Sinopse

Município de Tangará, norte de São Paulo, 1900. O senhor de terras Deodato Leme consegue, graças à sua influência política, que um ramal ferroviário seja instalado nos limites de sua propriedade, a Fazenda Água Santa. Sua intenção é facilitar o escoamento do café ali cultivado, base de sua prosperidade.

Paralelamente, Deodato constrói nos domínios de Água Santa um portentoso casarão que testemunhará a saga de sua família ao longo de cinco gerações até à atualidade – 1976 -, momento em que a neta, Carolina, e sua família são os moradores. Para contar essa saga familiar, três épocas são enfocadas.

1900 a 1910. A filha de Deodato, Maria do Carmo, apaixona-se pelo imigrante português Jacinto, mas é obrigada pelo pai a casar com Eugênio Galvão, o engenheiro responsável pela construção do ramal ferroviário. O ápice é a morte de Deodato, em uma emboscada armada pelo próprio genro, que, assim, assume o controle político da região.

1926 a 1936. Tangará, em pleno progresso, já não depende como antes da Fazenda Água Santa. Um problema semelhante ao de Maria do Carmo é enfrentado por sua filha, Carolina: ela ama o artista João Maciel, mas, por imposição do pai, acaba casando com Atílio, filho de Jacinto. É o início da decadência da família, abalada com a crise econômica mundial de 1929.

1976. As terras da Água Santa são apenas a terça parte da fazenda original. Diversos fatores contribuem para a derrocada: a industrialização, o êxodo rural e a própria decadência psicológica de seus proprietários. Diante deste quadro, os filhos de Atílio e Carolina são levados a transformar a fazenda em um grande loteamento.

É essa realidade que João Maciel encontra quando retorna a Água Santa para reaver uma escultura que ali enterrara muitos anos antes e para reencontrar Carolina. Seu relacionamento com a antiga paixão torna-se tenso, pois ambos revivem o amor do passado. Com a morte de Atílio, Carolina decide reaproximar-se de João Maciel.

Ao final, o casarão é vítima de uma amarga coincidência histórica: a nova ferrovia passará exatamente pelo lugar onde ele está. Nascido do progresso que a antiga estrada trouxera, o casarão desaparecerá por circunstâncias semelhantes.

Globo – 20h
de 7 de junho a 11 de dezembro de 1976
168 capítulos

novela de Lauro César Muniz
direção de Daniel Filho e Jardel Mello
direção geral de Daniel Filho

Novela anterior no horário
Pecado Capital

Novela posterior
Duas Vidas

1º período: 1900 a 1910
OSWALDO LOUREIRO – Deodato Leme
MIRIAN PIRES – Olinda Leme
ANALU PRESTES – Maria do Carmo
EDSON FRANÇA – Eugênio Galvão
TONY CORREIA – Jacinto de Souza
ANA MARIA GROVA – Francisca
CARLOS DUVAL – Eliseu
LUTERO LUIZ – Afonso Estradas
PAULO GONÇALVES – Cardosão (José Cardoso)
HÉLIO ARY – Vigário Felício
JUAN DANIEL – Ramón
MARIA TERESA BARROSO – Eulália

2º período: 1926 a 1936
GRACINDO JÚNIOR – João Maciel
SANDRA BARSOTTI – Carolina Galvão
DENIS CARVALHO – Atílio de Souza
LAURA SOVERAL – Francisca
IVAN CÂNDIDO – Valentim
RUY REZENDE – Abelardo
FLÁVIO MIGLIACCIO – Coringa
NESTOR DE MONTEMAR – Gervásio
FÁBIO SABAG – Dom Gaspar
THELMA RESTON – Margarida
AUGUSTO XAVIER – Felipe

3º período: 1976
PAULO GRACINDO – João Maciel
YARA CÔRTES – Carolina Galvão de Souza
MÁRIO LAGO – Atílio de Souza
ARACY BALABANIAN – Violeta
PAULO JOSÉ – Jarbas Martins
RENATA SORRAH – Lina (Carolina Bastos)
ARMANDO BÓGUS – Estêvão Bastos
MARCOS PAULO – Eduardo
BETE MENDES – Vânia
DAYSE LÚCIDI – Alice Lins
FERNANDO VILLAR – Francisco Lins
MARCELO PICCHI – Aldo
MARIA CRISTINA NUNES – Geni
IDA GOMES – Berta
MOACYR DERIQUÉM – Sérgio
NILSON CONDÉ – Padre Milton
ARTHUR COSTA FILHO – Arturo
WALDIR MAIA – Jaime Cabral / Zenóbio
FERNANDO JOSÉ – José Rezende
ROSE CAMPOS – Ivete Mendes

e
ARLETE SALLES – Maria Helena (quarta mulher de João Maciel)
AURIMAR ROCHA – Dr. Saraiva (médico)
ELIZÂNGELA – Mônica (quinta mulher de João Maciel)
ELZA GOMES – Irmã Lurdes (enfermeira)
ÊNIO SANTOS – Saul
FRANCISCO MILANI – amigo de João Maciel
HELOÍSA HELENA – Mirtes (segunda mulher de João Maciel)
JACYRA SILVA
LÉA GARCIA – vendedora ambulante
LUIZ MAGNELLI – amigo de João Maciel
MARCELO BECKER – jornalista
NEILA TAVARES – Célia
NEUZA AMARAL – Marisa (terceira mulher de João Maciel)
PIETRO MÁRIO – amigo de João Maciel
REGINA CHAVES – empregada de Lina
RUTH DE SOUZA – marchand da galeria de arte
SANDRA PÊRA – Angélica
TAMARA TAXMAN – Lídia (jornalista)
THELMA ELITA – Conceição
ZILKA SALABERRY – Mercedes (primeira mulher de João Maciel)

1º e 2º períodos (1900 a 1936)

– núcleo de DEODATO LEME (Oswaldo Loureiro), fazendeiro, produtor de café, líder político da região de Tangará, interior de São Paulo. Autoritário, duro no trato com os inimigos políticos, o que provocou sua morte trágica em uma emboscada. Obrigou a filha a casar-se com o homem de sua confiança:
a mulher OLINDA (Mírian Pires), religiosa, submissa ao marido
a filha MARIA DO CARMO (Analu Prestes), abdicou de seu amor para casar-se com o homem escolhido pelo pai. Termina seus dias tuberculosa, em um sanatório
o genro EUGÊNIO GALVÃO (Edson França), engenheiro que trabalhou para ele, tornando-se seu aliado e assumindo a liderança política da região após sua morte. Autoritário, repete o comportamento do sogro ao obrigar a filha a casar-se com o homem que escolheu para ela
a neta CAROLINA (Sandra Barsotti), filha de Maria do Carmo e Eugênio, moça alegre e cheia de vida, refaz o drama da mãe ao viver um amor impossível: apaixonada por um homem, sua família a faz casar-se com outro
o VIGÁRIO FELÍCIO (Hélio Ary), líder religioso da região, tem fortes ligações com a família
o inimigo político CARDOSÃO (Paulo Gonçalves), truculento, enfático e inteligente, é o líder da oposição e luta contra o paternalismo de Deodato, defendendo uma política mais democrática. Acaba preso acusado do assassinato de Deodato. Morre na prisão afirmando-se inocente.

– núcleo de JACINTO (Tony Correia), imigrante português que trabalhou para Deodato Leme, foi o amor da vida de Maria do Carmo, afastado por forças do patrão, que nunca aceitou o romance porque ele era pobre:
a mulher FRANCISCA (Ana Maria Grova / Laura Soveral), filha de imigrantes portugueses, com quem se casou após o romance com Maria do Carmo ter fracassado
o sogro ELISEU (Carlos Duval), pai de Francisca, homem simples dedicado ao trabalho na lavoura do café
o filho ATÍLIO (Denis Carvalho), apoiado por Eugênio Galvão, torna-se o novo líder político da região. Interessa-se por Carolina e Eugênio une os dois
os correligionários de Atílio: GERVÁSIO (Nestor de Montemar), seu maior cabo eleitoral, faz de sua farmácia o ponto de reuniões políticas, e RAMON (Juan Daniel), maestro da banda local.

– núcleo de JOÃO MACIEL (Gracindo Jr.), artista plástico espirituoso, cínico e com uma visão anarquista do mundo. Recebe a tarefa de esculpir uma santa para a capela da fazenda de Deodato Leme. O modelo é Carolina e a aproximação dos dois provoca uma forte paixão entre ambos. Porém, ele parte para São Paulo, deixando de dar notícias. É quando Carolina se vê obrigada pelo pai a casar-se com Atílio. Desgostoso e decepcionado com o amor, dedica-se com afinco à sua arte, tornando-se um escultor de sucesso:
o pai de criação AFONSO ESTRADAS (Lutero Luiz), capataz da fazenda de Deodato Leme
os amigos VALENTIM (Ivan Cândido), dono do serviço de alto-falantes, ABELARDO (Ruy Rezende), companheiro de boemia, escritor medíocre que acaba se tornando redator de rádio, e CORINGA (Flávio Migliaccio), jornalista.

3º período (1976)

– núcleo de JOÃO MACIEL (Paulo Gracindo), famoso artista plástico. Boêmio inveterado, sempre rodeado de intelectuais. Três vezes enfartado, sente-se ainda em pleno vigor dos seus 72 anos. Casado cinco vezes (cada mulher dez anos mais nova do que a anterior), conserva uma certa fantasia em relação ao seu amor da juventude, Carolina. O tempo, a doença e a ilusão de amor o fazem voltar a Tangará, em busca das raízes perdidas na memória:
o amigo JARBAS MARTINS (Paulo José), diretor de cinema frustrado, sobrevive às custas da publicidade. Acompanha João Maciel a Tangará e descobre um tema de trabalho: o casarão pelo viés da análise sociológica da história de uma família que estratifica a evolução de uma fase da História do Brasil. Aproxima-se de cada membro da família com uma visão crítica de suas histórias.

– núcleo de CAROLINA (Yara Côrtes), apesar da idade avançada, mantém ainda uma grande vitalidade, ao contrário do marido Atílio, hoje esclerosado. No ano das bodas de ouro de seu casamento, tem consciência plena de que vive o final do casarão, construído por seu avô, Deodato Leme, onde nasceu e com o qual tem uma grande ligação. Vive a ilusão do que poderia ter sido sua vida com o seu amor do passado, João Maciel. Recorta os jornais que informam sobre as andanças do artista, acompanhando-o de longe. O retorno dele a Tangará transforma sua vida:
o marido ATÍLIO (Mário Lago), alheio a tudo o que o rodeia, passa os dias às voltas com as lembranças do passado, traduzidas em objetos velhos guardados em um casebre próximo ao casarão. Surdo, usa o aparelho contra surdez para ouvir apenas o que interessa. É a imagem do casarão, condenado à destruição completa pela chegada dos novos tempos
os filhos: VIOLETA (Aracy Balabanian), solteirona solitária, introvertida, sente uma enorme dificuldade de se comunicar com as pessoas. É a única dos filhos a permanecer no casarão com os pais, dedicando seu tempo à leitura e introspecção,
ALICE (Dayse Lúcidi), leva uma vida fútil e passiva, condicionada às decisões do marido,
e EDUARDO (Marcos Paulo), o caçula, solteiro, procura evitar a responsabilidade de um casamento envolvendo-se em vários namoros
o genro FRANCISCO LINS (Fernando Villar), marido de Alice, dedicado aos negócios e às aventuras amorosas
a neta CAROLINA, a LINA (Renata Sorrah), filha de Alice e Francisco. Casada, a rotina matrimonial indica a fragilidade da união. Após três anos de um casamento sem filhos, o relacionamento se mostrou difícil e falso. Enfrenta as pressões da família e busca romper com a relação, principalmente após apaixonar-se por Jarbas
o marido de Lina, ESTEVÃO BASTOS (Armando Bógus), homem prático, mais interessado nos negócios que envolvem a propriedade (e o casarão) da família da mulher, do que no próprio casamento.

– núcleo de VÂNIA (Bete Mendes), apegada à família, sofre uma forte contradição ao viver um romance com Eduardo. Não quer ferir as determinações da mãe, ao mesmo tempo em que procura manter a relação com o rapaz. Por fim, toma uma posição de independência, unindo-se a ele:
a mãe BERTA (Ida Gomes), por conta de razões sociais, tenta impedir a aproximação da filha com Eduardo.

– demais personagens:
ALDO (Marcelo Picchi), conhecido de Violeta, empregado dos Correios, em alguns momentos representa o contato dela com o mundo e uma ligação com possíveis amigos
GENI (Maria Cristina Nunes), moça do interior, de família simples, tem sonhos românticos. Por meio de Violeta, entra em contato com Aldo, que se apaixona por ela
SÉRGIO (Moacyr Deriquém), amigo de Estevão
PADRE MILTON (Nilson Condé), pároco de Tangará.

– as ex-mulheres de João Maciel (participações especiais):
MERCEDES (Zilka Sallaberry),
MIRTES (Heloísa Helena),
MARISA (Neuza Amaral),
MARIA HELENA (Arlete Salles)
e MÔNICA (Elizângela).

Ciclo sobre São Paulo

Com O Casarão, o autor Lauro César Muniz fechava o ciclo sobre a história de São Paulo, iniciado em 1971, com Os Deuses Estão Mortos (na TV Record) e que teve continuidade em 1975, com Escalada (já na Globo).

O ponto de partida foi o teleteatro “A Estátua”, que Lauro César Muniz escreveu para a TV Excelsior em 1961 – que, por sua vez, gerou a peça “A Morte do Imortal”, encenada em 1966.

O Casarão rendeu a Lauro César Muniz o Grande Prêmio da Crítica da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) em 1976.
Mário Lago, Yara Côrtes e Renata Sorrah foram eleitos os melhores atores do ano (juntamente com Lima Duarte e Betty Faria, por Pecado Capital, e Laura Cardoso, por Os Apóstolos de Judas).
Paulo Gracindo foi premiado com o Troféu Imprensa de melhor ator de 1976 (juntamente com Lima Duarte, por Pecado Capital).

Sequência final

A cena final (exibida em 11/12/1976) foi uma das mais belas da história da nossa Teledramaturgia.

Após a morte de Atílio (Mário Lago), Carolina (Yara Côrtes), depois de quarenta anos de espera, chega ao encontro marcado com João Maciel (Paulo Gracindo) na Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, e pergunta se está atrasada.

Ele então responde: “Só quarenta anos!”, referindo-se ao passado, quando combinaram fugir juntos e ela não apareceu. Sobe a música “Fascinação”, cantada por Elis Regina, tema do casal.

Trama embaralhada

O Casarão trazia uma novidade: as épocas se intercalavam sem linearidade, as três fases da trama se mesclavam nos capítulos sem os códigos claros de flashback. Isto é, a narrativa não tinha uma sequência linear dos fatos e, com isso, à interrogação “o que acontecerá” foi adicionada “como aconteceu”. Algo já testado na novela O Rebu (1974-1975), de Bráulio Pedroso, em que a trama ia e voltava no tempo.

Ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes), o autor Lauro César Muniz explicou:
“Eu peguei três momentos da história do Brasil e os misturei. Eu contrapunha os três períodos históricos sem qualquer aviso prévio. O telespectador nunca sabia quando a novela passaria de uma época para outra. (…) O personagem abria a porta do casarão em 1926 e saía do outro lado em 1976. O casarão centralizava toda a história, daí o título.”

Outro recurso bem explorado foi a colocação de dois atores para viverem os mesmos personagens em épocas diferentes. Assim, os protagonistas João Maciel, Carolina e Atílio eram vividos, nas cenas de 1926, por Gracindo Júnior, Sandra Barsotti e Denis Carvalho, e, nas cenas de 1976, por Paulo Gracindo, Yara Côrtes e Mário Lago.

Novela incompreendida

Daniel Filho narrou em seu livro “Antes que me Esqueçam” a dificuldade do público com a narrativa da novela:
O Casarão me agradou muito como trabalho de roteiro e de narrativa, de comportamento de época, mas parece que confundiu demais o público. Depois que a novela acabou, volta e meia alguém dizia: ‘O que eu queria mesmo saber é se o Mário Lago é tio ou pai do Denis Carvalho’. Foi uma novela de prestígio, mas não uma novela popular. Era realmente complicada.”

O primeiro capítulo foi reprisado às 23 horas do mesmo dia em que a novela estreou (07/06/1976). A TV Globo recebeu telefonemas de grande número de telespectadores que não haviam entendido o enredo, pois a estrutura e linguagem eram novas na televisão.

A crítica de televisão Maria Helena Dutra narrou no Jornal do Brasil de 19/06/1976: “Um veterano ator da Rede Globo perguntou à dona do bar em frente à estação se ela estava gostando de O Casarão.
‘Não, porque não estou entendendo nada’, foi a pronta resposta.
‘Mas tem que prestar atenção para entender’, aconselhou o ator.
E foi surpreendido com outra resposta que encerrou o diálogo: ‘Se é para prestar atenção, eu leio um livro!’”

Alguns meses depois, no entanto, o público parecia ter se acostumado. Em 08/09/1976, em entrevista à revista Amiga, o autor Lauro César Muniz declarou: “Devo admitir que as duas primeiras semanas foram de grandes expectativas e dúvidas. Ao fim da terceira semana, já se delineava que o público estava se entrosando bem com a narrativa em três épocas. Na quarta semana, as dúvidas se dissiparam inteiramente quando a Divisão de Análise e Pesquisa da TV Globo saiu à campo para uma pesquisa”

Censura

A Censura Federal não permitiu que o autor manipulasse o triângulo Jarbas-Estevão-Lina, que daria a mensagem final da posição da mulher na sociedade em suas mutações. Lina (Renata Sorrah), ao contrário das mulheres ancestrais de sua família, rompia um casamento fracassado com Estevão (Armando Bógus) para se juntar ao homem amado, Jarbas (Paulo José) – contrastando dessa maneira com sua avó Carolina (Yara Côrtes), que se casou com Atílio (Mário Lago) mesmo amando João Maciel (Paulo Gracindo), e com sua bisavó Maria do Carmo (Analu Prestes), que se casou com Eugênio (Edson França) mesmo amando Jacinto (Tony Correia).
Contudo, a censura do Regime Militar não permitia o adultério feminino e recomendou que Lina pedisse o divórcio, pois “não poderia se apaixonar ainda estando casada”.

Lauro César Muniz citou à revista Amiga (de 17/11/1976) algumas das muitas restrições à novela feitas pela Censura Federal:
“Não foi permitido mostrar que Lina usava anticoncepcionais; (…) foram enfraquecidos os personagens de Marcelo Picchi (Aldo, candidato a vereador de Tangará), Nilson Condé (o padre Milton) e Bete Mendes (a jornalista Vânia): os comícios do candidato Aldo não puderam ser levados ao ar e foi reduzida a participação do padre e da jornalista na campanha política.”

“Na primeira fase da novela (1900), muitos detalhes da revolta de Cardosão (Paulo Gonçalves) contra o Partido Republicano Paulista (PRP) não puderam ser mostrados (…). Muitas cenas que mostravam as atividades do PRP também tiveram que ser suprimidas. Ainda na fase de 1900, teve que ser tirada da fala dos personagens a palavra “ceroula”.
Na fase de 1926, não puderam ser empregados os termos “prenhe” e “parir”. Também nessa fase foram suprimidas muitas passagens sobre as arbitrariedades cometidas pelos fazendeiros, em especial Eugênio Galvão (Edson França), que, como os outros, usava o poderio econômico para manipular a política da região.”

O Casarão x Saramandaia

Daniel Filho teve de disputar Paulo Gracindo, que viveu o protagonista da novela. Dias Gomes e o diretor Walter Avancini o queriam para Saramandaia, nova trama das dez da noite. Ficou a cargo de Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, superintendente da Globo na época) decidir em qual novela Gracindo entraria. Ele decidiu por O Casarão e Dias Gomes ficou chateado com Daniel, tendo-o acusado de usar sua influência. (“Antes que me Esqueçam”, Daniel Filho)

Foi melhor assim. Paulo Gracindo vinha de uma sequência de novelas do horário das dez (O Cafona, Bandeira Dois, O Bem-Amado, Os Ossos do Barão e Gabriela, entre 1971 e 1975). Em O Casarão, o ator acabou vivendo um tipo diferente, mais humano. Assim, também evitou-se a repetição de elenco, já que Saramandaia tinha muitas características de Gabriela, sucesso do ano anterior na qual Gracindo havia atuado.

“Mas a briga de Saramandaia e O Casarão continuou”, disse Daniel em “Antes que me Esqueçam”.

O Casarão foi gravada próxima da cidade cenográfica onde era gravada a novela Saramandaia. A produção de Saramandaia ficou uns quinze dias tentando gravar a cena da explosão de Dona Redonda (Wilza Carla), que estourava de tanto comer, literalmente. Só que os efeitos especiais não davam certo e, a cada tentativa, a equipe de O Casarão era obrigada a parar seus trabalhos.

Elenco

Em seu livro “O Circo Eletrônico”, Daniel Filho revelou que pensou na dupla Fernanda Montenegro e Suely Franco para viver Carolina velha e jovem:
“Fernanda não aceitou por um motivo inteligente e claro. Como o Paulo [Gracindo] e o Mário [Lago] tinham a idade do papel, Fernanda teria que envelhecer. Ela se sentia em desvantagem na composição – além do trabalho como atriz, teria que compor alguém mais velho. Fernanda estava certa.”

Entretanto, entre 1968 e 1969, Fernanda Montenegro aparecia envelhecida para viver sua personagem Mãe Cândida na novela A Muralha, na TV Excelsior.

Primeira novela da atriz Analu Prestes e do ator português Tony Correia.

Cenografia e incêndio

Como o fio condutor da história era o casarão, que sofria a ação do tempo nas três épocas retratadas (1900, 1926 e 1976), o cenógrafo Mário Monteiro desenvolveu várias fachadas. Embora a construção só pudesse ser enquadrada de frente, pois cada face representava uma época, era possível gravar em um mesmo dia cenas passadas em tempos diferentes. (Site Memória Globo)

Em 04/06/1976, um incêndio no prédio da TV Globo, no Jardim Botânico, três dias antes da estreia da novela, fez com que as gravações fossem transferidas para os estúdios da Herbert Richers, na Usina, Zona Norte do Rio de Janeiro. (Site Memória Globo)

Trilha sonora

Daniel Filho revelou em “O Circo Eletrônico” que teve dificuldade para encontrar a música para a abertura da novela:
“O personagem principal [João Maciel] era um misto de Vinícius de Moraes com Di Cavalcanti e foi a chave para a escolha. A música de Dorival Caymmi, regravada pela Gal, caiu como uma luva: ‘Só louco… amou como eu amei…’.”

Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de O Casarão, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

Repetecos

A TV Globo editou O Casarão para uma exibição única, de uma hora e meia de duração, na noite do dia 28/01/1980, como parte do Festival 15 Anos da emissora (apresentação de Yara Côrtes).

A novela foi ainda reapresentada em forma compacta (18 capítulos), entre 21/03 e 09/04/1983, como tapa-buraco, devido à antecipação do fim da novela Sol de Verão (provocada pela morte do ator Jardel Filho) – a novela substituta, Louco Amor, ainda não estava pronta para estrear.

Lauro César Muniz revelou ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” sobre a possibilidade de refazer a novela, com novo elenco, ideia que acabou abortada:
“Certa vez, durante uma reunião na Globo, alguém sugeriu fazer um remake de O Casarão. Na mesma hora, o Daniel Filho respondeu: ‘Não! O Casarão é um cult e, em cult, a gente não mexe!’ Essas foram as palavras dele.”

Trilha sonora nacional

01. FASCINAÇÃO – Elis Regina (tema de Carolina e João Maciel, 1976)
02. LATIN LOVER – João Bosco (tema de João Maciel, 1926)
03. MENINA DO MATO – Márcio Lott (tema de Carolina, 1926)
04. CAROLINA – Aquarius (tema de Carolina, 1976)
05. QUIBE CRU – Chico Batera
06. SÓ LOUCO – Gal Costa (tema de abertura)
07. NUVEM PASSAGEIRA – Hermes Aquino (tema de Maria do Carmo e Jacinto)
08. COISAS DA VIDA – Rita Lee
09. TANGARÁ – Coral Som Livre (tema de locação: Tangará, 1900, e tema das vinhetas de intervalo)
10. A DOR A MAIS – Francis Hime (tema de João Maciel, 1976)
11. CAPRICHO – Nara Leão
12. O CASARÃO – Dori Caymmi (tema de Atílio, 1976)
13. RETRATO – Suely Costa (tema de Carolina, 1976)

Sonoplastia: Roberto Rosemberg
Coordenação geral: João Araújo
Direção de produção: Guto Graça Mello

Trilha sonora internacional

01. HANDS OF TIME – Perry Como (tema de Violeta)
02. THEME FROM S.W.A.T. – Music Corporation (tema de Jarbas)
03. FOREVER ALONE – Steve McLean (tema de Estevão)
04. I NEED TO BE IN LOVE – Carpenters (tema de Estevão e Lina)
05. CALL ME – Andrea True Connection
06. ANGEL – Jullian
07. WHEN YOU’RE GONE – Maggie McNeall (tema de Eduardo e Vânia)
08. LIVING – Alain Patrick (tema de Carolina, 1976)
09. I’M EASY – Keith Carradine (tema de João Maciel, 1976)
10. MY LIFE – Michael Sullivan (tema de Lina e Jarbas)
11. HONEY HONEY – Abba
12. GIRL OF THE PAST – Peter McGreen (tema de João Maciel e Carolina, 1926)
13. CALIFORNIA DREAMIN’ – The Vast Majority
14. MISS YOU NIGHTS – Cliff Richard (tema de Violeta)
15. NOSTALGIA – Francis Goya (tema de Atílio, 1976)
16. SHARING THE NIGHT TOGETHER – Arthur Alexander (tema de Arturo)

Tema de abertura: SÓ LOUCO – Gal Costa

Só louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis

Oh, insensato coração
Por que me fizeste sofrer?
Por que de amor para entender
É preciso amar
Por que?

Só louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis

Só louco, só louco…

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