabriel)
ELIANA ARAÚJO – Brigite (funcionária da pensão de Dona Nina)
FERNANDO JOSÉ – Ronaldo Torres (caso de Silvana do passado, verdadeiro pai de Alexandra)
FRANCISCO DANTAS
GERMANO FILHO – padre do convento para onde vai Alexandra
GEUFFER JÚNIOR – desenhista da fábrica de Karany
HAROLDO MACEDO
HAYLTON FARIAS
HELOÍSA HELENA – “Li” (Luzia, vizinha de Leandro que faz o parto de Vivian)
HEMÍLCIO FRÓES
JESSÉ DANTAS – frequentador da pensão de Nina
JOANA ROCHA – trocadora de ônibus, amiga de Maria Faz-Favor
JOÃO VIEITAS – repórter que entrevista Von Strauss, candidato a governador, no último capítulo
JORGE FERNANDO – marqueteiro de Von Strauss
LAFAYETTE GALVÃO – delegado responsável pelo inquérito que investiga Gabriel
LÍCIA MAGNA
LUCY MAFRA – Silvia (babá de Tônia e Dudu)
LUÍS ORIONI – Dr. Henrique Sandoval (advogado de Vivian, no caso da guarda de seu filho)
MANOEL ELIZIÁRIO – secretário de Rômulo
MILTON MORAES – Ângelo Salvat (chefão de Cacau Durães)
MOACIR PRINA – copeiro na casa dos Karany
NOIRA MELLO
OBERDAN JÚNIOR – Marcelinho (Marcelo França Jr., filho de França e Glorinha)
OTÁVIO AUGUSTO – Dr. Fábio (advogado da família Pitanga e da família Karany)
OTÁVIO CARNAVAL – frequentador da pensão de Nina
PIETRO MARIA BARDI como ele mesmo, diretor do MASP que acompanhando Catucha e Juca em visita ao local
QUINTINO TIBÚRCIO – frequentador da pensão de Nina
RAIMUNDO EMERSON – massagista na academia de Von Strauss
SÉRGIO DIAS – massagista na academia de Von Strauss
SÉRGIO FONTA – Helinho (milionário pretendente de Aldeneide)
SUMARA LOUISE – enfermeira que trabalha para França
WALDIR AMÂNCIO – repórter que cobre a investigação sobre Gabriel
Tônia (bebê de Catucha e Juca)

– núcleo de JUCA PITANGA (Tarcísio Meira), santeiro e escultor pernambucano, natural do pequeno município de Tracunhaém. Enviava suas obras para serem vendidas no Rio de Janeiro, até descobrir que elas eram negociadas pelo dobro do preço por seu atravessador, um mau-caráter. Inconformado com a vida limitada no Nordeste, certo de seu talento e cheio de vontade de vencer, e também com a intenção de localizar um irmão desaparecido, Juca muda-se para o Rio com a família. Acaba se envolvendo com duas mulheres, a que ama de verdade e a que promove sua arte, com quem tem um sentimento de dívida. Acaba enredado em uma trama de assassinato, acusado de ter matado uma mulher:
a mãe DONA DALVA (Yara Salles), mulher simplória e religiosa. Não gosta da ideia de mudar para o Rio, mas tem um objetivo: encontrar um dos filhos, que está desaparecido desde que mudou-se para a cidade
os irmãos: GABRIEL, o BIÉ (Carlos Vereza), estabeleceu-se no Rio alguns anos antes e acabou envolvido em complicações policiais. Está foragido. Sua família muda-se para o Rio em seu encalço, sem ter ideia de como localizá-lo,
ANSELMO (Paulo Figueiredo), escritor de cordel. Rapaz simples, honesto, de temperamento forte, orgulhoso de suas origens. Resiste em mudar-se para o Rio, mas acaba convencido por Juca,
e ALDENEIDE, a NEIDINHA (Simone Carvalho), a caçula, bonita e faceira. Ingênua e deslumbrada com a cidade grande, acaba sendo presa fácil para homens com más intenções. Seu sonho é ser dançarina, o que vai contra a moral da família
o tio RÔMULO PITANGA (Jonas Mello), bem-sucedido, já morava no Rio. Sócio de uma funerária que serve de fachada para um cassino clandestino e outras atividades ilegais. Tenta ascender socialmente, apesar de sua péssima educação
a mulher de Rômulo, ELZA (Maria Helena Velasco), cafona e espalhafatosa. Esforça-se para agradar em rodas da alta sociedade, mas vive cometendo gafes.

– núcleo de ALBERTO KARANY (Walmor Chagas), escultor que abandonou a carreira e virou um respeitado marchand e um bem-sucedido executivo, dono de uma cerâmica artística. Juca se emprega em sua empresa. Pai dedicado de quatro filhos, que criou sozinho após a separação. Detesta a ex-mulher, que há décadas abandonou a família para viver nos Estados Unidos. Quando ela retorna, acaba assassinada. Alberto e Juca são suspeitos de tê-la matado:
os filhos: CAMILA, a CATUCHA (Débora Duarte), braço direito do pai e sua seguidora como marchand. De temperamento forte, no início é hostil a Juca, mas apaixona-se perdidamente e torna-se sua maior incentivadora, promovendo sua arte e ajudando-o a se tornar um artista famoso. Envolve Juca emocionalmente e os dois acabam se casando. No fundo, Juca sente-se em dívida com ela,
ROBERTA (Nívea Maria), estudante de Medicina. Moça centrada e responsável. Envolve-se com Gabriel quando o conhece, o que acaba afastando-a do mundo glamuroso em que vivia,
ALBERTO KARANY FILHO, o ALBERTINHO (Mário Cardoso), rapaz que, sentindo-se esmagado pela fama do pai, tenta conquistar espaço independentemente de seu nome. Sofre de diabetes, o que preocupa a família,
e ALEXANDRA (Myrian Rios), a caçula. É a que mais sofreu com a separação dos pais, tendo se tornado uma jovem carente e introspectiva
o amigo de Albertinho, CLÁUDIO (Marcelo Picchi), foi namorado de Catucha. Rapaz interesseiro, é incentivado por Karany a influenciar Albertinho e a conquistar Alexandra
a amiga de Alexandra, CARLA (Cissa Guimarães)
a secretária LÉA (Jacyra Silva), de sua inteira confiança
o motorista MEXICANO (Carlos Wilson), trabalha há anos na família
a empregada TERESA (Cidinha Milan).

– núcleo de SILVANA KARANY (Bárbara Fazio), ex-mulher de Karany. Morava há anos nos Estados Unidos e chega ao Rio disposta a reconquistar os filhos e levar um deles com ela para Nova York. É hostilizada pelo ex-marido, que a detesta. Conhece Juca, fica interessada nele e os dois passam uma noite juntos. Acaba misteriosamente assassinada. Karany e Juca são os principais suspeitos de sua morte:
a irmã CRISTAL CAMERINO (Tetê Medina), assim como ela, mora há anos nos Estados Unidos, onde é dona de um clube privê e de uma galeria de arte. Retorna ao Brasil quando fica sabendo de sua morte, o que reabre antigas feridas em relação a Karany
o sobrinho PIERO (Carlos Augusto Strazzer), filho de Cristal. Quando acompanha a mãe ao Rio, conhece e se apaixona pela prima Alexandra. Porém, o amor dos dois é inviabilizado, não por serem primos, mas porque desconfia-se que ele seja filho de Karany, ou seja, irmão de Alexandra, já que Karany envolvera-se com Cristal no passado. Mais tarde descobre-se que Alexandra não era filha de Karany, mas de RONALDO TORRES (Fernando José), um antigo caso de Silvana
a amiga de Piero, IEDA CALDAS (Liza Vieira), pintora. Vai namorar Albertinho.

– núcleo de VIVIAN (Vera Fischer), mulher bela que chama a atenção dos homens. Apaixona-se por Juca quando o conhece e os dois tem um complicado envolvimento amoroso, por conta da ambição dele e das investidas de Catucha, o que acaba separando-os. É estuprada pelo cunhado e engravida, mas não tem coragem de criar o bebê e entrega-o para a adoção, arrependendo-se mais tarde. Ela não sabe, mas seu bebê vai ser criado por Catucha e Juca, que casaram-se:
a irmã MELISSA, a MEL (Joana Fomm), aeromoça, vive viajando. No início, está noiva e logo se casa, mas vai decepcionar-se com o marido ao longo da trama. Irá envolver-se amorosamente com Karany
o cunhado LEANDRO SERRANO (Ney Latorraca), marido de Melissa. Executivo da empresa de Karany. Desonesto, era o atravessador das obras de Juca, mas vendia as peças e ficava com a maior parte do dinheiro. É obcecado pela cunhada Vivian, a quem assedia constantemente. Acaba estuprando Vivian, que engravida. Com o nascimento do bebê que ela esperava, luta para ter direitos sobre a criança
a empregada de Leandro e Melissa, CARMEM (Chica Xavier).

– núcleo de TÁCIO VON STRAUSS, o BARÃO VON STRAUSS (Jardel Filho), tio de Vivian e Melissa. Massagista na alta sociedade, sonha se tornar colunista social, tendo Ibrahim Sued como ídolo e inspiração. Por causa de sua profissão e lábia, é uma das pessoas mais bem informadas do Rio de Janeiro. Carismático, esperto e pouco ético, infiltra-se nas altas rodas em busca de status, não importando o meio para isso:
seu braço-direito JAIME (Tony Ferreira), funcionário da casa de massagem. Cúmplice em suas armações.

– núcleo de MARIA FAZ-FAVOR (Aracy Balabanian), mulher simples, batalhadora e muito franca. Trabalha como trocadora de ônibus. É uma figura sofrida e de grande coração, alvo perfeito para homens maus-caracteres. Tem um caso antigo com Von Strauss, inclusive uma filha. É apaixonada e explorada por ele, que tenta escondê-la de seus amigos grã-finos por ela ser uma mulher de modos rudes:
o ex-marido JORGE GAMELA (Armando Bógus), com quem tem uma filha. Tipo mau-caráter, comparsa de Rômulo Pitanga em seus negócios escusos. Chantageia a família Pitanga: promete entregar Gabriel à polícia se não permitirem seu casamento com Neidinha, por quem é loucamente apaixonado
as filhas: BARTIRA (Rejane Marques), jovem adolescente, de seu casamento com Gamela,
e a menina MARCINHA (Isabela Bicalho), de sua relação com Von Strauss
a mãe DONA NINA (Yolanda Cardoso), mulher sem papas na língua, é dona da pensão onde a família Pitanga se instala quando chega ao Rio. Gosta de Gamela e sempre o defende, por isso implica com Von Strauss, fazendo tudo para atrapalhar seu romance com a filha
o pensionista JOEL (Lajar Muzuris), antigo empregado de Karany em sua empresa, torna-se amigo de Juca. Tem uma queda por Dona Nina
o pretendente de Bartira, CARLINHOS (Tarcísio Filho), de quem ela acaba engravidando
a funcionária da pensão BRIGITE (Eliana Araújo).

– núcleo de HORTÊNCIA ALENCAR (Eva Todor), amiga de Karany, senhora elegante e simpática, dona de uma butique. Envolve-se com Von Strauss, que vê nela sua chance de ascensão social. É completamente dominada por ele, a quem ela chama carinhosamente de FONFOM:
o filho GERSON (Diogo Vilela), amigo de Alexandra, envolve-se com Carla
a amiga DANÚBIA (Monique Lafond).

– núcleo do DR. MARCELO FRANÇA (Leonardo Villar), amigo pessoal de Karany, médico da família. Mentor e confidente de Roberta, por quem mantém uma paixão escondida. Ao longo da trama, casa-se com Roberta quando ela acha que Gabriel morreu ao tentar fugir do país:
a ex-mulher GLORINHA (Maria Zilda), ciumenta, inferniza o seu casamento com Roberta. Quando Roberta o deixa para ficar com Gabriel, ele reata com a ex-mulher
o filho MARCELINHO (Oberdan Jr.).

– núcleo de CACAU DURÃES (Roberto Faissal), milionário que tem negócios escusos com Rômulo Pitanga, o que garante a este acesso à alta sociedade. Envolveu Gabriel em uma cilada, sendo o responsável por ele ser perseguido pela polícia:
a mulher LUCIANA RAVEL (Sônia Clara), sabe dos envolvimentos do marido e tenta proteger a si. Envolve-se amorosamente com Anselmo
o cunhado OSMARZINHO (Eduardo Machado), irmão de Luciana, rapaz envolvido com drogas
o chefão em seus negócios, ÂNGELO SALVAT (Milton Moraes, participação), que acaba eliminando-o no decorrer da trama.

Pesadona

Janete Clair conseguiu armar seu leque com todas as emoções que fazem o gênero. Entretanto Coração Alado foi uma novela mastodôntica em sua criação. Excesso de infelicidade para a heroína Vivian (Vera Fischer) e um indefinido caráter para o protagonista Juca Pitanga (Tarcísio Meira). (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

No início, Coração Alado penou para conquistar o público. No domingo do dia 05/10/1980, a Globo exibiu, após o Fantástico, um compacto dos 50 primeiros capítulos da novela, na tentativa de fisgar o telespectador que ainda não havia se conectado com a história. (jornal O Globo, 05/10/1980)

“A novela era depressiva, com poucas gravações externas, e um texto puxado para o melodrama que não se encaixava mais no horário das oito”, afirmou Artur Xexéo na biografia da novelista, “Janete Clair, a Usineira de Sonhos”.

O diretor Paulo Ubiratan, em entrevista ao Jornal do Brasil de 17/03/1988, lamentou: “A Janete Clair é pesadona e se você não suaviza luzes, cores e cenários, a novela fica triste. (…) quebrei a cara em Coração Alado, uma novela triste…”

Janete sofreu com a censura e com as críticas. Todavia, a autora chocou com uma cena de estupro e outra de masturbação feminina.

Estupro

A sequência do capítulo 40 em que a personagem Vivian (Vera Fischer) é estuprada pelo cunhado Leandro (Ney Latorraca) foi ao ar no dia 25/09/1980. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Ney Latorraca comentou sobre a sequência em seu livro “Muito Além do Script”:
“A cena era muito delicada, difícil de fazer. Precisávamos ensaiar e tinha muita gente olhando. Não foi um ataque de estrelismo, mas naquele momento, Vera (Fischer) e eu pedimos por favor para que os estranhos à gravação saíssem do estúdio (…) A cena teve que ser refeita várias vezes, por que Vera é muito forte e eu, no auge de minha magreza, não conseguia derrubá-la, até inventarem um artifício para facilitar as coisas. Eu dava um remedinho para ela, a personagem ficava meio grogue, e aí dava para gravar a cena do estupro.”

Reclamou Janete em entrevista à revista Amiga (publicada na edição de 17/12/1980):
“Eu não consigo ainda entender isso direito, já que a própria televisão mostra diariamente cenas reais de violência muito mais sérias do que esta. A mesma rádio que fala mal de Coração Alado num programa, logo depois apresenta seu noticiário local mostrando as maiores barbaridades. Acho uma incoerência que a ficção agrida mais que a realidade.”

Masturbação

Maior polêmica ainda causou a cena da masturbação de Catucha (Débora Duarte). Para matar as saudades do ex-marido, a personagem teve seu prazer solitário, na encenação da primeira masturbação da TV brasileira. A autora pediu ao diretor Roberto Talma uma cena forte, de sexo. Os ângulos mostraram a expressão de êxtase de Catucha, estirada sobre uma cadeira, e seus pés fazendo pequenos movimentos circulares. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

De acordo com o site Memória Globo, “para complicar, a cena foi levada ao ar com um áudio vazado, no qual o diretor Roberto Talma, durante a gravação, orientava a atriz sobre como se comportar para simular a masturbação. Foi um escândalo.”

Logo após a exibição, no dia 24/02/1981, sumiram do arquivo da emissora todas as cópias deste script, e a fita do capítulo 171 foi apagada.

Feminismo

Em 1980, o feminismo era uma pauta da sociedade. Na Globo, a série Malu Mulher fazia sucesso. Coração Alado foi a novela em que Janete Clair mais abordou temas envolvendo a liberdade e os direitos das mulheres em contraponto ao machismo e à misoginia. Além das polêmicas cenas da masturbação feminina e do estupro, houve uma trama sobre feminícidio: Silvana (Bárbara Fazio) é assassinada pelo marido, Alberto Karany (Walmor Chagas).

No final da novela, Karany é absolvido em julgamento por legítima defesa da honra, um desfecho em que a autora emulava o julgamento real (ocorrido em 1979) que pôs em liberdade o empresário Doca Street, acusado do assassinato de sua namorada Ângela Diniz (ocorrido em 1976).

No último capítulo da novela, Janete Clair critica o veredito concedido a Doca Street na cena em que Karany sai livre de seu julgamento e é interpelado por uma repórter, que brada: “Trata-se de mais uma absolvição vergonhosa! Vocês matam e invocam a lei, a justiça e a moral, enquanto nós, as mulheres, ficamos sem a proteção da lei e da justiça.”

Na vida real, o caso Doca Street ganhou enorme projeção na sociedade, levando milhares de pessoas em protesto às ruas, exigindo um novo veredito para o acusado. Doca Street acabou novamente julgado, em 1981, e foi condenado a 15 anos de prisão.

Outro feminicídio aconteceu no último capítulo. Enquanto Karany era posto em liberdade, Gamela (Armando Bógus) matou Catucha (Débora Duarte) pensando tratar-se de sua ex-mulher Aldeneide (Simone Carvalho).

Também por meio da personagem Maria Faz-Favor (Aracy Balabanian), mulher sofrida que sempre viveu em função de homens canalhas, Janete Clair retratou a luta de milhões de brasileiras comuns enfrentando o dia a dia pela sobrevivência e contra o machismo vigente na sociedade.
No último capítulo, Maria revolta-se ao saber que a filha deseja batizar sua neta com seu nome: “Pra ter o meu destino? Pra lutar feito uma desgraçada pela vida? Põe outro nome!”
Sua mãe Nina (Yolanda Cardoso) retruca: “Ela não vai ser desgraçada por se chamar Maria. Se ela vai se chamar Solange, Ieda, Aracy, Yolanda, Janete, ela vai ter que lutar muito. Sabe por que? Porque ela é mulher!”
Maria concorda: “Isso é verdade! Mas se Deus quiser, quando a minha neta crescer, vai ter um lugarzinho ao sol pras mulheres!”

A propósito, entre os nomes que Dona Nina cita no diálogo acima (Aracy, Yolanda, Janete), ela faz referência a Aracy Balabanian (sua companheira de cena), a Yolanda Cardoso (a própria atriz) e a Janete Clair (a autora da novela).

Elenco

Aracy Balabanian foi um dos destaques do elenco de Coração Alado. Como batalhadora trocadora de ônibus Maria Faz-Favor (“Um passinho pra frente, por favor!”), brilhou ao lado do ator Jardel Filho, que vivia o algoz de sua personagem, o aproveitador Von Strauss, que também caiu nas graças do público.
Von Strauss rendeu a Jardel Filho o prêmio de melhor ator de 1980 concedido pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – premiado juntamente com Stênio Garcia, por sua atuação na série Carga Pesada.
Jardel também levou o Troféu Imprensa de melhor ator de 1980.

Inicialmente escalada para a novela, a atriz Maria Cláudia ficou de fora de Coração Alado: viveria Catucha (papel que coube a Débora Duarte) ou Melissa (depois defendida por Joana Fomm). Maria Cláudia foi rearranjada para a próxima novela das sete: Plumas e Paetês.

Também Maitê Proença foi chamada para ser Alexandra (vivida depois por Myrian Rios), mas um acidente a afastou da produção (a atriz acabou estrelando a nova atração das 18 horas, As Três Marias).

De acordo com o depoimento de Eva Wilma a Flávio Ricco e José Armando Vannucci, para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”, a atriz havia sido inicialmente reservada para Coração Alado (provavelmente para o papel de Silvana Karany, que ficou com Bárbara Fazio). Como Eva tinha compromissos com teatro, a Globo promoveu a substituição e ela foi então remanejada para Plumas e Paetês, que estreou depois.

Estreia na Globo do ator Carlos Augusto Strazzer, egresso das novelas da TV Tupi.
Primeira novela da atriz Cissa Guimarães e dos atores Oberdan Júnior (com 9 anos na época) e Tarcísio Filho (com 14 anos).

A atriz Sônia Clara voltava à TV após um hiato de 8 anos (a última novela fora Selva de Pedra, em 1972, em uma pequena participação).

Diabetes

Os telespectadores reagiram mal ao personagem Albertinho (Mário Cardoso), diabético, obrigado a recorrer a doses diárias de insulina. Em virtude das centenas de cartas recebidas pela autora e pela TV Globo – principalmente de pais de crianças diabéticas, alegando que a novela era para entreter, e não para discutir doenças – o personagem passou a dispensar a medicação.

Surgiram então protestos da Associação de Diabetes Juvenil, que julgava ser aquela uma oportunidade de esclarecer e informar a população sobre a doença. Em vista dessa ponderação, Janete Clair decidiu que, a partir do capítulo 101, voltaria à história original do personagem. (Site Memória Globo)

Selva de Pedra 2

É sabido que todos os autores de novelas se repetem em suas obras. Contudo, salta aos olhos a quantidade de semelhanças de tramas entre Coração Alado e outra novela de Janete Clair: Selva de Pedra, de 1972:

– No início de ambas, o protagonista, um homem pobre (Juca Pitanga / Cristiano Vilhena), parte do interior para o Rio de Janeiro e vai trabalhar para um homem muito rico (Alberto Karany / Aristides Vilhena);
– O protagonista é acusado de assassinato, com a morte de um personagem no início da história (Silvana Karany / Gastão Neves);
– O protagonista envolve-se romanticamente com uma moça de origem humilde (Vivian / Simone), a quem ama verdadeiramente, e uma rica (Catucha / Fernanda), de quem ambiciona a fortuna e status social;
– A moça rica, rejeitada, fica transtornada, dando sinais de desequilíbrio emocional;
– A família do protagonista é muito religiosa. Também parte para o Rio, indo morar na pensão de uma senhora muito expansiva (Dona Nina / Fanny), onde já morava a amada do protagonista (Vivian / Simone);
– Uma irmã do protagonista é faceira, ingênua e deslumbrada (Aldeneide / Diva), sendo presa fácil para um malandro mau-caráter (Gamela / Miro), morador da pensão e sempre defendido pela proprietária (Dona Nina / Fanny);
– Por fim, as duas novelas exploram o universo das artes plásticas, sendo os protagonistas artistas novatos: em Coração Alado, Juca, e em Selva de Pedra, Simone.

Locações e cenografia

O primeiro capítulo mostrou a encenação da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, no sertão pernambucano, com mais de 40 atores e 1200 figurantes. A Paixão, dirigida por José Pimentel todos os anos àquela época, foi remontada especialmente para as gravações da novela.

Coração Alado também teve cenas gravadas na cidade de São Paulo (onde o MASP foi um dos cenários) e em Nova York, nos Estados Unidos. (Site Memória Globo)

As esculturas de autoria de Juca Pitanga, personagem de Tarcísio Meira na novela, eram na verdade obra do artista plástico Holoassy Lins.

Título e trilha sonora

A jornalista Hildegard Angel narrou em sua coluna no jornal “O Globo” sobre o nome da novela:
“O título Vernissage, que já era considerado definitivo, foi mudado, em uma reunião de Janete Clair com Boni, para Coração Alado. A música ‘Noturno’ de Fagner, que faz referência ao tal coração, foi usada como tema de abertura. Boni chegou a tocar a música para a autora ouvir e ela achou-a lindíssima.”

Além de Vernissage, outro título provisório foi O Grande Salto.

Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Coração Alado, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

Exibição

Coração Alado esteve inicialmente programada para terminar em 07/03/1981. Janete Clair solicitou que sua novela fosse espichada em mais uma semana para o desfecho não coincidir com a semana do carnaval. Assim, a novela foi concluída em 14/03/1981. (O Globo, 24/12/1980, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

Em janeiro de 2024, o Globoplay lançou o Projeto Fragmentos, que disponibiliza novelas incompletas do acervo da Globo, de até 20 capítulos. Nesta primeira leva, foram liberadas O Rebu (1974-1975), Estúpido Cupido (1976-1977), Chega Mais (1980) e Coração Alado – da qual, os capítulos 1, 2, 92, 93, 184 e 185, os únicos disponíveis.

Trilha sonora nacional

01. MOMENTOS – Joanna (tema de Catucha)
02. PONTO DE INTERROGAÇÃO – Gonzaguinha (tema de Leandro)
03. MODA DE SANGUE – Elis Regina (tema de Gabriel e Roberta)
04. ESCRAVO DA ALEGRIA – Vinícius e Toquinho
05. SÓ NOS RESTA VIVER – Ângela Ro Ro (tema de Glorinha)
06. VOCÊ E EU, EU E VOCÊ – Tim Maia
07. LAVADEIRAS – Denise Emmer (tema de Dalva)
08. ELA E EU – Maria Bethânia
09. PÁSSARA – Francis Hime e Chico Buarque (tema de Silvana)
10. MEU BEM-QUERER – Djavan (tema de Vivian)
11. QUERO COLO – Fábio Jr. (tema de Piero e Alexandra)
12. SEM COMPANHIA – Clara Nunes (tema de Maria Faz-Favor)
13. VIAJANTE – Dominguinhos (tema de Juca)
14. NOTURNO – Fagner (tema de abertura)

Sonoplastia: Antônio Faya e Guerra Peixe Filho
Direção de produção: Guto Graça Mello
Pesquisa de repertório: Lulu Santos

Trilha sonora internacional

01. THE WINNER TAKES IT ALL – Abba (tema de Juca e Vivian)
02. SURVIVE – Jimmy Buffet (tema de Gabriel e Roberta)
03. I’M SO GLAD THAT I’M A WOMAN – Love Unlimited
04. ALL OUT OF LOVE – Air Supply (tema de Catucha)
05. FIRST BE A WOMAN – Leonore O’Malley
06. AFTER YOU – Michael Johnson (tema de Melissa)
07. MORE LOVE – Kim Carnes (tema de Luciana)
08. SAILING – Christopher Cross (tema geral)
09. I LOVE YOU DANCER – Voyage
10. SHINE ON – L.T.D. (tema de Piero e Alexandra)
11. RESCUE ME – A Taste of Honey
12. ROLLER SHAKE – La Flavour
13. MIGHTY SPIRIT – Commodores
14. YOU’LL NEVER KNOW – Henry Mancini (tema de Karany)

Trilha sonora complementar: Temas instrumentais das novelas Coração Alado e Plumas & Paetês

01. TAKE FIVE – Quartet (tema de Von Strauss, de Coração Alado)
02. PRÊT-À-PORTER – Robson Jorge (tema de Plumas e Paetês)
03. YOU´LL NEVER KNOW – Golden (tema de Coração Alado)
04. SQUASH – Robson Jorge (tema de Plumas e Paetês)

Ainda
SPIRAL – Vangelis (tema das vinhetas de intervalo)

Tema de abertura: NOTURNO – Fagner

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio
Mas deixaram suas marcas
Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania vem mais forte

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito nos deixou
Há muito nos deixou…

Ah, coração alado!
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança
Nessa estrada
Só quem pode me seguir sou eu
Sou eu, su eu, sou eu…

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