Foto: divulgação

Eu fiquei muito triste com a morte de Fernanda Young (neste domingo, 25/08). Já a conhecíamos de sua passagem pelo Saia Justa, sempre provocadora, fazendo jus ao nome do programa, inclusive. Fernanda tinha essa grande qualidade, de provocar, de despertar ideias. Não era uma pessoa que passava desapercebida, nem visualmente, nem por meio da comunicação, verbal ou escrita.

Sabia que, atriz, ela participou de uma única novela, aos 21 anos? Em um papel diminuto, de raras falas, mas que também não passava desapercebido: foi Jurema, uma séria governanta, quase soturna, na casa da personagem de Glória Pires, em O Dono do Mundo (1991).

Porém, foi escrevendo que Fernanda revelou-se. Pela escrita é que, não só tomamos conhecimento dela, como também ficamos íntimos de suas ideias e pensamento. Quem viu ao menos Os Normais (e, convenhamos, todo mundo viu), identificou-se com as loucuras de Rui e Vani – afinal, todos somos “normais”, não é mesmo?

O diferencial do texto de Fernanda Young e seu marido Alexandre Machado foi exteriorizar e escancarar a maluquice inerente a todo ser humano, fazendo-nos rir de nossos próprios dramas e neuroses, seja por meio da comédia nonsense ou da tragicomédia. Essa verve esteve presente em toda obra de Fernanda, dos livros aos programas de televisão.

Pesquisando sobre seus trabalhos, descobri (feliz) que ela fez parte da equipe de roteiristas de 4 episódios da série A Comédia da Vida Privada: “Sexo na Cabeça”, “Menino ou Menina”, “O Pesadelo da Casa Própria” e “O Grande Amor de Minha Vida”. Como era bom esse programa! Depois veio Os Normais e “o resto é história”.

Ficam órfãos de mãe Rui, Vani, Aguinaldo, Karin, Tales, Jorge Horácio, Jéssica, Abel Zebu, Rita, Enzo e tantas outras crias ficcionais. Como criaturas, todos carregavam algo da autora. Ao longo dos anos, os personagens de Fernanda Young tornaram-se nossos amigos íntimos. E era tão fácil nos enxergarmos neles! Um espelho!

Até a conheci pessoalmente, fomos apresentados em um coletiva de imprensa. Pela época de Shippados, ela agradeceu carinhosamente um texto que escrevi sobre sua série. Mesmo tendo trocado poucas palavras, eu a sentia como uma conhecida de longa data – por meio de seus personagens, que enxergava como amigos ou como reflexo de mim mesmo.

Fernanda não precisou, como uma atriz de novela, entrar em nossa casa diariamente para que achássemos que fosse íntima, que fizesse parte de nossa família. Seu texto e seus personagens fizeram o público se sentir íntimo dela.

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