Sinopse

Monarquistas e republicanos se defrontam em Araruna, pequena cidade do interior paulista, em 1886, dois anos antes da promulgação da Lei Áurea. A história de amor de Sinhá Moça, filha do Barão de Araruna, ferrenho escravocrata, com o jovem Dr. Rodolfo, um ativo abolicionista republicano, ante as dificuldades da campanha para a abolição de escravizados.

Sinhá Moça e Rodolfo se conhecem no trem, quando ela, depois de terminar seus estudos na capital da província, retorna a Araruna. Assim como Rodolfo, ela tem ideias abolicionistas e critica as atitudes do pai, lutando em defesa dos negros. Para aproximar-se de sua amada, o rapaz finge-se de aliado do Barão para conquistar a confiança dele.

Também a história do mestiço alforriado Rafael e sua obstinada luta para destruir o Barão, seu verdadeiro pai com uma negra da fazenda. Antes de ser vendido pelo Barão, Rafael foi amigo de Sinhá Moça, com quem passou a infância. Ele retorna a Araruna com sede de vingança, sob outra identidade, Dimas, e torna-se o braço direito do jornalista Augusto, um abolicionista convicto, despertando o amor em Juliana, neta dele.

Globo – 18h
de 28 de abril a 15 de novembro de 1986
172 capítulos

novela de Benedito Ruy Barbosa
colaboração de Edmara Barbosa
baseada no romance homônimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes
direção de Reynaldo Boury e Jayme Monjardim

Novela anterior no horário
De Quina Pra Lua

Novela posterior
reprise de Locomotivas

Novela inédita posterior
Direito de Amar

LUCÉLIA SANTOS – Sinhá Moça (Maria das Graças Ferreira)
MARCOS PAULO – Rodolfo Garcia Fontes
RUBENS DE FALCO – Coronel Ferreira, o Barão de Araruna
ELAINE CRISTINA – Cândida (Baronesa)
RAYMUNDO DE SOUZA – Rafael (Dimas)
SÉRGIO VIOTTI – Frei José
MAURO MENDONÇA – Dr. Fontes
NEUZA AMARAL – Inês
DANIEL DANTAS – Ricardo
PATRÍCIA PILLAR – Ana do Véu
LUÍS CARLOS ARUTIN – Augusto
LUCIANA BRAGA – Juliana
CHICA XAVIER – Virgínia (Bá)
GRANDE OTELO – Justo
RUTH DE SOUZA – Balbina
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Manoel Teixeira
NORMA BLUM – Nina
TARCÍSIO FILHO – Mário
TATO GABUS MENDES – José Coutinho
SOLANGE COUTO – Adelaide
ANTÔNIO POMPEO – Justino
GÉSIO AMADEU – Fulgêncio
TONY TORNADO – Capitão do Mato (Justo)
COSME DOS SANTOS – Bastião
JOSÉ PRATA (PRATINHA) – Bentinho
WÁLTER SANTOS – Feitor Bruno
CLÁUDIO MAMBERTI – Delegado Antero
IVAN MESQUITA – Coutinho
GERMANO FILHO – Everaldo
FERNANDO JOSÉ – Martinho (Antônio José Pereira Martinho)
JACYRA SAMPAIO – Rute
HENRI PAGNONCELLI – Eduardo
NIZO NETO – Nino
RENATO PIETRO – Vila
AUGUSTO OLÍMPIO – Bobó
ATHAYDE ARCOVERDE – Robusto

e
AGUINALDO ROCHA – Tibúrcio (fazendeiro escravocrata aliado do Barão de Araruna, no início)
ALCIRO CUNHA – Nogueira (fazendeiro escravocrata aliado do Barão de Araruna, no início)
ALDO BUENO – escravizado da fazenda de Coutinho
ALEXANDRE MORENNO – escravizado da fazenda do Barão de Araruna
ANTÔNIO FRANCISCO – Honório (auxiliar do feitor Bruno, assediava Adelaide, acaba morto por Justino, no início)
AURICÉIA ARAÚJO – Dona Elvira, depois chamada de Dona Irma (costureira de Araruna)
CANARINHO – Pai André (líder dos quilombolas que permaneceram no quilombo, marido de Mãe Maria, pai de Tonho)
CÉSAR AUGUSTO – soldado da delegacia de Araruna
CHRISTOVAM NETTO – Tobias (escravizado da fazenda do Barão de Araruna)
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Dr. João Amorim (médico que vem a Araruna atender doentes)
DAISY NASCIMENTO – Nena (quilombola, mulher de Tonho, mãe de Felipe)
DENIS DERKIAN – Renato (amigo de Mário, Nino e Vila, no início)
DHU MORAES – Maria das Dores (ex-escravizada do Barão de Araruna, falecida mãe de Rafael)
ÊNIO SANTOS – Inácio (comprou Maria das Dores e Rafael criança do Barão e os levou para a capital da província)
ENOCK BATISTA – soldado da delegacia de Araruna
EVANDRO LEANDRO – um dos auxiliares do feitor Bruno
FERNANDO ALMEIDA – Felipe (menino quilombola, filho de Tonho e Nena, neto de Pai André e Mãe Maria)
FRANCISCO NAGEN – escravocrata aliado do Barão de Araruna
IBAÑEZ FILHO – escravocrata aliado do Barão de Araruna
JOEL SILVA – Pedro (escravizado da fazenda do Barão de Araruna, no início)
JORGE COUTINHO – pai de Bentinho, escravizado da fazenda de Medeiros
JORGE DE JESUS – escravizado da fazenda do Barão de Araruna
LIZANDRA CAMPOS (LIZANDRA SOUTO) – Sinhá Moça (criança)
MIGUEL ROSEMBERG – fiscal do trem interceptado por Rodolfo para resgatar Sinhá Moça
MILTON GONÇALVES – Pai José (escravizado da fazenda do Barão de Araruna, pai e avô de vários negros, morre no tronco)
NELSON SOARES GOMES – escravizado da fazenda do Barão de Araruna
NEWTON MARTINS – Viriato (fazendeiro escravocrata aliado do Barão de Araruna, no início)
ONOFRE – José (escravizado da fazenda do Barão de Araruna)
PAULO BARBOSA (PAULÃO) – Tonho (quilombola, filho de Pai André e Mãe Maria, marido de Nena, pai de Felipe)
PAULO NUNES – soldado da delegacia de Araruna
PAULO PINHEIRO – agente que leva os italianos à fazenda Araruna, no último capítulo
ROMEU EVARISTO – um dos dois escravizados capturados pelo Capitão do Mato e depois soltos pelo Irmão do Quilombo
SELTON MELLO – Rafael (criança)
THIAGO JUSTINO – escravizado da fazenda do Barão de Araruna
WILSON RABELLO – escravizado que conversa com Justo sobre trabalhar na fazenda comprada pelos Fontes
ZENI PEREIRA – Mãe Maria (quilombola, mulher do Pai André, mãe de Tonho)
Alcides (jagunço do Barão de Araruna)
Antenor (jagunço do Barão de Araruna)

– núcleo de SINHÁ MOÇA (Lucélia Santos), jovem de temperamento doce, mas personalidade forte. Filha de um rico fazendeiro escravocrata, entra em conflito com o pai por defender veementemente a causa abolicionista:
os pais: CORONEL FERREIRA, o BARÃO DE ARARUNA (Rubens de Falco), rico fazendeiro. Homem autoritário, intransigente e insensível no trato com os escravizados. Uma espécie de líder na região de Araruna, temido por todos. Mantem uma fortuna em ouro escondida na casa grande,
e CÂNDIDA (Elaine Cristina), mulher bela, fina e recatada. Submissa, sofre com os desmandos do marido e com sua tempestuosa relação com a filha
os escravizados da casa: VIRGÍNIA, a (Chica Xavier), tivera seu filho recém-nascido tirado dos braços pelo Barão e transferiu seu amor maternal a Sinhá Moça, a quem amamentou e trata como uma filha. Ainda sonha em reencontrar o filho desaparecido,
BASTIÃO (Cosme dos Santos), esperto, mas morre de medo do barão. Vive implicando com Bá. Na reta final, descobre ser o filho desaparecido dela,
e ADELAIDE (Solange Couto), dama-de-companhia de Sinhá Moça, protegida por ela. Bela mulata, apaixona-se por um branco
os escravizados da fazenda que sonham em fugir para o quilombo, os irmãos JUSTINO (Antônio Pompeo), revoltado, odeia os brancos. Apaixonado por Adelaide, não se conforma de ser preterido por um branco,
e FULGÊNCIO (Gésio Amadeu), um tipo dócil, ficou cego pelas mãos do Barão,
o feitor BRUNO (Wálter Santos), homem rude, pau-mandado do Barão, odiado pelos negros. É quem os mantém disciplinados, debaixo de chicote
o CAPITÃO DO MATO (Tony Tornado), temido perseguidor e caçador de escravizados fugitivos, apesar de ser negro. Vai trabalhar para o barão. Ao longo da trama, rebela-se e muda de lado, aliando-se a Justino e Fulgêncio.

– núcleo de RODOLFO (Marcos Paulo), jovem advogado, abolicionista. Rapaz de boa índole e pulso firme. Quando volta para Araruna, conhece Sinhá Moça durante a viagem e nasce entre eles um amor levado às últimas consequências. Entra em conflito com o Barão, que desaprova o namoro com sua filha. Ele é o IRMÃO DO QUILOMBO, figura mascarada e misteriosa que à noite, montado em um cavalo, abre as portas das senzalas das fazendas para que os negros fujam para o quilombo:
os pais: DR. FONTES (Mauro Mendonça), advogado de princípios rígidos, prosperou honestamente. No início, trabalhava para o Barão, apesar de não concordar com suas atitudes em relação a escravizados, já que é abolicionista. Ao apoiar os ideais do filho, rompe com ele
e INÊS (Neuza Amaral), mulher bondosa e cordata, vive para a família
o irmão mais novo RICARDO (Daniel Dantas), diferente dele, é um tipo meio bronco e tímido. Amante da natureza e dos animais, preferiu ficar em Araruna a estudar na capital da província, como Rodolfo. Tem uma paixão platônica pela Baronesa Cândida
os empregados da casa: JUSTO (Grande Otelo), negro alforriado, sujeito simplório mas matreiro, questiona a liberdade. Ao longo da trama, descobre ser o pai do Capitão do Mato
RUTE (Jacyra Sampaio), também alforriada, cozinheira querida na casa, ajudou a criar Rodolfo e Ricardo
e BENTINHO (José Prata), vivia na fazenda do Barão e não se conformava de ter nascido um dia antes da promulgação da Lei do Ventre Livre. Comprado pelo Dr. Fontes, ganhou a alforria e a confiança de Rodolfo.

– núcleo de RAFAEL (Raymundo de Souza), filho do Barão de Araruna com a negra MARIA DAS DORES (Dhu Moraes, participação). Cresceu com Sinhá Moça, por quem tem grande afeição. Odeia o Barão, por ele ter desprezado e vendido sua mãe, e promete vingança. Alforriado, mudou de nome, DIMAS, e voltou à cidade disposto a lutar pela causa abolicionista. Vai trabalhar como tipógrafo no jornal da cidade:
o jornalista AUGUSTO (Luís Carlos Arutin), que publica o jornal de Araruna. Abolicionista, abraça a causa e os ideais de Dimas/Rafael e lhe dá emprego em seu jornal
a neta de Augusto, JULIANA (Luciana Braga), bela e romântica, apaixona-se por Dimas/Rafael, mas, a princípio, ele reluta a esse amor.

– núcleo do FREI JOSÉ (Sérgio Viotti), homem caridoso que faz de tudo para apaziguar os ânimos entre abolicionistas e escravocratas em Araruna:
o sacristão BOBÓ (Augusto Olímpio), falastrão e fofoqueiro, um papa-hóstias – literalmente.

– núcleo de ANA DO VÉU (Patrícia Pillar), jovem que passou boa parte de sua vida escondida de todos atrás de um véu, por imposição da mãe carola, que fizera uma promessa. Por causa disso, é motivo de curiosidade, comentários e chacota na cidade. Prometida a Rodolfo, ele desfaz o compromisso assumido entre seus pais, já que ama Sinhá Moça. Ana envolve-se com o irmão dele, Ricardo, que vai consolá-la e acaba se apaixonando por ela, sem nunca ter visto seu rosto. Ana quebra o suspense e abandona o véu durante um baile, revelando o belo rosto. Passa a ser cortejada pelos rapazes solteiros de Araruna, especialmente por Ricardo, com sem acaba se casando. Porém, o casamento fracassa:
os pais: MANOEL TEIXEIRA (José Augusto Branco), comerciante próspero, dono de uma taberna e mercearia e de algumas casas de aluguel,
e NINA (Norma Blum), religiosa, fez uma promessa a Santa Rita envolvendo o destino da filha. Temendo as represálias da santa, não permite que ela quebre a promessa – mostrar o rosto em público. Diante da pressão do marido e da filha, aceita que Ana tire o véu no baile
o funcionário na taberna de Manoel, ROBUSTO (Athayde Arcoverde)
o engenheiro EDUARDO (Henri Pagnoncelli), que vem a Araruna montar uma usina de beneficiamento tornando-se sócio de Manoel Teixeira no negócio. Apaixona-se por Ana.

– núcleo dos jovens abolicionistas de Araruna:
JOSÉ COUTINHO (Tato Gabus Mendes), enfrenta o pai escravocrata ao apaixonar-se e casar-se com Adelaide, escravizada do Barão,
MÁRIO (Tarcísio Filho), apaixona-se por Juliana e vai trabalhar no jornal de Augusto,
NINO (Nizo Neto), disputa Ana com Ricardo,
e VILA (Renato Pietro).

– núcleo dos fazendeiros. Apoiam o Barão de Araruna, ou não, de acordo com seus interesses econômicos:
MARTINHO (Fernando José), vai à bancarrota quando o Irmão do Quilombo solta os seus negros, que fogem para o quilombo
COUTINHO (Ivan Mesquita), pai de José, repudia o filho após o casamento dele com Adelaide, a quem não aceita por ser negra. O nascimento do neto o faz amolecer o coração e passa a aceitar o casamento do filho
e EVERALDO (Germano Filho), pai de Mário, não gosta de ver o filho metido com o movimento abolicionista e o repreende por trabalhar no jornal de Augusto.

– demais personagens:
o DELEGADO ANTERO (Cláudio Mamberti), prepotente com os fracos, subserviente diante dos poderosos, defende seu cargo a todo custo. Ao longo da trama, revela-se abolicionista enfrentando o Barão
a escravizada BALBINA (Ruth de Souza), antiga paixão de Justo que estava desaparecida. Caduca, vive em um mundo de fantasia. Na reta final, descobre-se que os dois são os pais do Capitão do Mato
o escravizado PAI JOSÉ (Milton Gonçalves, participação), da fazenda do Barão, morreu no tronco. Descendente de um rei africano, era pai da maioria dos negros da fazenda.

Reedição de Escrava Isaura

Sinhá Moça foi uma espécie de reedição de Escrava Isaura (produzida exatos dez anos antes, em 1976), tamanha era a semelhança entre as duas. As tramas abordavam a luta pela abolição da escravatura, retratando portanto a mesma época. O vilão era interpretado por Rubens de Falco nas duas novelas: Leôncio e o Barão de Araruna. E a mocinha era Lucélia Santos: Isaura e Sinhá Moça, que sofriam nas mãos de seus respectivos algozes.

Com excelente produção e exibindo a inquietação política de Benedito Ruy Barbosa, a novela conquistou audiência falando de amor e liberdade. A trama se desenrolava ao longo de um período de dois anos, terminando no dia da Abolição da Escravatura, 13 de maio de 1888.

Adaptação

O romance que serviu de base para a novela (de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, lançado em 1950) já tivera uma versão cinematográfica, produzida pela Vera Cruz, em 1953, dirigida por Tom Payne e Oswaldo Sampaio, com Eliane Lage (Sinhá Moça), Anselmo Duarte (Rodolfo) e José Policena (Barão de Araruna).

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, Benedito declarou:
“Era uma história curta, que não rendia uma novela. Mas disse ao Boni [superintendente da Globo] para comprar os direitos que eu inventaria o resto. Se era para fazer uma novela que tratasse de escravidão, teria que ser algo bem feito. (…) me deram carta-branca. A autora Maria Dezonne Pacheco Fernandes, ainda estava viva, mas não houve problemas.”

Ao converter Sinhá Moça em novela, Benedito Ruy Barbosa mudou muita coisa: “Dei ênfase à abolição da escravatura. No livro, era pano de fundo.”
Quando a obra literária foi relançada, na época da novela, Benedito lembrou que houve decepções: “Teve gente que reclamou, porque queria ler a história da televisão”, disse ele.

Sinhá Moça cresceu na adaptação de Benedito. O autor aproveitou oito personagens do livro, criou outros trinta e ainda utilizou alguns elementos do filme da Vera Cruz, como o Irmão do Quilombo, ninguém mais que o mocinho Rodolfo (Marcos Paulo), um ativo abolicionista que se disfarçava à noite para libertar escravizados das fazendas.

Sucesso de exportação

Como Escrava Isaura, Sinhá Moça fez uma carreira internacional de sucesso: antes da estreia, cinquenta países já estavam interessados em comprá-la. Não era para menos: contou no elenco com a adorada Lucélia Santos e o temido Rubens de Falco, com fãs no mundo todo, devido ao sucesso de Escrava Isaura. Até o ano de 2001, Sinhá Moça já havia sido exibida em 63 países. (Site Memória Globo)

A novela recebeu diferentes títulos, de acordo com o país onde era exibida: “Little Missy” nos Estados Unidos, “Mademoiselle” na França, “Niña Moza, El Camino De La Libertad” na Espanha e “La Padroncina” na Itália. Na Alemanha, a trama ganhou o subtítulo “Die Tochter des Sklavenhalters”“A Filha do Senhor de Escravos”.

Quando foi exibida na Nicarágua, a novela chegou a parar uma guerra civil, a Revolução Sandinista. Cerca de cem mil televisores eram sintonizados na hora da novela.

Elenco

Para interpretar os personagens principais, a emissora propôs logo os nomes de Lucélia e Rubens, justamente visando o mercado internacional. Benedito, de início, não concordou: preferiu a então iniciante Giulia Gam para o papel da sinhazinha. Para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes), o autor desabafou:
“Se pudesse, teria escolhido a Giulia Gam para a protagonista. (…) Infelizmente a Globo não deixou. A Lucélia encheu o saco durante a novela. A certa altura, chegou a dizer que não serviria de escada para os outros [atores].”

Para o papel do mocinho abolicionista, Fábio Jr. foi o primeiro convidado, porém não aceitou alegando compromissos da carreira de músico. Marcos Paulo, então, assumiu o lugar.

A atriz Jacyra Sampaio entrou no elenco primeiro como Virgínia, a Bá de Sinhá Moça, e depois foi remanejada para o papel de Rute, ex-escravizada que trabalhava para a família de Rodolfo. Chica Xavier assumiu Bá, o que lhe rendeu uma atuação marcante, uma das melhores de sua carreira.

Na segunda metade da novela, Ruth de Souza, que havia participado do filme de 1953, pediu para fazer uma participação, e entrou como Balbina, formando uma dupla com Grande Otelo.

Atores negros da minissérie Tenda dos Milagres, exibida no ano anterior, foram escalados para a produção: Solange Couto, Tony Tornado, Antônio Pompeo, Joel Silva, Dhu Moraes e Milton Gonçalves.

Alguns acidentes aconteceram durante as gravações da novela, como um enxame de abelhas que atacou Lucélia Santos e Marcos Paulo, em uma gravação em externa; e a queda de cavalo sofrida por Rubens de Falco, depois de descobrir que sua montaria estava sem ferraduras. O ator Raymundo de Souza, após declamar em cena um poema de Castro Alves, foi levado para o hospital com 41 graus de febre, onde ficou internado com pneumonia. Ainda: uma gripe forte contraída por Benedito Ruy Barbosa no meio da novela atrasou a redação dos capítulos.

Primeira novela do ator Nizo Neto (filho de Chico Anysio) e das atrizes Luciana Braga e Lizandra Souto (com 11 anos na época, ainda assinando Lizandra Campos).
Primeiro trabalho na televisão do ator Alexandre Morenno, que fazia figuração como um dos escravizados da fazenda Araruna.
Estreia na Globo do ator Raymundo de Souza.

Direção

O experiente diretor Reynaldo Boury ficou responsável pelas cenas de estúdio. Seu parceiro, Jayme Monjardim cuidou das externas.

Monjardim inovou ao apresentar belíssimas cenas, em um trabalho em conjunto com a equipe de iluminação. Tudo foi aproveitado nas locações, desde os jardins da fazenda, riachos e trilhas no meio da mata.

Vale destacar a iluminação da novela, um verdadeiro jogo de luz e sombra. Francisco Carvalho (Chico Boya), um dos iluminadores, aqui já mostrava seu talento, para depois se firmar como diretor de fotografia a partir de Pantanal (1990).

Locações e cenografia

As cenas internas foram gravadas nos estúdios da Herbert Richers, no bairro carioca da Tijuca. Já as externas foram feitas em diferentes lugares.

Em São João Del Rei, Minas Gerais, foram gravadas as cenas com o trem, uma velha maria-fumaça da época, para o primeiro encontro de Sinhá Moça com Rodolfo no capítulo 1, a chegada de Dimas (Raymundo de Souza) no capítulo 5, o rapto da sinhazinha por Rodolfo nos capítulos 98 e 99, e, no final, a partida do mocinho para a capital da província.

No interior do Rio de Janeiro, foram gravadas cenas em campos e rios nas cidades de Conservatória e Miguel Pereira.
Em Itatiaia, a fazenda Veneza, do século 19, serviu de locação para a fazenda do Barão de Araruna.
As gravações do baile em que Ana do Véu (Patrícia Pillar) tira seu véu para a sociedade de Araruna (capítulo 29) foram feitas no Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

Na cidade de Guaratiba, onde a TV Globo montava suas cidades cenográficas antes do Projac, o cenógrafo Mário Monteiro aproveitou a cenografia da cidade de Asa Branca, de Roque Santeiro, que foi toda modificada para parecer uma cidade do interior paulista do século 19. Ali também foi construída a senzala do barão. Monteiro – junto com Cláudio Dâmaso – também desenvolveu os cenários de estúdio.

Trilha sonora

A trilha sonora mereceu tratamento especial. Com produção musical de Geraldo Vespar, que também criou temas instrumentais, a novela teve sonorização instrumental com músicas de Waltel Branco, Ted Moreno e Márcio Pereira, que aproveitaram sons de piano elétrico, teclados, sintetizadores, violão, baixo, flauta e instrumentos de percussão. Cada música da trilha lançada em disco recebeu variadas versões instrumentais, além dos temas de situação, como momentos de mistério, suspense, romance e tristeza.

A letra do tema de abertura da novela, “Pra Não Mais Voltar”, é um poema da cantora Maysa Matarazzo, mãe do diretor Jayme Monjardim. Ele pediu a Ivan Lins para que o musicasse. Na hora da gravação, Fafá de Belém ouviu e se apaixonou, mas a emissora quis que Leila Pinheiro gravasse o tema. Porém, Ivan já tinha dado sua palavra a Fafá, que acabou gravando a canção, com arranjo de César Camargo Mariano.

Repetecos

A novela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo entre 15/03 e 02/07/1993, em 80 capítulos.

Também reprisada no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo), na íntegra, entre 29/01 e 18/08/2018, às 14h30 (com reprise à 01h15).

Sinhá Moça foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 12/09/2022.

Remake

Exatos vinte anos depois, Sinhá Moça teve um remake, com atualização de Edmara e Edilene Barbosa, filhas de Benedito. Débora Falabella, Danton Mello e Osmar Prado viveram os protagonistas nessa nova versão: Sinhá Moça, Rodolfo e o Barão de Araruna, respectivamente.

O ator Milton Gonçalves viveu na segunda versão da novela o mesmo personagem, Pai José, que interpretara na versão original.

Outros atores de Sinhá Moça original que atuaram no remake:
Patrícia Pillar: Ana do Véu em 1986 e Cândida em 2006;
Gésio Amadeu: Fulgêncio em 1986 e Justo em 2006;
José Augusto Branco: Manoel Teixeira em 1986 e Dr. João Amorim em 2006;
e Alexandre Morenno: escravizado da fazenda Araruna em 1986 e Justino em 2006.

E mais

Sinhá Moça terminou com a descrição na tela da Lei Áurea, que libertava todos os escravizados, seguida da seguinte frase de Benedito Ruy Barbosa: “E de tudo que plantaram, nada lhes restou… nem da terra, nem dos frutos. Apenas a liberdade.”

01. SINHANINHA – Ronnie Von (tema de Sinhá Moça)
02. ZUMBI, A FELICIDADE GUERREIRA – Gilberto Gil (tema dos escravizados)
03. AI QUEM ME DERA – Clara Nunes (tema de Ana)
04. MINHA ALDEIA – Sérgio Souto (tema de Rafael)
05. PAPO DE PASSARIM – Cláudio Nucci e Zé Renato (tema de Mário)
06. DEPOIS DA PRIMEIRA VEZ – Toninho Negreiro (tema de Juliana)
07. PRA NÃO MAIS VOLTAR – Fafá de Belém (tema de abertura)
08. GINGA ANGOLA – Roberto Ribeiro (tema geral)
09. ORAÇÃO NOS MATAGAIS – Altay Veloso (tema de Sinhá Moça e Rodolfo)
10. COMPANHEIROS – Denise Emmer (tema de Rodolfo)
11. NA RIBEIRA DESTE RIO – Dori Caymmi (tema do Barão de Araruna)
12. AMOR DE PAPEL – Vicente Barreto (tema de Adelaide)
13. CAMARÁ – Wálter Queiróz (tema de Justino)
14. AVENTUREIRO – Antônio Carlos e Jocafi (tema de Ricardo)

Sonoplastia: Sérgio Seixas
Produção musical: Geraldo Vespar

Tema de abertura: PRA NÃO MAIS VOLTAR – Fafá de Belém

Vem buscar-me nesta estrada que por fim encontro
Cheio de certezas, de olhares calmos
Cheio de beleza que já compreendi
Cheio de beleza…

Não me importa o passado em que assustada
Me escondi nas dores esquecendo amores
Que eram o começo dessa longa ida
Dessa longa ida, pra não mais voltar

Vem que eu tenho tantos passos
Pra um amor inteiro
Em que todos os dias serão os primeiros…

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