Sinopse

João, um homem simples, rude e generoso, é o filho mais velho da família Coragem. Garimpeiro em Coroado, cidadezinha na divisa entre os estados de Goiás e Minas Gerais, ele encontra um diamante valioso, que é roubado de suas mãos a mando do Coronel Pedro Barros, o homem mais poderoso da região, que comanda os garimpos e dita as regras. Para recuperar a sua pedra e lutar contra as injustiças do coronel, João conta com a ajuda do irmão Jerônimo.

João conhece e se apaixona pela tímida e reprimida Lara, a filha doente de Pedro Barros, que desconhece a doença da própria filha. Lara sofre de tripla personalidade, confundindo todos: é também a esfuziante e selvagem Diana, seu extremo oposto, e Márcia, um meio termo entre Lara e Diana. Essas três diferentes mulheres enlouquecem de paixão João Coragem.

Jerônimo, por sua vez, tem uma paixão reprimida pela índia Potira, sua irmã de criação. Enquanto João entra na luta contra Pedro Barros de arma nas mãos, Jerônimo entra para política, no partido de esquerda, para tentar acabar com os desmandos do coronel. Para fugir do amor de Potira, o rapaz se envolve com Lídia Siqueira, filha de um importante deputado que o ajudará na carreira política.

Duda é o terceiro irmão Coragem. Um famoso jogador de futebol, o rapaz deixou para trás a cidade e a namorada de infância, Ritinha. Ela é uma moça romântica e ingênua que luta pelo amor de Duda quando ele retorna à Coroado. Porém, o jogador está envolvido com outra mulher, Paula, que não mede esforços para ficar ao seu lado. O conflito cresce quando Ritinha engravida de Duda, ele é obrigado a se casar com ela e a leva para a cidade grande.

Globo – 20h
de 8 de junho de 1970 a 12 de junho de 1971 (Rio)
de 29 de junho de 1970 a 15 de julho de 1971 (SP)
328 capítulos

novela de Janete Clair
direção de Daniel Filho, Milton Gonçalves e Reynaldo Boury
direção geral de Daniel Filho

Novela anterior no horário
Véu de Noiva

Novela posterior
O Homem que Deve Morrer

TARCÍSIO MEIRA – João Coragem
GLÓRIA MENEZES – Lara (Maria de Lara Barros) / Diana Lemos / Márcia Lemos
CLÁUDIO CAVALCANTI – Jeromo (Jerônimo Coragem)
CLÁUDIO MARZO – Duda (Eduardo Coragem)
REGINA DUARTE – Ritinha (Rita de Cássia Maciel)
ZILKA SALABERRY – Sinhana
GILBERTO MARTINHO – Coronel Pedro Barros
EMILIANO QUEIROZ – Juca Cipó
LÚCIA ALVES – Potira
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Rodrigo César Vidigal
CARLOS EDUARDO DOLABELLA – Delegado Diogo Falcão
ÊNIO SANTOS – Dr. Maciel (Salvador Maciel)
ANA ARIEL – Domingas
MYRIAN PÉRSIA – Paula
PAULO ARAÚJO – Ernani
MIRIAN PIRES – Dalva Lemos
GLAUCE ROCHA – Estela Lemos Barros
HEMÍLCIO FRÓES – Lourenço D’Ávila / Ernesto Bianchini
NEUZA AMARAL – Branca
MICHEL ROBIN – Alberto
MILTON GONÇALVES – Brás Canoeiro
SUZANA FAINI – Cema
DARY REIS – Lázaro
SÔNIA BRAGA – Lídia Siqueira
JUREMA PENNA – Indaiá
MACEDO NETO – Padre Bento
RENATO MASTER – Dr. Rafael Marques
IVAN CÂNDIDO – Delegado Gerson de Castro
ARNALDO WEISS – Damião
ARTHUR COSTA FILHO – Gentil Palhares
LOURDINHA BITTENCOURT – Manuela
MONAH DELACY – Dona Deolinda
LEDA LÚCIA – Margarida
FRANCISCO SERRANO – Souza

e
ALCESTE CASTELANI – Darci
ANA MARIA LAGE – Nita (copeira que serve o bando de João Coragem, apaixonada por ele)
ÂNGELA LEAL – Yolanda (enfermeira, cúmplice da farsa de Lourenço quando ele é hospitalizado)
ANTÔNIO ANDRADE – Neco (jogador do Flamengo amigo de Duda, marido de Carmem Valéria)
ANTÔNIO VICTOR – Sebastião Coragem (patriarca dos Coragem, morre no início)
ÁTILA ALMEIDA – Beato Zacarias (trazido a Coroado por Pedro Barros para exorcizar Lara)
B. DE PAIVA – Prefeito Jorginho (prefeito de Coroado, morto em um atentado)
CASTRO VIANA – tabelião
CLÁUDIO RAMOS – capanga de Pedro Barros
CLEMENTINO KELÉ – médico de São Paulo que operou Duda
DELORGES CAMINHA – Seu Julião
DOMINGOS TERCILIANO JR. – homem do bando de João Coragem
DORINHA DUVAL – Carmem Valéria (cantora, mulher de Neco, amiga de Duda, Paula e Ernani)
ENOCK BATISTA – Ivan (guarda da delegacia)
ESTELITA BELL – Silvia (vendedora em uma mercearia no Rio de Janeiro, vizinha de Ritinha)
FÁBIO MASSIMO – Julinho
FELIPE WAGNER – Dr. Siqueira (deputado federal, pai de Lídia)
FERNANDO JOSÉ – viajante que se hospeda na pousada de Gentil
FRANCISCO DANTAS – Dr. Paulo
FRANCISCO MILANI – Luiz (promotor no julgamento de João Coragem)
FRANCISCO SILVA – capanga de Pedro Barros
FREDY NABHAN – homem do bando de João Coragem
ISAAC BARDAVID – Dr. Umberto (médico que opera Lara, no final)
IVAN BORGES – Antônio (homem do bando de João Coragem)
IVAN DE ALMEIDA – Zé Valente (capanga de Pedro Barros)
JACYRA SILVA – Beatriz (enfermeira, ajuda João a desvendar o mistério da morte de Lourenço)
JOMERI POZZOLI – juiz de Coroado
JOSÉ STEIMBERG – Laport (comerciante de joias para quem Lourenço tenta vender o diamante de João, envolve-se com Branca)
JÚLIO GARCIA – homem do bando de João Coragem
LEÔNIDAS BAYER – homem do bando de João Coragem
MARIA ALVES – Salete
MARIA ESMERALDA – Jurema
MAURO BRAGA – Tonho
MIGUEL CARRANO – Dr. Henrique
MOACYR DERIQUÉM – Jarbas (diretor do jornal em que Márcia vai trabalhar)
NAVARRO DE ANDRADE – homem do bando de João Coragem
NELSON CARUSO – Cláudio
NEWTON BARROS – Manuel Andrade (testemunha de acusação no julgamento de João Coragem)
OTONIEL SERRA – Gastão
PIETRO MÁRIO – Venâncio (homem do bando de João Coragem)
SÔNIA CLARA – Glória
RAFAEL VIZARRO – coroinha
ROBERTO BONFIM – leva Potira a uma festa, a mando de Lídia, e a rapta
RÔMULO D´ANGELO – Zé Fuinha
SERAFIM GONZALEZ
TELMO AVELAR – Fausto Paiva
VINÍCIUS SALVATORE – Castro (capanga de Pedro Barros que entra para o bando de João Coragem)
WALDIR ONOFRE
YARA AMARAL – Tula (viúva paulistana rica que se interessa por Duda, quando ele vai jogar no Corinthians)
ZENI PEREIRA – Virgínia (empregada de Paula)
Jair Santanna (técnico do Flamengo)

– núcleo da família Coragem:
o casal SEBASTIÃO (Antônio Victor), velho doente, morre no decorrer da trama, e SINHANA (Zilka Salaberry), mulher de fibra, simplória, sofrida e honesta, capaz de tudo para defender a família
os filhos JOÃO (Tarcísio Meira), garimpeiro justo, honesto, não gosta de violência e prefere acreditar na lei. Capaz de atos heroicos, mas meio ingênuo em sua crença pela Justiça. Vira líder de um grupo de garimpeiros justiceiros. Encontra um precioso diamante, que lhe é roubado,
JERÔNIMO (Cláudio Cavalcanti), garimpeiro, trabalha com João. Também honesto, porém pé no chão. Entra para a política para lutar contra os poderosos da região que dominam os garimpos. Acaba se corrompendo,
e DUDA (Cláudio Marzo), o caçula. Jogador de futebol, tornou-se um craque disputado pelos grandes times, o orgulho do povo de Coroado
a filha de criação POTIRA (Lúcia Alves), mestiça, filha de uma índia e um branco. Mora com Sinhana e Sebastião, a quem considera como pais. Sinhana desconfia que ela seja filha de Sebastião com uma índia. Ele a trouxe para Coroado depois de uma viagem. É tratada como irmã de criação por João, Jerônimo e Duda. Apaixonada por Jerônimo.

– núcleo do CORONEL PEDRO BARROS (Gilberto Martinho), manda-chuva de Coroado, dono dos garimpos da região, explora seus empregados. Déspota, usa de arbitrariedade e prepotência para controlar as áreas de garimpo, não admitindo que os garimpeiros vendam pedras para fora. Tem um grupo de jagunços sob seu comando. Torna-se inimigo dos Coragem, que rebelam-se contra seu domínio. João torna-se o líder na luta contra os desmandos do coronel. É o mandante do roubo do diamante de João:
a mulher ESTELA (Glauce Rocha), bonita e vaidosa, não gosta da vida que leva em Coroado. Foi obrigada pelo pai a se casar, como pagamento de uma dívida de jogo. Considera o marido um roceiro grosso, sujo e assassino. Frequenta casas de jogos, onde se endivida. É infiel ao marido, que não ama
a filha LARA (Glória Menezes), moça culta e reservada. Apresenta distúrbios de comportamento que a fazem mudar de personalidade, transformando-se na vulgar DIANA, seu extremo oposto. Tempos depois, assume uma terceira personalidade, a da equilibrada MÁRCIA, um contraponto entre Lara e Diana. Apaixona-se por João, mas não consegue controlar suas mudanças de comportamento, o que põe o romance dos dois em cheque
a cunhada DALVA (Mirian Pires), irmã de Estela, que tem um extremo zelo por Lara, tratando-a como uma filha
o protegido JUCA CIPÓ (Emiliano Queiroz), um de seus capangas. Tem problemas mentais. Vingativo e sádico, é capaz de maldades sem ter consciência de seus atos. Ao mesmo tempo, tem um comportamento infantil. Descobre-se que é na verdade filho do coronel
o delegado DIOGO FALCÃO (Carlos Eduardo Dolabella), comparsa em suas falcatruas, seu maior desejo é casar-se com Lara, por isso tem mais motivos para perseguir João. Acaba voltando-se contra o coronel
a segunda mulher DOMINGAS (Ana Ariel), uma antiga namorada. Os dois se unem quando ele se separa de Estela. É revelado que é a mãe de Juca
o capanga ZÉ VALENTE (Ivan de Almeida)
o DR. RAFAEL MARQUES (Renato Master), psiquiatra contactado por Dalva para tratar de Lara, diagnostica a sua doença
o DR. UMBERTO (Isaac Bardavid), médico que opera Lara, no final
o BEATO ZACARIAS (Átila Almeida), fanático religioso, curandeiro, chamado por Pedro Barros para exorcizar Lara.

– núcleo de João Coragem:
o casal amigo BRÁS CANOEIRO (Milton Gonçalves), garimpeiro que torna-sa seu braço direito, e CEMA (Suzana Faini), estuprada por Juca Cipó, existe a dúvida se o filho que espera é dele ou do marido
LÁZARO (Dary Reis), assassino que João conheceu na cadeia e de quem se tornou amigo, leva-o para o seu bando. No decorrer da trama, trai João e se bandeia para o lado de Pedro Barros. Ao final, volta ao grupo de João
CASTRO (Vinícius Salvatore), era capanga de Pedro Barros, mas o trai e é salvo da morte pelo grupo de João, com quem acaba se aliando
a criada NITA (Ana Maria Lage), serve aos homens de João. É apaixonada por ele e por isso entra em atrito com Lara.

– núcleo de Jerônimo:
o promotor RODRIGO CÉSAR (José Augusto Branco), luta ao lado dos Coragem contra as injustiças de Pedro Barros, pois o coronel fora responsável pela morte de seu pai no passado. Apaixona-se por Potira, com quem acaba se casando, sem saber que ela é apaixonada por Jerônimo, o que levará a um conflito entre os dois amigos
a índia INDIAIÁ (Jurema Penna), chega a Coroado para trabalhar como criada na casa de Pedro Barros. Revela-se ser a mãe de Potira e vai trabalhar na casa de Rodrigo César quando ele se casa com a moça
LÍDIA (Sônia Braga), filha de um deputado, com quem ele se casa por interesse politico. Jovem bonita, alegre, culta, festeira e espirituosa, porém um tanto inconsequente. Apaixona-se por Jerônimo e luta por ele, apesar de ele reconhecer que não a ama
DR. SIQUEIRA (Felipe Wagner), deputado federal, pai de Lídia, político à velha maneira, falastrão e caçador de votos
JORGINHO (B. de Paiva), prefeito de Coroado assassinado no decorrer da trama
DONA DEOLINDA (Monah Delacy), mulher do prefeito Jorginho
MARGARIDA (Leda Lúcia), filha do prefeito Jorginho e de Deolinda. A princípio, pretendente de Jerônimo, acaba se casando com Juca Cipó, contra a vontade dele.

– núcleo de Duda:
a namorada de infância, RITINHA (Regina Duarte), jovem ingênua e romântica, reencontra Duda quando ele está visitando a família em Coroado. Os dois passam uma noite juntos e o pai dela obriga-os ao casamento. Ritinha muda-se para o Rio de Janeiro, grávida, acompanhando o marido, e enfrenta uma série de infortúnios por não receber de Duda o amor que idealizou
o pai de Ritinha, DR. MACIEL (Ênio Santos), médico alcoólatra, começou a beber quando perdeu a mulher em uma cirurgia pela qual era o responsável. Moralista, obriga Duda a casar-se com a filha. No fundo, é um homem infeliz
a ex-namorada PAULA (Myrian Pérsia), com quem tivera um caso no Rio de Janeiro. Louca por Duda, vai atrás dele em Coroado e o persegue quando ele volta para o Rio. Faz o possível para melar o casamento dele com Ritinha
o irmão de Paula, ERNANI (Paulo Araújo), um mau-caráter, assedia Ritinha. Os dois irmãos criam intrigas para desestabilizar o casamento de Duda e Ritinha
os amigos DAMIÃO (Arnaldo Weiss), ex-jogador, NECO (Antônio Andrade), jogador do Flamengo, e CARMEM VALÉRIA (Dorinha Duval), cantora, mulher de Neco
TULA (Yara Amaral), viúva paulistana, rica e solitária. Apaixona-se por ele quando foi morar em São Paulo, vendido para o Corinthians
JAIR SANTANNA, técnico do Flamengo
VIRGÍNIA (Zeni Pereira), empregada de Paula no Rio de Janeiro.

– núcleo de LOURENÇO D´AVILA (Hemílcio Fróes), capataz de Pedro Barros e seu braço direito. Tem um caso com Estela. Quando vai roubar o diamante de João a mando de Pedro Barros, some com a pedra, simulando a própria morte e fazendo com que João seja responsabilizado por ela. Por isso João passa a ser perseguido pela polícia. Lourenço assume outra identidade, ERNESTO BIANCHINI, para que possa vender a pedra e fugir do país:
a esposa BRANCA (Neuza Amaral), mulher simples, conhece bem o caráter do marido, mas o ama mesmo assim. Sofre demais quando o filho demonstra desejo de seguir os mesmos passos do pai
o filho ALBERTO (Michel Robin), acreditando que João é o assassino de seu pai, vai ao encalço dele para matá-lo. Convencido de que João é inocente, passa a fazer parte do seu grupo
o comerciante de jóias LAPORT (José Steimberg), para quem Lourenço tenta vender a pedra. Acaba se envolvendo com Branca
a enfermeira YOLANDA (Ângela Leal), que passa a ser cúmplice da farsa de Lourenço quando ele é hospitalizado
a amiga de Yolanda, BEATRIZ (Jacyra Silva), também enfermeira. Ajuda João a desvendar o mistério da morte de Lourenço. Vai cuidar de Lara no final
o dono do cassino onde Lourenço e Estela jogam, SOUZA (Francisco Serrano), torna-se cúmplice da farsa de Lourenço e acaba assassinado.

– demais personagens:
o delegado GERSON DE CASTRO (Ivan Cândido), que substitui Falcão quando ele é afastado do cargo por imposição de Pedro Barros
PADRE BENTO (Macedo Neto), faz o que pode para proteger a família Coragem dos desmandos do coronel
GENTIL PALHARES (Arthur da Costa Filho), dono da pensão de Coroado
MANUELA (Lourdinha Bittencourt), mulher de Gentil
DR. LUIZ (Francisco Milani), promotor no julgamento de João.

Faroeste à brasileira

Filmes de bang bang serviram de inspiração para o texto e direção. Proscritos, justiceiros a cavalo, pancadaria, tiroteio e o tempero brasileiro fizeram de Irmãos Coragem um “faroeste caboclo”. Sua linguagem cinematográfica em algumas sequências era uma novidade e tanto para a época.

O ponto de partida para Janete Clair foram os romances “As Três Faces de Eva”, de Corbertt H. Thigpen e Hervey M. Cleckley, e “A Pérola”, de John Steinbeck (que ainda rendeu um Caso Especial, em 1972, adaptado por Dias Gomes). A autora buscou também inspiração no romance “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoiévski, e na peça “Mãe Coragem”, de Bertold Brecht.

Retrato do Brasil

Um retrato do Brasil daqueles tempos pode ser encontrado na trama de Irmãos Coragem. A novela foi ao ar em 1970, ano em que a seleção brasileira de futebol venceu a Copa do México, a tortura ainda era encoberta nos porões dos órgãos de repressão, e o General Médici era um presidente que mantinha um olho nos partidos clandestinos e outro nos campos de futebol.

Médici não era muito diferente do Coronel Pedro Barros, o vilão da novela. Em Coroado, a cidade fictícia da história, o prefeito era cúmplice, a polícia era corrupta e o coronel era a lei. Jerônimo Coragem (Cláudio Cavalcanti) tentava combater as injustiças do coronel entrando para a política. Porém, em Coroado, como no resto do Brasil, as eleições eram de mentirinha, o coronel comprava os votos dos eleitores.

Duda, o jogador de futebol, desvendava os bastidores de um esporte muito diferente daquele que a mídia vendia na época. A novela chegou até a ser o trunfo de uma campanha levantada pela esquerda: a do voto nulo. Em 1970, houve eleições para senador e vereadores. A população votou maciçamente em Jerônimo Coragem, o candidato fictício da novela das oito.

(“Janete Clair, a Usineira de Sonhos”, Artur Xexéo)

Repercussão

Daniel Filho narrou em seu livro “Antes que me Esqueçam” sobre a repercussão de Irmãos Coragem:
“Acho que foi a primeira vez que uma novela estourou de ponta a ponta no Brasil, atingindo índices fantásticos de audiência. Deu mais audiência que o final da Copa de 70. O jogo foi num domingo, e, no dia seguinte, a audiência da novela foi maior.”
O capítulo de Irmãos Coragem exibido na segunda-feira do dia 22/06/1970 obteve mais audiência que o jogo entre as seleções do Brasil e da Itália na final da Copa do Mundo do México, no dia anterior (domingo, 21 de junho).

Em pleno ano de Copa do Mundo, a autora, precavida, fez um dos três irmãos Coragem da história, Duda (Cláudio Marzo), um jogador de futebol, para que o público urbano tivesse afinidade com a história. Janete Clair temia um desinteresse pelo tema rural. Porém, seu medo logo se desfez nos primeiros capítulos. Os índices de audiência comumente ultrapassavam os 85% – marca então inédita para uma telenovela na época. Por sua trama repleta de elementos masculinos, pela primeira vez os homens assumiram que viam novela.

Por causa do sucesso, a novela foi sendo espichada, totalizando ao final 328 capítulos em mais de um ano de exibição. Ao contrário do que se pensa, Irmãos Coragem não foi a mais longa novela já produzida pela TV Globo. Esse título pertence a uma trama anterior: A Grande Mentira (1968-1969), que totalizou 341 capítulos.
Entre as produções da emissora, Irmãos Coragem é a segunda mais longa. No ranking geral de todas as emissoras, é a décima primeira colocada na Teledramaturgia nacional.

Irmãos Coragem foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1970. Regina Duarte levou o prêmio de melhor atriz.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, em seu “Livro do Boni”, narrou a emoção pela qual passou em Salvador com uma manifestação popular por causa da novela:
“No dia 01/01/1971, eu e a minha família, o Tarcísio e a Glória (…) e alguns amigos fomos participar da procissão marítima do Senhor dos Navegantes, em Salvador (…). Eram mais de mil barcos no mar e o dia estava lindo e ensolarado. Os barcos iam navegando e todos cantavam hinos religiosos (…). Quando perceberam que o Tarcísio Meira estava em uma das embarcações, as pessoas do barco ao lado começaram a entoar a música de abertura de Irmãos Coragem e a coisa foi passando de barco em barco. De repente, mais de três mil barcos e trinta mil pessoas cantavam, no mar de Salvador, a uma só voz: “Irmão, é preciso coragem…” O Tarcísio desandou a chorar. Eu também caí em prantos. Milhares de embarcações tentavam se aproximar da nossa, atirando flores e jogando beijos. Quase morremos de emoção.”

Elenco

A Globo uniu dois de seus pares românticos mais queridos pelo público na época: Tarcísio Meira e Glória Menezes, e Cláudio Marzo e Regina Duarte. Marzo e Regina (egressos da novela anterior, Véu de Noiva) saíram antes do fim de Irmãos Coragem para estrelar a próxima novela das sete, Minha Doce Namorada. Na trama, seus personagens, Duda e Ritinha, reconciliados e felizes, se mudaram definitivamente para São Paulo, pois o craque Duda fora contratado pelo Corinthians.

Ótima direção de elenco, com atuações memoráveis. Destaque para Gilberto Martinho, em uma interpretação marcante como o vilão Pedro Barros, e Zilka Salaberry, em um de seus melhores momentos na TV, ao personificar a “mãe coragem” Sinhana, a matriarca da família Coragem.

A novela marcou a estreia da atriz Sônia Braga na TV. Foi também a primeira novela na Globo dos atores Hemílcio Fróes e Arthur Costa Filho.

Durante a novela, Regina Duarte ficou grávida de seu primeiro filho, André. Janete Clair criou então uma gravidez para sua personagem, Ritinha, que deu à luz uma menina, batizada na trama de Gabriela. Em 1973, grávida novamente (e também atuando, na novela Carinhoso), a atriz teve uma filha, que recebeu o nome Gabriela. Em 1995, já atriz profissional, Gabriela Duarte viveu Ritinha no remake de Irmãos Coragem.

Também durante a novela, Glória Menezes teve meningite e ficou afastada mais de um mês. Porém, as gravações estavam tão adiantadas que ela nem chegou a sair do ar. Daniel contou em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Tive sorte em Irmãos Coragem. Glória Menezes teve uma meningite braba, ficou um mês fora da novela. Mas não ficou um dia fora do ar porque Janete Clair dividiu as cenas que já tínhamos gravadas. O que tinha sido gravado adiantado para duas semanas ficou no ar mais outras duas semanas e pouco. Quando Glória voltou, gravou uma cena que entrou no dia seguinte no ar. Demoramos até ficar com os capítulos adiantados novamente.”

Uma cena marcante do último capítulo: durante um tiroteio, Jerônimo (Cláudio Cavalcanti) morre com o corpo de sua amada, Potira (Lúcia Alves), também morta, nos braços. Revoltado, João Coragem (Tarcísio Meira), diante da população de Coroado, quebra o diamante que dera origem a todos os conflitos.
Em 1971, não existia o equipamento para fazer o efeito slow-motion (câmera lenta) em televisão. Para dar maior impacto à cena da morte de Jerônimo e Potira, os diretores recorreram à película cinematográfica, filmando a sequência e rodando em câmera lenta. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

O perfil do personagem Juca Cipó (Emiliano Queiroz) teve de ser alterado pois as crianças passaram a gostar dele. Juca era doente mental, mas muito violento no princípio. Tornou-se mais infantil, engraçadinho, com o passar do tempo. (“O Circo Eletrônico”, Daniel Filho)

Janete Clair teve a assessoria do jornalista e comentarista esportivo João Saldanha para criar o personagem Duda, o famoso craque, e descrever as angústias de um jovem do interior que se transforma em ídolo do futebol.
Para a realização da sequência em que Duda atua em um jogo entre Flamengo e Botafogo, no estádio do Maracanã, o diretor Daniel Filho conversou com o então técnico do Flamengo, Fleitas Solich, e conseguiu com que Cláudio Marzo entrasse em campo com o time, vestindo a camisa 10. A torcida não entendeu que jogador era aquele escalado para a partida mas, durante o aquecimento, o ator não fez feio. (Site Memória Globo)

Estupro

Irmãos Coragem foi a primeira novela a abordar estupro na TV brasileira, ainda que implicitamente, mesmo que a palavra sequer tivesse sido pronunciada na trama. O público mal viu Juca Cipó (Emiliano Queiroz) violentar Cema (Suzana Faini) no início da novela, mas entendeu direitinho o que aconteceu. O vilão ainda se vangloriou: “Foi difícil domar ela, parecia uma onça brava, me lanhou todo! Mas eu me diverti!”.

Cema engravidou em seguida e passou a viver um grande conflito com o marido Brás (Milton Gonçalves), um negro que jamais aceitaria um filho branco. Daniel Filho lembrou que os telespectadores torciam para que o filho de Cema nascesse mulato e ela fizesse as pazes com o marido.

Cidade cenográfica e locações

Localizada em uma área de cinco mil metros quadrados, onde hoje funciona o Barrashopping, na Barra da Tijuca (RJ), Coroado foi a segunda cidade cenográfica das novelas brasileiras – a primeira foi a de Redenção (1966-1968), da TV Excelsior.
A cidade de Irmãos Coragem tinha oito ruas, praça, prefeitura, delegacia, igreja, pensão, farmácia, bares e mercearia.

Daniel Filho narrou em seu livro “O Circo Eletrônico” as dificuldades com a primeira cidade cenográfica da TV Globo:
“A gente não tinha experiência, eu e Mário Monteiro [o cenógrafo responsável]. Aquela cidade desabava semanalmente e virou de fato um faroeste. Os cenógrafos ainda não tinham know-how para fazer um acabamento correto. A cidade de Coroado era onde é o Barrashopping agora; claro que não ocupava toda aquela extensão, talvez uns 2%.”

Durante a novela, a cidade cenográfica foi destruída em um temporal e se tornou notícia de jornal, confundindo ficção com realidade. Durante uma enchente no Rio de Janeiro, um helicóptero fotografou a cidade cenográfica. A foto virou manchete do jornal carioca O Dia: “O Rio está inundado”. Destruído pelo temporal, o cenário confundiu os repórteres. A ficção, finalmente, se tornou realidade no último capítulo, quando o vilão Pedro Barros, enlouquecido, incendeia Coroado. (“O Circo Eletrônico”, Daniel Filho)

As cenas do garimpo foram feitas, em sua maioria, na serra de Teresópolis (RJ).

Os problemas enfrentados pela produção eram cotidianos. Um figurante foi atropelado por um cavalo. Outro caiu de sua montaria e ficou coberto de piche. Para gravar na fictícia Coroado, atores e produtores tinham de driblar cobras, jacarés e as chuvas, que frequentemente inundavam o pantanoso terreno e inviabilizavam o cronograma das gravações.

Trilha sonora e abertura

A trilha de Irmãos Coragem foi produzida por Nelson Motta, pela gravadora Philips (ainda não existia a Som Livre). Ao todo, ele produziu nesta época seis trilhas: também Véu de Noiva, Verão Vermelho, Pigmalião 70, Assim na Terra Como no Céu e A Próxima Atração.

Sobre a música tema de abertura da novela, Daniel Filho comentou no livro “O Circo Eletrônico”:
“Encomendei a Nonato Buzar uma música meio Ennio Morriconi. A letra da abertura que ele fez era tão boa que decidi guardá-la para a virada da história que ocorreria no capítulo 12, quando João Coragem acha o diamante. Eu fiz com que a abertura fosse durante os doze primeiros capítulos somente uma música instrumental, sem letra, para que tivesse uma valorização quando ele achasse o diamante e entrasse a letra, na voz de Jair Rodrigues: ‘Irmão, é preciso coragem!'”

Em 1981, por causa da reprise da novela, a Som Livre relançou nas lojas o LP Irmãos Coragem. Além de ter o selo da Som Livre atualizado no vinil, a logomarca da novela, na capa do disco, recebeu a cor vermelha em substituição à cor branca original.

A abertura da novela – em que os irmãos Coragem apareciam em seus cavalos e a imagem era congelada momentaneamente para cada um deles – foi filmada com uma câmera de 16mm. Na época, era difícil fazer o efeito de congelamento, pois não existia o recurso de freeze nas câmeras. Daniel Filho explicou em “O Circo Eletrônico”:
“As pessoas andavam, paravam e entrava um still fajuto, que nada mais era do que uma fotografia do momento meio saturada. Saturando as imagens ficava menos estranho parar o filme em alguns momentos.”

Repetecos

A TV Globo editou Irmãos Coragem para uma exibição única, na noite do dia 14/01/1980, como parte do Festival 15 Anos da emissora (apresentação de Yoná Magalhães – apesar de a atriz não estar no elenco).

A novela foi reapresentada entre 21/09/1981 a 26/03/1982, pelas manhãs, dentro do programa feminino TV Mulher. Como, na época, a programação nacional não era unificada, essa reprise não ocorreu para todo o Brasil.

Reprisada também de 23/04 a 18/05/1990, compactada, como parte do Festival 25 Anos da TV Globo.

Irmãos Coragem rendeu álbuns de figurinhas, fotonovelas contando a história e versões romanceadas. A novela foi, posteriormente, lançada em livretos, em duas coleções. Em 1985, a Rio Gráfica Editora lançou a coleção “As Grandes Telenovelas”, com 12 títulos distribuídos nos supermercados com o sabão-em-pó Omo. Em 1987, a Editora Globo lançou a série de livros “Campeões de Audiência”, também 12 adaptações de novelas, à venda nas bancas.

Em 2011, a Globo Marcas lançou o DVD de Irmãos Coragem, em um box com 8 discos.

Remake

A história de Irmãos Coragem ganhou um remake em 1995, atualizado por Dias Gomes e Marcílio Moraes – como parte das comemorações dos 30 anos da TV Globo. Marcos Palmeira, Ilya São Paulo e Marcos Winter interpretaram os irmãos Coragem. Porém, dessa vez, não houve sucesso.

01. IRMÃOS CORAGEM – Jair Rodrigues (tema de abertura)
02. JERÔNIMO – Luiz Carlos Sá (tema de Jerônimo)
03. MINHAS TARDES DE SOL – Regina Duarte (tema de Ritinha)
04. ONDAS MÉDIAS – Umas & Outras
05. PORTO SEGURO – Banda Cores Mágicas
06. COROADO – Denise Emmer & M. Pitter (tema de locação)
07. NOSSO CAMINHO – Maysa (tema de João e Lara)
08. IRMÃOS CORAGEM – Banda Cores Mágicas
09. JOÃO CORAGEM – Tim Maia (tema de João)
10. FLAMENGO, FLAMENGO – Maria Creuza (tema de Duda)
11. BRANCA – Luiz Eça (tema de Diana)
12. O AMOR MAIOR – Eustáquio Sena
13. BACHIANA Nº 5 – Joyce

Sonoplastia: Antônio Faya
Produção musical: Nelson Motta
Arranjos: Dory Caymmi, Luiz Eça e Waltel Branco
Philips

Ainda
A DASTARDLY DEED – Elmer Bernstein (tema de Pedro Barros)
AIRPORT LOVE THEME – Alfred Newman (tema de Potira)
FEELING ALRIGHT – Joe Cocker
I GIORNI DELL’IRA – Riz Ortolani (tema das vinhetas de intervalo)
JOHNNY BE GOOD – Chuck Berry
LOVE IS A MANY SPLENDORED THING – Mantovani Orchestra
LULLABY (ROSEMARY´S BABY THEME) – Krzysztof Koneda (tema de Lara)
MENINA – Paulinho Nogueira (tema de Potira)
NEVADA SMITH MAIN THEME – Alfred Newman
O DIAMANTE COR-DE-ROSA – Roberto Carlos
YELLOW RIVER – Christie

Temas das novelas Assim na Terra Como no Céu, Irmãos Coragem e Passo dos Ventos

01. TEMA DE ABERTURA – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu – tema de abertura *)
02. BANDINHA – Waltel Branco (Irmãos Coragem)
03. DIANA – Waltel Branco (Irmãos Coragem)
04. TEMA DE RICARDINHO – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu)
05. TEMA DE AMOR – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu)
06. 200MPH – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu)
07. I GIORNI DELL’IRA – Riz Ortolani (Irmãos Coragem)
08. FRUSTRAÇÃO – Arlete Salles (Assim na Terra Como no Céu)
09. BACK GROUND – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu)
10. ZORRA – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu)
11. TEMA DE SUSPENSE – Waltel Branco (Assim na Terra Como no Céu)
12. BENAMIE – Waltel Branco (Passo dos Ventos)

Temas internacionais das novelas Irmãos Coragem e Pigmalião 70

MAYBE TOMORROW – Peter Nero
ON HER MAJESTY´S SECRET SERVICE – John Barry
WE HAVE ALL THE TIME – John Barry
COME SATURDAY MORNING – Peter Nero

Tema de abertura: IRMÃOS CORAGEM – Jair Rodrigues

Manhã despontando lá fora
Manhã, já é sol, jé é hora
E os campos se abrindo em flor
E é preciso coragem que a vida é viagem
Destino do amor

Abre o peito, coragem irmão!
Faz do amor sua imagem e pão
Quem à vida se entrega
A sorte não nega seu braço, seu chão

O rumo, a raça, a roda, o rodeio
O rio, a relva, o risco, a razão
Mas quem à vida se entrega
A sorte não nega seu braço, seu chão

Irmão, é preciso coragem
Irmão, é preciso coragem…

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