
Sinopse
Lauro Fontana, um empresário megalômano com sede de progresso e tecnologia, quer construir o maior hotel do Brasil, o Fontana Sky, um moderníssimo edifício de cinquenta andares. Para que possa utilizar o terreno, é necessário convencer os irmãos Camará – Urânia, Baltazar, Tina e Marcito – a vender sua mansão em Botafogo, no Rio de Janeiro.
O solar pertenceu a um velho advogado, Martiniano Pedreira Camará, que chegou a ter grande fortuna, mas, ao morrer, deixou apenas aquela mansão cercada de árvores. O inventário estava ainda em andamento, cabendo a herança aos filhos. Deles, em última instância, é que dependia a viabilidade do audacioso empreendimento de Lauro Fontana.
Dos quatro irmãos, só Marcito quer vender a casa, para gastar o dinheiro com mulheres. Urânia quer respeitar a vontade do pai, que pediu no leito de morte para conservar a mansão. Baltazar é um professor de Ecologia contrário à devastação de mais uma área verde da cidade. E Tina não quer sair da casa onde mora com seus 25 vira-latas.
Lauro Fontana, de origem humilde, deu o golpe do baú ao casar-se com Cordélia, a filha do patrão, proprietário de uma rede de hotéis. Ela, fútil e geniosa, deseja um filho a qualquer preço. Porém, Lauro é estéril. A solução é a inseminação artificial – depois da frustrada tentativa de adoção de Saulo, o bebê de Dora, moça humilde envolvida com Léo, um defensor da natureza sem nenhuma sorte.
Em um engarrafamento, Lauro conhece Lazinha Chave de Cadeia, que torna-se sua amante. Ela também tivera infância pobre: moradora do Beco da Fome, resolveu assaltar uma joalheria com a ajuda dos amigos Nonô e Dico. Por outro lado, Lauro tem nos negócios uma inimiga à sua altura: Elka Escobar, mulher prática que fora sua secretária e amante. Quando ele casou com Cordélia, Elka jurou vingança e acabou se tornando sua maior concorrente no ramo hoteleiro.
MILTON MORAES – Lauro Fontana
BETTY FARIA – Lazinha Chave de Cadeia
VANDA LACERDA – Urânia Camará
ARY FONTOURA – Baltazar Camará (Tatá)
SUSANA VIEIRA – Tina Camará
CARLOS EDUARDO DOLABELLA – Marcito Camará
SUELY FRANCO – Cordélia
CLÁUDIO MARZO – Léo Simões
DÉBORA DUARTE – Dora
ROSAMARIA MURTINHO – Elka Escobar
MÁRIO LAGO – Gabriel Martins
MAURO MENDONÇA – Donatelo
MILTON GONÇALVES – Nonô Alegria das Gringas (Norival)
RUY REZENDE – Dico
MYRIAN PÉRSIA – Olga Maria
TOMIL GONÇALVES – Carlinhos Camará
MARIA POMPEU – Leda
LUTERO LUIZ – Gigante
JARDEL MELLO – Machado
DORINHA DUVAL – Zilda
LUÍS MAGNELLI – Padilha
MARIA LÚCIA DAHL – Renata
ANA CRISTINA – Marly
RENÊ FERNANDES – Edinho
JÚLIO CÉSAR – Luluca
PIETRO MÁRIO – mordomo de Lauro Fontana
JORGE LUIZ
o bebê CARLOS EDUARDO CIPRIANO – Saulo (filho de Dora)
e
AMILTON MONTEIRO
BIBI VOGEL – Samanta (psicóloga por quem Marcito se apaixona)
CECIL THIRÉ – Silveirinha (sócio de Milu na butique onde Dora vai trabalhar, apaixona-se por ela)
ESTELITA BELL – Marieta (tia de Cordélia, passa a frequentar a casa de Marcito e a querer botar ordem na vida dele)
GILBERTO GARCIA – coroinha
HELOÍSA RASO – cliente na loja da Milu (figuração)
IBAÑEZ FILHO – Martiniano Pedreira Camará (patriarca da família Camará)
ILKA SOARES – Milu (sócia de Silveirinha na butique onde Dora vai trabalhar, envolve-se com Léo)
KÁTIA D´ANGELO
MARIA ZILDA – secretária de Lauro que substitui Lazinha, no final
MARTA ANDERSON – Elisabeth (enfermeira por quem Marcito se apaixona)
ROBERTO BONFIM – vendedor de peixes com quem Léo briga
ROGÉRIO FRÓES – tio de Milu
SUZY ARRUDA – uma das vizinhas moralistas de Donatelo e Tina
TONICO PEREIRA – Bambolê (bandido, penúltimo capítulo)
VERA LÚCIA – Sula (namorada de Carlinhos)
Isabel (empregada dos Camará)
Kiroto (marido de Elizabeth)
Maria Amélia (médica de Cordélia que faz a inseminação artificial)
Michel (sobrinho de Elka)
– núcleo de LAURO FONTANA (Milton Moraes), empresário obcecado por novidades tecnológicas. Passou por orfanatos, reformatórios e educou-se no asfalto, ganhando a vida desde cedo. Quando começou a trabalhar com o pai da esposa, vislumbrou o golpe do baú perfeito e casou-se em poucos meses. Dois anos depois o sogro morreu e ela ficou rica. Lauro multiplicou o patrimônio da esposa. Infeliz no casamento, submete-se a humilhações porque não interessa a ele o desquite. Tem esperanças de que a mulher morra. Seu maior sonho é a construção do Fontana Sky, prédio de 50 andares planejado para ser o hotel mais moderno do mundo – o “Espigão”, como foi apelidado:
a mulher CORDÉLIA (Suely Franco), filha única, mimada, de família tradicional mineira, educada nos melhores colégios. Nas brigas com o marido, atira-lhe na cara seu berço e a formação superior. Sua agressividade é uma maneira de se afirmar no casamento, já que tem consciência de que não é uma mulher atraente. Também quer provar aos outros que pode ter um belo marido e fazê-lo de cachorrinho. Há dez anos o casal tenta um filho. Os dois sempre se acusaram mutuamente de esterilidade, até descobrirem que o estéril era ele. Chegaram a adotar uma criança, que devolveram a pedido da mãe. Recorreram à inseminação artificial
o assessor DONATELO (Mauro Mendonça)
a governanta LEDA (Maria Pompeu), fiel à patroa Cordélia
o motorista GIGANTE (Lutero Luiz)
o mordomo (Pietro Mário)
o gerente de seus hotéis PADILHA (Luís Magnelli).
– núcleo da família Camará, assediada por Lauro Fontana que deseja comprar o terreno onde está o casarão em que moram para a construção do Espigão. Porém, a maioria dos irmãos está disposta a conservar intacta a propriedade, atendendo ao último desejo do falecido pai. A casa e a área verde ao seu redor foram tudo o que restou da antiga fortuna da família:
o patriarca MARTINIANO PEDREIRA CAMARÁ (Ibañez Filho), falecido, figura autoritária e de caráter inflexível. Casou-se e enviuvou quatro vezes, tendo um filho de cada casamento. Na realidade, era um farrista e contribuiu para a infelicidade das quatro mulheres. A veneração que os filhos têm por sua memória oculta o ódio que guardam dele
a filha mais velha URÂNIA (Vanda Lacerda), viúva moralista e severa, mãe de um adolescente. Costuma ter visões, inclusive proféticas. Fala frequentemente com o falecido marido, que era um crápula. Cultua o pai e regularmente reúne os irmãos ao redor de um coqueiro plantado pelo velho em um ritual para cultivar sua memória. Ao final, morre atingida na cabeça por um coco
o segundo filho BALTAZAR (Ary Fontoura), professor de Ecologia, estudioso de Biologia, herdou do pai o amor pela natureza. Sensível e íntegro, atormentado por um sentimento de culpa pela morte de um homem que atropelou. Procura ajudar a esposa da vítima, para aliviar sua consciência. Solteirão, parece indiferente às mulheres, porém coleciona mechas de cabelos das que deseja
a terceira filha TINA (Susana Vieira), solteirona e virgem aos 35 anos. Antes de dormir, costuma dar uma volta sozinha pelo quarteirão, deixando os irmãos preocupados, principalmente quando volta correndo e gritando, dizendo-se perseguida por alguém. Nessas ocasiões, sofre uma crise nervosa seguida de um sono profundo de dez a doze horas. Cria cachorros vira-latas, levando para casa todos que encontra na rua. Casa-se com Donatelo
o caçula MARCITO (Carlos Eduardo Dolabella), o único a favor da venda do terreno. Trabalha como representante comercial do inseticida Raio da Morte. Conquistador, seu interesse por mulheres, por mais bonitas e sensuais que sejam, não dura mais que algumas semanas, obrigando-o a inventar várias desculpas para livrar-se delas. Vive metido em complicações amorosas, usando sua imaginação para evitar que as namoradas simultâneas se encontrem. Julga-se um mártir incompreendido
o filho de Urânia, CARLINHOS (Tomil Gonçalves), hippie que não tem diálogo com a mãe nem com os tios. Mora em uma barraca no jardim da casa
a antiga namorada de Marcito, OLGA MARIA (Myrian Pérsia), ainda apaixonada por ele. É a viúva do homem atropelado por Baltazar
a namorada de Marcito no início, RENATA (Maria Lúcia Dahl)
a secretária de Marcito, MARLY (Ana Cristina).
– núcleo de LAZINHA CHAVE DE CADEIA (Betty Faria), que se torna amante de Lauro Fontana. Com uma infância semelhante a dele, foi obrigada pela mãe a trabalhar desde criança. Vendia balas na porta dos cinemas ou nos automóveis, nos sinais. O pai, sempre bêbado, espancava a mãe para conseguir dinheiro, e foi morto durante uma briga entre marginais na favela. Vai trabalhar como secretária de Lauro:
os amigos, com quem aplica pequenos golpes: NORIVAL (Milton Gonçalves), faz a linha malandro intelectual. Ganhou o apelido NONÔ ALEGRIA DAS GRINGAS em uma excursão à Escandinávia, como roupeiro do Flamengo, quando a cor da sua pele fez grande sucesso entre as suecas. Sentimental, gosta de ler e, às vezes, filosofa. Seus golpes sempre falham, quase sempre por causa de seu sentimentalismo,
e DICO (Ruy Rezende), tem adoração por Lazinha, embora ela o trate como um irmão. Como os companheiros de golpes, é solidário e, no fundo, uma pessoa boa, deformada pela vida. Como todo vigarista, tem o dom da boa conversa.
– núcleo de ÉRIKA ESCOBAR (Rosamaria Murtinho), filha de uma família de classe média, estudada, ex-modelo. Mulher inteligente, prática e dinâmica. Desquitada, era secretária do pai de Cordélia quando Lauro foi trabalhar na empresa. Os dois tiveram um caso e foi ela quem facilitou o acesso dele à casa do milionário. Sentiu-se traída quando ele casou com Cordélia, mas transformou-se em seu braço direito na firma, até fundar sua própria empresa e virar sua principal concorrente:
o magnata GABRIEL MARTINS (Mário Lago), associado a Elka, com quem ele tem um caso. É o principal concorrente de Lauro na rede hoteleira. Torna-se sócio do Fontana Sky para ter acesso ao livro de contas da empresa e denunciar as irregularidades. Mas Lauro sempre se safa
o sobrinho pré-adolescente MICHEL, que Lauro desconfia ser o filho que ela teria engravidado dele no passado.
– núcleo de LÉO (Cláudio Marzo), dedicado defensor da natureza, se torna um dos opositores de Lauro Fontana na construção do Espigão. Com a morte do pai, teve de largar a faculdade e trabalhar. Chegou ao Rio de Janeiro com a esperança de obter maiores chances e deparou-se com a incomunicabilidade, a solidão e a competição selvagem. No entanto, manteve seus valores humanos:
a mulher com quem se envolve DORA (Débora Duarte), moça humilde, nova no Rio de Janeiro, recém-viúva, grávida e sem muitas perspectivas na vida. Passou maus pedaços até encontrar Léo, por quem se apaixona. Ele fez o parto de seu filho SAULO (Carlos Eduardo Cipriano) durante um engarrafamento no túnel Rebouças. Cordélia presenciou a cena e ofereceu-se para adotar o bebê. Precisa de Léo para lutar contra a cidade hostil
o casal dono do apartamento onde Léo e Dora alugam um quarto: MACHADO (Jardel Mello) e ZILDA (Dorinha Duval)
o casal sócio da butique onde Dora vai trabalhar: SILVEIRINHA (Cecil Thiré), que apaixona-se por Dora, e MILU (Ilka Soares), que envolve-se com Léo.
Bom momento
Outro bom momento para o horário das dez da noite da Globo. A estrutura da novela girou em torno da desumanização da cidade, de como o progresso descontrolado poderia esmagar o homem, e do avanço acelerado e predatório da expansão imobiliária sobre o meio ambiente.
A APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) premiou O Espigão em duas categorias relativas ao ano de 1974: melhor novela (juntamente com Os Ossos do Barão e Os Inocentes) e melhor atriz, para Betty Faria e Susana Vieira (juntamente com Neuza Amaral e Elza Gomes, por Os Ossos do Barão, e Cleyde Yáconis, por Os Inocentes).
Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1974 e melhor ator para Milton Moraes.
Ecologia
Dias Gomes foi o primeiro a tratar de Ecologia na teledramaturgia brasileira, em uma época em que este assunto era restrito aos meios acadêmicos e científicos. O autor voltou ao tema na novela Sinal de Alerta, em 1978-1979.
Com O Espigão, palavras como “ecologia” e “ecossistema” chegaram pela primeira vez ao grande público, além de discussões sobre inseminação artificial e bebê de proveta – lembrando que a novela é de 1974 e o primeiro bebê de proveta do mundo nasceu em 1978, quando o assunto ganhou grande repercussão.
Especulação imobiliária
Também o termo “espigão”, para designar arranha-céu, entrou para o vocabulário popular. Em seu “Livro do Boni”, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho – à época superintendente da TV Globo – credita o título da novela ao arquiteto e cronista Marcos Vasconcellos.
Na época em que O Espigão foi ao ar, o grande nome dos empreendimentos imobiliários no Rio de Janeiro era o construtor Sérgio Dourado: havia obras realizadas pela sua construtora espalhadas por toda cidade. Quando já escrevia os primeiros capítulos de sua novela, Dias Gomes foi chamado por Boni para uma reunião urgente na sede da TV Globo. Roberto Marinho, o dono da emissora, havia mandado cancelar a novela após receber queixas de Sérgio Dourado, seu amigo pessoal. Tudo porque o empresário se dizia retratado à revelia na produção, que sequer havia estreado – mais precisamente na figura do protagonista, Lauro Fontana, vivido por Milton Moraes.
No trajeto de casa para a emissora, Dias Gomes pensou na solução e já chegou com ela à sala de reuniões: ao invés da construção de um prédio de apartamentos, seria um hotel o foco gerador da trama. Em assim sendo, ruíam os argumentos de Sérgio Dourado e a ameaça que pairava sobre a novela, já com chamadas no ar, deixou de existir.
Ainda que, na novela, Lauro Fontana fosse dono de uma cadeia de hotéis, o nome de Sérgio Dourado foi mais que suficiente para que o público ligasse sua figura à do personagem da ficção. O empresário da vida real chegou a ser hostilizado na inauguração de um de seus prédios, na Barra da Tijuca. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)
Em 1982, um compacto de 60% de O Espigão foi preparado para a reprise da novela, anunciada para estrear no dia 9 de agosto daquele ano, para cobrir a censura da minissérie inédita Bandidos da Falange. A equipe de Hans Donner criou uma nova abertura e a Som Livre chegou a recolocar a trilha nacional à venda. Porém, no horário previsto, a Globo exibiu um especial sobre o pastor suicida Jim Jones (1931-1978).
A emissora culpou a Censura Federal, que realmente atuou na história, mas não estava sozinha. A mídia divulgou que a Globo sofrera pressões por parte das grandes construtoras do Rio de Janeiro, já que a novela mexia com a chamada “especulação imobiliária”.
No Jornal do Brasil de 15/08/1982, a então jornalista Cidinha Campos revelou: “Os empresários não permitiram a volta de uma novela que denuncia a ação ilegal das construtoras e imobiliárias. Se na sua estreia, há algum tempo atrás [em 1974], já houve problemas, por que trazê-los à tona mais uma vez? Sabendo da influência da Rede Globo, os empresários pressionaram para a novela não entrar no ar. E isso foi feito de uma maneira terrivelmente convincente: se a novela fosse reprisada, as construtoras e imobiliárias não colocariam mais anúncios nos classificados de O Globo”.
Dessa forma, apesar de anunciada na programação em agosto de 1982, O Espigão nunca foi reprisada. A minissérie Bandidos da Falange, por sua vez, acabou liberada e estreou cinco meses depois, em 10/01/1983.
Tipos curiosos
O Espigão trouxe novamente os tipos curiosos criados por Dias Gomes, desta vez centrados nos irmãos Camará, uma família tradicional, bem educada, mas reprimida sexualmente. O maior exemplo das neuroses era dado pelo professor Baltazar, que colecionava mechas de cabelos de mulheres que havia desejado, sem jamais tê-las possuído – personagem de destaque na carreira do ator Ary Fontoura.
Os demais irmãos Camará eram Urânia (Vanda Lacerda), a mais velha, severa, reprimida e carola; Marcito (Carlos Eduardo Dolabella), tarado por mulheres sem prender-se a nenhuma; e Tina (Susana Vieira), virgem aos 35 anos que imaginava que os homens a perseguiam e por causa disso sofria de surtos.
Lazinha Chave de Cadeia, vivida por Betty Faria, era a líder de um bando de assaltantes. A personagem logo se fixa como secretária e amante do protagonista Lauro Fontana (Milton Moraes). Betty Faria voltou a interpretar uma assaltante com a personagem Lili Carabina no episódio “A História de Lili Carabina” da série Plantão de Polícia, em 1980 – que por sua vez originou o filme Lili, a Estrela do Crime, de Lui Farias, em 1988, no qual a atriz retomou a personagem.
Cenas marcantes
O primeiro capítulo mostrou um engarrafamento de trânsito dentro de um túnel, no Rio de Janeiro, em uma noite de réveillon, em que alguns personagens se conheceram, criando os entrechos necessários para os capítulos que se seguiram. Entre esses personagens, o bando de Lazinha Chave de Cadeia (Betty Faria), que fugia após um assalto, e Dora (Débora Duarte), que deu à luz no meio do engarrafamento. Os personagens desceram de seus carros para celebrar o nascimento do bebê e o Ano Novo.
Para a cena do engarrafamento no primeiro capítulo, o diretor Régis Cardoso narrou em seu livro “No Princípio Era o Som” que queria gravar no túnel velho, Alaor Prata, que liga Botafogo a Copacabana (no Rio), mas o departamento de trânsito não autorizou que o fluxo de carros fosse interrompido. A produção da novela recriou então em estúdio um trecho interno do túnel, na Cinédia, onde foram colocados dezesseis veículos. Mesmo assim, o diretor foi ao túnel real gravar carros na entrada e saída, para exibir entre as cenas de interior.
“Vamos montar esses dezesseis carros, sem atrapalhar o trânsito (…) eles vão até a entrada do túnel e param durante três minutos (…) foi perfeito porque as buzinas que precisávamos foram tocadas espontaneamente pelas outras pessoas (…) Para mostrar porque o trânsito havia parado, fomos para a frente do túnel (…) dois reboques colocaram na boca do túnel um táxi e um caminhão como se tivessem batido um no outro (…) Felizmente o departamento de trânsito não sentiu a nossa aglomeração.”
Outra cena marcante foi a inusitada morte de Urânia Camará (Vanda Lacerda). Para cultuar a memória do falecido pai, Urânia obrigava os irmãos a reunirem-se ao redor de um coqueiro que fora plantado pelo velho. No final da trama, Urânia morre ao ser atingida na cabeça por um coco, que despencou da árvore.
Efeitos especiais
O Espigão usou pela primeira vez, em grande escala, efeitos especiais. O corredor que antecedia o escritório de Lauro Fontana (Milton Moraes) era uma esteira rolante – na realidade, um carrinho que o contrarregra puxava.
Cordélia (Suely Franco) era uma mulher muito nervosa que, para se acalmar, ligava um dispositivo que fazia sua cama vibrar, trepidar. Na realidade, a cama estava sobre pneumáticos que os contrarregras sacudiam.
Um elevador feito de acrílico e alumínio foi construído pela equipe de cenografia para as cenas em que Lauro Fontana chegava ao seu dormitório. Porém, era muito barulhento.
“Infelizmente não podia ser usado quando alguém falasse. Tivemos então que tomar a seguinte medida: quando o elevador funcionar, ninguém fala”, disse o diretor Régis Cardoso, reclamando do barulho quando o elevador era ligado. (“No Princípio Era o Som”, Régis Cardoso)
Para caracterizar a atmosfera de sofisticação tecnológica que cercava o protagonista Lauro Fontana (Milton Moraes), a TV Globo importou dos Estados Unidos ícones da modernidade à época, incorporados aos cenários da casa e do escritório do personagem: um super relógio digital de mesa, que exibia as horas em vários países; um aparelho que funcionava como rádio, abridor de cartas e apontador de lápis; uma escova de dentes elétrica, que, adaptada, virava um secador de cabelos; e dois pares de óculos peculiares, um para ser usado em saunas, com pequenos para-brisas nas lentes, e outro para ser usado no escuro, com dois mini holofotes. (Site Memória Globo)
Afastamento do autor
Cerca de dez capítulos da novela foram escritos por Lauro César Muniz, devido a problemas de saúde de Dias Gomes. Após exames, constatou-se que o dramaturgo estava sofrendo de consequências de uma pneumonia mal curada, adquirida durante um período que passara detido em 1964, pela repressão do Regime Militar. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)
Outra fonte, o Acervo Globo Digital, informa que Dias pediu afastamento para recuperar-se da perda do amigo Vianinha (o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho), falecido em 16/07/1974.
E mais
Primeira novela da atriz Maria Lúcia Dahl.
Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de O Espigão, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.
Texto narrado na apresentação das cenas do próximo capítulo da novela (prática comum na época):
“Cidade grande. O homem vira máquina, a máquina esmaga o homem. Chega pro lado! Abre caminho… A engrenagem engolindo… O futuro brotando… O Espigão!”
Trilha Sonora Nacional
01. MALANDRAGEM DELA – Tom e Dito (tema de Olga)
02. BOTARAM TANTA FUMAÇA – Tom
03. SUBINDO O ESPIGÃO – Betinho (tema de Lauro Fontana)
04. ALFAZEMA – Walker
05. VOCÊ VAI TER QUE ME ATURAR – Sônia Santos (tema de Cordélia)
06. O ESPIGÃO – Zé Rodrix (tema de abertura)
07. PELA CIDADE – Bertrami e Conjunto Azimute (tema de locação: Rio de Janeiro)
08. RETRATO 3×4 – Alceu Valença (tema de Lazinha)
09. NA SOMBRA DA AMENDOEIRA – Os Lobos (tema dos irmãos Camará)
10. CILADA – Pery Ribeiro
11. NONÔ, REI DAS GRINGAS – Djalma Dias (tema de Nonô)
12. BERCEUSE – Tuca (tema de Dora)
13. ÚLTIMO ANDAR – Benito de Paula
Sonoplastia: Antônio Faya
Músicas: Zé Rodrix
Coordenação geral: João Araújo
Trilha Sonora Internacional
01. BALLAD OF DANNY BAYLEY – Elton John
02. SAVE THE SUNLIGHT – Dennis Yost & The Classics IV (tema geral)
03. DANCING MACHINE – The Jackson Five
04. WE CAN MAKE IT HAPPEN AGAIN – The Stylistics (tema de Marcito)
05. WHEN THE FUEL RUNS OUT – Executive Suite
06. LADY IT’S TIME TO GO – Stu Nunnery (tema de Lauro Fontana)
07. YOU ARE ALL THE SUNSHINE – Evan Pace
08. TELL ME A LIE – Sami Jo
09. ROCK YOUR BABY – George McRay
10. PLEDGING MY LOVE – Diana Ross & Marvin Gaye
11. ANOTHER DAY – Paul Jones
12. THERE’S NOTHING I´D RATHER DO – Kevin Johnson
13. THE LONELIEST HOUSE ON THE BLOCK – Little Anthony & The Imperials (tema de Tina)
14. WHAT CAN I DO? – Summer Breeze
ainda
I TUOI SOSPIRI – Bruno Nicolai & Edda Dell’Orso
BROTHER ON THE RUN – Adan Wade
Tema de Abertura: O ESPIGÃO – Zé Rodrix
Hoje eu não preciso mais coçar as costas
Inventaram o coça-costas eletrônico
Eu só fazia força
Quando ia abrir a porta da minha Mercedes
O único exercício que eu fazia
(era abrir a porta)
Hoje o meu motorista faz por mim (ah, sim!)
Ah, sim, é isso sim! (ah, sim!)
Me disseram que tudo que eu tenho é demais (é demais!)
Me disseram que tudo que é demais está sobrando
Que é que eu posso fazer
Se inventaram o mundo pra me dar prazer
Minhas máquinas estão fazendo tudo (que eu fazia)
Eu não preciso mais me mexer pra viver
Viver sem me mexer, viver…
Eu não!
Novela icônica dos anos 70
Uma das novelas que mais tenho curiosidade em conhecer, tomara que tenha sobrevivido ao tempo e venha um dia no Globoplay.
As trilhas de novelas do início dos anos 70 mostram predominância da soul music americana da Motown com vários clássicos: Supremes, Michael Jackson, Diana Ross, Marvin Gaye, Stevie Wonder, etc…
Fiquei bastante curioso. Será que ela existe completa nos arquivos da emissora (ou pelo menos o compacto)? Quem sabe um dia no Globoplay.
As duas músicas citadas não fazem parte do disco. O site numera as 14 faixas. As duas outras músicas foram tocadas no decorrer da novela, por isso a citação, mas não entraram no LP. No site, estão separadas das músicas do disco.
Olá pessoal. Tenho o disco da excelente trilha internacional (e em breve terei a nacional também). Alguém sabe me informar o porquê de duas faixas adicionais na descrição da trilha sonora aqui no site? Já olhei em diversos discos e todos tinham apenas 14 faixas… Abraços.
“Hoje eu não preciso mais coçar as costas Inventaram o coça-costas eletrônico Eu só fazia força Quando ia abrir a porta da minha Mercedes…”
Não assisti a novela, mas sempre vi cenas avulsas no vídeo show, além de ter assistido algumas coisas no YouTube. Aparentemente gostei do ritmo e principalmente dessa música de abertura que além de engraçada hoje se torna muito atual pois soa como uma ode ao sedentarismo proporcionado pelas mídias tecnológicas!
Excelente resenha, como sempre! Novela maravilhosa!
Outra obra prima, mais um caminhao de troféus e nenhuma reprise…….