Sinopse

O prefeito Odorico Paraguaçu é um político demagogo e corrupto que, com seus discursos inflamados e verborrágicos, ilude o simplório povo da pequena Sucupira, no litoral baiano. A meta prioritária de sua administração é a inauguração do cemitério local, criticada pela oposição ao seu governo, liderada pela família Medrado, que comanda a polícia local, pelo dentista Lulu Gouveia e pelo jornalista Neco Pedreira, editor-chefe do jornal A Trombeta.

O braço direto de Odorico na prefeitura é seu secretário Dirceu Borboleta, um tipo tímido, gago e desastrado que ama caçar lepidópteros. As maiores correligionárias do prefeito são as irmãs Cajazeiras: Dorotéia, Dulcinéia e Judicéia. Solteironas e falsas carolas, cada uma mantem um caso secreto com Odorico, sem que uma saiba da outra. Até que Dulcinéia engravida e o prefeito arma para que a paternidade do bebê recaia sobre o desligado Dirceu.

Maquiavelicamente, Odorico planeja a morte de alguém na cidade para que seu cemitério seja inaugurado. Porém, acaba sempre malsucedido. Nem as diversas tentativas de suicídio do depressivo farmacêutico Libório, todas frustradas, nem o desejo de Zelão de voar como um pássaro (e a expectativa de que ele se arrebente no chão), nem um tiroteio na praça, um crime e um moribundo da cidade vizinha lhe proporcionam a realização desse sonho.

Até que o prefeito tem a ideia de mandar trazer a Sucupira o famoso matador Zeca Diabo para encomendar o serviço, não importando a vítima. Só que Odorico não contava que o assassino profissional, arrependido de seu passado de crimes, estivesse aposentado, importando-se apenas com a mãe velhinha, a crença no Padre Cícero e com o sonho de tornar-se cirurgião-dentista.

Odorico ainda enfrenta o idealista médico Juarez Leão, obstinado na missão de salvar vidas. Abalado pelo trauma de ter perdido a esposa em suas mãos durante uma cirurgia, o doutor bebe, mas faz um bom trabalho em Sucupira cuidando da saúde do povo – para o desespero do prefeito. Juarez arrebata o coração de Telma, a temperamental filha de Odorico, que vive a criticar os métodos do pai, desconfiada de que ele foi responsável pela morte de sua mãe.

Globo – 22h
de 22 de janeiro a 3 de outubro de 1973 (Rio)
de 24 de janeiro a 9 de outubro de 1973 (SP)
177 capítulos escritos, 178 exibidos

novela de Dias Gomes
direção de Régis Cardoso
supervisão de Daniel Filho

Novela anterior no horário
O Bofe

Novela posterior
Os Ossos do Barão

PAULO GRACINDO – Odorico Paraguaçu
LIMA DUARTE – Zeca Diabo (José Tranquilino da Conceição)
EMILIANO QUEIROZ – Dirceu Borboleta (Dirceu Pena)
JARDEL FILHO – Dr. Juarez Leão
SANDRA BRÉA – Telma Cajazeira Paraguaçu
IDA GOMES – Dorotéia Cajazeira (Dó)
DORINHA DUVAL – Dulcinéia Cajazeira (Du / Dulce)
DIRCE MIGLIACCIO – Judicéia Cajazeira (Juju)
CARLOS EDUARDO DOLABELLA – Neco Pedreira (Manuel Pedreira)
GRACINDO JÚNIOR – Jairo Portela
MARIA CLÁUDIA – Gisa (Adalgisa Portela)
ZILKA SALABERRY – Donana Medrado (Ana Medrado)
FERREIRA LEITE – Joca Medrado (Joaquim Medrado)
DILMA LÓES – Anita Medrado
LUTERO LUIZ – Lulu Gouveia (Luiz Gouveia)
MILTON GONÇALVES – Zelão das Asas
RUTH DE SOUZA – Chiquinha do Parto
ROGÉRIO FRÓES – Vigário (Padre Honório)
JOÃO PAULO ADOUR – Cecéu
ANA ARIEL – Zora Paraguaçu
ÁLVARO AGUIAR – Coronel Hilário Cajazeira
RAFAEL DE CARVALHO – Emiliano Medrado
ANGELITO MELO – Mestre Ambrósio
ARNALDO WEISS – Libório Nascimento
ISOLDA CRESTA – Odete
WILSON AGUIAR – Nezinho do Jegue
APOLO CORRÊA – Maestro Sabiá
ANTÔNIO GANZAROLLI – Tião Moleza
JUAN DANIEL – Don Pepito
SUZY ARRUDA – Dona Florzinha
AUGUSTO OLÍMPIO – Cabo Ananias
JORGE BOTELHO – Nadinho (Arnaldo Fernandes)
GUIOMAR GONÇALVES – Maria da Penha
JOÃO CARLOS BARROSO – Eustórgio
TEREZA CRISTINA – Mariana
DARTAGNAN MELLO – Carlito Medrado
MARTA ANDERSON – Jerusa
ELIEZER MOTTA – Quelé
NAIR PRESTES – Balbina
JORGE CÂNDIDO – Plácido

e
ALCIRO CUNHA – delegado de Salvador que colhe depoimentos de Juarez, suspeito da morte do médico Nésio Frota
ANALY ALVAREZ – Lúcia Leão (mulher de Juarez que morreu durante uma cirurgia em que ele era o médico responsável)
ANDRÉ VALLI – Ernesto (primo das Cajazeiras, é levado moribundo a Sucupira para morrer na cidade, mas se restabelece)
ANTÔNIO VICTOR – Juiz de Sucupira (no final)
CARLA DANIEL – com seu pai Daniel Filho fazendo figuração no Grande Hotel
CARMEM CÉLIA – Dona Hermínia (mãe de Zeca Diabo, Mestre Ambrósio e Jaciara)
CÉSAR AUGUSTO – morador de Sucupira
CLÁUDIO AYRES DA MOTA – jornalista estrangeiro amigo de Neco, vem a Sucupira para reportagens sobre a cidade
CLAUDIONEY PENEDO – um dos capangas do Coronel Hilário Cajazeira
DANIEL FILHO – com sua filha Carla Daniel fazendo figuração no Grande Hotel
ENOCK BATISTA – Vilela (detetive de Salvador contratado pelo pai de Nadinho que vem a Sucupira para encontrá-lo)
FAUSTO FAMA – Vereador Minondas
GENY DO AMARAL – Rosa Paraguaçu (falecida mulher de Odorico)
GERALDO CARBUTTI – capanga de Jairo
IRMA ALVAREZ – secretária do editor no Rio que rejeita o livro de Neco Pedreira
ISABELA GARCIA – uma das crianças filhas do Primo Ernesto
IVAN DE ALMEIDA – pescador interpelado por Chiquinha, que busca notícias de Zelão
JOSÉ MARIA MONTEIRO – promotor público que investiga a suspeita de Anita ter assassinado Nadinho
JÚLIO CÉSAR – menino no Grande Hotel (figuração)
LÍDIA MATTOS – Virgínia Fernandes (mãe de Nadinho)
LIONEL FISCHER – policial do Rio que vem a Sucupira prender Jairo, condenado por estelionato, no final
LUÍS MAGNELLI – entre os investigadores que prendem Neco Pedreira e Jerusa no Rio de Janeiro, após uma batida policial
MARCELO BARAÚNA – advogado de Jairo Portela
MARIA LYGIA – Anália (mulher de Lulu Gouveia)
MARIA TERESA BARROSO – Silvinha (secretária da escola) / Cotinha (mulher do Coronel Hilário, tia das Cajazeiras)
MÁRIO LAGO – narrador no último capítulo
MILENKA RANGAN – Telma (criança)
NANAI – Demerval Barbeiro (vereador que morre em Sucupira, mas a oposição a Odorico leva o corpo para outra cidade)
PAULO RAMOS – Dr. Gerson Novais (médico substituto de Juarez em Sucupira)
RAINER WENDELL OLIVEIRA – amigo de Odorico
RICARDO GARCIA – menino no consultório de Lulu com medo de Zeca Diabo
ROBERTO CESÁRIO DA SILVEIRA – Pé-de-Chumbo (um dos soldados da delegacia)
SAMUEL BERTOLDO – amigo de Odorico
THELMA RESTON – dona da pensão em Salvador onde Odete aluga um quarto
VALÉRIA AMAR – Jaciara (antes citada como Mocinha, irmã de Zeca Diabo e Mestre Ambrósio)
Abdalla (um dos credores de Libório)
Argeu (auxiliar de Neco no jornal A Trombeta)
Cecéu (criança)
Clotilde Cajazeira (mãe de Ernesto)
Conceição (empregada na casa de Donana Medrado)
Eurico Fernandes (pai de Nadinho)
Fabinho Cajazeira (um dos filhos do Coronel Hilário Cajazeira)
Jacó (um dos credores de Libório)
Josemar (bebê de Dulcinéia)
Juiz de Sucupira (no início)
Nésio Frota (médico supostamente assassinado por Juarez)
Padre Inácio (confessor de Dirceu, de outra paróquia, para quem ele fez voto de castidade)
Roberto Medrado (filho de Emiliano Medrado)
Sinhá Júlia (cuida de Dona Hermínia)
Tonico Cajazeira (um dos filhos do Coronel Hilário Cajazeira)
Tonho (garçom do Grande Hotel)
Zizinha Bulcão (moradora de Sucupira, faz reuniões espíritas em sua casa)

– núcleo de ODORICO PARAGUAÇU (Paulo Gracindo), dono de uma fazenda produtora de azeite de dendê, neto de Firmino Paraguaçu e filho do Coronel Eleutério Paraguaçu, família de tradição na região de Sucupira, no litoral baiano. Candidato a prefeito, adora discursos inflamados e verborrágicos abusando de retórica vazia repleta de palavras pomposas e neologismos absurdos. Demagogo, defende o moralismo, mas na verdade é imoral, lascivo e corrupto. Como não há um cemitério na cidade, o que obriga os moradores a enterrar seus mortos em municípios vizinhos, consegue se eleger com o slogan “Vote em um homem sério e ganhe um cemitério”. Porém, como ninguém morre para que sua obra maior seja inaugurada, arquiteta mil planos para arranjar um defunto, sem sucesso, o que o faz mandar vir à cidade um matador profissional:
a mulher falecida ROSA CAJAZEIRA PARAGUÇU (Geny do Amaral), do clã dos Cajazeiras, outra família importante da região. Sempre citada por ele como uma “santa”, sabe que ela, na verdade, o traía
os filhos: TELMA (Sandra Bréa), moça temperamental, tem uma relação conflituosa com o pai, de altos e baixos, pois desconfia que ele seja responsável pelo padecimento de sua mãe no passado, o que a levou à morte,
e CECÉU (João Paulo Adour), rapaz irresponsável, inconsequente e agressivo, só arruma confusão. É um tipo problemático, também em relação conflituosa com o pai
a irmã ZORA (Ana Ariel), solteirona e carola, cuida da casa
o melhor amigo de Cecéu, NADINHO (Jorge Botelho), hippie inconsequente, aluado e boa-vida, foi namorado de Telma
o segurança e motorista QUELÉ (Eliezer Motta), fiel ao patrão, faz qualquer serviço sujo que ele ordena
a empregada BALBINA (Nair Prestes).

– núcleo de ZECA DIABO (Lima Duarte), conhecido cangaceiro, matador profissional que Odorico manda vir a Sucupira para que mate alguém e ele possa inaugurar seu cemitério. Temido, porém ingênuo e de impulsos generosos, está redimido e não quer mais matar ninguém. Temente a Padre Cícero, seu maior sonho é aprender a ler e escrever e tornar-se doutor cirurgião-dentista – ou, ao menos, protético. No final, acaba por matar o prefeito, que o traíra:
a mãe DONA HERMÍNIA (Carmem Célia), velha cega, meio surda e esclerosada. Acha que os filhos ainda são crianças
os irmãos: MESTRE AMBRÓSIO (Angelito Melo), velho pescador, homem correto e simples,
e JACIARA (Valéria Amar), por quem no passado ele começou a matar, para lavar sua honra, e acabou pegando gosto pela coisa. Hoje é prostituta, mas Zeca Diabo nem desconfia, enquanto Ambrósio sabe e a repudia
a sobrinha adolescente MARIANA (Tereza Cristina), filha do Mestre Ambrósio, bonita e ingênua
o filho que desconhecia, EUSTÓRGIO (João Carlos Barroso), orgulha-se de ser filho de matador e sonha seguir a profissão do pai, mesmo ele sendo contra. Envolve-se com a prima Mariana
a mãe de Eustórgio, MARIA DA PENHA (Guiomar Gonçalves), mulher ardilosa que procura Zeca Diabo quando descobre que ele está de volta, para apresentar-lhe o filho que ele desconhecia e para arrancar-lhe algum dinheiro.

– núcleo de DIRCEU BORBOLETA (Emiliano Queiroz), trabalha como telegrafista na agência dos correios e como secretário do prefeito. Fiel a Odorico, a quem trata como padrinho, mas tratado como um capacho por ele, pois é facilmente manipulável. Tímido, gago, desastrado e ingênuo, alterna ataques de euforia com momentos de mansidão ou catatonia. Profundo conhecedor dos lepidópteros, seu maior passatempo é caçar borboletas no mato:
a mãe DONA FLORZINHA (Suzy Arruda), mulher amável que superprotege o filho, mas totalmente abilolada e fora da realidade.

– núcleo das irmãs Cajazeiras, correligionárias de Odorico, primas de Rosa Cajazeira Paraguaçu, falecida mulher dele. Solteironas e falsas carolas, são apaixonadas pelo prefeito, que mantem um caso secreto com cada uma delas, sem que uma desconfie da outra:
DOROTÉIA (Ida Gomes), a mais velha, recalcada e geniosa. Líder na Câmara de Vereadores de Sucupira. Professora, tenta alfabetizar Zeca Diabo, por quem se apaixona,
DULCINÉIA (Dorinha Duval), a do meio, mais romântica e submissa. Seduzida por Odorico, engravida e o prefeito força o seu casamento com Dirceu Borboleta, que assume a criança imaginando que seja seu filho. Acaba assassinada por Dirceu quando ele descobre, por meio de uma escuta no confessionário da igreja, que Odorico é o verdadeiro pai do bebê,
e JUDICÉIA (Dirce Migliaccio), a caçula, a mais tagarela e nervosa. Seu maior sonho é se casar
o primo ERNESTO (André Valli), moribundo desenganado pelos médicos. Odorico manda buscá-lo na esperança de que morra em Sucupira, mas sobrevive. Envolve-se com Judicéia, que ajudou a cuidar dele, mas, descoberto que já tinha mulher e filhos, foge da cidade
o tio CORONEL HILÁRIO CAJAZEIRA (Álvaro Aguiar), mora em outra cidade, mas visita as sobrinhas regularmente. Volta a Sucupira com os filhos na guerra com uma família rival promovida por Odorico – outra tentativa de arrumar um defunto para seu cemitério
a tia COTINHA (Maria Teresa Barroso), mulher do Coronel Hilário
os primos TONICO e FABINHO, filhos de Hilário e Cotinha
o bebê de Dulcinéia, JOSEMAR.

– núcleo de DONANA MEDRADO (Zilka Salaberry), mulher do delegado, assume seu posto extraoficialmente quando ele fica paraplégico. Mulher forte, destemida e valente. Do partido de oposição, é adversária política de Odorico, já que ele pertence à família Cajazeira, inimiga da sua (Odorico foi casado com uma Cajazeira). No passado, em um confronto entre os Medrados e os Cajazeiras, perdeu um filho e o marido ficou paraplégico:
o marido JOCA (Ferreira Leite), delegado de Sucupira, incapacitado de cumprir sua profissão por estar preso a uma cadeira de rodas, sequela da guerra entre os Medrados e os Cajazeiras. Ainda tem voz ativa e auxilia a mulher nas tomadas de decisão da delegacia e no partido opositor ao governo de Odorico
o filho mais velho EMILIANO (Rafael de Carvalho), vem a Sucupira quando é declarada uma nova guerra entre Medrados e Cajazeiras
os netos, órfãos, filhos de seu falecido filho: ANITA (Dilma Lóes), funcionária do posto dos Correios, moça bonita, de temperamento explosivo. Odeia os Cajazeiras e os Paraguaçus, pois perdeu o pai para eles
e CARLITO (Dartagnan Mello), rapaz metido a valente
o neto, filho de Emiliano, ROBERTO
o CABO ANANIAS (Augusto Olímpio), o faz-tudo na delegacia, um tipo medroso
a empregada CONCEIÇÃO.

– núcleo da partido opositor ao governo de Odorico, do qual os Medrados fazem parte:
o jornalista NECO PEDREIRA (Carlos Eduardo Dolabella), dono do jornal A Trombeta, no qual noticia as falcatruas do prefeito, a quem se refere como demagogo e esbanjador de dinheiro público. Ironicamente, fica noivo de Telma, a filha do prefeito, por quem é apaixonado – apesar de, no início, estar envolvido com Anita Medrado. A relação com Telma não vai longe, já que ela não o ama, o que o faz voltar com Anita
o dentista LULU GOUVEIA (Lutero Luiz), candidato a prefeito de Sucupira pela oposição. Zeca Diabo aproxima-se dele, pois acalenta o sonho de tornar-se cirurgião-dentista. Começa a ensinar o ofício de protético a Zeca Diabo
a mulher de Lulu, ANÁLIA (Maria Lygia).

– núcleo do Grande Hotel, o único de Sucupira, onde se hospedam turistas e alguns moradores:
JAIRO PORTELA (Gracindo Júnior), forasteiro carioca que vai morar em Sucupira. Vigarista e mau-caráter, abre uma companhia de pesca com a qual ludibria os pescadores. Em troca do direito de usufruir de saveiros (barcos para pesca), os pescadores são obrigados a lhe entregar todo o pescado por uma quantia irrisória, enquanto ele revende por preços mais altos
GISA (Maria Cláudia), mulher de Jairo. Bela e charmosa, ele a usa em seus golpes. Infeliz com os métodos do marido, que vive a ameaçá-la. Alvo do desejo e da paixão de Odorico. Após uma briga com o marido, o prefeito oferece sua casa para que ela passe uma temporada. Começa a se interessar pelos problema de Cecéu, com quem inicia um romance, para o desespero e ciúme de Odorico
JERUSA (Marta Anderson), cantora que chega a Sucupira para trabalhar na boate do hotel. Um tanto vulgar, tem um caso com Jairo
o recepcionista PLÁCIDO (Jorge Cândido)
o garçom do bar TONHO.

– demais moradores de Sucupira:
JUAREZ LEÃO (Jardel Filho), médico humanista e idealista que chega para trabalhar no único posto médico da cidade. Telma apaixona-se por ele, mas, a princípio, ele foge desse envolvimento. Principal suspeito do assassinato do médico Nésio Frota, em Salvador, que diagnosticara uma doença grave em sua mulher e foi morto no dia em que ela morreu. Não consegue superar a morte da mulher em uma cirurgia comandada por ele, por isso é um homem amargurado e revoltado, o que o leva a beber muito. Em Sucupira, isola-se em uma cabana próxima à praia, fazendo amizade com os pescadores. Torna-se inimigo de Odorico, já que salva vidas, o que é contrário ao desejo do prefeito.
LÚCIA LEÃO (Analy Alvarez), falecida mulher de Juarez que morreu durante uma cirurgia em que ele era o médico responsável. Aparece no retrato que ele carrega consigo e em cenas de flashback
ZELÃO DAS ASAS (Milton Gonçalves), simplório pescador que, após escapar de uma tormenta, tenta cumprir uma promessa feita a Iemanjá (ou Bom Jesus dos Navegantes, no catolicismo): voar do alto da torre da igreja para provar a sua fé. Constrói pares de asas feitas com pano, metal ou madeira e faz várias tentativas de alçar voo, sem sucesso. No último capítulo, consegue finalmente voar
CHIQUINHA DO PARTO (Ruth de Souza), mulher de Zelão, parteira da cidade e auxiliar do Dr. Juarez no posto médico
PADRE HONÓRIO, chamado apenas de VIGÁRIO (Rogério Fróes), pároco de Sucupira, aliado de Odorico, muitas vezes conivente com ele. Quando jovem, namorou Zora, irmã de Odorico
LIBÓRIO (Arnaldo Weiss), farmacêutico depressivo com tendências suicidas. Tenta se matar várias vezes, sem sucesso. O motivo é a aversão que sua mulher sente por ele
ODETE (Isolda Cresta), mulher de Libório. Vulgar, não gosta do marido, nem finge qualquer afeição. Sai de casa várias vezes, mas sempre retorna quando precisa de dinheiro
NEZINHO DO JEGUE (Wilson Aguiar), homem falastrão que vive a passear pela cidade com seu único ente querido: o jegue RODRIGUES. Quando está sóbrio, é defensor fervoroso de Odorico, mas quando bêbado, ataca o prefeito, xingando-o veementemente. Tem uma paixonite por Judicéia Cajazeira
MAESTRO SABIÁ (Apolo Corrêa), regente da Lira Sucupirana, a banda da cidade. Ajuda Nezinho a cortejar Judicéia, escrevendo e enviando-a cartas anônimas apaixonadas. Na verdade, ele mesmo está interessado na Cajazeira
TIÃO MOLEZA (Antônio Ganzarolli), sacristão da igreja e coveiro do cemitério. Sujeito preguiçoso e indolente. Prepara a cova todo dia, mas, como não morre ninguém, usa o local como dormitório
DON PEPITO (Juan Daniel), espanhol naturalizado brasileiro, dono do boteco e mercearia que é ponto de encontro dos moradores. Tem um relação misteriosa com Maria da Penha e suspeita-se que seja o verdadeiro pai de Eustórgio
DEMERVAL (Nanai), barbeiro da cidade, morre no decorrer da trama, mas Odorico não consegue enterrá-lo no cemitério, pois seus inimigos políticos levam o corpo para ser enterrado na cidade vizinha.

Marco da TV brasileira

Primeira novela da TV brasileira gravada em cores e a primeira exportada, O Bem-Amado é considerada um marco de nossa televisão, pelo texto genial de Dias Gomes; pela trama, que veladamente fazia uma crítica política ao país em tempos de Ditadura Militar (trama que acabou revelando-se atemporal); e pelas interpretações marcantes do elenco, em uma galeria de personagens que povoam o imaginário popular até hoje.

O Bem-Amado foi uma das primeiras narrativas de novela a buscar seus entrechos em coisas genuinamente brasileiras. Perfeita em diálogos, em criação de tipos e no seguimento de capítulos. Em nenhum momento sua expectativa se esvaiu na falta de assunto. Até o caso Watergate teve uma versão nacional em Sucupira – o Sucupiragate -, quando se gravaram confissões íntimas no confessionário, levando Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz) a descobrir que o pai de seu filho com Dulcinéia Cajazeira (Dorinha Duval) era o prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo). (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Prêmios

O Bem-Amado foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1973 e deu a Paulo Gracindo o prêmio de melhor ator (juntamente a Gianfrancesco Guarnieri por sua atuação em Mulheres de Areia, da TV Tupi).

Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1973. Paulo Gracindo levou o prêmio de melhor ator e Sandra Bréa de revelação feminina na TV.
Curiosamente, Lima Duarte foi premiado com o Troféu Imprensa de “revelação masculina” na televisão em 1973, apesar de ser um dos pioneiros da TV no Brasil, com atuações anteriores em inúmeras novelas e teleteatros em outras emissoras.

Inspirações

Transposição para a TV da peça “Odorico, O Bem-Amado, e os Mistérios do Amor e da Morte”, que Dias Gomes escreveu em 1962 (algumas fontes trazem 1960).
Em 1963 (algumas fontes trazem 1962), a peça foi publicada pela primeira vez, na revista Cláudia, da Editora Abril.
Em 1963, a peça foi reescrita e publicada em um dos volumes de “Teatro Dias Gomes”, da Editora Civilização Brasileira.
Em junho de 1964, foi exibida como teleteatro no programa TV de Vanguarda, da Tupi de São Paulo, dirigido e produzido por Benjamim Cattan, com Rolando Boldrin como o protagonista Odorico Paraguaçu.
Em 1969, a peça foi encenada nos palcos pela primeira vez, sete anos depois de escrita. Em 1970, em nova montagem, Procópio Ferreira interpretou Odorico nos palcos.
Em 1973, estreou a novela da Globo, com Paulo Gracindo vivendo o prefeito Odorico Paraguaçu. (Site Memória Globo)

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, em seu “Livro do Boni”, informou que a inspiração para Dias Gomes escrever a peça (que levou à novela) partiu de um fato ocorrido no Espírito Santo, onde um candidato a prefeito se elegeu com a promessa de construir um cemitério. Em entrevista concedida, em julho de 2010 ao jornal A Gazeta, de Vitória (ES), a professora Beatriz Bueno revelou que a cidadezinha litorânea de Guarapari (ES) inspirou Sucupira, já que, no ano de 1906, o então prefeito Juca Brandão, teria construído um cemitério que, por falta de defunto, levou dez anos para ser inaugurado, tendo o morto sido “importado” de uma cidade vizinha, uma andarilha do município de Anchieta.
Já o estilo demagogo e verborrágico de proferir discursos de Odorico Paraguaçu teria sido inspirado no vereador Deoclésio Borges, que discursou na inauguração do cemitério de Guarapari. (Gazeta Online, 18/07/2015)

Odorico Paraguaçu

Repetia-se a dobradinha bem sucedida do autor Dias Gomes com o ator Paulo Gracindo do trabalho anterior, a novela Bandeira Dois (1971-1972), com o protagonista anti-herói representado por um tipo popular e bem brasileiro – o bicheiro Tucão e o prefeito Odorico Paraguaçu.

A magnífica criação de Paulo Gracindo, como Odorico Paraguaçu, tornou-se antológica para a televisão brasileira. Assim como as interpretações de Lima Duarte, como Zeca Diabo, e de Emiliano Queiroz, como Dirceu Borboleta.

Memoráveis também eram a linguagem peculiar e as expressões usadas por Odorico: “cachacista juramentado”, “donzela praticante”, “jenipapista militante”, “vamos botar de lado os entretanto e partir pros finalmente”, etc. Adepto de discursos demagogos, inflamados e verborrágicos, o personagem abusava de retórica vazia repleta de palavras pomposas, neologismos absurdos e adaptações de frases famosas de escritores, filósofos e políticos.
Segundo depoimento (ao projeto Memória Globo) do ator Gracindo Júnior – filho de Paulo Gracindo e intérprete do personagem Jairo Portela na novela -, seu pai tinha a liberdade de interferir no texto de Dias Gomes, criando muitos cacos, como algumas pérolas do linguajar do prefeito.

De acordo com Dias Gomes – no livro “Odorico Paraguaçu, o Bem-Amado de Dias Gomes: História de um Personagem Larapista e Maquiavelento”, de José Dias -, ele buscou inspiração para Odorico Paraguaçu na figura do político Carlos Lacerda:
“Odorico era um Lacerda exagerado. Mas depois reescrevi a peça e o Lacerda já estava cassado, na oposição, enfim, por baixo, então, não faria mais nenhum sentido aquela sátira que eu fazia dele. Trabalhei o personagem daí no sentido de mais um protótipo de um político demagogo do interior. Ele cresceu e se distanciou do Lacerda: adquiriu uma paisagem mais ampla. Desenvolvi um trabalho mais em cima do seu linguajar, o que lhe rendeu uma fisionomia muito forte.”

Sobre o linguajar do personagem, Dias Gomes revelou em entrevista ao Jornal do Brasil de 04/10/1973: “Nunca conheci ninguém que fale como Odorico. Sua maneira de falar foi influenciada por observações do cotidiano. Por exemplo: um dia, vi o jogador Dario dizer na televisão ‘Precisamos achar uma solucionática para essa problemática.’ Uma frase que se tornou famosa e que me inspirou para compor o Odorico de O Bem-Amado. De outra vez, fui fazer um depósito bancário e um dos funcionários do banco me atendeu com uma frase começada assim: ‘Por horamente…’ Este horamente deu origem a agoramente, apenasmente e outros neologismos que o Odorico usou na novela. A gente recebe influência de todos os lados. Desde um livro que lê até das pessoas anônimas com quem cruza na rua.”

Zeca Diabo

O personagem foi criado trinta anos antes de entrar para a novela. O nome do matador deu título a uma peça escrita por Dias Gomes em 1943. Encenada no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, a obra abordava o cangaço e tinha como ator protagonista Procópio Ferreira. (Site Memória Globo)

Lima Duarte, então diretor e ator das novelas da TV Tupi, havia sido contratado pela Globo para dirigir a novela anterior no horário, O Bofe, de Bráulio Pedroso. Seu contrato estava quase no fim e ele voltaria para São Paulo, quando foi chamado para interpretar Zeca Diabo. Foi o seu primeiro trabalho como ator na emissora. Como o personagem cresceu em importância, o ator acabou ficando até o final e nunca mais desligou-se da Globo.

Para o papel, Lima criou seu próprio figurino usando um terno adquirido em uma das tinturarias próximas à Estação da Luz, em São Paulo, onde os imigrantes nordestinos abandonavam as roupas que deixavam para lavar, sem dinheiro para apanhá-las.

Elenco

Vários atores do elenco fixo de O Bem-Amado vinham da novela das oito Selva de Pedra: Emiliano Queiroz, Ida Gomes, Dorinha Duval, Carlos Eduardo Dolabella, Maria Cláudia, Rogério Fróes, João Paulo Adour, Ana Ariel, Álvaro Aguiar, Arnaldo Weiss e Antônio Ganzarolli. Praticamente emendaram as duas novelas, já que uma terminou exatamente quando a outra começou.

Recém-saída de Selva de Pedra, Dina Sfat foi chamada para viver Telma Paraguaçu, a filha de Odorico, mas não aceitou o convite. Outra atriz sondada para o papel foi Joana Fomm, que também declinou – conforme revelou em sua biografia “Minha História é Viver” (escrita por Vilmar Ledesma).
O papel ficou com Sandra Bréa, então iniciante, que destacou-se ao viver a personagem.
Outras escalações que não se concretizaram foram Agildo Ribeiro para Jairo Portela (o papel ficou com Gracindo Júnior), Oswaldo Louzada para Libório (Arnaldo Weiss) e Abel Pêra para Joca Medrado (Ferreira Leite).

O Bem-Amado promoveu a estreia em novelas de alguns atores veteranos até então mais conhecidos do rádio ou de programas musicais e de humor: Apolo Corrêa, Wilson Aguiar, Ferreira Leite e Angelito Mello.
Também a primeira novela das atrizes Isolda Cresta e Marta Anderson e dos atores João Carlos Barroso, Jorge Botelho e Eliezer Motta.
Além de Lima Duarte, essa foi também a estreia na Globo dos atores Lutero Luiz e Dartagnan Mello.
Único trabalho na Globo das atrizes Guiomar Gonçalves e Dilma Lóes (filha dos atores Urbano Lóes e Lídia Mattos e mãe da também atriz Vanessa Lóes).

Era notório que Dias Gomes e Nelson Rodrigues (o grande dramaturgo, contemporâneo de Dias) tinham uma rivalidade e não se “bicavam”. Comenta-se que Dias tenha “homenageado” seu desafeto por meio do personagem Nezinho do Jegue, vivido por Wilson Aguiar. Nezinho – nome que remete a “Nelsinho”, apelido de família de Nelson – tinha adoração por seu jegue, chamado Rodrigues.
Verdade ou não, o fato é que Nezinho do Jegue é um dos melhores personagens já criados por Dias Gomes: um tipo simplório e sem instrução, quando sóbrio, era fervoroso defensor de Odorico Paraguaçu, porém, quando bêbado, se transformava em um ferrenho crítico do prefeito. Eram divertidíssimas as cenas em que Odorico discursava enquanto era xingado por Nezinho bêbado.

Certo dia, Dilma Lóes apareceu na gravação, ensaiou e, na hora de gravar, sumiu. Seu contrato com a emissora havia sido encerrado e ela não havia renovado. Por causa disso, o autor foi obrigado a matar a personagem (no capítulo 163) colocando uma dublê para levar um tiro. (“No Princípio Era o Som”, Régis Cardoso)
De acordo com entrevista de Dias Gomes à revista Playboy (edição 125, de dezembro de 1985), Dilma “exigiu, vinte dias antes do término das gravações, uma nota altíssima para renovar seu contrato, e a Globo não topou.”
Em depoimento ao site Teledramaturgia, Dilma alegou que passava por um mau momento, com saúde fragilizada, e que não era de seu interesse renovar o contrato. A Globo tentou forçá-la a gravar cenas da novela além do previsto, para dar um desfecho à sua personagem (como as sequências da morte de Anita na rua, depois no posto de saúde e no velório), mas ela realmente foi embora, tendo gravado apenas as cenas pré-estabelecidas, de acordo com seu contrato.

Cores

Enquanto nos Estados Unidos já havia programação colorida desde os anos 1950, as cores só chegaram definitivamente ao Brasil em 1972. Para levar ao ar a primeira novela em cores da televisão brasileira, a Rede Globo conseguiu uma subvenção, tendo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica (ABINEE) arcado com parte dos custos. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

No entanto, O Bem-Amado enfrentou dificuldades técnicas no uso dos novos equipamentos e no ajuste das tonalidades. As cores do figurino eram, geralmente, berrantes. A atriz Ida Gomes narrou em entrevista que até mesmo a brancura excessiva de suas pernas saturava no vídeo. Emiliano Queiroz não podia usar óculos, porque o reflexo das lentes “rasgava” a imagem. Até o fogo do palito de fósforo para acender um cigarro rasgava a imagem.
“Descobri que podia ficar vermelho feito um peru”, revelou Emiliano Queiroz a Flávio Ricco e José Armando Vannucci para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”.

O livro ainda destaca: “Foi a partir daí que Boni determinou a utilização de tons pastel, proibiu listrados e xadrez nas vestimentas e qualquer objeto que tirasse o foco do telespectador da história que estava no ar. As mesmas orientações passaram a valer para o jornalismo e a linha de shows.”

O advento da televisão colorida ganhou uma referência na própria novela. No capítulo 143, Maestro Sabiá (Apolo Corrêa), Tião Moleza (Antônio Ganzarolli), Nezinho (Wilson Aguiar) e Pepito (Juan Daniel) assistem a um aparelho de TV em cores na casa de Libório (Arnaldo Weiss) e comentam a novidade.

Exportação

O Bem-Amado representou a primeira abertura de produção nacional para o exterior (o que se fazia antes era comercializar o texto). Primeiramente, a novela foi exibida no México (em 1976, pela emissora Televisa) e aos poucos foi sendo negociada com todos os países da América Latina. O “baianês” de Odorico Paraguaçu também foi adaptado para diversos países hispano-americanos, além dos Estados Unidos, por meio da Spanish International Network. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Em 1996, a emissora chilena TVN (Televisión Nacional de Chile) levou ao ar a sua própria versão da peça de Dias Gomes, intitulada Sucupira, com Héctor Noguera como Federico Valdivieso, o novo nome de Odorico Paraguaçu. Em 2017, a Televisa do México produziu uma nova versão da história, exibida em seu Canal de Las Estrellas: El Bienamado, com Jesús Ochoa como Odorico Cienfuegos (Odorico Paraguaçu).

Locações

As cenas externas foram gravadas em Sepetiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Na cidade, tornaram-se famosos, na época, o beco onde ficava a casa das irmãs Cajazeiras, a casa de esquina onde funcionava o Posto de Higiene (posto médico), a igreja matriz e a praça com coreto, que na novela era a Praça Rosa Paraguaçu.
O elenco chegava às 7 horas na sede da emissora (no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio) e, de lá, ia de ônibus para Sepetiba. A equipe de produção da novela alugou uma casa na região para servir de camarim aos atores. As gravações em estúdio aconteceram no prédio da TV Globo, no Jardim Botânico. (Site Memória Globo)

De acordo com o diretor Régis Cardoso, em seu livro “No Princípio Era o Som”, publicado em 1999, pelo menos 26 anos se passaram e o terreno escolhido e construído para ser o cemitério da novela (em Sepetiba) não havia ainda sido vendido, porque as pessoas acreditavam que ali realmente havia um cemitério.

Apesar de a novela ser ambientada na fictícia cidadezinha litorânea de Sucupira, na Bahia, a abertura mostrava um quebra-cabeças que revelava paisagens de Salvador, com destaque para o Elevador Lacerda e o Monumento Mário Cravo. Na trama da novela, Sucupira ficava próxima à capital baiana, que era constantemente citada na história. Nos primeiros capítulos, Odorico viaja para Salvador, onde moravam os filhos Telma e Cecéu (Sandra Bréa e João Paulo Adour) e o médico Juarez Leão (Jardel Filho).

Censura e trilha sonora

A Censura Federal, à época, implicou com as palavras “coronel”, que vinha sendo usada para se referir ao prefeito Odorico Paraguaçu, e “capitão”, como era chamado Zeca Diabo. Os militares do Regime se sentiram atingidos, já que os apelidos eram usados para personagens “negativos”.
Em julho de 1973, a produção teve de apagar o áudio de dezenas de citações ao coronel em quinze capítulos já gravados. Também Zeca Diabo não poderia mais ser chamado de capitão. Palavras como “ódio” e “vingança” também foram vetadas. Pouco depois, essas orientações foram esquecidas pelos censores. Ou desprezadas pela emissora. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

A música inicialmente pensada para a abertura também foi vetada pela Censura, às vésperas da estreia da novela. Era “Paiol de Pólvora”, de Toquinho e Vinícius de Moraes, que tinha em seus versos: “Estamos trancados no paiol de pólvora / Paralisados no paiol de pólvora / Olhos vendados no paiol de pólvora / Dentes cerrados no paiol de pólvora…”
Toquinho relatou ao livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, de Guilherme Bryan e Vincent Villari:
“Nós fomos convidados pelo Jaime Lerner, em Curitiba, para inaugurar o Teatro Paiol. Então fizemos uma música sobre o teatro. Era uma letra muito forte, até porque o paiol da pólvora era o Brasil daquela época. Nós gravamos para ser o tema da novela e na última hora a Censura proibiu.”
Toquinho fez então outra música, em substituição: “O Bem-Amado”, gravada pelo grupo MPB4 (creditado no disco como Coral Som Livre): “Quando o sol da manhã vem nos dizer / Que o dia que vem pode trazer / O remédio da nossa ferida / Do meu coração…”

A trilha sonora de O Bem-Amado foi encomendada a Toquinho e Vinicius de Moraes, que compuseram 11 canções especialmente para a novela. A dupla já havia feito a trilha sonora da novela Nossa Filha Gabriela, da TV Tupi, em 1971, e compôs ainda a maioria das músicas da trilha de Fogo Sobre Terra, da Globo, em 1974.

Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de O Bem-Amado, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

Por ocasião da reprise da novela, em 1977, a Som Livre relançou nas lojas o LP com a trilha nacional, com uma pequena alteração na capa: a atualização do logotipo da Rede Globo. O disco, que em 1973 foi prensado pela EMI Odeon, desta vez foi prensado na fábrica da RCA Eletrônica.

Exibição

A novela totalizou 177 capítulos escritos, mas 178 exibidos porque o capítulo 175 foi desmembrado em dois: 175 e 175-A.

No Rio de Janeiro, a novela terminou na quarta-feira do dia 03/10/1973. Este último capítulo foi reprisado na quinta e sexta-feira, para que a atração seguinte, Os Ossos do Barão, estreasse na segunda-feira do dia 08/10/1973.

A novela foi reapresentada no mesmo horário de sua exibição original (22h), entre 03/01 e 24/06/1977, como tapa-buraco, para cobrir a censura da novela Despedida de Casado enquanto se produzia a substituta, Nina.

A TV Globo editou O Bem-Amado para uma exibição única, de uma hora e meia de duração, na noite do dia 06/03/1980, como parte do Festival 15 Anos da emissora (apresentação de Zilka Salaberry).

Repetecos

Após a exibição da novela, O Bem-Amado foi lançada em versões romanceadas, em quatro ocasiões.
– Em 1975, a versão definitiva da peça de teatro que inspirou a novela foi publicada com o título “O Bem Amado, Farsa Sócio Política-Patológica”, com alterações na relação de personagens e na estrutura do enredo que caracterizaram a versão televisiva. Foi quando o nome do matador contratado por Odorico foi trocado de Ordovino (como era no teatro) para Zeca Diabo, assim como a adoção do apelido Irmãs Cajazeiras para Dorotéia, Dulcinéia e Judicéia (Site Memória Globo);
– Em 1976, pela editora Bels: um conto com o enredo da novela, supervisionado por Roberto Mara, seguido do texto da peça original – na coleção “Grandes Novelas da TV”, seis adaptações de novelas ou reedições de romances que viraram novelas;
– Em 1985, pela Rio Gráfica Editora, na coleção “As Grandes Telenovelas”, doze livretos adaptados de novelas de sucesso distribuídos nos supermercados com o sabão-em-pó Omo;
– E em 2008, pela Editora Globo, na série de livros “Grandes Novelas”, adaptações de cinco novelas, escritas por Mauro Alencar com colaboração de Eliana Pace.

Em 1980, o prefeito Odorico Paraguaçu ressuscitou (ele morria no último capítulo da novela, inaugurando o cemitério de Sucupira) para o seriado que ficou cinco anos no ar. Dias Gomes voltou à sua criação maior em episódios, a princípio, semanais (depois mensais), exibidos entre 1980 e 1984. Nesta nova produção, parte do elenco original foi aproveitada, outra parte foi substituída por novos atores, e novos personagens foram criados.

Em 1987, seis personagens de O Bem-Amado – Odorico, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta, Dorotéia, Judicéia e Zuzinha (esta última da série) – voltaram (com seus intérpretes originais) pelas mãos do autor na novelinha Expresso Brasil, em que Dias Gomes reuniu vários personagens famosos de novelas, a maioria criações suas.

Em 1994, o personagem Dirceu Borboleta, de Emiliano Queiroz, se tornou integrante fixo da Escolinha do Professor Raimundo, humorístico apresentado por Chico Anysio.

Em 2010, chegou aos cinemas uma nova versão da história, no filme de Guel Arraes, com Marco Nanini como Odorico Paraguaçu, José Wilker como Zeca Diabo, Matheus Nachtergaele como Dirceu Borboleta, e Zezé Polessa, Drica Moraes e Andrea Beltrão como as Irmãs Cajazeiras, entre outros. Em janeiro de 2011, o filme foi apresentado na Globo, como microssérie.

Em 2012, chegou às lojas o DVD da novela, em um box com 10 discos.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 15/02/2021.

E mais

Texto narrado na exibição das cenas do próximo capítulo da novela (prática comum na época):
“Só fala quem sabe. Não vale promessa. Pague pra ver. A vida é um jogo, um quebra-cabeça… O Bem-Amado!”

A novela terminou com o voo de Zelão (Milton Gonçalves) sobre Sucupira, sonho que o personagem acalentou durante toda a trama. A sequência, exibida em preto e branco, foi narrada em off pelo ator Mário Lago (participação especial) com as seguintes frases:
“Aqui a nossa história para. Pois tudo o que sabemos daí em diante é de ouvir contar. Não que a gente não acredite, pois se você for a Sucupira vai ver que lá ninguém duvida… E Zelão voou! Se você duvida, é um homem sem fé.”

Trilha sonora nacional

01. PAIOL DE PÓLVORA – Toquinho e Vinícius de Moraes
02. PATOTA DE IPANEMA – Maria Creusa (tema de Gisa)
03. VEJA VOCÊ – Toquinho e Maria Creusa
04. COTIDIANO Nº 2 – Toquinho e Vinícius de Moraes
05. O BEM-AMADO – Coral Som Livre (MPB4) (tema de abertura)
06. MEU PAI OXALÁ – Toquinho e Vinícius de Moraes (tema de Zelão das Asas)
07. SE O AMOR QUISER VOLTAR – Maria Creusa
08. UM POUCO MAIS DE CONSIDERAÇÃO – Toquinho (tema de Dirceu Borboleta)
09. QUEM ÉS? – Nora Ney
10. SE O AMOR QUISER VOLTAR – Orquestra Som Livre (tema de Telma)
11. NO COLO DA SERRA – Toquinho e Vinícius de Moraes (tema de Telma e Juarez Leão)

Sonoplastia: Paulo Ribeiro
Músicas: Toquinho e Vinícius de Moraes
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: João Mello
Arranjos: Chiquinho de Moraes e Rogério Duprat

Trilha sonora internacional

01. ALSO SPREACH ZARATHUSTRA – Eumir Deodato
02. FLEUR DE LUNE – Françoise Hardy
03. LISTEN – Paul Bryan (tema de Cecéu)
04. MASTERPIECE – The Temptations
05. I’VE BEEN AROUND – Nathan Jones Group (tema de Neco Pedreira)
06. POOR DEVIL – Free Sound Orchestra
07. DANCING IN THE MOONLIGHT – David Jones
08. SHINE SHINE – David Hill (tema de Telma e Juarez Leão)
09. HARMONY – Ben Thomas
10. TAKE TIME TO LOVE – The John Wagner Coalition
11. DANCING TO YOUR MUSIC – Archie Bell
12. I COULD NEVER IMAGINE – Chrystian
13. GIVE ME YOUR LOVE – The Sister Love
14. DADDY’S HOME – Jermaine Jackson

Ainda
MALARIA FEVER – El Chicles (tema de Jairo Portela)
LIBRIUM – El Chicles (tema de Nadinho e tema de Cecéu)
CREEK – Airto Moreira (tema de Nezinho do Jegue)
FREE – Airto Moreira (tema de Zeca Diabo)
SEPTEMBER 13TH – Eumir Deodato (tema de suspense)
PRELUDE TO AFTERNOON OF A FAUN (tema de Juarez Leão)

Tema de abertura: O BEM-AMADO – Coral Som Livre (MPB4)

Quando o sol da manhã vem nos dizer
Que o dia que vem pode trazer
O remédio da nossa ferida
Do meu coração
Logo o vento da noite vem lembrar
Que a morte está sempre a esperar
Em um canto qualquer desta vida
Quer queira, quer não

A noite, o dia
A vida na morte, o céu e o chão
Pra ele vingança
Dizia muito mais que o perdão
O riso no pranto
A sorte, o azar, o sim e o não
Pra ele o poder
Valia muito mais que a razão
O espanto na calma
A coragem, o medo, o vai-e-vem
O corpo sem alma
A ida pra morte o mal contem…

Veja também

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Bandeira Dois

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Saramandaia (1976)

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O Bem-Amado (a série)