Sérgio Guizé (Candinho) e Marco Nanini (Pancrácio) (foto: João Cotta/TV Globo)

A Globo estreia nessa segunda-feira (27/04), no Vale a Pena Ver de Novo, a novela “Eta Mundo Bom!“, quatro anos após a sua exibição original (de janeiro a agosto de 2016). Escrita por Walcyr Carrasco, com direção artística de Jorge Fernando (falecido em outubro do ano passado), a novela marcou a volta do autor ao horário das seis, que o consagrou, depois de um hiato de dez anos – sua última novela nesta faixa havia sido “Alma Gêmea“, em 2005-2006.

Um sucesso notável, “Eta Mundo Bom!” fechou com uma média final de 27 pontos no Ibope da Grande São Paulo, a maior para o horário das seis desde 2007 (quando a faixa exibiu “O Profeta“, que teve supervisão de Carrasco). “Eta Mundo Bom!” uniu-se a outros sucessos do autor no horário das seis da Globo: “O Cravo e a Rosa” (2000-2001), “Chocolate com Pimenta” (2003-2004) e “Alma Gêmea” (2005-2006) – as duas últimas, com o mesmo diretor-geral, Jorge Fernando.

Protagonizada por Sérgio Guizé, na pele do matuto Candinho, a trama foi inspirada no conto iluminista “Cândido ou O Otimismo” (1759), do filósofo francês Voltaire, que, por sua vez, inspirou o filme “Candinho” (1954), de Abílio Pereira de Almeida, com Amácio Mazzaropi como o personagem título. Na verdade, “Eta Mundo Bom!” tinha muito mais do filme com Mazzaropi do que do conto de Voltaire: é praticamente a mesma história do filme.

Por sua atuação na novela, Sérgio Guizé foi premiado com o Troféu Imprensa de melhor ator de televisão de 2016. Gentilmente, Guizé concedeu uma entrevista exclusiva ao Teledramaturgia.

Sérgio Guizé com o diretor Jorge Fernando durante as gravações (foto: João Cotta/TV Globo)

1. Acho Candinho um de seus melhores trabalhos na televisão. Em tudo: composição, interpretação, repercussão. Com distanciamento do tempo, como você o enxerga hoje?

Na época eu não poderia imaginar que passaríamos por algo parecido com o que vivemos hoje. Hoje falamos até em ‘quem merece viver e quem deve morrer pois já viveu bastante’. Naquele tempo, já almejávamos a paz, a esperança, o amor e o equilíbrio, mas acho que agora é o momento, pois acredito que ‘depois da meia-noite, o dia começa a raiar’. Levar um pouco de leveza para as tardes das pessoas com uma mensagem de otimismo, faz cada vez mais sentido.

2. Queria que você comentasse a direção de Jorge Fernando e sua relação com o diretor, o set e ambiente de trabalho. Vocês trabalharam também na novela “Alto Astral” (2014-2015).

No começo das gravações de “Alto Astral“, em Poços de Caldas, o Jorginho entrou no meio de uma cena para ajustar uma luz e quando a luz o focalizou ele disse: ‘Nossa, essa luz nos meus olhos (pausa) azuis (pausa) Devo tá lindo!’ Chorei de rir! Quebrou toda tensão comum em todo começo de processo. Sempre ensinando, se divertindo. Deixando claro que tudo que estávamos fazendo era por amor ao público e que devíamos transmitir a nossa alegria em estar trabalhando também, a nossa postura, honrar o ofício. Nossa, como eu penso no Jorginho! Ainda mais agora com a reestreia. Como ele foi generoso! Esse personagem é um presente que ele me deu, dividiu a criação, ensinou. Um presente dele e do Walcyr. Aliás vai ser maravilhoso assistir os dois de novo, vale a pena (rs). Dupla emblemática da teledramaturgia. Vou matar saudade do meu amigo Jorge Fernando. Vai ser uma linda homenagem ao nosso mestre da televisão, da alegria. Ele merece, será sempre lembrado.

3. Claro que Candinho é completamente diferente do Chiclete (de “A Dona do Pedaço”) e do Gael (de “O Outro Lado do Paraíso”). Nessa tríade de Walcyr Carrasco, como você coloca o Candinho?

O Candinho foi o começo dessa parceria e com certeza vou lembrar dele sempre por isso também. No fim de “Eta Mundo Bom!“, estava filmando em Paris e, lembro como se fosse hoje, como eu fiquei na noite que recebi a notícia [sobre a escalação para “O Outro Lado do Paraíso“], empolgado, ansioso e feliz. Foi uma responsabilidade discutir a violência doméstica, tratar do assunto que ainda é tabu. Pois a maior arma contra esse crime é falar sobre ele e denunciar, denunciar sempre. Sabíamos que seria difícil, mas era um personagem necessário. E, logo que acabou esse trabalho intenso, lá me vem o Walcyr com um matador que se apaixona pela vítima [Chiclete de “A Dona do Pedaço“]… Caí dentro como se fosse o último personagem da vida. Tento sempre respeitar o texto, me adaptar a ele, entendê-lo, buscar até as últimas possibilidades para honrar o carinho e a generosidade do Walcyr comigo. É preciso trabalhar duro para dar vida a personagens tão complexos e intrigantes.

Núcleo da fazenda (foto: Artur Meninea/TV Globo) | Eriberto Leão e Flávia Alessandra (foto: João Miguel Jr./TV Globo)

Em “Eta Mundo Bom!“, Walcyr Carrasco uniu elementos reconhecíveis de sucessos anteriores: melodrama, maniqueísmo, humor inocente e/ou pastelão, vilões terríveis, fazenda com caipiras, bichos de estimação, casamentos desfeitos no altar, torta na cara, personagens arremessados no chiqueiro, etc.

O tom brejeiro e inocente do núcleo da fazenda agradou em cheio o público, graças a personagens cativantes, de sotaque caipira com português errado, em situações pueris e engraçadas (como as referências ao “cegonho” e sua função no casamento). O mérito foi não só do autor, mas também da direção e do afinado elenco. Sérgio Guizé, Elizabeth Savala, Ary Fontoura, Camila Queiroz, Rosi Campos, Anderson Di Rizzi, Dhu Moraes e Flávio Migliaccio destacaram-se neste núcleo.

Do outro lado, estava o núcleo da cidade, marcado pelo o português culto na boca dos personagens, com destaque para as atuações de Marco Nanini, Eliane Giardini, Bianca Bin, Flávia Alessandra e Ana Lúcia Torre. Ao final do último capítulo de “Eta Mundo Bom!“, Carrasco dedicou sua novela a Mazzaropi.

Durante uma semana, “Eta Mundo Bom!” divide o Vale a Pena Ver de Novo com a última semana de exibição de “Avenida Brasil“. A estreia é nessa segunda, 27 de abril, às 16h30.

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