Sinopse

Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro, século 19, poucos anos antes da Abolição da Escravatura.

Isaura é uma escrava branca que sabe apenas que a sua mãe, a mulata Juliana, foi mucama na fazenda de seus senhores. Órfã desde o nascimento, ela recebeu o amparo da sua senhora, Dona Ester, que lhe criou como uma filha, mas é desprezada pelo Comendador Almeida, seu senhor. Dócil e submissa, mesmo assim ela sonha em conquistar a liberdade. Desde que descobriu o paradeiro da filha, seu pai, o ex-feitor Miguel, luta para comprá-la.

O amor surge na vida da moça na figura de Tobias, proprietário de um engenho vizinho. Envergonhada, ela não revela suas origens e passa a se encontrar com ele em segredo. O romance vai bem quando volta da Europa o filho de seus senhores, Leôncio, de caráter mesquinho. O jeito, os modos e educação de Isaura o impressionam. Acreditando que ela seja uma presa fácil para os seus caprichos, Leôncio persegue Isaura insistentemente.

Com a morte de Ester, sua protetora, Isaura se vê cada vez mais acuada. A escrava revela sua condição a Tobias, que tenta obter licença para eles se casarem. Porém, Leôncio está cada vez mais obcecado por ela. Tanto que, louco de ciúmes, não hesita em pôr fogo em uma cabana onde estava Tobias, que morre carbonizado. Entretanto, Leônico não contava que lá estivesse também Malvina, sua mulher, com quem havia se casado por interesse.

A vida de Isaura transforma-se em uma sucessão de suplícios infligidos por Leôncio, que não a poupa nem mesmo do tronco, como forma de castigo. A única alternativa da escrava é fugir com o pai Miguel e um casal de escravos amigos, André e Santa. Enquanto Leôncio os procura desesperadamente, os fugitivos vão parar em Barbacena, Minas Gerais, onde, com medo de ser descoberta, Isaura assume outra identidade, Elvira.

Isaura-Elvira conhece Álvaro, rico abolicionista que se apaixona por ela. Porém, a moça, depois da morte de Tobias, passou a viver como viúva e sua única preocupação é juntar dinheiro para fugir do país e do alcance de Leôncio. Álvaro, no entanto, consegue conquistar seu coração e a convence a deixar a reclusão em que vivia e ir a um baile. Lá, Isaura é desmascarada por Martinho, um caçador de recompensas, denunciada e capturada.

Leôncio, por má administração de seus negócios e vendo-se na iminência da falir, casa-se pela segunda vez, com a jovem e rica Aninha Matoso. Enfurecido por sentir-se rejeitado por Isaura e por saber que ela ama outro homem, Leôncio tem a ideia de casá-la com o velho Beltrão, jardineiro aleijado e desforme apaixonado por ela. Contudo, a essa altura, os bens de Leôncio já não lhe pertencem mais. Nem mesmo sua escrava Isaura.

Globo – 18h
de 11 de outubro de 1976
a 5 de fevereiro de 1977
100 capítulos

novela de Gilberto Braga
baseada no romance “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães
direção de Herval Rossano e Milton Gonçalves
direção geral de Herval Rossano

Novela anterior no horário
O Feijão e o Sonho

Novela posterior
À Sombra dos Laranjais

LUCÉLIA SANTOS – Isaura / Elvira
RUBENS DE FALCO – Leôncio Correia de Almeida
EDWIN LUISI – Álvaro Santana dos Santos
ROBERTO PIRILO – Tobias Paes Vidal
NORMA BLUM – Malvina Fontoura
GILBERTO MARTINHO – Comendador Almeida (Horácio Correia de Almeida)
BEATRIZ LYRA – Ester Correia de Almeida
ÁTILA IÓRIO – Miguel / Anselmo
DARY REIS – Conselheiro Fontoura
MÁRIO CARDOSO – Henrique Fontoura
ELISA FERNANDES – Taís Paes Vidal
ISAAC BARDAVID – Francisco
LÉA GARCIA – Rosa
ZENI PEREIRA – Januária
HAROLDO DE OLIVEIRA – André
MARIA DAS GRAÇAS – Santa / Maria
ÂNGELA LEAL – Carmem
CARLOS DUVAL – Beltrão
AMIRIZ VERONESSE – Alba Paes Vidal
ÍTALO ROSSI – José Matoso
FRANCISCO DANTAS – Matoso
MYRIAN RIOS – Aninha (Ana Matoso)
ARY COSLOV – Geraldo
CLARISSE ABUJAMRA – Lúcia Andrade
ANDRÉ VALLI – Martinho
ANA MARIA GROVA – Eneida
JOSÉ MARIA MONTEIRO – Capitão Andrade
GILDA SARMENTO – Carolina Andrade
NEUZA BORGES – Rita
EDYR DE CASTRO – Ana
MARLENE FIGUEIRÓ – Leonor
ALMEIDA SANTOS – Jaime
NENA AINHOREM – Lucíola
MÁRIO POLIMENO – Palhares
Tião

e
AGUINALDO ROCHA – Dr. Alceu Dias Bernardes (advogado de Ester, responsável pela carta de alforria de Isaura)
HENRIETTE MORINEAU – Madame Madeleine Besançon (atriz francesa que quer comprar Isaura para alforriá-la)
JANSER BARRETO – Leôncio (criança)
LADY FRANCISCO – Juliana (mãe de Isaura, em flashback)

– núcleo de ISAURA (Lucélia Santos), escrava branca que sofre nas mãos de seu senhor e acaba por fugir assumindo outra identidade, ELVIRA:
o pai MIGUEL (Átila Iório), ex-feitor de escravos, trabalha na fazenda vizinha da dos senhores de Isaura. Arquiteta a fuga da filha
a mãe JULIANA (Lady Francisco, numa participação), mulata escrava, morreu no parto de Isaura.

– núcleo de LEÔNCIO CORREIA DE ALMEIDA (Rubens de Falco), senhor de Isaura, apaixonado por ela, que a maltrata, por ela não ceder aos desejos dele:
o pai COMENDADOR ALMEIDA (Gilberto Martinho), escravocrata severo, dono de uma chácara na Côrte do Rio de Janeiro e de um engenho em Campos dos Goytacazes
a mãe ESTER (Beatriz Lyra), mulher dócil que criou e educou Isaura como a uma filha – morre no decorrer da trama
a cozinheira na chácara JANUÁRIA (Zeni Pereira), amiga de Miguel, adora Isaura
o jardineiro BELTRÃO (Carlos Duval), apaixonado por Isaura, com quem quase se casa através de um plano de Leôncio
a escrava na chácara ANA (Edyr de Castro).

– núcleo do engenho da família Almeida, em Campos dos Goytacazes:
o feitor FRANCISCO (Isaac Bardavid), pau mandado e cúmplice dos crimes de Leôncio
os capatazes JAIME (Almeida Santos) e TIÃO, ajudantes de Francisco no engenho
os escravos ANDRÉ (Haroldo Oliveira), “escravo de dentro” da casa, foge com Miguel e Isaura
RITA (Neuza Borges)
e ROSA (Léa Garcia), que persegue Isaura por sentir inveja dela.

– núcleo do abolicionista ÁLVARO (Edwin Luisi), o amor de Isaura, que a conheceu como Elvira, quando ela fugiu para Barbacena:
o amigo GERALDO (Ary Coslov), advogado, abolicionista como ele
a noiva de Geraldo, LÚCIA (Clarisse Abujamra), que estava prometida a Álvaro
MARTINHO (André Valli), ganancioso dono de uma estalagem, desmascara Isaura numa festa, pois está interessado na recompensa que Leôncio oferece pelo paradeiro de sua escrava
CAPITÃO ANDRADE (José Maria Monteiro), pai de Lúcia, fazendeiro vizinho de Álvaro. Furioso ao descobrir que Álvaro prefere Isaura à sua filha, combina com Martinho desmascararem a escrava na festa de noivado de Geraldo e Lúcia
CAROLINA (Gilda Sarmento), mulher do Capitão Andrade, mãe de Lúcia
ENEIDA (Ana Maria Grova), moça portuguesa que frequenta a casa dos Andradas. Escreve cartas anônimas a Leôncio informando sobre Isaura. É ela quem vai receber a recompensa oferecida por Leôncio.

– núcleo de TOBIAS PAES VIDAL (Roberto Pirilo), o primeiro amor de Isaura, vizinho da fazenda de Leôncio, patrão de Miguel. Morre num incêndio numa cabana, planejado por Leôncio:
a irmã TAÍS (Elisa Fernandes)
a mãe ALBA (Amiriz Veronesse)
a escrava LEONOR (Marlene Figueiró).

– núcleo do CONSELHEIRO FONTOURA (Dary Reis), homem rico, amigo do Comendador Almeida na Côrte:
a filha MALVINA (Norma Blum), primeira esposa de Leôncio. Mulher justa que roga ao marido que liberte Isaura. Acaba por morrer no incêndio da cabana que também vitimou Tobias
o filho HENRIQUE (Mário Cardoso), jovem de ideais abolicionistas, casa-se com Taís
a escrava SANTA (Maria das Graças), casa-se com o escravo André, com quem tem uma filha, que batiza com o nome de sua senhora, Malvina. Foge com o marido, Miguel e Isaura.

– núcleo de JOSÉ (Ítalo Rossi), amigo de Leôncio, perdeu todo o dinheiro no jogo e está desesperado para casar a irmã, já que o pai lhe deixou uma herança que só será entregue depois que ela se casar:
a irmã ANINHA (Myrian Rios), que ele apresenta a Leôncio e que vem a se tornar a segunda mulher dele. Leôncio aceita casar-se com Aninha pois sabe que está falido e ela é rica
o tio MATOSO (Francisco Dantas), homem honesto e justo.

– núcleo da taberna:
o gerente PALHARES (Mário Polimeno)
as “mulheres da taberna” LUCÍOLA (Nena Ainhoren)
e CARMEM (Ângela Leal), envolve-se com o Comendador Almeida, com quem se casa após a morte de Ester. O casal enfrenta a oposição de Leôncio. É ela quem empresta a casa em Barbacena para que Isaura possa se refugiar na fuga.

– demais personagens:
MADAME MADELEINE BESANÇON (Henriette Morineau), atriz francesa que apresenta-se no Brasil. Fica impressionada com a educação de Isaura e chocada ao saber de sua condição de escrava, propondo comprá-la
DR. ALCEU (Aguinaldo Rocha), jurista chamado por Malvina e Ester para avaliar a hipótese de alforriar Isaura. Chega a redigir a carta de alforria dela, assinada pelo Comendador Almeida após a morte de Ester, mas que é destruída por Leôncio.

Adaptação

Ao receber de Eneida do Rego Monteiro – então professora de Literatura do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro – a sugestão de que adaptasse o romance “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães (publicado pela primeira vez em 1875), Gilberto Braga leu o livro e logo viu que tinha nas mãos uma história com potencial.

Porém, os acontecimentos do livro não renderiam o número de capítulos que necessitaria criar para uma novela. Seria complicado desenvolver cerca de cem capítulos sendo absolutamente fiel a um romance que renderia no máximo trinta. Problema maior era a falta de envolvimentos românticos da personagem principal, Isaura (Lucélia Santos), até a metade da história. No livro, a protagonista só conhece Álvaro (Edwin Luisi) com a trama adiantada. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)

Gilberto criou então o personagem Tobias (Roberto Pirilo), para evitar tanto tempo de Isaura no ar sem um interesse afetivo. Não faltaram vozes a condenar o autor pelo “crime” de criar um novo par para Isaura, ainda que quando perguntado ele explicasse as necessidades peculiares da escrita de uma telenovela. Para Álvaro entrar em cena, foi preciso matar Tobias, que saiu da trama em um entrecho folhetinesco magistral: foi morto no incêndio de uma cabana provocado pelo vilão Leôncio (Rubens de Falco).

Cenas marcantes

O incêndio da cabana foi uma das sequências mais marcantes de Escrava Isaura. Neste mesmo incêndio, pensando tratar-se de Isaura, Leôncio acabou por assassinar a própria esposa, Malvina (Norma Blum), que ele não sabia que estava no local com Tobias. No romance, o destino de Malvina não foi tão trágico: ela abandonou Leôncio.

Marcante também foi a cena do baile em que Isaura, escondendo sua condição de escrava por ter fugido de seu senhor – usando um nome falso inclusive, Elvira – é desmascarada pelo caçador de recompensas Martinho (André Valli).

Outra sequência icônica: no centésimo e último capítulo, a vilã Rosa (Léa Garcia), fingindo arrependida de suas maldades, sugere um brinde com um ponche envenenado a Isaura, seu desafeto. Na confusão, por engano, Rosa prova de seu próprio veneno e morre.
O telespectador mais atento pôde observar um erro de continuidade: na verdade, Rosa não tomou de uma das taças com a bebida letal, mas de outra, que Carmem (Ângela Leal) trouxera.

Neste mesmo capítulo, o pérfido Leôncio, na iminência de ser preso, comete suicídio. As cenas das mortes de Leôncio e Rosa foram implícitas: os personagens não apareceram mortos para o público, como regrava a Censura Federal para o horário, na época.

Elenco

Um grande destaque para o ator Rubens de Falco, que ficou para sempre marcado pela sua interpretação do vilão Leôncio Almeida.

Estreia de Lucélia Santos na televisão e primeira novela na Globo de Edwin Luisi e Neuza Borges. E a estreia em novelas de Edyr de Castro, atriz e cantora do grupo musical Frenéticas.

O convite para Lucélia Santos interpretar o papel-título partiu do diretor Herval Rossano, após ele assistir o desempenho da atriz (ao lado de Milton Moraes) na peça Transe no 18. (Site Memória Globo)

O autor Gilberto Braga queria outra atriz para viver a protagonista. Ele confidenciou ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, de André Bernardo e Cíntia Lopes:
“Lucélia Santos nunca foi meu sonho como Isaura. Por mim, teríamos escolhido a Louise Cardoso. Mas enfim, eu tinha aluguel para pagar e acabava sempre aceitando as ideias do Herval [Rossano, diretor].”

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, Gilberto Braga externou uma série de críticas ao elenco:
“Acho estranha a escalação de Lucélia Santos para viver a Isaura porque ela é muito branca. Precisava ser, no mínimo, morena. Falei isso para o Herval na época: ‘Tínhamos que encontrar uma Yoná Magalhães mais jovem’. Eu achava que Lucélia não tinha o tipo, e continuo achando. A maioria do elenco era de atores muito impostados – a Lucélia não, já era uma atriz mais moderna. Mas, como um todo, o elenco tinha algo de moda antiga.
Ainda: “Pessoalmente, acho a novela horrível. Até hoje não entendo por que fez tanto sucesso. Era uma produção horrorosa. Eu não gosto, especialmente do elenco. Nem de meu texto.”

Apesar de todo o sucesso da novela, o diretor Herval Rossano também não guardava boas recordações. Ele declarou em 2004, por ocasião do lançamento da nova versão da história (produzida pela Record TV), da qual era também diretor:
“É a novela de que menos gosto. Prefiro Maria Maria [de 1978]. (…) Ela não tem qualidade. Usamos um equipamento inferior. Nos Estados Unidos, eles até perguntaram se a noite brasileira era azul. Puro erro de fotometria.”

Egressa do sucesso de sua personagem Vilminha na novela Pecado Capital, a atriz Débora Duarte foi sondada por Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, executivo da Globo à época) para viver a protagonista Isaura, mas recusou o convite pois estava no início da gravidez de sua filha Paloma (que nasceu em maio de 1977) e não quis se ausentar de São Paulo, onde morava. (“Débora Duarte, Filha da Televisão”, Coleção Aplauso)

Sucesso no exterior

Escrava Isaura é um marco na história de nossa televisão por ter sido a principal responsável pela abertura do mercado internacional para as telenovelas brasileiras. Ultrapassando fronteiras, seu sucesso mundo afora foi reverberado a ponto de a novela se tornar um cartão de visitas para nossas produções no exterior. Grande sucesso de exportação, a novela transformou a atriz Lucélia Santos em estrela internacional já em seu primeiro trabalho em televisão.

José Roberto Filippelli, em seu livro “A Melhor Televisão do Mundo” (página 61), narrou que, quando era diretor de vendas internacionais da TV Globo para a Europa, não conseguia vender novelas aos países europeus, que não aceitavam programas com tantos capítulos (mais de cem). Ao saber da edição de Escrava Isaura em 30 capítulos, feita para a reprise de 1979, Filippelli a solicitou à emissora e passou a oferecê-la no mercado europeu. Primeiro compraram a Suíça e a Itália (dublada em italiano) e, em pouco tempo, a novela já era um sucesso em todo o continente, depois no mundo inteiro.

Vinte e dois anos depois de ser exibida pela primeira vez no Brasil, Escrava Isaura já havia sido vista em quase 80 países, entre eles África do Sul, Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, China, Coreia, Dinamarca, Gana, Hungria, Indonésia, Islândia, Israel, Letônia, Líbano, Lituânia, Luxemburgo, Madagáscar, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Quênia, República Tcheca, Rússia, Singapura, Sri Lanka, Suíça, Turquia e Ucrânia.

Por causa deste sucesso internacional, atores do elenco viajaram o mundo para promover a novela, especialmente Lucélia Santos, Rubens de Falco e Edwin Luisi.

Escrava Isaura foi a primeira novela brasileira a furar o bloqueio da Cortina de Ferro (países da antiga União Soviética), onde fez muito sucesso.
Tendo estreado na União Soviética em 1988, foi a primeira novela brasileira transmitida na TV do país. A palavra “fazenda”, antes inexistente em russo, entrou para o dicionário por causa de Escrava Isaura: фазенда (pronuncia-se “fazenda”). (Antón Vélez Bichkov e Daniíl Burov)
Exibida em Cuba pela primeira vez em 1984 (às 23 horas pelo Canal 2, Tele Rebelde), a novela causou tamanho alvoroço que passou a ser reprisada às 18h30 do dia seguinte. A mídia chegou a reportar a demora de um voo local porque os passageiros e tripulação queriam assistir ao capítulo de Escrava Isaura. Foi reprisada em 1989. (Antón Vélez Bichkov)
Na Croácia, a novela parou a guerra quando foi lá exibida.
Na Bósnia, em pleno calor da guerra contra a Sérvia (1997), os dois exércitos decretaram cessar-fogo durante a exibição dos capítulos.
Na Polônia, a emissora local fez um concurso para encontrar sósias de Lucélia Santos e Rubens de Falco. Apareceram 8 mil candidatos. (“Livro do Boni”)
Na China, Lucélia Santos ganhou o Prêmio Águia de Ouro, com os votos de cerca de 300 milhões de pessoas – foi a primeira vez que uma atriz estrangeira recebeu um prêmio no país.

Em entrevista, Lucélia Santos afirmou que nunca imaginou que a novela faria tamanho sucesso e que tocasse tanto as pessoas de qualquer lugar e das mais diferentes culturas. Ela relatou ainda que Escrava Isaura, em diversos locais, mudou o horário de taxistas, voos, refeições, etc. Influenciadas pela novela, as pessoas simplesmente mudavam seus hábitos e seu vocabulário.

É curioso o fato de a novela ter repercutido muito em países do terceiro mundo, ou que viviam guerras (Croácia, Bósnia, Sérvia), ou aqueles de regimes então autocráticos (como a antiga União Soviética, Cuba, China, etc). Talvez pelo fato de a mensagem da novela, que transmitia o ideal de liberdade e democracia, sensibilizar povos sofridos ao redor do planeta.

Censura

Gilberto Braga narrou em entrevista os problemas da novela com a censura do Regime Militar:

“Quando comecei a escrever Escrava Isaura, fui chamado a Brasília para conversar, porque eles achavam a novela perigosa. Então, na reunião com censores, ficou mais ou menos estabelecido que eu poderia escrever Escrava Isaura, mas que não poderia falar de escravo. Uma censora me disse que a escravatura tinha sido uma ‘mancha negra’ na História do Brasil e que não deveria ser lembrada – aliás, segundo ela, o ideal seria arrancar essa página dos livros didáticos; imagine então falar disso na novela das seis…
Um censor falou que a novela podia despertar sentimentos racistas na netinha dele, porque ela via os brancos batendo nos escravos na televisão e podia querer bater nas coleguinhas pretas dela. Aí eu disse ao censor que ele devia ver um psicólogo para a menina porque, se ela se identificava assim com os bandidos… De qualquer maneira, eu prometi que ia falar o mínimo possível em escravo e falei o mínimo possível em escravo em Escrava Isaura.”

Gilberto usou essa passagem, com muita propriedade, em sua minissérie Anos Rebeldes (1992), ambientada em plena Ditadura Militar, em que o personagem Galeno Quintanilha (Pedro Cardoso), um novelista, é repreendido pelos censores ao escrever uma trama de cunho abolicionista. Galeno era o alter ego do autor, que levou ao público, por meio da minissérie, as dificuldades de se escrever uma novela nos Anos de Chumbo.

Locações e cenografia

A cidade de Conservatória e fazendas na região de Vassouras, no interior do estado do Rio de Janeiro, foram locações usadas para a novela.

Um incêndio, ocorrido no dia 04/06/1976, destruiu parcialmente instalações da sede da TV Globo, no Jardim Botânico, onde as cenas de interior de Escrava Isaura estavam sendo gravadas. Os trabalhos continuaram nos estúdios da TV Educativa e da Herbert Richers. (Site Memória Globo)

Abertura e trilha sonora

A abertura era ilustrada com gravuras do pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que morou no Rio de Janeiro no período do Império e retratou personagens e costumes desta época.

A música-tema da abertura, “Retirantes”, de Jorge Amado e Dorival Caymmi, interpretada pela orquestra e pelo coro da Som Livre – o lerê-lerê, um lamento de escravos – marcou a TV brasileira e até hoje remete à personagem Isaura e à novela. O lerê-lerê também virou piada, quando alguém deseja indicar que trabalha demais.

Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora de Escrava Isaura, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.

Repetecos

Escrava Isaura é a novela campeã em reprises na Globo:
entre 29/08/1977 e 16/01/1978, às 13h30 – época em que a faixa Vale a Pena Ver de Novo ainda não tinha esse nome;
entre 17/12/1979 e 19/01/1980, compactada em 30 capítulos, às 18 horas, como tapa-buraco entre as novelas inéditas Cabocla e Olhai os Lírios do Campo;
entre 20/09 a 31/12/1982, pelas manhãs, dentro do programa TV Mulher;
e de 10/09 a 12/10/1990, compactada, no Festival 25 Anos da TV Globo.
Ainda: em 1985, somente para o Distrito Federal, em um compacto após o Jornal Nacional no horário em que no resto do país era exibido o Horário Eleitoral Gratuito.

Em 1986 (dez anos após Escrava Isaura), Lucélia Santos e Rubens de Falco voltaram a atuar em uma trama de época de cunho abolicionista, em que ela era a mocinha e ele, o vilão: Sinhá Moça, uma adaptação de Benedito Ruy Barbosa do romance de Maria Dezonne Pacheco Fernandes.

Em 2012, a Globo Marcas lançou o box de Escrava Isaura, com cinco DVDs.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 23/10/2023.

Outras versões

O romance de Bernardo Guimarães já havia tido uma adaptação na TV, em 1961, em uma produção local da TV Itacolomi de Belo Horizonte, ao vivo, não diária.

Exatos 28 anos depois de sua estreia na Globo, a história de Isaura ganhou uma nova adaptação para a televisão, desta vez produzida pela Record TV, com texto de Tiago Santiago e direção-geral de Herval Rossano (o mesmo diretor da versão de 1976). Bianca Rinaldi foi a nova Isaura, Leopoldo Pacheco, Leôncio, e Théo Becker, Álvaro.
Esta versão da Record contou ainda com as participações especiais de Rubens de Falco e Norma Blum (da versão anterior), que voltaram a interpretar um casal, dessa vez os pais de Leôncio.

Em 2016, a Record TV levou ao ar a novela Escrava-Mãe, de autoria de Gustavo Reiz, que contava a saga de Juliana (vivida por Gabriela Moreyra), a mãe da escrava Isaura, até o nascimento de sua filha – uma prequel (prequência) de Escrava Isaura.

01. PRISIONEIRA – Elizeth Cardoso (tema de Isaura)
02. AMOR SEM MEDO – Francis Hime (tema de Leôncio)
03. RETIRANTES – Dorival Caymmi (tema de abertura)
04. NANÃ – Orquestra Som Livre
05. BANZO – Tincoãs
06. MÃE PRETA – Coral Som Livre

Sonoplastia: Guerra Peixe
Direção de produção: Guto Graça Mello
Produção executiva: João Mello
Arranjos: Waltel Branco, Francis Hime e Radamés Gnatalli

Tema de Abertura: RETIRANTES – Dorival Caymmi *

Vida de negro é difícil
É difícil como o quê
Vida de negro é difícil
É difícil como o quê

Eu quero morrer de noite
Na tocaia a me matar
Eu quero morrer de açoite
Se tu negra me deixar

Vida de negro é difícil
É difícil como o quê

Meu amor eu vou me embora
Nessa terra vou morrer
Um dia não vou mais ver
Nunca mais eu vou viver

Vida de negro é difícil
É difícil como o quê

* O tema de abertura é uma versão com letra africana

Veja também

  • sinhazinhaflo2

Sinhazinha Flô

  • helena75_logo

Helena (1975)

  • senhora

Senhora

  • donaxepa77_2

Dona Xepa (1977)

  • escravaisaura2004_logo

A Escrava Isaura (2004)

  • escrava_mae

Escrava-Mãe