Partido Alto

O professor MAURÍCIO (Cláudio Marzo) é um homem íntegro, justo e corajoso. De ideais humanistas, leciona História e está sempre preocupado com os problemas da sociedade. Ao acusar um fabricante de bombom de envenenamento, acaba envolvido em uma trama de roubo e assassinatos, acusado de crimes que não cometeu.

– núcleo de ISADORA (Elizabeth Savala), mulher bonita e sensível, mas infeliz no casamento. Após romper com o marido, parte para a difícil tarefa de recomeçar. Conhece o professor Maurício, por quem se apaixona, apesar de viver um dilema, já que seu pai o considera um inimigo. Foi criada pelo pai e a tia acreditando ter sido rejeitada pela mãe, de quem não tem nenhuma lembrança:
o marido SÉRGIO (Herson Capri), de quem acaba se separando. Homem bonito e mulherengo. Mau-caráter, metido em negócios escusos, o dinheiro é o que mais lhe importa
o pai AMOEDO (Rubens Corrêa), rico industrial, fabrica o famoso bombom “Vida Minha”, carro-chefe de seus negócios. Homem introspectivo, conservador e intransigente, esconde da filha informações sobre sua mãe. Declara guerra contra Maurício quando ele acusa seu bombom de ter provocado a morte de algumas pessoas
a tia CECÍLIA (Eva Todor), irmã de Amoedo, foi quem a criou com amor de mãe. Mulher alegre, extrovertida, é o oposto do irmão. Apaziguadora, está sempre tentando colocar “panos quentes” nas situações delicadas da família
o melhor amigo de Amoedo, AGOSTINHO (Percy Aires), seu braço-direito nas empresas, mantem uma relação de intimidade com a sua família. Esconde de todos que no passado tivera um envolvimento com a mulher de seu amigo
o filho pequeno ANDRÉ (Marcelo Peniche), torna-se objeto de disputa após a separação do casal
a empregada ROSA (Lucy Mafra)
a secretária na empresa de Amoedo, THELMA (Carmem Figueira)
o copeiro no apartamento de Amoedo, EDMAR.

– núcleo de NANCI (Lílian Lemmertz), mulher humilde e batalhadora, no passado casou-se com Amoedo, seu patrão, com quem teve a filha Isadora. Porém, quando Isadora ainda era pequena, Amoedo descobriu uma aproximação de Nanci com um antigo namorado e a expulsou de casa, sem saber que ela estava grávida. Amoedo proibiu Nanci de ter contato com a filha. O tempo passou, Nanci criou o filho sozinha, com dificuldade, e hoje vive no bairro do Encantado, Zona Norte do Rio de Janeiro, e costura para sobreviver. Sonha com uma aproximação com a filha:
o filho FERNANDO (Roberto Bataglin), a quem ela nunca revelou seu passado, nem a identidade de seu pai, e nem que tem uma irmã. Criado sob sua vigilância, é um bom rapaz, atleta que se prepara para competir na Olimpíada, embora precise de um patrocinador
a irmã SULAMITA (Marilu Bueno), mulher despachada, vaidosa, sem papas na língua e provocadora. Não se conforma com a situação da irmã e a incentiva a tomar uma resolução frente aos seus problemas.

– núcleo de CÉLIO CRUZ (Raul Cortez), banqueiro do jogo do bicho no Encantado, onde é respeitado como um rei. Presidente de honra da escola de samba Acadêmicos do Encantado. Metido com contravenção e bandidos, é vaidoso, obcecado por ouro e vive ostentando suas joias. Está envolvido no roubo da coroa de um museu, mas culpa Maurício:
a mulher ISILDINHA (Célia Helena), doce e ponderada. A princípio, parece apagada, fazendo vista grossa às atividades ilícitas do marido, inclusive às suas supostas traições. Percebe tudo o que acontece à sua volta e, em nome do casamento e da família, impõe limites ao marido
os filhos: CELINA (Glória Pires), garota de personalidade forte, sempre em conflito com o pai por não aceitar seu envolvimento com a contravenção. No início, namora Fernando, mas os dois logo terminam quando descobre-se apaixonada por Maurício, seu professor na faculdade. Vive um dilema já que, para defender Maurício, precisa incriminar seu pai,
e FELIPE (Luís Felipe de Lima), educado para ser o substituto do pai, mas sua vocação é o bandolim, o que decepciona o bicheiro. Tem o temperamento mais doce que o da irmã
o secretário REGINALDO (Milton Gonçalves), seu homem de confiança. Fiel ao patrão, faz tudo para corresponder às suas expectativas
o inimigo TURQUINHO DO MÉIER (Fábio Sabag), bicheiro rival
os funcionários JACARÉ (Antônio Pitanga) e ZÉ PRETINHO (Cosme dos Santos)
o copeiro GENI (João Vieitas).

– núcleo de JUSSARA (Betty Faria), manicure, bela morena, destaque e porta-bandeira da escola de samba Acadêmicos do Encantado, dirigida por Célio Cruz, seu protetor. Alvo dos presentes e mimos do bicheiro, é motivo dos comentários da vizinhança. É assediada pelo ex-cunhado. Recebe em casa um presente de grego: a coroa roubada do museu por seu ex-marido, um bandido que acabara de morrer:
o filho pequeno JORGINHO (Raphael Alvarez), garoto super protegido pela mãe
o pai de Jorginho, ESCADINHA (Ney Latorraca, participação), bandido que cumpriu pena após oito anos e está de volta, disposto a retomar sua relação com Jussara. Envolvido no roubo da coroa do museu, acaba morrendo com um bombom envenenado
o irmão de Escadinha, PISCINA (José Mayer), nutre uma paixão antiga por ela. É um compositor frustrado, que sempre concorre ao concurso para samba-enredo, sem conseguir vencer por conta da gagueira que o ataca quando tenta cantar. Quer vingar a morte do irmão e sabe que Célio Cruz tem culpa
a noiva de Piscina, no início, CREUZA (Eliane Maia), trabalha como diarista na casa de Maurício. Piscina acaba rompendo o noivado quando decide assumir sua relação com Jussara.

– núcleo de IRENE (Norma Benguell), mulher separada em constante atrito com o ex-marido, que atrasa a pensão, o que a deixa em dificuldades financeiras. Tenta se colocar no mercado de trabalho como cantora. Vai se apaixonar por Fernando e enfrentar uma série de preconceitos, por ele ter idade para ser seu filho:
os filhos: MARCOS (André de Biasi), rapaz esportivo, meio inconsequente, aficionado por surfe,
e MALU (Carla Daniel), moça romântica, tímida e insegura, o oposto do irmão. Acha que está apaixonada por Fernando e acaba disputando-o com a mãe
o amigo EDU (Edney Giovenazzi), homem refinado, dono do Lugar Comum, badalado bar na Zona Sul. Foi seu namorado no passado e tenta uma reaproximação, sem sucesso. Oferece-lhe emprego como cantora em seu bar.
a fotógrafa SU (Bia Sion), freelancer que está sempre no bar de Edu. Envolve-se com Marcos e os dois acabam se casando.

– núcleo de ZÉ LUÍS (Jonas Mello), melhor amigo de Sérgio, seu sócio em uma empresa de tubulações. Pai de Marcos e Malu, foi o primeiro marido de Irene. Faz todas as vontades da atual mulher, mas vive atrasando a pensão que deveria pagar à ex:
a atual mulher GILDA (Susana Vieira), nova rica deslumbrada, fútil, supersticiosa e mística. Gasta o dinheiro do marido compulsivamente, inclusive com um guru particular
o personal guru de Gilda, POLÍBIO (Guilherme Karan), na verdade um impostor, interessado em lhe arrancar dinheiro. Exerce forte influência sobre Gilda, acompanhando-a e determinando grande parte do seu comportamento. É sobrinho do bicheiro Turquinho do Méier, laço que esconde de todos
o secretário de Políbio, RAPOSO (Guaracy Valente), comparsa em seus golpes
a empregada DÉIA (Ângela Rabelo), fã da patroa Gilda
a secretária no escritório de Zé Luís e Sérgio, DILMA (Eliana Bittencourt).

– núcleo de WERNER (Kadu Moliterno), rapaz rico e esportista, melhor amigo de Marcos, seu parceiro de surfe. Disputado pelas mulheres, mas foge de relacionamentos. Até conhecer e apaixonar-se por Celina, com quem se encanta:
a namorada no início SELMA (Christiane Torloni), bela e charmosa, ardilosa e interesseira. Persegue Werner cobrando-lhe casamento, mas ele foge dessa ideia. No início, amiga de Gilda e parcialmente amiga de Irene e Isadora. Acaba se envolvendo com Sérgio e torna-se cúmplice de seus crimes
a empregada COSME (Marise Cigani).

– núcleo de DA MATTA (Paulo César Pereio), escritor famoso que retira do amor emoções puramente literárias. Na vida prática, não passa de um conquistador cínico. Cada mulher funciona como matéria-prima para a elaboração de mais uma heroína de seus romances. Sente-se atraído por Isadora. Sabe mais sobre o roubo da coroa do que se imagina, assunto que é tema de seu próximo romance:
a namorada no início LAURA (Débora Duarte), sua empresária, mas que ele trata também como secretária, empregada doméstica e babá. Refinada, mas ciumenta, perde a classe quando se sente ameaçada por suas conquistas.

– núcleo de JESUS (Germano Filho), contínuo do Ministério do Trabalho, vive a vida calado. Submisso à mulher megera, que sempre o humilha, e indiferente com relação às filhas, duas pestes que vivem brigando:
a mulher IARA (Ilva Niño), que vive lhe azucrinando, mandando calar boca, mesmo ele permanecendo calado. Faladeira, fofoqueira e enxerida, está presente em todos os acontecimentos do bairro do Encantado
as filhas, que vivem em pé de guerra: CIDINHA (Elizângela), a beldade do subúrbio, para quem a mãe tem planos de um bom casamento (com algum rapaz com dinheiro). Interesseira, desinibida e provocadora,
e SALETE (Cininha de Paula), o patinho feio, se sente preterida pela irmã, mais bonita, o que gera muitos conflitos. Engana os pais agindo como se incorporasse espíritos, para ter atenção e tirar proveitos próprios. Mas a irmã sabe que é mentira, o que sempre acaba em brigas.

– núcleo de KLEBER (Mário César Camargo), viúvo, dono de um boteco no Encantado. Vigia a filha adolescente, podando-a o máximo que pode. Vive assediando Sulamita, que o despreza. Um tipo covarde, morre de medo da polícia, porque o bandido Escadinha morreu em seu bar após comer um bombom envenenado:
a filha única ZEZINHA (Neusa Caribé), que recebeu do pai uma educação austera. Namora Felipe, por quem é apaixonada, mas vive tentando burlar a vigilância do pai, que a acha muito criança para namorar.

– demais personagens:
MR. SOUL (Arnaud Rodrigues), dançarino de break, dono de uma equipe de som, a Funk Discotéque. Comunica-se com gírias e metade de suas palavras é em inglês. Munido de uma parafernália sonora, organiza bailes animadíssimos no Furacão 2000, com um jeito louco e exótico
GENILSON (Roberto Bonfim), no início, é vigia no museu de onde foi roubada a coroa. Mancomunado com Da Matta, chega ao Encantado para investigar Jussara, ex-mulher de Escadinha. Envolve-se com as irmãs Cidinha e Salete
AMARAL (Gilson Moura), bandido que estava preso com Escadinha, foi seu parceiro no roubo da coroa e, como ele, acabou vítima de um bombom envenenado
MANOELA (Nélia Paula), mulher de Amaral, quer saber a verdade sobre a sua morte. Trabalha como faz-tudo no Encantado, de serviços de pintura e elétrica até pequenas reformas
DELEGADO MARCO DAMIANO (Tony Ferreira), investiga a denúncia de Maurício contra a indústria de Amoedo, fabricante de bombons, e as mortes pelo bombom envenenado. Depois passa a investigar as acusações contra Maurício, inclusive o roubo da coroa.

Antecedentes

O ano era 1984. Em fevereiro, em uma ação inédita, a TV Globo deixou de transmitir os desfiles do carnaval carioca, o que gerou uma série de críticas, além de ter feito a emissora levar bomba da concorrente TV Manchete, que exibiu os desfiles e venceu no Ibope.

A cultura do jogo do bicho fervilhava nos subúrbios cariocas, com destaque para figuras como o bicheiro Castor de Andrade, de grande influência. Na época, Fábio Barreto rodava o filme O Rei do Rio (lançado no ano seguinte, inspirado na novela Bandeira Dois), com Nuno Leal Maia vivendo um bicheiro poderoso.

Neste contexto, a Globo decidiu apostar sua principal novela, do horário das oito, centrada no subúrbio carioca, com escola de samba e guerra entre bicheiros. De quebra, uma novidade: o breakdance, que se popularizava nas grandes cidades.

O primeiro título pensado para a novela foi Vidas Marcadas, que havia sido o nome de uma novela exibida pela TV Record em 1973.

Novela confusa

Assim Ismael Fernandes se referiu a Partido Alto em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”:
“Confusa atração assinada pela dupla Glória Perez e Aguinaldo Silva. A novela pecava pelo excesso de tramas e pela precariedade de suas soluções.”

Partido Alto começou totalmente truncada, parcialmente culpa da Censura Federal, que cortava cenas. De repente, a trama pareceu entrar nos eixos, mas era perceptível o desacerto entre os autores, a falta de conexão entre as histórias. Com muitos mistérios para o público, a trama continuou confusa.
A novela seguiu indefinida até mais ou menos o centésimo capítulo, quando Glória Perez assumiu sozinha o roteiro e revelou todos os mistérios.

Fernandes continuou: “A falta de sintonia entre os autores ficou evidente. A dupla se desfez e Glória conduziu o texto até o final. Porém, a falta de critério inicial se projetou até o fim.”

A trama ficou mais clara quando a autora elucidou os mistérios. Entretanto, Glória Perez pesou a mão no melodrama rasgado, com demasiado sofrimento para as personagens femininas centrais (Isadora, Jussara e Nanci) e para o protagonista Maurício.

“Só mesmo a Globo com sua produção impecável evitou que a novela se tornasse intolerável”, concluiu Ismael Fernandes.

Briga dos autores

Samba e breakdance se misturam? Pode acontecer! Porém, juntar Glória Perez e Aguinaldo Silva não foi uma ideia feliz.

Glória Perez narrou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo:
“Dias Gomes tinha me recomendado ao Boni, dizendo que eu faria muito bem uma novela para o horário das 18 horas. Mas o Boni queria que eu fizesse a novela das oito, enquanto o Daniel Filho preferia que fosse o Aguinaldo Silva que, mesmo sendo estreante em novelas, tinha mais experiência em televisão (…) Na sala do Boni, insisti muito para ficar com a novela das seis. Eu me sentiria mais segura. E eu e o Aguinaldo não nos conhecíamos e fazer novela em dupla é um casamento difícil (…) Mas decidiram fazer o casamento mesmo assim.”

E ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes):
“Partido Alto foi um casamento arranjado entre duas pessoas que não se conheciam, literalmente, e tinham estilos completamente diferentes. Como não éramos noivos muçulmanos nem indianos, não podia dar certo!”.

Aguinaldo Silva em “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“O Boni resolveu que a próxima novela das oito seria escrita por nós dois. O problema era que a gente sequer se conhecia. Eu conheci a Glória no elevador da Globo no dia em que o Boni nos convidou para uma reunião. (…) Na tal reunião, o Boni disse que queria que escrevêssemos a tal novela juntos. Naquele mesmo dia fizemos uma reunião para criar personagens, estabelecer tramas, etc. Não tínhamos muito tempo. Cada um fazia uma ideia completamente diferente do outro, do que era um roteiro de novela. (…) O método [de escrever] da Glória é completamente diferente, eu diria o oposto até. (…) Aí era um drama porque a gente simplesmente não conseguia trabalhar junto. Como trabalhar junto se ela escreve de um jeito e eu de outro? Então, é claro que essa tensão toda acabou se refletindo na nossa relação. Houve momentos em que a gente não conseguia sequer se falar. Mas não era por problema de egos, e, sim, por incompatibilidade de métodos de trabalho.”

Aguinaldo Silva não foi até o final. Para o livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, o autor contou como saiu de Partido Alto:
“Quando a novela tinha passado um pouco da metade, li no jornal que a TV Globo havia comprado os direitos de “Tenda dos Milagres” [o livro de Jorge Amado] e ia produzir uma minissérie. Imediatamente procurei o Daniel Filho e pedi para fazer. Ele ponderou, mas acabaram me tirando da novela e eu fui escrever a minissérie.”

De acordo com nota no jornal O Globo, de 11/08/1984, Aguinaldo Silva e Glória Perez estiveram juntos até o centésimo capítulo. Após, Glória seguiu com a novela sozinha, enquanto Aguinaldo foi preparar a minissérie Tenda dos Milagres (exibida em 1985). (pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

Censura

Como se não bastasse o elenco gigante e o excesso de tramas e mistérios, que confundiu o público, Partido Alto foi muito prejudicada pela ação da censura do Regime Militar (ainda vigente em 1984), que cortava cenas deixando a história truncada e ainda mais confusa para o telespectador.

Ficaram a desejar as tramas de Jussara (Betty Faria), Célio Cruz (Raul Cortez), Nanci (Lílian Lemmertz) e Maurício (Cláudio Marzo). Personagens bem delineados, fortes e bem defendidos por seus intérpretes. Infelizmente, mal alinhavados no contexto e pelos cortes da censura, que contribuiu muito para o resultado equivocado. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

A Censura Federal proibiu a menção às atividades ilegais de Célio Cruz (Raul Cortez) – o jogo do bicho – e impôs uma mudança de rumo no enredo. E ainda interferiu no último capítulo, que foi modificado: o bicheiro e seu cúmplice Reginaldo (Milton Gonçalves) não fogem para a Europa. No texto reescrito, Célio insinua que a história não está encerrada e indaga ao policial que o prende: “Ainda é possível dialogar?”

Elenco

Primeira novela dos atores Guilherme Karan, Roberto Bataglin e Mário César Camargo, e das atrizes Carla Daniel e Bia Sion.
Primeira novela na Globo do ator Rubens Corrêa.

Alguns atores se destacaram ao criar tipos caricatos, como o bicheiro Célio Cruz de Raul Cortez, a esfuziante Sulamita de Marilu Bueno, o guru de araque Políbio de Guilherme Karan, e o funkeiro Mr. Soul de Arnaud Rodrigues.

Em 1990, Glória Perez promoveu o retorno da despachada Sulamita, de Marilu Bueno, em uma participação de dois capítulos em sua novela Barriga de Aluguel.

Durante a novela, Glória Pires soube que seu nome estava sendo sondado para interpretar Ana Terra na minissérie O Tempo e o Vento, que a Globo pretendia gravar ainda em 1984, para ser lançada no ano seguinte. A atriz interessou-se de imediato pelo papel, mas a autora Glória Perez não aceitou liberá-la, já que sua personagem, Celina, era importante em Partido Alto.
Glória Pires falou pessoalmente com Boni e Daniel Filho e, depois de muitas negociações, ficou decidido que as gravações da novela e da minissérie seriam conciliadas. Assim, no segundo semestre de 1984, Glória Pires gravava, por alguns dias na semana, O Tempo e o Vento, no Rio Grande do Sul e, nos outros dias, Partido Alto, nos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro. (“40 Anos de Glória”, Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti)

Kadu Moliterno e André de Biasi deram início em Partido Alto à parceria que rendeu, no ano seguinte (1985), a série Armação Ilimitada, estrelada pelos atores.

André de Biasi, Percy Aires, Elizângela e Cosme dos Santos mal concluíram seus trabalhos na novela Voltei pra Você e emendaram com Partido Alto, que estreou pouco mais de um mês após o término da novela das seis.

Débora Duarte e Edney Giovenazzi tiveram seus personagens esvaziados na história e deixaram a novela antes do final. Na trama, Laura e Edu saíram de cena no capítulo 70, para uma viagem ao exterior sem volta.
Na sequência, Débora Duarte foi escalada para viver uma das protagonistas da novela substituta no horário, Corpo a Corpo, de Gilberto Braga, enquanto Edney Giovenazzi foi para a próxima novela das seis, Livre para Voar, de Walther Negrão.

Com a saída de Edney Giovenazzi da novela, o bar de seu personagem, um dos principais cenários da trama, também saiu de cena. Tudo fazia parte de uma reformulação na história promovida pelos autores. Deixaram a novela, ainda, os atores Fábio Sabag, Antônio Pitanga, Cosme do Santos (também escalado para Corpo a Corpo) e Eliane Maia (também escalada para Livre para Voar).

Na reformulação, a direção foi trocada: Luís Antônio Piá e Helmar Sérgio foram substituídos por Jayme Monjardim e Carlos Magalhães (creditados na abertura a partir do capítulo 109), ainda sob a direção geral de Roberto Talma.

Um momento divertido no último capítulo: o passivo Jesus (Germano Filho), após passar a novela inteira calado, sem dizer uma só palavra e sendo constantemente humilhado pela esposa megera Iara (Ilva Niño), se revolta contra ela e vai à forra, soltando o verbo e lhe desafiando.

É comum em novelas a direção deixar escapar pequenos lapsos, como o ator errando o nome do outro, muitas vezes chamando um personagem pelo nome do próprio ator com quem está contracenando.
No capítulo 69 de Partido Alto, a direção deixou passar um erro, no mínimo, curioso, na fala da atriz Elizabeth Savala, em um diálogo com Cláudio Marzo. Sua personagem, Isadora, chama Maurício (Marzo) de Ciro, que foi o nome do personagem do ator no trabalho anterior da dupla, Pão-Pão Beijo-Beijo (1983), em que também viveram um par romântico. Cyro (com “y”) é ainda o nome de um dos filhos de Elizabeth Savala.

Samba

O título da novela é uma referência ao partido-alto, estilo de samba surgido no início do século 20 dentro do processo de modernização do samba urbano do Rio de Janeiro.

Para dar vida a Jussara, apaixonada por samba, Betty Faria passou a frequentar assiduamente a quadra da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, onde aprendeu a atuar como porta-bandeira. (Site Memória Globo)

Sandra de Sá gravou especialmente para a abertura da novela “Enredo do Meu Samba”, inspirada composição de Dona Ivone Lara e Jorge Aragão que articula uma série de metáforas carnavalescas para relatar o fim de uma relação amorosa: “… o adereço teve um dez na fantasia / mas perdeu em harmonia / sei que atravessei um mar de alegorias / desclassifiquei o amor de tantas alegrias / agora eu sei / desfilei sob aplausos da ilusão…”

No último capítulo, a fictícia escola de samba Acadêmicos do Encantado desfilava na avenida tendo Jussara como grande destaque, ao som do samba-enredo “E Agora José?”, de autoria de Piscina (José Mayer), composta em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade (na verdade, o samba-enredo é de autoria de Jorge Aragão e Dona Ivone Lara). Porém, o sambista foi assassinado por um capanga de Célio Cruz (Raul Cortez) em pleno desfile e Jussara assistiu a tudo do alto de um carro alegórico sem nada poder fazer.

Para a gravação deste desfile, a produção da novela interrompeu o trânsito da Avenida Rio Branco e organizou um desfile de carnaval, com a participação de mil passistas de seis escolas de samba. Milhares de pessoas assistiram às gravações, que duraram doze horas.

Breakdance e abertura

A novela ajudou a tornar conhecido do grande público o breakdance, por meio de sua abertura e do personagem Mr. Soul, vivido por Arnaud Rodrigues. O breakdance – ou apenas break – é um estilo de dança de rua, parte da cultura do hip hop – criada na década de 1970, em Nova York, por afro-americanos e latinos -, normalmente dançado ao som de hip hop, funk ou breakbeat. No Brasil, começou a ser difundido no início dos anos 1980, nas periferias das grandes cidades.

A abertura, produzida por Hans Donner e sua equipe, reuniu um grupo de sambistas e outro de dançarinos de break – do grupo Funk & Cia, de Nelson Triunfo, expoente do hip hop paulistano. As roupas dos dançarinos de break eram muito coloridas, enquanto a dos sambistas, prateadas. Em dado momento, a roda de break virava roda de samba.

A abertura de Partido Alto foi a mais longa abertura de novela produzida por Hans Donner até então (desde 1975), com 40 segundos a mais do que as anteriores: tinha 1 minuto e 41 segundos de duração. O encerramento, porém, era mais curto que a abertura. (Site Memória Globo)
A mais longa abertura de novela da Globo que se tem conhecimento é da era pré-Hans Donner: Carinhoso (1973-1974), com incríveis 2 minutos e 24 segundos.

Locações

As cenas da faculdade onde o Professor Maurício (Cláudio Marzo) lecionava foram gravadas na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), na Praia Vermelha, bairro da Urca.

Um dos cenários de Partido Alto foi o espaço onde eram realizados os shows da Furacão 2000, equipe de som precursora do funk carioca. Apresentando-se no Furacão 2000, gravaram especialmente para a novela: Agepê, Barão Vermelho, Beth Carvalho, Black Júniors, Jorge Ben, Lulu Santos, Ritchie e os internacionais Jimmy Cliff e Menudos.

O problema da falta de uma linha de ônibus para o bairro Encantado, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi levantado pela autora Gloria Perez. A personagem Sulamita (Marilu Bueno) reclamava que precisava ir até Piedade, bairro vizinho, para tomar uma condução. A exposição do problema levou à criação de uma linha de ônibus para o bairro. (Site Memória Globo)

E mais

Partido Alto foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 10/04/2023.

Trilha sonora nacional

01. BOBOS DA CORTE – Rita Lee
02. ESPELHOS D’AGUA – Dalto (tema de Celina)
03. LEMBRA – Ivan Lins (tema de Isadora)
04. FIO DA NAVALHA – Guilherme Arantes (tema de locação: subúrbio)
05. RETIRO – Paulinho da Viola
06. ME CHAMANDO DE PAIXÃO – Jorge Ben
07. ENREDO DO MEU SAMBA – Sandra Sá (tema de abertura)
08. VINHO – Maria Bethânia (tema de Irene)
09. LARGADO NO MUNDO – Barão Vermelho
10. HORIZONTES – Ângela Maria (tema de Jussara e Piscina)
11. COISA DE NÓS DOIS – Gilliard
12. AMAR COMO EU TE AMEI – Roberto Ribeiro
13. MARIÁ – Robson Jorge & Lincoln Olivetti
14. SENTIMENTOS – Fátima Mello

Direção Musical: Guto Graça Mello
Supervisão de repertório: Francisco Santos Jr.

Trilha sonora internacional

01. PRIMAVERA – Riccardo Cocciante (tema de Irene e Fernando)
02. HELP – Tina Turner
03. HEY DJ – The World’s Famous Supreme Team
04. WHERE’S MY MAN – Eartha Kitt
05. EVEN A FOOL WOULD LET GO – Joe Cocker (tema de Maurício e Isadora)
06. DON’T LET GO – Wang Chung
07. THIS LOVE IS FOREVER – B. J. Thomas (tema de Celina e Werner)
08. IF YOU’RE NOT HERE (BY MY SIDE) – Menudo
09. MISS ME BLIND – Culture Club
10. YOU’RE THE INSPIRATION – Chicago
11. EARTHQUAKE – The Flirtations
12. IF EVER YOU’RE IN MY ARMS AGAIN – Peabo Bryson
13. SELF CONTROL – Raf (Raffaele Riefoli)
14. DREAMS – Black Journey

Supervisão musical: Sérgio Motta

Tema de abertura: ENREDO DO MEU SAMBA – Sandra Sá

Não entendi o enredo desse samba amor
Já desfilei na passarela do teu coração
Gastei a subvenção
Do amor que você me entregou
Passei pro segundo grupo e com razão
Passei pro segundo grupo e com razão

Meu coração carnavalesco não foi mais
E o adereço teve um dez na fantasia
Mas perdeu em harmonia
Sei que atravessei um mar de alegorias
Desclassifiquei o amor de tantas alegrias

Agora eu sei
Desfilei sob aplausos da ilusão
E hoje tenho esse samba de amor no coração
Finda o carnaval
Das cinzas pude perceber
Na apuração perdi você…