Sinopse

Nem o ódio entre duas famílias impediu o amor dos jovens Enrico e Giovanna. Os Mezenga e os Berdinazzi são vizinhos e, por causa de uma cerca no limite de suas propriedades, vivem uma guerra sem precedentes. As duas famílias proíbem o amor entre Enrico, filho de Antônio e Nena Mezenga, e Giovanna, filha de Giuseppe e Marieta Berdinazzi. Os dois acabam se casando e fogem.

O filho de Enrico e Giovanna, Bruno Mezenga, transformou-se em um dos maiores criadores de gado do país, conhecido como o Rei do Gado. Ele sabe do ódio que separou as famílias de seus pais e nunca conheceu os tios, irmãos de sua mãe: Bruno, que morreu na guerra, Giácomo Guilherme, que morreu pobre, e Geremias, que nunca teve contato. Bruno só sabe que Geremias tornou-se um rico fazendeiro.

O velho Geremias Berdinazzi é um homem solitário que não reconhece os Mezenga como membros de sua família. Já idoso e com peso na consciência por ter enganado os irmãos no passado, seu sonho é deixar sua fortuna para a única parenta que lhe restou, a sobrinha que nunca conheceu e que está desaparecida, Marieta, filha do irmão Giácomo Guilherme.

Bruno Mezenga, por sua vez, vive um casamento fracassado com Leia, uma esposa infiel que o trai com Ralf, um mau-caráter. O casal tem dois filhos: Lia, que apaixona-se pelo peão e violeiro Pirilampo; e Marcos, que vive um atribulado romance com Liliana, filha do incorruptível senador da República Roberto Caxias.

As vidas de Bruno Mezenga e Geremias Berdinazzi mudam completamente com a chegada de duas mulheres. Marieta, que diz ser a sobrinha desaparecida de Geremias; e Luana, uma boia-fria sem passado por quem Bruno se apaixona. Mal imagina Bruno que Luana unirá o seu destino ao de seu tio Geremias, já que ela é a verdadeira Marieta Berdinazzi.

Globo – 20h
de 17 de junho de 1996
a 15 de fevereiro de 1997
209 capítulos

novela de Benedito Ruy Barbosa
colaboração de Edmara Barbosa e Edilene Barbosa
direção de Luiz Fernando Carvalho, Carlos Araújo, Emílio Di Biase e José Luís Villamarim
direção geral de Luiz Fernando Carvalho

Novela anterior no horário
O Fim do Mundo

Novela posterior
A Indomada

ANTÔNIO FAGUNDES – Bruno B. Mezenga
PATRÍCIA PILLAR – Luana (Marieta)
RAUL CORTEZ – Geremias Berdinazzi
GLÓRIA PIRES – Rafaela / Marieta
FÁBIO ASSUNÇÃO – Marcos Mezenga
SÍLVIA PFEIFER – Leia Mezenga
CARLOS VEREZA – Senador Roberto Caxias
STÊNIO GARCIA – Zé do Araguaia
BETE MENDES – Donana
LAVÍNIA VLASAK – Lia Mezenga
GUILHERME FONTES – Otávio
OSCAR MAGRINI – Ralf
JACKSON ANTUNES – Regino
ANA BEATRIZ NOGUEIRA – Jacira
ALMIR SATER – Aparício (Pirilampo)
SÉRGIO REIS – Zé Bento (Saracura)
WALDEREZ DE BARROS – Judite
MARIANA LIMA – Liliana
ANA ROSA – Maria Rosa
ARIETHA CORRÊA – Chiquita
MARA CARVALHO – Bia
IARA JAMRA – Lurdinha
MARIA HELENA PADER – Júlia
PAULO CORONATO – Dimas
LEILA LOPES – Suzane
LUIZ PARREIRAS – Orestes Couto Maia
EMÍLIO ORCIOLLO NETTO – Giuseppe
LUCIANA VENDRAMINI – Marita
AMILTON MONTEIRO – Detetive Clóvis Meirelles
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Delegado Josimar
TADEU DI PIETRO – Delegado Valdir
FRANCISCO CARVALHO – Mauriti
ANTÔNIO POMPEO – Dominguinhos
COSME DOS SANTOS – Formiga
ADHENOR DE SOUZA – Lupércio

primeira fase
TARCÍSIO MEIRA – Giuseppe Berdinazzi
EVA WILMA – Marieta
ANTÔNIO FAGUNDES – Antônio Mezenga
VERA FISCHER – Nena
LEONARDO BRÍCIO – Enrico
LETÍCIA SPILLER – Giovanna
MARCELLO ANTONY – Bruno
CACO CIOCLER – Geremias
MANOEL BOUCINHAS – Giácomo Guilherme
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Toni Vendacchio
OSMAR DI PIERI – Bepo
LUIZ BACELLI – oficial do Exército que informa Giuseppe da morte de Bruno
HENRIQUE LISBOA – carteiro
YAMAY KENICHE – Tetsuo
MII SAKI – mulher de Tetsuo
SÔNIA TOZZI – Gema (moça que Bruno conheceu na Itália)
ANTÔNIO CASTIGLIONE – Bruno Mezenga (criança)
KEN KANEKO – japonês que Toni Vendacchio atende às escondidas por causa das restrições de guerra

e
ADILSON BARROS – motorista da fazenda de cana
ALBERTO PEREZ – senador amigo do Senador Caxias
ALTAMIRO MARTINS – tabelião
ANDRÉ CORRÊA – delegado no interior que fala da prisão de Regino
ARMANDO VALSANI – cantor
ÁTILA IÓRIO – Honorato (caiçara preso tentando vender a corrente de Ralf, achada por seu filho)
BETO BELLINI – um dos jagunços que matam Regino e seus amigos
BIA MONTEZ – enfermeira de Geremias, quando ele é baleado
CARLOS MECENI – caminhoneiro que dá carona a Luana quando ela deixa Maria da Luz e Joana
CARLOS TAKESHI – Olavo (piloto de Bruno)
CARLOS VIEIRA – repórter no caso do desaparecimento de Bruno
CAROLINA BRADA – sem-terra, do grupo de Regino
CELSO FRATESCHI – motorista
CÉVIO CORDEIRO – diretor da rádio em Ribeirão Preto
CHICA XAVIER – freira que cuida de Marieta após o acidente de caminhão e dá a ela o nome de Luana
CHICO EXPEDITO – Pedro Chiaramonte (empregado que socorre Geremias quando ele é baleado no cafezal)
CLARA GARCIA – recenseadora do Censo Agrícola na fazenda de Geremias
CLÁUDIO CAPARICA – sacristão que avisa o Senador Caxias da ausência de Marcos em seu casamento com Liliana
CLÁUDIO MENDES – Tonico (neto de Toni, que mantém a venda do avô
CLÁUDIO TOVAR – Fernandinho (costureiro do vestido de noiva de Liliana)
CLEMENTE VISCAÍNO – deputado amigo do Senador Caxias
CYRIA COENTRO – Maria da Luz (parceira de Luana no corte de cana quando ela, grávida, foge de Bruno e Geremias)
DAN STULBACH – repórter no caso do desaparecimento de Bruno
DAVID Y. POND – líder do grupo extremista japonês
DAVIS OTANE – sem-terra do grupo de Regino
DÉCIO TROTA – tocador de bandolim
DUDA MAMBERTI – Matias (repórter que transmite o julgamento de Marcos pelo rádio)
EDMILSON CAPELUPPI – violeiro
EMÍLIO FONTANA – delegado
ERALDO RIZZO – representante dos ingleses
FERNANDO NEVES – cliente de Tonico que se recusa a conversar com Bruno
FERNANDO VIEIRA – um dos diretores das empresas de Suzane
FLÁVIO ANTÔNIO – Dr. Castanho
GENÉZIO DE BARROS – líder dos sem-terra
GÉSIO AMADEU – sem-terra cantor
GIÁCOMO PINOTTI – Ruy Moura (apresentador de telejornal)
GILLES GWIZDEK – comprador do barco de Leia
GISELE SUMMAR – Tide (empregada do Senador Caxias em Ribeirão Preto)
GUILHERME CORRÊA – Joel (fazendeiro que faz acordo com Regino)
GUILHERMINO DOMICIANO – policial
HÉLIO CÍCERO – Dr. Walfrido (advogado de defesa de Marcos, no caso da morte de Ralf)
HÉLIO RIBEIRO – Maurício (corretor de seguros de Bruno)
ILVA NIÑO – Joana (mãe de Maria da Luz, acolhem Luana quando ela, grávida, foge de Bruno e Geremias)
IVAN DE ALMEIDA – caminhoneiro que dá carona a Marcos
JAIRO MATTOS – Fausto (advogado de Geremias)
JAYME DEL CUETO – fazendeiro que ameaça os sem-terra
JOÃO BOURBONNAIS – corretor que cuida da venda da fazenda de Leia para Geremias
JOSÉ MARINHO – um dos jagunços que matam Regino e seus amigos
JULIANA MONTEIRO – sem-terra do grupo de Regino
JULIO FERNANDO – policial Chico (trabalha com o delegado Josimar, que investiga a morte de Ralf)
JURANDIR OLIVEIRA – líder dos sem-terra
LÉO WAINER – deputado amigo do Senador Caxias
LIANA DUVAL – Quitéria (empregada do Senador Caxias, depois que Chiquita é demitida)
LUCÉLIA MACHIAVELLI – Geni (mulher de Mauriti)
LUÍSA FIORI – Gema
LUÍS DE LIMA – Dr. João Amorim (médico da família do Senador Caxias, que faz o parto de Liliana)
LUIZ CARLOS ROSSI – representante dos ingleses
LUIZ SERRA – fazendeiro que permite que os sem-terra se assentem, patrão dos jagunços que matam Regino
MALU VALLE – Adriana Mendonça (apresentadora de telejornal)
MARCELO DECÁRIA – praça
MARCELO GALDINO – Geraldino (cuida do barco de Leia)
MARCOS ANTÔNIO LAURO
MARCOS OLIVEIRA – Tonico (garçom que passa informações sobre Rafaela a Marcos e, depois, sobre Marcos a Fausto)
MARCOS VINÍCIUS GOMES
MARIANA PEREIRA – Rafaela (criança)
MARIA RIBEIRO – prostituta
MERCEDES DE SOUZA – parteira
MICHEL BERCOVITCH – Dr. Mário Gomide (assistente do Dr. Walfrido)
MILTON ANDRADE – corretor que cuida da venda da fazenda de Leia para Geremias
MILTON GONÇALVES
NELSON BASKERVILLE – repórter que entrevista Bruno no início da segunda fase
NEUZA BORGES – Marta (cuida do apartamento de Bruno no Rio de Janeiro)
NEWTON MORENO – sem-terra do grupo de Regino
NINO VALSANI – cantor
PAULO GOULART – juiz no julgamento de Marcos
PAULO TIEFENTHALER – gerente do banco onde Ralf tem conta
PEDRO GABRIEL – Uerê’é (Rafael, neto da índia Magu, filho de Zé do Araguaia)
POENA VIANNA – sem-terra do grupo de Regino
REGINA DOURADO – Magu (índia, avó de Uerê’é)
RENATO MASTER – Delegado Bordon (de Ribeirão Preto, amigo de Bruno)
RICARDO HOMUTH – piloto de helicóptero
ROBERTO CARLOS como ele mesmo (em cenas de seu especial de fim de ano com Pirilampo & Saracura)
ROBERTO LOSAN como ele mesmo, radialista que ajuda Pirilampo & Saracura
ROGÉRIO MÁRCICO – Olegário (administrador das fazendas de Geremias, pai de Otávio)
RONEY VILELA – Genivardo (peão na fazenda do Araguaia)
SÉRGIO MILLETO – Dr. Arnaud
SILVIA ANDRO
SÍRIA BETTI – Inês (mãe de Gema)
TÁCITO ROCHA – promotor no julgamento de Marcos
TANAH CORRÊA – juiz
TONINHO FERRAGUTTI – acordeonista
VANUSA SPINDLER – secretária dos corretores da fazenda de Leia, que Ralf vende para Geremias
VENERANDO RIBEIRO – delegado no Araguaia
WALD STERN – alemão
WALTER BREDA – cliente de Tonico que se recusa a conversar com Bruno
ZÉLUIZ PINHO – Jaú (peão velho)

primeira fase

– núcleo de ANTÔNIO MEZENGA (Antônio Fagundes):
a mulher NENA (Vera Fischer)
o filho ENRICO (Leonardo Brício).

– núcleo de GIUSEPPE BERDINAZZI (Tarcísio Meira), que vive às turras com Antônio Mezenga por causa de uma cerca além de suas propriedades:
a mulher MARIETA (Eva Wilma)
os filhos GIÁCOMO GUILHERME (Manoel Boucinhas), GEREMIAS (Caco Ciocler),
BRUNO (Marcello Antony), morto na guerra,
e GIOVANNA (Letícia Spiller), que vive um amor proibido por Enrico Mezenga – acaba engravidando do rapaz e batizando o filho com o nome do irmão morto na guerra.

segunda fase

– núcleo de BRUNO MEZENGA (Antônio Fagundes), filho de Enrico e Giovanna, hoje conhecido como “o rei do gado”. Nutre um ódio pela família da mãe, que o renegou como neto:
a esposa LEIA (Sílvia Pfeifer), mulher infiel que só quer saber do dinheiro do marido
os filhos MARCOS (Fábio Assunção) e LIA (Lavínia Vlasak)
o motorista DIMAS (Paulo Coronato)
as empregadas JÚLIA (Maria Helena Pader), que se envolve com Dimas, e LURDINHA (Iara Jamra)
a dupla de violeiros empresariados por Lia: APARÍCIO (o PIRILAMPO) (Almir Sater), que se envolve com Lia,
e ZÉ BENTO (o SARACURA) (Sérgio Reis), que se envolve com Lurdinha. A dupla faz sucesso ao gravar um CD.

– núcleo de GEREMIAS BERDINAZZI (Raul Cortez), único sobrevivente da família Berdinazzi. Sonha em reencontrar a sobrinha desaparecida, filha do falecido irmão Giácomo Guilherme:
a suposta sobrinha desaparecida MARIETA (Glória Pires), uma impostora que na verdade se chama RAFAELA. Envolve-se com Marcos Mezenga
o administrador de seus negócios OLEGÁRIO (Rogério Márcico), seu amigo, morre no decorrer da trama
o advogado FAUSTO (Jairo Mattos), que põe Rafaela dentro da casa de Geremias. Mata Olegário porque ele descobre os planos dos dois, e acaba ele mesmo sendo morto
o filho de Olegário, OTÁVIO (Guilherme Fontes), aparece depois da morte do pai, apaixona-se por Rafaela
o sobrinho que ele desconhecia GIUSEPPE (Emílio Orciollo Neto), aparece no final da trama
a empregada JUDITE (Walderez de Barros), que se envolve com ele
o delegado VALDIR (Tadeu di Pietro), que investiga as mortes de Olegário e Fausto.

– núcleo do mau caráter RALF (Oscar Magrini), o amante de Leia que está de olho no dinheiro do marido dela. Acaba misteriosamente assassinado:
a prostituta MARITA (Luciana Vendramini), com quem se envolvera
a amante SUZANE (Leila Lopes), jovem e bonita, mulher de um figurão
ORESTES (Luiz Parreiras), marido de Suzane, homem muito rico
o delegado JOSIMAR (José Augusto Branco), investiga a morte de Ralf
o detetive CLÓVIS (Amilton Monteiro), investiga os passos de Leia a mando de Bruno Mezenga e, mais tarde, junta-se a Josimar e tenta desvendar a morte de Ralf.

– núcleo de REGINO (Jackson Antunes), líder de um grupo de sem-terra:
a mulher JACIRA (Ana Beatriz Nogueira)
a boia-fria LUANA (Patrícia Pillar), perdeu a memória após um acidente quando era criança. Envolve-se com Bruno Mezenga e mais tarde descobre-se que ela é Marieta, a sobrinha desaparecida de Geremias Berdinazzi
a professora BIA (Mara Carvalho)
os sem-terra DOMINGUINHOS (Antônio Pompeo), FORMIGA (Cosme dos Santos) e LUPÉRCIO (Adhenor de Souza).

– núcleo de ZÉ DO ARAGUAIA (Stênio Garcia), amigo de Bruno Mezenga, caseiro de sua casa na região do Rio Araguaia:
a mulher DONANA (Bete Mendes)
a índia MAGU (Regina Dourado, numa participação), que teve um filho com Zé no passado
o indiozinho RAFAEL, o UERÊ (Paulo Gabriel), filho de Zé do Araguaia e Magu.

– núcleo de SENADOR ROBERTO CAXIAS (Carlos Vereza), político amigo de Bruno Mezenga. Incompreendido por ser um político honesto:
a mulher MARIA ROSA (Ana Rosa)
a filha LILIANA (Mariana Lima), apaixonada por Marcos
a empregada em Brasília CHIQUITA (Arietha Côrrea), apaixonada pelo senador.

Sucesso

Sucesso de Benedito Ruy Barbosa que cativou o público do início ao fim e marcou a TV brasileira. Última novela da trilogia do autor no horário nobre (à época) sobre o interior do Brasil, iniciada com Pantanal (1990) e Renascer (1993). Benedito voltou à temática em 2016, com Velho Chico.

Parte da aceitação do público deveu-se aos personagens carismáticos e ricos, com várias camadas. Com uma estrutura bem distante do maniqueísmo, tão comum aos folhetins, O Rei do Gado não tinha necessariamente vilões ou mocinhos, mas personagens tão bem construídos que ficava impossível para o público não se envolver com todos os ângulos da história proposta por Benedito Ruy Barbosa.

“Mezenga e Berdinazzi eram adversários e o telespectador gostava dos dois, nunca deles separados. Então o segredo do sucesso não era o ruim ou o bom, mas porque eles não se entendiam”, afirmou Antônio Fagundes a Flávio Ricco e José Armando Vannucci, para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”.

Novela premiada

O Rei do Gado foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1996, enquanto Raul Cortez levou o prêmio de melhor ator.

Pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Raul Cortez foi eleito o melhor ator do ano na TV, Leonardo Brício o melhor ator coadjuvante, Walderez de Barros a melhor atriz coadjuvante e Caco Ciocler a revelação masculina na televisão. Tarcísio Meira ganhou um prêmio especial.

O Rei do Gado recebeu o Certificado de Honra ao Mérito no San Francisco International Film Festival, concorrendo com 1525 produções de 62 países.

A primeira fase da novela foi especialmente transformada em minissérie para o Festival Banff, do Canadá, em que foi selecionada como obra hors-concours.

Primeira fase

A emocionante primeira fase – uma espécie de “Romeu e Julieta” tendo como pano de fundo a decadência do ciclo do café e a inserção do Brasil na Segunda Guerra Mundial – foi um dos melhores momentos de nossa Teledramaturgia. Era uma história à parte, separada da fase definitiva, ainda que mostrasse os antecedentes dos personagens.

A direção geral e concepção estética foi do meticuloso Luiz Fernando Carvalho. Ares operísticos com elementos do teatro e da narrativa audiovisual em uma fotografia cinematográfica.

A segunda fase mostrou a modernização e a riqueza do interior paulista por meio da cidade de Ribeirão Preto. A capital paulista e a região do Araguaia também serviram de cenário para a trama.

Antecedentes

“Rei do Gado” já era um apelido que Benedito Ruy Barbosa ouvia há muito tempo, de suas viagens pelo interior do país, sempre se referindo a grandes criadores de gado. O autor já havia usado para designar José Leôncio, protagonista de sua novela Pantanal (1990), da TV Manchete (vivido por Cláudio Marzo).

A princípio, a novela estava cotada para substituir A Próxima Vítima, no segundo semestre de 1995, um dos motivos pelos quais o diretor Luiz Fernando Carvalho deixou a produção das seis, o remake de Irmãos Coragem – para cuidar da nova trama de Benedito Ruy Barbosa. Porém, a Globo avaliou que, diante de tantas críticas ao núcleo italiano caricato de A Próxima Vítima, não seria aquele um bom momento para outra novela sobre italianos. Assim, O Rei do Gado foi programada para vir após Explode Coração, que substituiu A Próxima Vítima.

Contudo, um novo rearranjo acabou acontecendo. O Rei do Gado deveria estrear em maio de 1996, após Explode Coração, mas houve um atraso em sua produção. A hipótese de espichar a trama de Glória Perez chegou a ser cogitada, mas a emissora a descartou, pois tinha assumido o compromisso de liberar a novelista em maio para o julgamento dos acusados do assassinato de sua filha, a atriz Daniella Perez (assassinato ocorrido em 1992). A solução foi um tapa-buraco: a mininovela O Fim do Mundo, um texto que Dias Gomes havia escrito para ser lançado como uma minissérie. Assim, O Fim do Mundo foi exibida em 35 capítulos até que O Rei do Gado pudesse estrear com folga, em junho de 1996.

Atriz frustrada

Na época, ficou notória a frustração de Glória Pires com sua personagem em O Rei do Gado, Rafaela, que fingia ser Marieta Berdinazzi, a sobrinha desaparecida de Geremias (Raul Cortez).

“Eu aceitei confiando plenamente em Benedito, porque tínhamos trabalhado em Cabocla [1979]. Houve algum problema, porque ele não desenvolveu a personagem como havia falado. É horrível quando você espera algo que não vem”, desabafou a atriz em sua biografia “40 Anos de Glória” (escrita por Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti).

Totalmente sem rumo na trama, a personagem teve um desfecho medíocre, terminando desnorteada em uma fazenda que o tio dá a ela em consideração pela avó da moça, a italiana com quem seu irmão Bruno se casara nos anos 1940, e especialmente em troca da manutenção do segredo em torno da morte do advogado Fausto (Jairo Mattos), assassinado pelo próprio Geremias. O fazendeiro vingou a morte do leal empregado e amigo Olegário (Rogério Márcico), morto por Fausto.

“Arregacei as mangas e levei a missão até o fim, dignamente. Foi o que me restou fazer”, completou Glória Pires.

Elenco

Antônio Fagundes, Raul Cortez e Carlos Vereza interpretaram tipos que marcaram suas carreiras: Bruno Mezenga, Geremias Berdinazzi e o Senador Roberto Caxias, respectivamente.

Para viver o protagonista Bruno Mezenga, Antônio Fagundes passou um tempo no Araguaia (no Mato Grosso), para se inspirar, bem como outros atores do elenco. Foi lá que o ator descobriu como interpretar seu personagem, conforme narrou ao Memória Globo:
“Eu conheci um cidadão chamado Gui, que era dono de uma fazenda. Quando eu olhei para ele, eu falei: ‘É o rei do gado.’ Porque ele tinha a roupa igual ao meu figurino, o cabelo grisalho penteado para trás, era gordinho e falava com sotaque. Eu pensei: ‘Vou fazer esse cara.’”

Patrícia Pillar passou dez dias entre os cortadores de cana para compor sua bela e forte Luana, personagem pela qual foi muito elogiada.

Fábio Assunção, então com 25 anos, teve seu primeiro grande momento na TV, como o rebelde Marcos Mezenga.

Silvia Pfeifer, no papel da infiel Leia Mezenga, recebeu críticas pela sua interpretação, mas conquistou o público. Com o passar do tempo, Leia tornou-se um ícone das personagens de novelas, seja pelos belos figurinos ou pela caracterização (loura oxigenada), um tanto caricata.

Primeira novela na Globo de Marcello Antony, Caco Ciocler, Mariana Lima, Lavínia Vlasak e Emílio Orciollo Neto.

O Rei do Gado foi a primeira novela inteira (com uma personagem fixa) da veterana atriz Walderez de Barros na Globo (no ano anterior ela fez uma participação em Cara e Coroa). A atriz aceitou o convite do diretor Luiz Fernando Carvalho para viver Judite, a empregada de Geremias Berdinazzi (Raul Cortez), com quem ele se envolve no final. A personagem começou pequena na trama e foi crescendo aos poucos e ganhando a simpatia e a torcida do público.

Já Ana Rosa, que interpretou Maria Rosa, mulher do Senador Caxias (Carlos Vereza), quase não entrou na novela. A atriz enfrentava o luto de sua filha, Ana Luísa, que faleceu em novembro de 1995, às vésperas de completar 19 anos.
“Meu mundo ruiu. Eu não tinha vontade de trabalhar. Recusei o primeiro convite feito pelo Luiz Fernando Carvalho, mas a produção me ligou mais duas vezes”, contou a atriz ao livro “Biografia da Televisão Brasileira”. O diretor insistiu e ficou impossível recusar a proposta.

Alguns atores se submeteram a laboratórios intensos antes da novela. Para comporem suas personagens, Letícia Spiller e Patrícia Pillar foram trabalhadas por Gisela Rodrigues, atriz e bailarina, na época professora e pesquisadora do Departamento de Artes Corporais da Unicamp. Leonardo Brício, Caco Ciocler, Manoel Boucinhas e Marcello Antony também fizeram laboratórios, sob coordenação do diretor Emílio di Biasi. Eles foram para a região de Amparo (SP) e tiveram várias aulas com os colonos locais. Aprenderam a montar, cavalgar, bater feijão, colher café e tudo mais que precisavam para interpretar rapazes da roça.

Participações especiais dos senadores Eduardo Suplicy e Benedita da Silva, que gravaram para o funeral do Senador Caxias (Carlos Vereza).

Abordagens

A Reforma Agrária, a vida dos trabalhadores do Movimento dos Sem Terra (MST) e a luta pela posse de terras foram amplamente discutidos na novela e tiveram grande repercussão na mídia e na sociedade em geral.

O Rei do Gado estreou dois meses após a morte de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (PA), fato que tomou conta do noticiário da época e gerou muita discussão.
“Um dia, o Boni me ligou muito bravo porque eu coloquei os sem-terra na trama. Ele queria saber o porquê de não aparecer essa informação na sinopse”, disse Benedito Ruy Barbosa para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”.
Depois de uma longa explicação e do compromisso de tratar da temática com cautela, o autor recebeu o sinal verde para continuar o trabalho nesse núcleo.

No auge da repercussão sobre o MST, Benedito recebeu um cartão em casa, sem assinatura, em tom de ameaça: “Parabéns pelo que você arranjou. Sou fazendeiro e se aparecer alguém aqui como os de sua novela, aumento o muro três metros para ninguém sair mais.”
O autor sabia que, ao abordar a questão das grandes propriedades destinadas à criação de gado, não poderia deixar de citar a tão sonhada reforma agrária.
“A novela ajudou a fazer as pessoas nos olharem de maneira diferente. Nos deu status de cidadãos”, disse o presidente do MST na época, João Pedro Stédile.

Ao ser convidado para representar o Brasil em um congresso internacional de teledramaturgia em Berlim, Benedito discursou sobre reforma agrária.
“O presidente da Fundação Konrad Adenauer havia assistido a alguns trechos de O Rei do Gado e me convidou para falar sobre o tema na Alemanha. Pedi a ele que convidasse o então ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann. Aí ele respondeu: ‘Mas eu não quero o Jungmann, quero você!’ Foi então que eu fiz uma palestra sobre reforma agrária. Levei 45 minutos de O Rei do Gado só com a participação dos sem-terra. As pessoas ficaram maravilhadas. Pensaram que fosse cinema”, disse o autor a André Bernardo e Cíntia Lopes para o livro “A Seguir Cenas do Próximo Capítulo”.

Benedito Ruy Barbosa recebeu inúmeras críticas de políticos por causa da forma como mostrava ao telespectador o trabalho dos parlamentares. Em uma marcante cena da novela, o Senador Caxias (Carlos Vereza) fez um discurso emocionado sobre os sem-terra enquanto no plenário havia apenas três senadores: um cochilando, outro lendo jornal e o terceiro falando ao celular. No dia seguinte, o então senador Ney Suassuna subiu à tribuna do senado para protestar contra o que classificou como “distorção da realidade”. Segundo ele, a cena induzia a população a acreditar que não havia senadores honestos no país.

As cenas em que Ralf (Oscar Magrini) espanca Leia Mezenga (Silvia Pfeifer) chamaram a atenção dos telespectadores para um tema até então pouco explorado em telenovelas: a violência doméstica.

Fotografia

Luiz Fernando Carvalho dirigiu sozinho toda a primeira fase. Só na segunda, passou a dividir o trabalho com Carlos Araújo, Emílio di Biasi e José Luiz Villamarim.
Reforçando o estilo cinematográfico do diretor, a novela contou com a fotografia de Walter Carvalho, um dos mais prestigiados fotógrafos de cinema do país.

Para dar o tratamento da luz na primeira fase da novela, Luiz Fernando contou que se inspirou em pinturas italianas, do final do século 19 até a Era Romântica. A intenção era captar a atmosfera dos imigrantes do interior de São Paulo na década de 1940. Segundo o diretor, em vez da luz dilacerada, de cores fortes e altos contrastes de Renascer (1993), quando estudou pintores baianos, em O Rei do Gado a luz criava uma atmosfera mais tênue, clara, sem muitos claros e escuros.
“Tinha que passar a impressão de que a luz tem cheiro, um perfume, não é ardida, não bate no rosto da pessoa, mas perfuma, como se estivesse em volta dela, e não sobre ela”, afirmou ele na época do lançamento da novela.

Locações e cenografia

Na primeira fase da história, foram exibidas cenas passadas durante a Segunda Guerra Mundial. A equipe da novela viajou à cidade de Craco, uma das regiões mais pobres da Itália. Lá, foram reconstituídas cenas de batalhas, com cerca de 300 figurantes. As sequências foram filmadas em película 16mm, própria para cinema, e em preto-e-branco. Na Itália, também foram feitas tomadas em Guardiã Perticara e no monumento aos pracinhas brasileiros, na Toscana.

Para as gravações de O Rei do Gado, além da cidade cenográfica construída no Projac, foram utilizados pelo menos cinco polos de produção: Itapira, Ribeirão Preto e Amparo (SP), Guaxupé (MG) e Aruanã (GO), por onde se espalhavam as fazendas usadas como locação.

A sede da maior fazenda de Bruno Mezenga foi construída na cidade cenográfica, no Projac. Era, até então, a maior casa já feita pelo cenógrafo Raul Travassos, idealizada para gravações externas e internas. Contava com dois pavimentos de 600m² de construção. Só as paredes eram cenográficas, mesmo assim ganharam revestimento de argamassa. O chão era de pedra e tijolo, as vigas de maçaranduba, o teto de pau do mato e eucalipto, e portas e janelas foram feitos com madeira de demolição.

As paisagens bucólicas da região do Araguaia, onde ficava uma das fazendas de Bruno Mezenga, encantaram os telespectadores. A área é formada por ecossistemas típicos do Pantanal, da Floresta Amazônica e do Cerrado, abrigando extensa diversidade de flora e fauna. (Site Memória Globo)

Trilha sonora

A trilha sonora volume 1 de O Rei do Gado (com a foto de Patrícia Pillar na capa) é a mais vendida da história entre trilhas de novelas, juntando LPs, K7s e CDs. Foram 2.122.093 cópias, suplantando o recorde anterior, a trilha internacional da novela O Salvador da Pátria, de 1989. (fonte: Vincent Villari)

Foi uma época em que os “bolachões” (os LPs) estavam baratos porque os CDs já haviam se popularizado. Os discos de vinil para trilhas de novelas foram abolidos no ano seguinte, em 1997 (“A Indomada volume 1” foi o último).

A trilha sonora volume 2 de O Rei do Gado era composta, em sua maioria, por gravações da fictícia dupla sertaneja Pirilampo e Saracura, vivida na novela por Almir Sater e Sérgio Reis.

Exibições

A novela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo em três ocasiões: entre 15/03 e 13/08/1999, entre 12/01 e 07/08/2015 e entre 07/11/2022 e 02/06/2023.
O sucesso da segunda reprise – uma das maiores audiências da faixa vespertina na década de 2010 – é curioso pelo fato de, à época, a novela já ser considerada velha: 19 anos separavam a exibição original da segunda reexibição.

Reprisada também no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo), entre 09/02 e 30/11/2011, às 16h30.

O Rei do Gado foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 29/11/2021 – apesar de já constar na plataforma a versão editada do Vale a Pena Ver de Novo.

Mensagem final

Na última cena, sobe – sobre milhares de pés de café, lavouras de soja, milho e cana de açúcar – um letreiro que diz:
“Deus, quando fez o mundo, não deu terra para ninguém, porque todos os que aqui nascem são seus filhos. Mas só merece a terra aquele que a faz produzir, para si e para os seus semelhantes. O melhor adubo da terra é o suor daqueles que trabalham nela.”
E a câmera volta em Bruno Mezenga e Geremias Berdinazzi, em meio àquele imenso cafezal, como se os dois estivessem discutindo, e deixa a pergunta “Vai começar tudo de novo?”, em referência à eterna briga dos dois antagonistas.

Trilha sonora volume 1

01. REI DO GADO – Orquestra da Terra (tema de abertura)
02. CORAÇÃO SERTANEJO – Chitãozinho & Xororó (tema de Bruno Mezenga)
03. ADMIRÁVEL GADO NOVO – Zé Ramalho (tema do núcleo dos sem-terra)
04. LA FORZA DELLA VITA – Renato Russo (tema do Senador Caxias)
05. EU TE AMO, TE AMO, TE AMO – Roberta Miranda (tema de Leia Mezenga)
06. CORRENTEZA – Djavan (tema de Luana)
07. À PRIMEIRA VISTA – Daniela Mercury (tema de Marcos e Liliana)
08. SEM MEDO DE SER FELIZ – Zezé Di Camargo & Luciano (tema de Ralf)
09. DOCE MISTÉRIO – Leandro & Leonardo (tema de Lia e Pirilampo)
10. VAQUEIRO DE PROFISSÃO – Jair Rodrigues (tema de Zé do Araguaia)
11. THE WOMAN IN ME (NEEDS THE MAN IN YOU) – Shania Twain (tema de Suzane)
12. O QUE VEM A SER FELICIDADE – Orlando Moraes (participação de Dominguinhos) (tema de Rafaela)
13. CIDADE GRANDE – Metrópole
14. CAMINHANDO SÓ – Evara Zan

Sonoplastia: Aroldo Barros
Produção musical: André Sperling
Direção musical: Mariozinho Rocha

Trilha sonora volume 2

01. CABECINHA NO OMBRO – Pirilampo & Saracura
02. MIA GIOCONDA – Chrystian & Ralf (participação de Agnaldo Rayol) (tema de Geremias Berdinazzi)
03. PIRILUME – João Paulo & Daniel
04. NO FIM DO ASFALTO – Orquestra da Terra
05. CORTANDO ESTRADÃO – Pirilampo & Saracura
06. VAGABUNDO – Pirilampo & Saracura
07. SIA MARIQUINHA – Dominguinhos
08. BRASIL POEIRA – Pirilampo & Saracura
09. BOIADEIRO ERRANTE – Pirilampo & Saracura
10. TRAVESSIA DO RIO ARAGUAIA – Pirilampo & Saracura
11. VOCÊ VAI GOSTAR – Pirilampo & Saracura
12. REI DO GADO – Pirilampo & Saracura

Direção artística: Aramis Barros
Produção: Benedito Ruy Barbosa
Arranjos: André Sperling

Tema de abertura: REI DO GADO – Orquestra da Terra

Sou desse chão
Onde o rei é peão
Com um laço na mão
Luta, fere, marca
Deixando a ilusão
De que tudo é seu
Com coragem de quem
Vive, luta, sonha

Ser mais feliz e quem sabe será
Voam livres pensamentos seus
Que vão pelo ar ou fazem sonhar
E sentir-se um Deus

Sou desse chão
Sou da terra a raiz
Sou a relva do campo
E prá sempre serei
Sou esse rei
Sou peão laçador
Do sertão sou senhor
Mas por força da lei

Ser mais feliz e quem sabe serei
Voam livres pensamentos meus
Que vão pelo ar ou fazem sonhar
E sentir-me um Deus…

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