Sinopse

Em 1931, o mundo vive a recessão causada pela quebra da Bolsa de Nova York. O cenário de pobreza nos Estados Unidos e Europa tem reflexos no Brasil, onde os então poderosos barões do café enfrentam uma grande crise econômica. Este quadro é determinante para a Revolução Constitucionalista de 1932. Em meio a esse cenário político, muitos estrangeiros, fugindo da miséria em seus países, chegam ao Brasil em busca de melhor sorte. Italianos, portugueses, espanhóis, judeus, todos trouxeram contribuições culturais sobretudo para o Estado de São Paulo, onde tiveram participação ativa no processo de industrialização e na formação do movimento operário.

Na Itália, Toni, filho do pianista Genaro, se apaixona por Maria, filha do maior inimigo do pai, o fascista Giuliano. Entretanto, a moça está prometida para o abastado Martino e Toni, após se desentender com o pai, decide tentar a sorte no Brasil. O que ele não sabe é que Maria está esperando um filho seu. Ao chegar à capital paulista, Toni se vê envolvido pela judia Camilli, filha de um rico comerciante. Enquanto luta para se manter, ele conhece os únicos parentes no Brasil: Dona Madalena, uma lavadeira que tivera um caso com seu tio Giuseppe, e a prima Nina, jovem operária rebelde de romance com o português boa-praça José Manoel, o Murruga.

O velho Genaro, sozinho após a morte da mulher, decide também vir para o Brasil, à procura do filho. Sem o endereço de Toni, se instala na pensão de Dona Mariusa e passa a trabalhar como pianista no fino bordel da francesa Justine, amante de seu companheiro de quarto, o jovem estudante Marcos. Enquanto isso, na Itália, Maria é obrigada a casar com Martino, mesmo este sabendo que o filho que ela carrega é de Toni. Após a morte do pai, ela acompanha o marido em uma viagem ao Brasil e se instala na fazenda dos italianos Vicenzo e Constância, amigos de Farina, um conterrâneo de Martino.

A família de Vicenzo luta contra a resistência de Dona Francisca Mão-de-Ferro, dona da fazenda vizinha, uma viúva que odeia os italianos e não os quer como vizinhos. Mas Francisca não esperava que seus filhos, os bem criados Maurício e Beatriz, fossem se apaixonar pelos rudes filhos dos italianos: Caterina e Marcello. A morte de Martino deixa o caminho livre para Maria reencontrar seu grande amor, Toni. Com o filho Martininho, primeiro ela reencontra Genaro, que não lhe dá boas notícias: Toni está casado, com Camilli.

Globo – 20h
de 17 de junho de 2002
a 15 de fevereiro de 2003
209 capítulos

novela de Benedito Ruy Barbosa
escrita por Benedito Ruy Barbosa e Walcyr Carrasco
colaboração de Edmara Barbosa, Edilene Barbosa e Thelma Guedes
direção de Emilio di Biasi e Marcelo Travesso
direção geral de Luiz Fernando Carvalho e Carlos Araújo
núcleo Luiz Fernando Carvalho

Novela anterior no horário
O Clone

Novela posterior
Mulheres Apaixonadas

REYNALDO GIANECCHINI – Toni
PRISCILA FANTIN – Maria
ANA PAULA ARÓSIO – Camilli
RAUL CORTEZ – Genaro
MARIA FERNANDA CÂNDIDO – Nina
NUNO LOPES – José Manoel (Murruga)
PAULO GOULART – Farina
LÚCIA VERÍSSIMO – Francisca Mão-de-Ferro
OTHON BASTOS – Vicenzo
ARACI ESTEVES – Constância
SIMONE SPOLADORE – Caterina
RANIERI GONZALEZ – Maurício
MARCOS PALMEIRA – Zequinha
EMÍLIO ORCIOLLO NETO – Marcello
MYRIAN FREELAND – Beatriz
LAURA CARDOSO – Madalena
PAULO RICARDO – Samuel
JOHN HERBERT – Jonathan
GABRIELA DUARTE – Justine
CHICO CARVALHO – Marcos
GILBERT – Ezequiel
ELIANA GUTTMANN – Tzipora
GISELLE ITIÉ – Eulália
OTÁVIO AUGUSTO – Manolo
DENISE DEL VECCHIO – Soledad
REGINA MARIA DOURADO – Mariusa
MARELIZ RODRIGUES – Isabela
CLÁUDIO GALVAN – Bruno
OSCAR MAGRINI – Humberto
LIGIA CORTEZ – Silvia
JUSSARA FREIRE – Amália
LUCIANA BRAGA – Adelaide
CHICA XAVIER – Nhá Rita
SHERON MENEZES – Júlia
OSMAR PRADO – Jacobino
JACKSON ANTUNES – Zangão
COSME DOS SANTOS – Chiquinho Forró (Alcides)
DAN STULBACH – André
DÉBORA OLIVIERI – Mira
TATIANNA MONTEIRO – Malu (Ruiva)
MARIZ – Rafael
DANIEL LOBO – Felipe
EDUARDO MANCINI – Amadeu
CLÁUDIO MENDES – Mário
SÉRGIO MIGLIACCIO – Sebastião
ANÍDIA MARTINS – Mafalda
RENATA SOFFREDINI – Julieta
EDSON LOZANO – Januário
OLIVETTI HERRERA – Paulo
TADEU DI PIETRO – Delegado Homero
CHARLE MYARA – ajudante de Homero
NEWTON MARTINS – Onofre
ÁLISSON SILVEIRA – Tomás

o menino THIAGO AFONSO – Martininho (filho de Maria)

e
AMILTON MONTEIRO – médico que cuida de José Manoel
ANA LÚCIA TORRE – mãe de Marcos
ANTÔNIO FAGUNDES – Giuliano (pai de Maria)
ANTÔNIO FRAGOSO – policial
ANTÔNIO GONZALEZ – oficial que matou Genaro
ANTÔNIO PETRIN – Adolfo (pai de Gaetano, um dos sócios de Vicenzo na fazenda)
BEATRIZ SEGALL – Antônia (mãe de José Manoel)
CAMILO BEVILACQUA – escrivão
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Agostino (escultor italiano que mora em São Paulo e hospeda Toni)
EDGARD AMORIM – policial
ELIAS GLEIZER – João Alfaiate
EMILIANO QUEIRÓZ – padre
EVA WILMA – Rosa (mulher de Genaro, mãe de Toni)
FERNANDA MONTENEGRO – Luiza (avó de Maria, sogra de Giuliano)
GIANFRANCESCO GUARNIERI – Pelegrini
GILBERTO MARMOROSCH – amigo de Genaro
GRACINDO JÚNIOR – Miguel
IDA GOMES – Míriam
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Marcílio
JOSÉ LEWGOY – Padre Romão
JOSÉ MAYER – Martino (casa-se com Maria quando Toni parte para o Brasil, acaba assassinado)
KENYA COSTA – Noêmia (mulher de Matias)
LIONEL FISCHER
LUÍS BACCELLI
LUÍS DE LIMA – Antônio (pai de José Manoel)
LUIZ GULHERME – delegado
MÁRIO CÉSAR CAMARGO – dono do cinema
MASSIMO CIAVARRO – Luigi (dono de uma taberna, na Itália)
MILTON GONÇALVES – Matias (estivador do cais que acolhe Toni quando ele chega clandestino ao porto de Santos)
MILTON WARLEY – pretendente de Camilli
NOEMI GERBELLI – Vânia
PIETRO MÁRIO – juiz
PLÍNIO SOARES – oficial que matou Genaro
ROBERTO PIRILO – corretor
SUMARA DEL CASTEL – Fiorella (mulher de Farina)
VIRGÍNIA SALOMÉ – Concheta (moradora do cortiço)
WALMOR CHAGAS – Giuseppe (irmão mais velho de Genaro, pai de Nina, morre no início)
XANDO GRAÇA – barbeiro (patrão de Zequinha)
ZÉ VICTOR CASTIEL – Gaetano (filho de Adolfo, apaixonado por Caterina)
ZILKA SALABERRY
Marieta (moradora do cortiço)
Mariana (empregada de Silvia)

– núcleo de TONI (Reynaldo Gianecchini), jovem escultor italiano de espírito aventureiro. De origem pobre, vive uma história de amor às escondidas, por temor aos pais, inimigos por fatos ocorridos no passado. Parte sozinho para o Brasil onde encontra um novo amor:
os pais: GENARO (Raul Cortez), velho pianista de grande talento, mas de pouca sorte na vida, jamais conseguiu exercer a sua arte plenamente. Seu relacionamento com o filho é difícil: os dois rompem quando Toni decide embarcar para o Brasil. Ao ficar viúvo, parte atrás do filho,
e ROSA (Eva Wilma), boa mãe e esposa, mas vivia às turras com o marido, principalmente por causa do filho. Abençoa Toni quando ele vai embora. Morre ao longo da trama
o tio GIUSEPPE (Walmor Chagas), irmão mais velho de Genaro, anarquista e, depois, comunista. Viveu no Brasil e está de volta, mas doente. Morre às vésperas de Toni partir e lhe revela um segredo: no Brasil, teve uma filha, que só conheceu muito pequena.

– núcleo de MARIA (Priscila Fantin), a paixão de Toni na Itália. Entrega-se a ele mesmo sabendo que seu pai jamais consentiria no namoro. Não tem coragem de fugir com o rapaz e, sem saber que está grávida, opta por esperar que ele volte. É obrigada pelo pai a se casar com outro homem, que aceita seu filho em troca de ela esquecer Toni para sempre. O menino é separado dos avós paternos e Maria é obrigada a jurar que ele é filho do marido:
o pai GIULIANO (Antônio Fagundes), viúvo, fascista convicto, homem de propriedades. Quer para a filha única um casamento que atenda a seus interesses. Quando descobre que ela está grávida, a obriga a se casar com um escolhido seu
o marido MARTINO (José Mayer), italiano abastado, bem mais velho do que ela. Inicialmente rejeitado pela moça, revela-se um marido atencioso e apaixonado, mas também muito ciumento e, por isso mesmo, perigoso. O casal parte para o Brasil e ele acaba assassinado lá
a avó LUIZA (Fernanda Montenegro), sogra de Giuliano, idosa já esclerosada. Detesta o genro e é cúmplice da neta em seu romance com Toni
o filho com Toni, MARTININHO (Thiago Afonso), assumido e batizado por Martino.

– núcleo de CAMILLI (Ana Paula Arósio), brasileira de origem judaica que Toni conhece no Brasil. Educada dentro dos princípios e valores religiosos de sua família. Apaixona-se perdidamente por Toni, com quem acaba se casando. A relação vai mal e ela luta por esse amor:
os pais: EZEQUIEL (Gilbert), judeu egípcio, imigrou para o Brasil com a mulher. Progrediu com seu armarinho, tornando-se um homem rico. Dá emprego a Toni por simpatizar com ele e consente no seu casamento com a filha sob a condição de que ele abandone o catolicismo e abrace sua religião,
e TZIPORA (Eliana Guttmann), judia russa. Intervém para que o marido autorize no casamento da filha com Toni
o pretendente SAMUEL (Paulo Ricardo), da comunidade judaica, apaixonado por ela
o pai de Samuel, JONATHAN (John Herbert), amigo de Ezequiel, judeu muito rico, faz gosto na união do filho com Camilli.

– núcleo de NINA (Maria Fernanda Cândido), órfã de pai, vive em um cortiço com a mãe doente. Trabalha em uma tecelagem, sendo consciente do regime de quase escravidão a que é submetida. Rebela-se contra isso e também contra os assédios do patrão. Quando estoura a Revolução de l932, vai servir como enfermeira no front paulista. Ao longo da trama, descobre que é filha do italiano Giuseppe, tio de Toni:
a mãe MADALENA (Laura Cardoso), lavadeira, vive doente. Não quer morrer antes de ver a filha casada e amparada na vida. No passado, tivera um caso com Giuseppe
os vizinhos no cortiço onde vive: AMADEO (Eduardo Mancini), MÁRIO (Cláudio Mendes), SEBASTIÃO (Sergio Migliaccio) e MAFALDA (Anídia Martins)
a amiga JULIETA (Renata Soffredini), operária da tecelagem com quem trabalhou.

– núcleo de EULÁLIA (Giselle Itié), filha de imigrantes espanhóis. Apaixona-se por Toni quando o conhece, mas não é correspondida. Para ajudar o pai, emprega-se na tecelagem onde trabalha Nina. Vive uma história de amor complicada com o patrão, de quem se torna amante:
os pais: MANOLO (Otávio Augusto), espanhol pobre, chegou ao Brasil ainda moço e trabalha muito para sustentar a família,
e SOLEDAD (Denise Del Vecchio), também espanhola. Dona de casa, costura e lava roupa para fora para ajudar no orçamento doméstico
o amante HUMBERTO (Oscar Magrini), dono da tecelagem onde trabalha. Mulherengo, assedia todas as operárias, apesar de casado. Apaixona-se por Nina, que não se deixa intimidar por ele
a esposa de Humberto, SILVIA (Ligia Cortez), mulher fina. Ressentida das traições do marido.

– núcleo da pensão de DONA MARIUSA (Regina Maria Dourado), nordestina simpática e despachada que aluga quartos para estudantes. Trabalha como se fosse a segunda mãe de todos. É em sua pensão que Genaro se estabelece quando chega ao Brasil. Mariusa inicia um forte laço de amizade com o velho italiano:
a sobrinha ISABELA (Mareliz Rodrigues), moça simpática como a tia, sempre vigiada de perto por ela, por causa dos rapazes pensionistas
os pensionistas: JOSÉ MANOEL (Nuno Lopes), português que chegou ao Brasil ainda menino. Estudante da Politécnica, considera-se brasileiro e detesta o apelido que os companheiros da pensão lhe deram: MURRUGA. Alistou-se para atuar no front da Revolução de 1932, de onde voltou ferido, tratado pela enfermeira Nina, por quem apaixonou-se. Vai lutar para conquistar seu coração,
MARCOS (Chico Carvalho), está terminando o curso de Direito na faculdade do Largo de São Francisco quando é obrigado a abandonar os estudos porque o pai, fazendeiro de café falido, já não tem como ajudá-lo. O mais maduro entre os estudantes, é o apaziguador dos conflitos da pensão,
RAFAEL (Mariz), nordestino, filho de um fazendeiro de cacau da Bahia. Estuda Direito com todas as regalias proporcionadas pelo pai, que quer vê-lo advogado formado. Apesar de bom estudante, é amante da boemia, frequentador dos prostíbulos da região,
e FELIPE (Daniel Lobo), de espírito gozador e brincalhão, parece não levar nada a sério na vida. Estudante de Direito na mesma faculdade de Marcos e Rafael, dá a impressão de que é o único que não se interessa pelos estudos
o funcionário da pensão BRUNO (Cláudio Galvan), interessado em Isabela
a cafetina JUSTINE (Gabriela Duarte), francesa, dona de um bordel. Antigo amor de Marcos, com quem volta a se envolver ao longo da trama. Emprega Genaro, que vai trabalhar como pianista em seu bordel
a prostituta MALU, a RUIVA (Tatianna Monteiro), trabalha no bordel de Justine, amiga dos rapazes da pensão.

– núcleo de VINCENZO (Othon Bastos), italiano rude, mas simpático e boa gente. Imigrante, chegou ao Brasil jovem. Dono de uma fazenda que comprou de um barão do café falido. Para tomar posse das terras, associou-se a dois italianos amigos e, por acordo, decidiram os três que ele as administraria:
a mulher CONSTANCIA (Araci Esteves), italiana trabalhadora, sem papas na língua ao defender a família
os filhos: MARCELLO (Emilio Orciollo Netto), puxou ao pai em tudo, jamais se atreve a contrariá-lo. Analfabeto, mas inteligente e simpático. Apaixonado pela filha de uma família inimiga, da fazenda vizinha
e CATERINA (Simone Spoladore), jovem bela, analfabeta como o irmão. Apaixona-se por um rapaz ao mesmo tempo em que é cortejada pelo filho de um dos sócios do pai, que incentiva o namoro dos dois com os olhos postos nas terras, num jogo de interesses
os sócios: FARINA (Paulo Goulart), italiano astuto, conterrâneo de Martino na Itália. Ao longo da trama, revela-se um mau caráter,
e ADOLFO (Antônio Petrin), incentiva a união do filho com Caterina
o filho de Adolfo, GAETANO (Zé Victor Castiel), tipo rude, forte, pouco refinado. Quer Caterina e os pais dela veem com bons olhos a corte que ele faz à filha. Mas ela o rejeita. É por causa dele, e de mágoas guardadas, que seu pai acaba vendendo sua parte na fazenda para a família rival de Vicenzo
o peão ZEQUINHA (Marcos Palmeira), arrebata o coração de Caterina.

– núcleo de FRANCISCA MÃO-DE-FERRO (Lúcia Veríssimo), viúva bela e fina. Sofre uma mudança radical após a morte do marido: vira a versão feminina de um coronel, daí seu apelido Mão-de-Ferro. Inimiga de Vicenzo, faz tudo para comprar a fazenda dele, vizinha à sua, criando atritos com o italiano e sua família. No decorrer da trama, após descobrir que o ex-marido teve uma filha bastarda com uma escrava, transforma-se em uma nova mulher e casa-se com Farina, sem dar-se conta de que é um mau caráter. Hospeda o casal Maria e Martino, amigo de Farina, de passeio no Brasil. Martino acaba assassinado em sua fazenda:
o primeiro marido MARCÍLIO MOREIRA ALVES (José Augusto Branco, participação), rico fazendeiro, falecido
os filhos: MAURÍCIO (Ranieri Gonzalez), rapaz refinado, educado nos melhores colégios. Romântico, impressiona-se com a beleza rústica de Caterina e apaixona-se por ela no auge da luta entre as suas famílias. Apesar da índole pacífica, não hesita em enfrentar a mãe,
e BEATRIZ (Miriam Freeland), como o irmão, fina e requintada. Cortejada por Marcello, não esconde o misto de pena e admiração que sente por ele, a exemplo do que acontece com o irmão ao conhecer Caterina. Contra a vontade da mãe, vai abrir uma escola para alfabetizar as crianças e os adultos das fazendas, entre eles, os irmãos Marcello e Caterina
a empregada JÚLIA (Sheron Menezes), bela mulata. Amiga de Beatriz, com quem aprendeu a ler e escrever. Ao longo da trama, descobre-se que é filha bastarda de Marcílio com uma escrava, o que ela própria desconhecia
a avó de Júlia, NHÁ RITA (Chica Xavier), sábia e misteriosa.

Antecedentes

Pouco mais de um ano antes de a novela estrear, o plano era que o novo folhetim fosse uma continuação explícita de Terra Nostra. Benedito Ruy Barbosa, o autor, chegou a escrever a sinopse dessa trama, que tinha como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial.

No meio do caminho, porém, Benedito assistiu à estreia da minissérie Aquarela do Brasil, de Lauro César Muniz, e concluiu que havia perdido o seu tema: “A ambientação era a mesma, eu tive de jogar fora o que havia planejado”, contou ele.

Apesar do solavanco, a TV Globo não quis abrir mão de uma história que lembrasse a saga de Terra Nostra. A novela, levada ao ar entre 1999 e 2000, era considerada um produto bem-sucedido da emissora, principalmente no mercado internacional. Quando vendida para a Itália, onde Terra Nostra fez muito sucesso, Esperança recebeu o título de Terra Nostra 2.

Assim, para Esperança, Benedito usou os mesmos ingredientes de sua trama anterior, só que optou por começar a história em outro momento dramático do século 20: a crise econômica mundial provocada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.

No campo dos desencontros amorosos, o autor também arranjou um temperinho extra: o triângulo amoroso entre os italianos Toni e Maria (Reynaldo Gianecchini e Priscila Fantin) e a judia Camilli (Ana Paula Arósio). Porém, isso não foi o suficiente para tornar injusto o apelido que Esperança ganhou pela mídia da época: Semelhança – com Terra Nostra.

Para a criação da novela, Benedito Ruy Barbosa contou com o trabalho da pesquisadora Madalena Prado. O autor teve ainda a consultoria da israelense Ahuva Flit para assuntos judaicos.

O primeiro título pensado para Esperança foi Uê, Paisano. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Atraso nas gravações

Com três meses de novela, as gravações começaram a se arrastar em função da demora na entrega de capítulos. Cenas eram feitas na véspera ou no mesmo dia em que iam ao ar. Atores ficavam à disposição do expediente, sem chance de agendarem outros compromissos. Dizia-se maldosamente pelos corredores que a novela estava sendo gravada ao vivo.

O atraso nas gravações resultou na necessidade de flashbacks constantes e a história mergulhou na chamada “barriga” – jargão para designar que nada acontece na trama. E a audiência despencou. Esperança passou bem até pelo teste do horário eleitoral, um adversário óbvio para a faixa nobre da TV: apesar dos quase 20% que desligavam a TV durante a propaganda gratuita, a novela chegou a resistir, alcançando até 45 pontos. Porém, acumuladas as consequências pelo atraso do texto, a audiência na Grande São Paulo acabou despencando para 35 pontos.

Mudança de autor

A crise na novela chegou ao ápice em dezembro de 2002, com a mudança urgente de mãos. Cedendo à pressão imposta pelo ritmo industrial da emissora, Benedito Ruy Barbosa abriu mão de escrever e passou o bastão a Walcyr Carrasco que, acionado, assumiu a novela a partir do capítulo 149. Com Benedito, saíram suas filhas, Edmara e Edilene, suas colaboradoras, e com Walcyr, entrou Thelma Guedes para auxiliá-lo.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, Benedito Ruy Barbosa comentou:
“Eu não queria que a novela fosse ao ar junto com a Copa do Mundo [de 2002, da Coréia e Japão] e o horário político. Achei que me prejudicaria. Mas teimaram e fizeram mesmo assim. (…) Além disso, minha mãe estava doente. Eu deixava de escrever para ir ao hospital, voltava para casa chocado, tentava escrever. (…) Foi ficando muito difícil para mim até que, um dia, resolvi parar.”

Walcyr Carrasco recebeu a missão de regularizar a entrega de textos à produção, a fim de sanar todos os problemas causados pelo atraso na conclusão dos capítulos escritos. O novo autor mexeu bastante na trama: criou novos entrechos, incluiu novos personagens, mudou a personalidade de alguns. Conseguiu fazer com que o telespectador voltasse a se interessar pela história e acabou por livrar a novela do título de mais baixo Ibope na história do horário nobre na emissora.

Entretanto Benedito Ruy Barbosa não gostou dos rumos que Walcyr Carrasco deu à sua novela. Em entrevista a André Bernardo e Cíntia Lopes, para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, Benedito desabafou:
“Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo] e disse ‘avisa o Walcyr que quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’ Ele simplesmente acabou com minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! (…) No fim, tudo terminou bem.”

Elenco

Destaque para a interpretação segura de Raul Cortez e Ana Paula Arósio. Por sua atuação, Arósio foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz de 2002.

No início de agosto de 2002, Ana Paula Arósio e Reynaldo Gianecchinni se feriram durante as gravações. Em uma cena que tinha de destruir a estátua feita pelo marido, a intérprete de Camilli torceu o pé. Já o galã saiu com o dente da frente quebrado depois de ser acidentalmente atingido pelo golpe dado por Ana Paula.

O ator Luís de Lima, que fazia uma participação na novela, vivendo Antônio – o pai do português José Manoel (Nuno Lopes) -, morreu no decorrer da produção. Saiu de cena o pai do personagem e entrou a mãe, a portuguesa Antônia, interpretada por Beatriz Segall.

Locações e cenografia

As primeiras gravações foram realizadas em Civita di Bagnoreggio, na divisa entre as regiões do Lazio e da Toscana, na Itália. A aldeia, de apenas 15 habitantes, mantinha as características do século 17.

A novela teve ainda cenas gravadas em estúdio, em uma das maiores cidades cenográficas já construídas na Central Globo de Produção até então – uma releitura poética do centro urbano de São Paulo nos anos 1930, montada em uma área de 13.500 metros quadrados – e em duas fazendas do interior de São Paulo: Santa Gertrudes, localizada no município de Santa Gertrudes (a fazenda foi referência mundial na fase áurea do café), e Atalaia, em Araraquara. Algumas cenas foram gravadas na fábrica Bangu, no Rio de Janeiro, que serviu como cenário da tecelagem onde trabalhava a personagem Nina (Maria Fernanda Cândido).

A concepção estética da novela teve, entre outras referências, o Neorrealismo Italiano. As cenas seguiam uma visão operística na retratação da realidade dos anos 1930. Para dar forma a essa linguagem, a equipe assistiu a palestras sobre mitologia e sobre a década de 1930.

Tema de abertura

Por abordar diferentes colônias de imigrantes, a novela inovou no tema de abertura. Na primeira semana, a música-tema, “Esperança”, era cantada em italiano. Na semana seguinte, passou para o hebraico e, depois, ganhou uma versão em espanhol e outra em português.

E mais

Aproveitando a sua exibição, chegou às livrarias A Década de 30 Através da Novela Esperança.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 22/05/2023.

Trilha sonora nacional

01. ESPERANÇA – Gilbert, Laura Pausini, Alejandro Sanz e Fama Coral (4 Idiomas) (tema de abertura)
02. EU E O SABIÁ – Chitãozinho & Xororó (tema de Beatriz e Marcello)
03. VEM SONHAR (PARLAMI D’AMORE MARIÙ) – Leonardo (tema de Maria e Toni)
04. ONDE ESTÁ O MEU AMOR ? – RPM (tema de João Manoel e Nina)
05. MILAGREIRO – Djavan (tema de Toni)
06. MUITO AMOR – Fagner (tema de Justine e Marcos)
07. VIOLA QUEBRADA – Pena Branca & Xavantinho
08. NOVAMENTE – Clara Becker
09. NOTÍCIAS – Marina (tema e Francisca e Farina)
10. TEMPLO – Chico César (tema de Júlia)
11. ONDE IR – Vanessa da Mata (tema de Caterina)
12. O CIO DA TERRA – Chico Buarque e Milton Nascimento
13. BICHO DO MATO – Arleno Farias
14. O QUE FOI FEITO DEVERÁ – Elis Regina (tema de Nina)
15. ESPERANÇA – Fama Coral (tema de abertura)
16. CUITELINHO – Nara Leão (tema de Caterina)

Sonoplastia: Aroldo Barros, Francisco Sales e Pedro Belo
Direção musical da novela: Mariozinho Rocha
Produção musical da novela: Marcelo Barbosa e André Sperling
Direção musical do CD: Hélio Costa Manso
Produção musical do CD: Marcelo Barbosa
Seleção de repertório: Luiz Fernando Carvalho e Marcelo Barbosa

Trilha sonora internacional

01. J’TTENDAIS – Celine Dion (tema de Justine)
02. TI AMO – Sergio Endrigo (tema de Toni)
03. TU – Sarah Brightman (tema de Maria)
04. YOLANDA – Chico Buarque (tema de Francisca e Martino)
05. CUANDO NADIE ME VE – Alejandro Sans (tema de Justine e Marcos)
06. L’ABITUDINE – Andrea Bocelli e Helena (tema de Silvia)
07. ADEUS… E NEM VOLTEI – Madredeus (tema de José Manuel)
08. CORE’NGRATO – Roberto Murolo (tema de Genaro)
09. SEAMISAI – Laura Pausini (tema de Isabela)
10. PARLAMI D’AMORE MARIÚ – Leonardo (tema de Maria e Toni)
11. LA MUSICA É FINITA – Ornella Vanoni (tema de locação em São Paulo)
12. AMORE PERDUTO – José Carreras (tema de Maurício)
13. IL MONDO – Jimmy Fontana (tema de Toni)
14. PASSA E VA – Mafalda Minnozzi (tema de Marcello e Beatriz)
15. MARECHIARE – Família Lima (tema de locação em São Paulo)
16. CHIMERA – Gianni Morandi (tema da pensão de Dona Mariusa)
17. YERUSHLAIM SHEL ZAHAV – Gilbert (tema de Camilli)
18. SPERANZA – Laura Pausini (tema de abertura)

Direção musical: Hélio Costa Manso
Produção musical: Marcelo Barbosa
Seleção de repertório: Luiz Fernando Carvalho e Marcelo Barbosa

Trilha sonora instrumental: por John Neschling e Ilan Rechtman

01. CATERINA (LE STAGIONE DELL´AMORE)
02. MELODÍA ESPAÑOLA
03. GENARO 1
04. KLEIZMER
05. FANTASIA JUDAICA-CIGANA
06. MARIA (ROSA)
07. GENARO 2
08. ITALIANOS (FRANCISCA)
09. BICICLETA
10. LUIZA 1
11. TONI
12. LUIZA 2
13. EULÁLIA
14. EULÁLIA 2 (SPANISH SOFT GUITAR)
15. MAURÍCIO
16. CAMILLI 1 (AHAVA-AMADA)
17. BEATRIZ
18. GENARO E ROSA (ROMÂNTICO)
19. ROMÂNTICO (DOLCE AMARO)
20. AHAVA (CAMILLI 1)
21. SUSPENSE
22. CAMILLI 2
23. ORIENTAL
24. GIUSEPPE
25. NINA
26. CORTIÇO (MÚSICA DO BAIRRO ITALIANO)
27. MORTE E AGONIA
28. GUITARRAS (GUITARRAS DRAMÁTICAS)
29. TARANTELLA
30. FANTASIA DE JERUSALÉM DE OURO

Produção musical: Marcelo Barbosa e Luiz Schiavon

Tema de abertura: SPERANZA – Laura Pausini

Lui, che qui arrivò
Che ritornerà
E porterà un sogno
Porterà realtà
Cuore di un uomo immenso
Che non sa se troverà
Quel coraggio, quell’avventura
Lui, che qui arrivò
E che resterà
Lui, lungo il cammino
Forse incontrerà
Occhi che, come i suoi
Chiedono di felicità
Ricercando la vita
Oh vita, vite… e speranza!
Sogno, sogni… speranza!
pace, pace… speranza!
Lui, che qui arrivò
Che ritornerà…

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