Mouhamed Harfouch, Verônica Debom e Marcelo Médici (Foto: Paulo Belote/TV Globo)

Paralelo ao drama dos refugiados de “Órfãos da Terra“, um núcleo de humor tem chamado a atenção e arrancado elogios de todos os lados. O melhor alívio cômico da novela de Thelma Guedes e Duca Rachid está nas confusões românticas de um quarteto, aparentemente disfuncional, que antagoniza árabes e judeus.

O descendente de árabes Ali (Mouhamed Harfouch) é apaixonado por Sara (Verônica Debom), neta de judeus, e ela por ele. Porém, neste momento, Sara, em amnésia, não recorda de sua paixão por Ali. Quem tenta tirar proveito da situação é o bonachão Abner (Marcelo Médici), que, a princípio, detestava Sara e era correspondido em antipatia na mesma proporção, apesar das famílias judias dele e dela torcerem por um matrimônio. Com a amnésia de Sara, Abner, agora caidinho por ela, a faz acreditar que os dois se amam e a coloca contra Ali.

Osmar Prado, Betty Gofman e Verônica Debom (Foto: divulgação/TV Globo)

O quadrilátero se fecha com a temperamental Latifa (Luana Martau), palestina que veio ao Brasil para casar com Ali, por meio de um plano do árabe Mamede (Flávio Migliaccio), avô do rapaz, de afastá-lo da família judia de Sara – com quem o velho vive implicando, principalmente com o avô dela, Bóris (Osmar Prado). Alheios à rivalidade dos vizinhos rabugentos – mas sempre usados por eles como pivô de suas brigas – estão os mascotes do núcleo: Salomé, a dogue alemã de Bóris, e Sultão, o chihuahua de Mamede.

Eis um núcleo “redondo”, a melhor trama paralela de “Órfãos da Terra“. O fuzuê entre os árabes e judeus da novela se apoia no texto divertido das autoras e na sintonia do elenco – que se completa com Ester (Nicette Bruno), a mãe judia de Abner, passional e controladora; Eva (Betty Gofman), mãe de Sara e filha de Bóris; e Muna (Lola Fanucci), irmã de Ali, professora de dança do ventre.

Salomé e Sultão (foto: divulgação)

São personagens tão bem desenvolvidos e interpretados que poderiam extrapolar a novela: renderiam uma ótima sitcom, em episódios fechados, uma série de humor na linha de “A Grande Família” e “Tapas e Beijos“. Os enlaces entre Sara, Ali, Abner e Latifa, com o apoio de Mamede, Bóris, Ester, Eva, Muna, Salomé e Sultão, lembram desenhos animados e séries de humor sobre famílias, muito comuns na televisão entre as décadas de 1960 e 1970.

Os conflitos entre judeus e árabes são retratados em “Órfãos da Terra” com leveza e respeito, sem subestimar o público com piadocas óbvias ou reforçar velhos estereótipos que depreciam os dois povos e suas questões políticas e culturais. O máximo que se permite o texto é o estereótipo da mãe judia: Ester, de Nicette Bruno, extremamente dominadora na relação com o filho. Os sotaques de Mamede, Bóris e Ester são carregados –  naturalmente, já que são imigrantes – e tornam tudo ainda mais saboroso.

Mouhamed Harfouch, Flávio Migliaccio e Lola Fanucci (Foto: Paulo Belote/TV Globo)

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