Sinopse

A desapropriação de uma rua no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, para a construção do metrô, separa vidas há anos entrelaçadas. Entre elas, os noivos Leda Maria e Dino César. Ele resolveu ir para São Paulo tentar a carreira de cantor. A brecha deixada por sua ausência foi ocupada por Tomás, que há tempos amava Leda. Os dois se casam e vão morar com a família dele: o pai Menelau Palas, um grego dono de uma agência de casamentos, e seus irmãos Sônia, que trabalha com o pai, e Osvaldo, um sonhador que vive em confusões.

Ciumento e brigão, Tomás vigiava a vida de Leda, suspeitando de tudo e de todos. Em um baile de carnaval, acaba se metendo em uma briga por causa dela: criada a confusão, ele sai correndo do clube e é atropelado e morto. Viúva e com o pequeno Téo para criar, Leda Maria se aproxima de Dona Rosa, espécie de conselheira do bairro. Apesar da boa situação financeira, a senhora adora o Catete e é uma das pessoas mais preocupadas com a ameaça de demolição para as obras do metrô, procurando manter a união dos moradores.

A aproximação de Leda e Rosa é reforçada pelo fato do filho da velha senhora, Vitor Amadeu, ter sido amigo do pai de Leda. Vitor é médico e, como a mãe, importa-se com a comunidade. Por isso, inicia um programa de atendimento gratuito para os mais pobres. No início, Vitor preocupa-se com a difícil situação de Leda e, dessa preocupação inicial, acaba nascendo um amor. Porém, esta é uma relação tensa: eles se casam, separam-se e tornam a ficar juntos. O retorno de Dino César complica ainda mais a história.

Fracassando em sua tentativa profissional, Dino quer recomeçar a vida e reatar o noivado com Leda, como se nada tivesse acontecido. Ao mesmo tempo, utiliza-se de todos os subterfúgios possíveis para seguir o almejado sucesso como cantor. Por meio de uma farsa, aproxima-se da temperamental Cláudia, dirigente de uma gravadora, e acaba por se juntar a ela, atingindo seu objetivo. Porém, ao mesmo tempo que Cláudia tem poderes para consagrar Dino César, também pode acabar com sua carreira.

Nesse meio tempo, as demolições começam e os moradores, liderados por Dona Rosa, retiram-se do velho bairro, mudando-se para outro local. É quando Sônia se apaixona pelo garotão Maurício – ela, uma mulher madura, e ele, um rapaz bem mais jovem – e tem de lutar contra as dificuldades dessa relação para ficarem juntos.

Globo – 20h
de 13 de dezembro de 1976
a 13 de junho de 1977
154 capítulos

novela de Janete Clair
direção de Daniel Filho, Jardel Mello e Gonzaga Blota
direção geral de Daniel Filho

Novela anterior no horário
O Casarão

Novela posterior
Espelho Mágico

BETTY FARIA – Leda Maria
FRANCISCO CUOCO – Vitor Amadeu
MÁRIO GOMES – Dino César
SUSANA VIEIRA – Cláudia
LUIS GUSTAVO – Osvaldo
SADI CABRAL – Menelau Palas
ISABEL RIBEIRO – Sônia
STEPAN NERCESSIAN – Maurício
ELZA GOMES – Dona Rosa
NEUZA AMARAL – Sara
FLÁVIO MIGLIACCIO – Túlio
ALBERTO PEREZ – Raul Barbosa
HELOÍSA HELENA – Virgínia
HÉLIO ARY – Sena
RUTH DE SOUZA – Elisa
ARLETE SALLES – Naná
LAURA SOVERAL – Leonor
MOACYR DERIQUÉM – Heitor
CHRISTIANE TORLONI – Juliana
GLÓRIA PIRES – Letícia
ANTÔNIO GANZAROLLI – Jorge
AUGUSTO OLÍMPIO – Oliveira
YAÇANÃ MARTINS – Shirley
NAVARRO PUPPIN – Luiz Carlos
LUÍS VASCONCELOS – José
LEDA BORBA – Francisca
ISOLDA CRESTA – Vera
ALEGRIA – Gentil Paulino
SILVIO FRÓES – Braga
SAMANTHA SCHULLER – Sandra
MYRIAN RIOS – Cidinha
ZEZÉ MOTTA – Jandira
ALFREDO MURPHY – Osmano
SÉRGIO FONTA – Renatinho
RENATA RAYAN – Maria

o menino CARLOS POYART – Téo

e
ANA ARIEL – Madame Juliana Xavier (mãe de Juliana, ex-prostituta que casou-se com um milionário)
AURIMAR ROCHA – Carlos
CECIL THIRÉ – Tomás (primeiro marido de Leda, pai de Téo)
CLEYDE BLOTA – Roberta Bernardes
DARY REIS – Barros
ELIANE MEDEIROS – Ana Maria
FRANCISCO MORENO – Eugênio Malta (verdadeiro pai de Juliana)
JAIME BARCELOS – Geraldo
LÚCIA HELENA ALVES – Maria José (assistente social do metrô)
MILTON GONÇALVES – Alexandre
NÍVEA MARIA – Hebe
RICARDO – Ricardo (Rômulo, cantor lançado por Cláudia, no final)
SÔNIA OITICICA – mãe de Paula
SUZANA FAINI – Paula (paciente de Vitor)
VERA GIMENEZ – Zuleica (ex-mulher de Osvaldo, mãe de Letícia)
Alba (filha de Madame Xavier e de seu marido milionário)
Rubens Villar (par de Juliana no final)

– núcleo de LEDA MARIA (Betty Faria), mulher passional de atitudes, muitas vezes, consideradas individualistas e agressivas. O ciúme crescente do marido faz com que dedique um afeto quase sufocante ao filho pequeno. O reencontro com uma antiga paixão de adolescência abala seu casamento. Após ser abandonada pelo marido, envolve-se também com um médico:
o marido TOMÁS (Cecil Thiré, participação), um tipo de caráter dúbio. As dificuldades diárias e o ciúme excessivo que sente da mulher abalam seu relacionamento. Rouba o dinheiro da indenização do pai e foge com a amante, abandonando a família. Morre em um acidente de carro, logo no início da trama
o filho pequeno TÉO (Carlos Poyart), menino inteligente e extrovertido, apaixonado por futebol. Coleciona caixinhas com os mais variados insetos e tem como grande companheiro o avô
a amante de Tomás, NANÁ (Arlete Salles), mulher vulgar, interesseira e oportunista. Convence Tomás a fugir com o dinheiro do pai dele
a empregada MARIA (Renata Rayan).

– núcleo de VITOR AMADEU (Francisco Cuoco), bem-sucedido cirurgião, homem sério e exigente, capaz de qualquer gesto para ajudar o próximo. Porém solitário. Além de ser diretor de um hospital, mantém um consultório anexo a sua casa, onde iniciou um programa de atendimento gratuito. Envolve-se com Leda Maria, com quem preocupa-se em demasia, pois fora grande amigo de seu pai. Mas as atitudes dela acabam por afastá-lo:
a mãe DONA ROSA (Elza Gomes), viúva, mulher ativa, sempre pronta a ajudar os filhos e os amigos. Apesar da boa situação financeira, nunca pensou em deixar a casa do Catete, onde mora há anos com a família. Com a desapropriação da rua, assume a responsabilidade de encontrar outro lugar para todos morarem e também um novo consultório para Vitor continuar seu programa de consultas grátis
a irmã JULIANA (Christiane Torloni), estudante de Medicina, trabalha em seu consultório. Desconfia-se que seja, na verdade, filha de Vitor. Foi criada por Rosa, já que sua mãe a deixou em sua casa. Ao final, o mistério é desfeito: é filha de um ex-prostituta, mas de outro homem, não de Vitor. Está noiva, mas sempre adia o casamento por achar que seu noivo não compreende seus gostos e atitudes
os amigos médicos: SARA (Neuza Amaral), apaixonada por ele, não compreende os motivos que o levam a permanecer solteiro,
e JORGE (Antônio Ganzarolli)
a amiga de Dona Rosa, ELIZA (Ruth de Souza), professora, mantém um colégio numa casa alugada a preço irrisório, onde também mora. Prejudicada pela desapropriação da rua, uma vez que não tem direito à indenização e dificilmente encontrará um lugar nas mesmas condições para instalar sua escola
a mãe de Juliana, MADAME JULIANA XAVIER (Ana Ariel, participação), com quem Vitor teve um caso no passado, apesar da diferença de idade entre os dois, já que ela é mais velha. Deixou a filha para Rosa cuidar, já que era prostituta. Existe a dúvida se Vitor é pai de Juliana. Reaparece depois de décadas, agora rica, mulher de um milionário, para reencontrar a filha. É revelada a identidade do verdadeiro pai de Juliana: EUGÊNIO MALTA (Francisco Moreno, participação).

– núcleo de DINO CÉSAR (Mário Gomes), aspirante a cantor, namorado de adolescência de Leda Maria, ainda apaixonado por ela. Volta para casa depois de oito anos afastado da família, quando os pais recebem a notícia da desapropriação da rua. Não tem o apoio do pai, que é contra sua carreira de cantor e o obriga a trabalhar como garçom no restaurante da família. É capaz de tudo para provar que tem talento e está disposto a conseguir uma chance como cantor:
o pai RAUL BARBOSA (Alberto Perez), proprietário do restaurante mais famoso do bairro, outrora frequentado por políticos e intelectuais. Sua família é a mais abalada emocionalmente pela desapropriação da rua
a mãe VIRGÍNIA (Heloísa Helena), responsável pela comida do restaurante. A notícia da desapropriação, no entanto, provoca um grande abalo em sua saúde mental, obrigando-a a afastar-se por um tempo do trabalho e do bairro
o irmão mais velho TÚLIO (Flávio Migliaccio), solteiro, o principal apoio dos pais nos momentos mais difíceis. Amigo de Tomás. Além de trabalhar como gerente numa agência de casamentos, ajuda no restaurante da família
e o garçom no restaurante OLIVEIRA (Augusto Olímpio), sempre o ajuda a resolver seus problemas financeiros.

– núcleo de CLÁUDIA (Susana Vieira), mulher bonita e charmosa, viúva de Rômulo, que fora um famoso cantor. Teoricamente, é a chefe de relações públicas da gravadora Danúbio, de propriedade de sua sogra. Mas, na prática, assumiu quase toda a responsabilidade da gravadora, que passa por uma séria crise. À procura de novos talentos para lançar no mercado fonográfico, conhece Dino César, com quem acaba se envolvendo, e o lança no cenário musical. A princípio ele faz sucesso, mas a relação dos dois desaba e, em consequência, a carreira dele também:
a sogra LEONOR (Laura Soveral), mãe de Rômulo, cultua a memória do filho e nunca conseguiu superar a perda. Proprietária da gravadora Danúbio, desde a morte do filho entregou a direção dos negócios à nora
o pretendente LUIZ CARLOS (Navarro Puppin), com quem namorava em segredo, no início. Sofre com a perseguição de Leonor, que desconfia da relação dos dois.

– núcleo de OSVALDO (Luis Gustavo), irmão de Tomás. Sonhador, um homem refém de suas fantasias. Divorciado, acredita que a única maneira de manter o amor de sua filha é através de mentiras. Por isso, intitula-se um rico fazendeiro, contraindo despesas muito além do que consegue arcar com o que ganha no jogo ou em pequenos serviços:
a filha adolescente LETÍCIA (Glória Pires), garota mimada. Sabe que o pai é capaz de tudo para satisfazê-la e aproveita-se disso, acreditando que ele seja um milionário
a ex-mulher, ZULEICA (Vera Gimenez, participação), reaparece no final da trama.

– núcleo de MENELAU PALAS (Sadi Cabral), pai de Tomás e Osvaldo, avô de Téo e Letícia. Grego, viúvo, dono de uma agência de casamentos que quase não gera lucro, gerenciada por Túlio. Um dos mais antigos moradores do Catete, tem sua propriedade destruída por conta das obras do metrô e se vê obrigado a mudar-se para o apartamento em que Tomás vive com a mulher e o filho. É vítima de Tomás, que rouba dinheiro de sua indenização e foge:
os outros filhos HEITOR (Moacyr Deriquém), afastou-se da família para viver em São Paulo, onde enriqueceu. Mantém-se alheio aos problemas do pai,
e SÔNIA (Isabel Ribeiro), solteirona, proprietária de uma agência de viagens. Mora sozinha em um apartamento da Zona Sul, mas sofre com a solidão. Evita relacionamentos amorosos, mas acaba se envolvendo com um rapaz, bem mais jovem do que ela
os inquilinos que alugam um quarto em sua propriedade JOSÉ (Luís Vasconcelos), de saúde frágil, e a mulher FRANCISCA (Leda Borba).

– núcleo de MAURÍCIO (Stepan Nercessian), trabalha como técnico de som na gravadora Danúbio. Desligado de problemas maiores, seu principal compromisso é com a noiva Juliana, com quem vive brigando. Com o retorno de Dino, passa a se ocupar também com a carreira do amigo. Acaba apaixonando-se por Sônia, uma mulher mais velha, e enfrenta os problemas dessa relação:
o pai SENA (Hélio Ary), um dos moradores mais antigos do Catete, dono da casa de móveis. Sente-se o mais prejudicado pela desapropriação, embora seja exatamente o contrário. Encara o metrô como uma perseguição pessoal. E, apesar de estar em melhor situação financeira do que os vizinhos, vive a se lamentar, achando que não conseguirá refazer seus negócios em outro lugar.

– núcleo da agência de casamentos de Seu Menelau, onde Túlio é gerente:
a secretária SHIRLEY (Yaçanã Martins), dedica-se a pensar em formas de divulgar o serviço, preocupada em evitar o fechamento do negócio
os clientes VERA (Isolda Cresta), deseja casar-se com um homem bonito, com todas as qualidades morais e físicas de um herói romântico. Comparece quase que diariamente ao escritório para recolher a correspondência e reafirmar suas exigências, sem perceber que o primeiro da fila é Túlio
e GENTIL PAULINO (Alegria), dos candidatos mais exigentes. Desiste de todas as pretendentes, pois sempre encontra um defeito, por mais insignificante que seja.

Tragédia urbana

Duas Vidas deu seguimento à linha realista que a autora, Janete Clair, havia iniciado no ano anterior com Pecado Capital. Era a consolidação de uma fase em que o tema central era a tragédia urbana.

A história propunha três partes distintas: a vivência dos moradores desapropriados pelas obras do metrô carioca, no bairro do Catete, a dispersão deles, e o reencontro com as vidas modificadas. O caráter realista do início da novela era ainda mais enfatizado pela localização temporal: a história começa nas vésperas do Carnaval de 1974, justamente quando tiveram início as primeiras demolições para as obras do metrô na cidade do Rio de Janeiro.

Em entrevista à revista Cláudia, em julho de 1977, logo após o término da novela, Janete Clair explicou a repercussão de sua obra:
“Hoje em dia estou muito mudada, não procuro mais só temas românticos, já escrevo procurando contestar alguma coisa. Mas o público gosta só de sofrer! (…) Por isso eu admito que faço algumas concessões. No final de Duas Vidas, Leda Maria e Vitor deveriam se separar, mas o número de cartas que recebi do público, pedindo que os dois ficassem juntos, foi tão grande que não pude deixar de contentá-los com um final feliz.”

Título

Duas Vidas é principalmente a história de muitas vidas, sentimental e geograficamente entrelaçadas, que, de maneira brusca, são dispersadas”, definiu Janete Clair no início da trama.

A abertura, que mostrava mãos de uma criança e de uma mulher brincando de cama de gato (barbante entrelaçado nas mãos), sugeria que as duas vidas do título fossem uma referência à relação da protagonista Leda Maria (Betty Farias) com seu filho pequeno, Téo (Carlos Poyart).

O título também pode representar uma simbologia para a mudança de vida de Leda quando ela fica viúva e tem de criar o filho sozinha.

E, em uma análise mais minuciosa sobre a obra, o título pode fazer referência à vida dos moradores do bairro do Catete, antes e depois do metrô. A propósito, o primeiro título pensado para a novela foi O Metrô.

Virou mania entre os telespectadores a brincadeira de “cama de gato” (apresentada na abertura), em que figuras geométricas são feitas com um barbante entrelaçado em dois pares de mãos.

Censura

Janete Clair voltou a travar nova luta com a censura do Regime Militar. Nenhum personagem de Duas Vidas era inteiramente bom ou mau. O vilão da novela era o metrô, que era uma obra do Governo Federal, e, como tal, não poderia ser criticado na televisão. A censura também não gostou do relacionamento amoroso entre Sônia (Isabel Ribeiro) e Maurício (Stepan Nercessian), por ela ser bem mais velha que ele – apesar de os dois serem solteiros e desimpedidos.

O diagnóstico foi implacável: além de subversiva, Duas Vidas atentava contra a moral e os bons costumes. (“Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo)

A novela estava no ar há apenas um mês quando, no dia 11/01/1977, Janete escreveu em uma carta a Rogério Nunes, diretor da Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal:
“Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada em face dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas. Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores. De fato não posso entender que conceitos morais ou de qualquer natureza possam determinar a proibição de um romance de amor entre um jovem e uma mulher madura, ambos solteiros. (…) Não posso entender igualmente o porquê da proibição de outra cena em que o dono de uma casa de móveis reclama contra a poeira produzida pelas obras do metrô, que lhe emporcalha os móveis e afugenta a freguesia, quando todos nós sabemos dos transtornos ocasionados por essa obra pública (…)”.

O esforço da autora foi inútil. Duas Vidas continuou sendo um trabalho frustrado e a crítica manteve-se impiedosa em relação a ele. (“Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo)

Elenco

Agradável participação do menino Carlos Poyart, como Téo, e seu relacionamento com a mãe, Leda Maria (Betty Faria). Poyart, que completou 8 anos no decorrer da novela, fez mais alguns trabalhos na televisão, como a novela seguinte de Janete Clair, O Astro, e o humorístico Planeta dos Homens.

Em um capítulo da novela, Leda Maria precisa ir a uma festa e não tem roupa apropriada. Tal qual Scarlet O’Hara do filme … E o Vento Levou (1939), ela arranca a cortina de renda da janela e faz um vestido com o tecido.

Primeira novela das atrizes Christiane Torloni e Yaçanã Martins.

Cenourinha

Daniel Filho assinou a direção-geral de Duas Vidas e cuidou pessoalmente dos primeiros capítulos, passando o bastão para Gonzaga Blota e Jardel Mello (no capítulo 41) quando a paixão de Betty Faria, sua mulher na época, pelo ator Mário Gomes (os dois no elenco) saltou da ficção para a vida real, tornando insustentável sua permanência na direção da novela.
“Foi abandono mesmo. Eu larguei a história e nem mais vi a novela”, admitiu Daniel a Mauro Ferreira e Cleodon Coelho para o livro “Nossa Senhora das Oito”.

Na época, comentava-se que o diretor, muito influente na alta cúpula da Globo, usaria de seu poder para boicotar a carreira de Mário Gomes. Logicamente Mário nunca mais foi escalado por Daniel Filho. No entanto, o ator não ficou longe do vídeo, já que ganhou um papel de destaque em uma das próximas produções da emissora, a novela O Pulo do Gato.

Este não foi o único “diz que diz que” envolvendo Mário Gomes durante a exibição de Duas Vidas. Até hoje permanece no imaginário popular uma fofoca maldosa, com a intenção de prejudicar o ator, envolvendo uma cenoura.

Em 1976, o produtor musical e cineasta Carlos Imperial, para promover o seu filme O Sexo das Bonecas – adaptação da peça teatral “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá” -, teve a ideia de espalhar cartazes pela cidade com Mário Gomes — um dos atores do filme e da peça — travestido de mulher. O ator – que pela primeira vez em sua carreira estava em evidência, após as atuações nas novelas Gabriela e Anjo Mau – não gostou: entrou na Justiça e conseguiu o recolhimento do material de divulgação.

Para vingar-se de seu desafeto, Imperial teria “plantado” no jornal Luta Democrática a falsa notícia de que Mário Gomes havia dado entrada no hospital com uma cenoura entalada no ânus. A nota escandalosa foi publicada na primeira página da edição do dia 24/03/1977, dando conta de que o ator procurara a Maternidade Fernão de Magalhães, em São Cristóvão (RJ), com uma cenoura “em um local absolutamente invisível”.

Por causa desse episódio, Mário Gomes ganhou o apelido jocoso de “Cenourinha”.

Cantores na vida real

A fusão de fantasia e realidade não limitou-se apenas à alusão aos problemas causados pelas obras do metrô. O personagem-cantor (Dino César) passou a ser cantor também na vida real: o ator Mário Gomes gravou um disco, inclusive com uma música na trilha sonora da novela (“Chiclete e Cabochard”). E cantor com marca registrada: o colar de contas brancas que o personagem usava transformou-se em moda nacional.
Em 1984, Mário Gomes voltou a cantar para a trilha de uma novela em que atuava: gravou a música “O Dono da Bola” para o seu personagem Luca em Vereda Tropical.

Na trama da novela, em substituição a Dino César (Mário Gomes), a gravadora de Cláudia (Susana Vieira) lança um novo cantor no cenário musical brasileiro: Ricardo. Novamente ficção e realidade se mesclavam, já que Ricardo era de fato um cantor que estava sendo lançado naquele momento. Sua música de trabalho, “Eu Gosto de Você”, cantada por ele em Duas Vidas, não constou na trilha oficial da novela, mas acabou entrando para a trilha sonora de uma das próximas produções da Globo: Dona Xepa.

Na época da novela, Francisco Cuoco lançou pela gravadora CBS um compacto duplo recitando dois poemas: “Duas Vidas”, de Hélio Matheus, tendo como base musical o tema de abertura da novela, e “Vida”, de Silvio César, sobre a base instrumental da música “My Life”, de Michael Sullivan, da trilha da novela O Casarão. (“Teletema, a História da Música Popular Brasileira Através da Teledramaturgia”, Guilherme Bryan e Vincent Villari)

Erro no LP

Há um erro na impressão do rótulo do lado B do LP com a trilha internacional. Alguns exemplares do disco vêm com impressões informando, erroneamente, a quarta música como “Don’t Make Me Wait Too Long”, com interpretação creditada a Lloyd Douglas, apesar de a capa do LP e o próprio fonograma estarem corretos, com a música “Jamie (My Love)”, creditada a Camilo Sesto.

Reprise

Duas Vidas foi reapresentada em 1981, às 22 horas, em um compacto de 20 capítulos, exibidos entre 5 e 30 de janeiro.

Trilha sonora nacional

01. MENINA DE CABELOS LONGOS – Agepê (tema de Osvaldo)
02. VÁ MAS VOLTE – Ângela Maria (tema de Leda e Vitor)
03. SORTE TEM QUEM ACREDITA NELA – Fernando Mendes (tema de Osvaldo)
04. PARALELAS – Vanusa (tema de Leda)
05. CONTRASTES – Jards Macalé
06. CHICLETE E CABOCHARD – Mário Gomes (tema de Dino)
07. DEIXA – Bandits of Love (tema de abertura)
08. OLHOS NOS OLHOS – Agnaldo Timóteo (tema de Cláudia)
09. CHORO CHORÃO – Martinho da Vila
10. CUIDE-SE BEM – Guilherme Arantes (tema de Juliana)
11. LEVANTE OS OLHOS – Sílvio César
12. DUAS VIDAS – Sônia Burnier (tema de Leda e Téo)
13. AS ROSAS NÃO FALAM – Beth Carvalho (tema de Sônia e Maurício)
14. CINCO COMPANHEIROS – Paulinho da Viola

Sonoplastia: Roberto Rosemberg
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Guto Graça Mello

Trilha sonora internacional

01. I NEVER CRY – Alice Cooper
02. MY DEAR – Manchester (tema de Leda e Vitor)
03. LET’S BE YOUNG TONIGHT – Jermaine Jackson (tema de Osvaldo)
04. LOST WITHOUT YOUR LOVE – Bread (tema de Vitor)
05. ETÉ D’AMOUR – Jean Piérre Posit (tema de Sônia e Maurício)
06. GOLDEN YEARS – David Bowie
07. SO SAD THE SONGS – Gladys Knight & The Pips (tema de Osvaldo e Naná)
08. QUIZAS, QUIZAS, QUIZAS – Los Indios
09. YOU’RE SO TENDER – Chrystian (tema de Cláudia)
10. TONIGHT’S THE NIGHT – Rod Stewart
11. PHOENIX – Aquarian Dream
12. JAMIE (MY LOVE) – Camilo Sesto (tema de Juliana *)
13. I NEED YOU NOW – Dennis Gordon (tema de Leda e Dino)
14. ONE LOVE IN MY LIFETIME – Diana Ross
15. NICE ‘N SLOW – John Blackinsell
16. ROTÍSSE NA MÁTHIS – Tolis Voskopoulos (tema de Menelau)

Coordenação geral: João Araújo
Seleção de repertório: Toninho Paladino e Roberto Rosemberg

* Há um erro na impressão do rótulo do lado B do LP com a trilha internacional. Alguns exemplares do disco vêm com impressões informando, erroneamente, a quarta música como “Don’t Make Me Wait Too Long”, com interpretação creditada a Lloyd Douglas, apesar de a capa do LP e o próprio fonograma estarem corretos, com a música “Jamie (My Love)”, creditada a Camilo Sesto.

Ainda
EU GOSTO DE VOCÊ – Ricardo
NADIA´S THEME – Barry De Vorzon e Perry Botkin Jr.

Tema de abertura: DEIXA – Bandits of Love*

Deixa! Fale quem quiser falar, meu bem
Deixa! Deixe o coração falar também

Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa, deixa…

Deixa! Ninguém vive mais do que uma vez
Deixa! Diz que sim pra não dizer talvez

Deixa! A paixão também existe
Deixa! Não me deixes ficar triste…

* O tema de abertura é uma versão da música “Deixa” em que as cantoras do grupo Bandits of Love (que depois se lançaram como Harmony Cats) apenas repetem o coro “Deixa, deixa, deixa…”.

Veja também

  • fogosobreterra

Fogo Sobre Terra

  • pecadocapital75_logo

Pecado Capital (1975)

  • astro77_2

O Astro (1977)

  • paiheroi

Pai Herói